O BRINCAR E A ESPACIALIDADE DAS CRIANÇAS Adaliza Meloni 1 - UNESP/Presidente Prudente Fátima Aparecida Dias Gomes Marin 2 - UNESP/Presidente Prudente Grupo de Trabalho Educação da Infância Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar reflexões teóricas sobre o desenvolvimento da espacialidade das crianças durante o desenrolar das brincadeiras. Os conceitos utilizados para a compreensão da relação das crianças com os espaços de brincar situados fora de casa são os conceitos da Geografia: paisagem, lugar e território, que permitem realizar análises sobre a constituição dos espaços de brincar e como as crianças se apropriam destes. Nesta perspectiva, os espaços de brincar utilizados são considerados como espaços onde as crianças desenvolvem interações de acordo com as necessidades de suas brincadeiras, podendo ser modificada a funcionalidade dos espaços, assim as crianças são consideradas como protagonistas de suas vivências, sendo que por meio das brincadeiras desenvolvidas nos espaços de brincar é possível apreender o seu ponto de vista, as suas percepções, o seu pertencimento em relação ao meio vivenciado e a forma como ocorre a apropriação dos elementos constituintes dos espaços de brincar. Portanto, a forma como ocorre a apropriação dos espaços utilizados para o desenvolvimento das brincadeiras e a constituição do mesmo enquanto lugar, onde é exercida a territorialidade pelo grupo, definem características singulares do processo de apropriação de cada espaço utilizado para as atividades do brincar pelas crianças. Com relação à natureza dos dados, a pesquisa é qualitativa, sendo a metodologia caracterizada como um estudo de caso. As informações estão sendo obtidas, através de pesquisa bibliográfica, acervo documental (plano diretor da cidade) e de campo. Os instrumentos e técnicas de pesquisa são: conversas com as crianças, desenhos confeccionados pelas crianças, observação e fotografias dos espaços atuais utilizados para o desenvolvimento das atividades do brincar e seleção visual de fotos dos espaços de brincar pelas crianças. Palavras-chave: Espaços de brincar. Crianças. Espacialidade. 1 Doutoranda em Educação na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Presidente Prudente. E-mail: adalizameloni@yahoo.com.br. 2 Doutora em Ensino na Educação Brasileira pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Presidente Prudente. Atualmente é professora assistente doutora na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Presidente Prudente. E-mail: fatimadiasgomes@gmail.com ISSN 2176-1396
38739 Introdução Este trabalho é parte da pesquisa em andamento intitulada Constituição dos espaços de brincar: uma análise a partir dos conceitos estruturadores da Geografia, desenvolvida no curso de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP de Presidente Prudente (SP). No presente trabalho serão apresentadas as reflexões decorrentes das leituras até o momento realizadas. A pesquisa decorre de questionamentos acerca da necessidade de identificar os espaços de brincar utilizados por crianças de 8 a 11 anos de idade da cidade de Assis (SP), com a finalidade de verificar como são apropriados. As categorias de análise que estão sendo utilizadas: paisagem, lugar e território, possibilitam o entendimento da dinâmica que configura os espaços de brincar utilizados pelas crianças. Por meio da compreensão da espacialidade desenvolvida pelas crianças durante o desenrolar das brincadeiras torna-se possível constatar a forma como as crianças se apropriam dos espaços de brincar situados fora de casa e verificar quais são os espaços que as crianças utilizam para brincar. As brincadeiras e a espacialidade A partir do interesse em descobrir como as crianças vivenciam os espaços de brincar utilizados, surgiu a necessidade de analisar quais são estes espaços vivenciados pelas crianças em suas brincadeiras e como elas se apropriam dos elementos que configuram estes espaços. Em relação à importância da brincadeira, Queiroz, Maciel e Branco (2006, p. 169) afirmam que: a brincadeira permite à criança vivenciar o lúdico e descobrir-se a si mesma, apreender a realidade, tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. E acrescentam que: com o advento de pesquisas sobre o desenvolvimento humano, observou-se que o ato de brincar conquistou mais espaço, tanto no âmbito familiar, quanto no educacional; no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), a brincadeira está colocada como um dos princípios fundamentais, defendida como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de promover o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo (QUEIROZ, MACIEL, BRANCO, 2006, p. 169).
38740 Dentro destes aspectos, podemos considerar que a vivência das crianças por meio das brincadeiras constitui-se um processo em que ocorre a interação entre o espaço vivido e as ações desenvolvidas. Assim, através da análise da complexidade configurada pela forma como os espaços de brincar são apropriados pelas crianças, torna-se possível fazer uma leitura da singularidade traduzida no modo como se constitui a infância nos diferentes espaços vivenciados por elas e também diagnosticar a importância das brincadeiras em suas vivências, como meio de propiciar o desenvolvimento das mesmas e a interação entre os pares. Os conceitos da Geografia na análise dos espaços de brincar A análise dos espaços de brincar situados fora de casa será realizada a partir de três conceitos estruturadores da Geografia: paisagem, território e lugar, os quais possibilitarão a compreensão da funcionalidade dos espaços de brincar e o entendimento do processo de apropriação dos mesmos pelas crianças. Para apreender como ocorre a constituição dos espaços de brincar utilizados pelas crianças, iremos utilizar o conceito paisagem. Santos (2006, p. 104) assinala que: a paisagem existe através das suas formas e acrescenta (1988, p. 61) que a paisagem: não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. Tudo aquilo que podemos apreender nesta perspectiva faz parte da paisagem, constituindo a relação dialética entre sociedade e natureza, nas paisagens sociais, e das relações travadas nas dinâmicas naturais, no caso das paisagens naturais. Sauer (2004, p. 23), um dos precursores da Geografia Cultural, já afirmava em sua obra, escrita no início do século XX, que a paisagem: [...] pode ser definida como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais. Nesta perspectiva, na leitura da paisagem tudo o que conseguimos apreender não somente através do olhar, mas também por meio dos demais sentidos, possibilitam a compreensão dos significados presentes nos elementos e formas que a constituem. Sobre o conceito, Vieira (2007, p. 37) afirma que: no que diz respeito ao significado da categoria paisagem é consenso entre as diversas correntes da Geografia que a paisagem é concebida como tudo aquilo que conseguimos apreender com os sentidos. Portanto, os sons, cheiros, as texturas e o sabor também compõem a paisagem e, desta forma, os elementos e os seus detalhes que dão identidade às paisagens.
38741 A pesquisa tem como propósito identificar e avaliar as adições e subtrações nas paisagens da cidade de Assis (SP) com relação aos espaços de brincar, as mudanças estruturais constatadas na paisagem que retratam os espaços de brincar e as formas que foram alteradas para se adequar às novas funções em virtude dos espaços de brincar da atualidade. O conceito território será utilizado para a compreensão de como as crianças se apropriam dos espaços de brincar situados fora de casa. Em relação ao território, retomamos a definição de Saquet sobre a sua produção, sendo que, para o autor (2007, p. 58): o território é apropriado e construído socialmente, resultado e condição do processo de territorialização; é produto do processo de apropriação e domínio social, cotidianamente, inscrevendo-se num campo de poder, de relações socioespaciais, nas quais, a natureza exterior ao homem está presente de diferentes maneiras [...]. Nesta perspectiva, as formas como as crianças se organizam nestes espaços e constroem as suas relações refletem na produção da infância, sendo a criança a protagonista de suas vivências nos espaços de brincar. Os espaços são apropriados e recriados conforme os seus valores, construindo as suas territorialidades infantis; ou seja, exercendo as suas práticas no espaço. Na concepção de Cavalcanti (2006, p. 39): o território é considerado como campo de força, de múltiplas escalas, produzido a partir de uma apropriação e de uma ocupação de um espaço por um agente, que pode ser o Estado, uma empresa, um grupo social ou um indivíduo. Em diversos graus, portanto, em momentos diferentes e em lugares variados, somos todos agentes, e estabelecemos limites entre nós e os outros, entre o nosso e o de outros; todos elaboramos estratégias de produção que se chocam com outras estratégias de apropriação e uso dos territórios. Assim, as ações desenvolvidas no cotidiano das crianças serão analisadas para se chegar à compreensão da territorialidade exercida nos espaços de brincar vivenciados por elas. Portanto, a criança será considerada em nosso estudo como um ser ativo, que também desenvolve ações no espaço de acordo com as suas expectativas, por meio de interações e, ao analisarmos as práticas espaciais das crianças, estaremos constatando a firmação da territorialidade exercida por elas, por meio das brincadeiras em diferentes espaços utilizados no exterior de suas casas. Por meio do levantamento de informações sobre as interações desenvolvidas pelas crianças no espaço e a forma como ocorre a apropriação do mesmo, os sentimentos de afetividade, a subjetividade e a imaginação serão considerados, pois as crianças desenvolvem
38742 relações de pertencimento ao lugar. Desta maneira, o conceito lugar será utilizado para analisar as relações das crianças com os espaços de brincar. Conforme Coelho (2007, p. 177) destaca: a brincadeira é uma das interações habituais da infância que transformam, por meio da imaginação, o espaço vivido em espaço afetivo. A autora (2007, p. 177) ainda acrescenta que: conforme a ideia de lugar amplia o pertencimento da criança, marca o seu território de domínio, ao transformar o ambiente vivido em espaço íntimo, isto é lugar. Enquanto grupo social, as crianças fazem, portanto, um determinado uso do lugar e possuem uma visão diferente do mesmo, sendo que determinadas características por elas observadas podem não ter representação perante o uso que os adultos fazem do mesmo lugar. Ao utilizarmos o conceito de lugar, também temos que considerar a dialética do local e global atuando ao mesmo tempo, parafraseando com Cavalcanti (2006, p. 36): o lugar é, portanto, o habitual da vida cotidiana mas, por outro lado, também é por onde se concretizam relações e processos globais. Assim, interessa-nos, também, identificar como a realidade local se relaciona com o contexto global e materializam mudanças conferindo espaços de brincar alinhados ao contexto econômico, cultural e social vigente. Metodologia Para o desenvolvimento desta pesquisa, a opção metodológica é a abordagem qualitativa. Esta opção metodológica deve-se à forma como a abordagem qualitativa permite analisar o objeto de estudo. O contato com o objeto de estudo é direto, fato que possibilita um envolvimento intenso com a situação investigada (MAIA, 2007). Sobre o papel do pesquisador em uma pesquisa qualitativa, Machado (2007, p. 10) afirma que: [...] constitui-se no principal instrumento da pesquisa, ou seja, a realidade é uma construção social da qual o pesquisador participa, consequentemente, acarretando a valorização da imersão do pesquisador no contexto estudado. Chizzotti (1998, p. 80) também aponta que em uma pesquisa que utiliza esta opção metodológica, o pesquisador: [...] é um ativo descobridor do significado das ações e das relações que se ocultam nas estruturas sociais. Como o objeto de estudo da presente pesquisa são os espaços de brincar experimentados por crianças de 8 a 11 anos de idade na cidade de Assis (SP), analisados a partir dos conceitos estruturadores da Geografia: paisagem, lugar e território, optou-se por
38743 utilizar especificamente a metodologia estudo de caso. De acordo com Maia (2007, p. 87), a metodologia estudo de caso: [...] deve ser escolhida quando o objetivo é estudar algo singular, que tenha valor em si mesmo, pois seu interesse incide naquilo que o objeto em questão tem de único e particular. Assim, serão analisadas as relações que os sujeitos, as crianças, mantém com o espaço, o qual é apropriado por elas por meio de suas vivências e de suas visões de mundo e as modificações que ocorrem no espaço devido à dinâmica social que cria e recria espaços destinados para as atividades do brincar. E também será realizada a análise da visibilidade das crianças, as quais se constituem em um grupo social distinto, em relação às políticas públicas voltadas para assegurar espaços de brincar destinados para o desenvolvimento de brincadeiras. Durante a realização desta pesquisa, serão coletados dados referentes aos espaços de brincar situados fora de casa que são utilizados por crianças que residem na cidade de Assis (SP). Os dados coletados terão como fonte de informação um grupo de dez crianças com idade entre 8 e 11 anos. Dentre as dez crianças, cinco serão de uma escola particular e as outras cinco de uma escola situada em área de exclusão social. As informações serão obtidas através de pesquisa bibliográfica, acervo documental (plano diretor da cidade) e de campo. Os instrumentos e técnicas de pesquisa constituirão de conversas, entrevistas, desenhos confeccionados pelas crianças, fotografias dos espaços atuais utilizados para o desenvolvimento das atividades do brincar, observação dos espaços de brincar elencados pelas crianças para verificar as suas características e seleção visual das fotos dos espaços de brincar utilizados pelas crianças. A pesquisa bibliográfica está sendo realizada por meio de levantamento em teses e dissertações de programas de Pós-Graduação em Educação e Geografia recomendados pela CAPES, em periódicos com qualis reconhecidos nas áreas de Educação e Geografia sobre os temas: espaços de brincar, geografia da infância, paisagem, lugar e território. Com relação às conversas e entrevistas com as crianças, retomamos Chizzotti (1998, p. 83) ao afirmar que os sujeitos participantes do contexto a ser analisado em uma pesquisa qualitativa: [...] são reconhecidos como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam. Portanto, acreditamos que as crianças, por meio da apropriação, fazem transformações do uso das formas espaciais de acordo com as suas necessidades, as quais surgem em decorrência do desenvolvimento das
38744 suas brincadeiras. Assim, por meio das conversas informais, poderá ser realizada a análise a partir das falas das crianças, tendo o objetivo de compreender a territorialidade exercida por elas nestes espaços que podem ou não serem voltados para a atividade do brincar. A partir deste primeiro contato oportunizado pelas conversas, será pedido para as crianças confeccionarem desenhos sobre estes lugares apropriados por elas em seu contexto, para que também forneçam as suas impressões. Observando-se os desenhos das crianças, será possível constatar quais são as características que mais lhes chamam a atenção nos espaços de brincar. Para Natividade et al (2008, p. 10), na relação das crianças com os desenhos: [...] percebe-se que habitualmente elas gostam de desenhar, sendo o desenho um canal privilegiado de expressão de suas ideias, vontades, emoções, enfim, do modo como lêem a realidade. Depois deste levantamento dos espaços de brincar utilizados pelas crianças será realizada a captação de fotos dos mesmos para analisá-los a partir das informações registradas nas conversas informais e nos desenhos confeccionados pelas crianças. Desta forma, as fotos se constituirão em um instrumento que possibilitará a identificação dos elementos que compõem as paisagens dos espaços de brincar. Os espaços de brincar citados pelas crianças também serão observados nos momentos que as crianças não estiverem brincando com o intuito de examinar suas características e verificar se são apropriados para o desenvolvimento das brincadeiras ou se são utilizados pelas crianças de acordo com as suas expectativas. Com relação à técnica da seleção visual, serão disponibilizadas para as crianças algumas fotografias de espaços de brincar da cidade de Assis (SP) para que façam escolhas que apontarão informações relevantes e significativas para a pesquisa. Ao se apresentar as fotos para as crianças, será possível compreender aspectos em relação ao uso destes espaços de brincar. Destacamos que, na pesquisa proposta, para haver o entendimento da espacialidade exercida pelas crianças será necessário considerar todos os detalhes registrados durante a coleta de dados para realizar a análise; será, portanto, realizada uma pesquisa descritiva e explicativa dos espaços de brincar situados fora de casa e utilizados pelas crianças da cidade de Assis (SP).
38745 Resultados e discussões Considerando a importância das brincadeiras no processo de desenvolvimento das crianças e partindo da perspectiva de que a criança é um ser ativo nos espaços de brincar, acreditamos que devido às diferenças culturais existentes entre os diversos grupos sociais, a forma como ocorre a apropriação do espaço e a constituição do mesmo enquanto lugar, onde é exercida a territorialidade pelo grupo, define características singulares do processo de apropriação de cada espaço utilizado para as atividades do brincar pelas crianças. Na medida em que as crianças exercem a sua territorialidade nos espaços de brincar, apropriam-se deles e criam brincadeiras, constroem a sua identidade nestes espaços e dotam de significados os espaços de brincar perante o grupo, ao mesmo tempo em que as mesmas brincadeiras se constituem em um meio de desenvolvimento destes sujeitos. Portanto, por meio do ato de brincar, as crianças desenvolvem atividades que propiciam o seu pensar e agir no mundo, pois durante a realização das brincadeiras surgem situações novas que requerem a reflexão das crianças para que ocorra o desenrolar das atividades do brincar. Sendo este espaço de brincar apropriado por elas dotado de significados, constitui-se em um lugar de afetividade onde elas gostam de estar, vivenciando a sensação de pertencimento (COELHO, 2007). Os espaços de brincar, nesta perspectiva, tornam-se lugares importantes para as crianças, pois são espaços onde elas desenvolvem atividades que propiciam a prática de suas territorialidades, onde desenvolvem as suas ações. Além disso, os objetos que constituem os lugares são utilizados pelas crianças em muitas situações com uma função diferente daquela para que foram criados pelos adultos, em virtude das territorialidades infantis exercidas no lugar. Assim, como a criança constrói a sua territorialidade infantil a partir de suas vivências, o lugar poderá ser consumido por elas de forma diferente à que um adulto o vivencia em virtude das experiências já desenvolvidas por um e outro sujeito. Consideramos, até mesmo, que as crianças podem criar funções para os lugares que não são percebidas pelos adultos, pois na percepção dos sujeitos da presente pesquisa o significado do lugar se encontra em construção; as crianças recriam para si o significado do lugar. Um aspecto importante na análise dos espaços de brincar situados fora de casa da cidade de Assis (SP), relacionado ao conceito de paisagem, tem ligação com a permanência e transformação dos elementos que a configuram devido à dinâmica da sociedade. As modificações que vão ocorrendo nas paisagens que formam o espaço geográfico são
38746 resultantes das ações que a sociedade desenvolve no decorrer do tempo, caracterizando um processo contínuo, dinâmico, sendo que as brincadeiras desenvolvidas pelas crianças também alteram as paisagens. De acordo com Santos (1988, p. 66), "uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos.. Santos (1988, p. 68) ainda afirma que: a paisagem não é dada para todo o sempre, é objeto de mudança. É um resultado de adições e subtrações sucessivas. Neste contexto, por meio da análise da paisagem, é possível identificar as transformações e permanências relacionadas à materialização dos espaços de brincar. Considerações Finais As crianças, no processo de apropriação dos espaços de brincar situados fora de casa, utilizam tais espaços conforme os seus interesses para o desenvolvimento das brincadeiras. Nesta perspectiva, os espaços de brincar situados fora de casa são constantemente reconstruídos nos diferentes momentos, tanto pelas ações das crianças que podem ter estes espaços já prontos para serem utilizados para o desenvolvimento das brincadeiras, ou reconstroem estes espaços de brincar que possuem um primeiro uso, ou seja, que possuem outra função, mas que são recriados conforme as necessidades destes sujeitos. Portanto, consideramos as crianças sujeitos ativos e que exercem a espacialidade de acordo com as suas necessidades, interesses e visões de mundo. Também é importante colocarmos que, devido ao atual nível de desenvolvimento tecnológico, são produzidos espaços de brincar com o objetivo de atrair as crianças e lucrar por meio de sua utilização. Assim, os espaços de brincar são consumidos enquanto mercadoria, já que o seu uso é cobrado; portanto, os espaços de brincar passam por transformações relacionadas à organização social da sociedade. REFERÊNCIAS CAVALCANTI, Lana de Souza. Bases teórico-metodológicas da geografia: uma referência para a formação e a prática de ensino. In: CAVALCANTI, Lana de Souza (Org.) Formação de professores: concepções e práticas em geografia. Goiânia: E.V., 2006. p. 27-50. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998.
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