Estudos Italianos em Portugal

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Transcrição:

ISSN 0870-8584 O 25 de Abril de 1974 e as relações luso-italianas Luciana Castellina, La prima rivoluzione in diretta Susana Lobo, Viaggio in Italia. O SAAL Norte e os anos de chumbo Giulia Strippoli, Lotta Continua e il processo rivoluzionario portoghese Marco Gomes, Dove va il Portogallo? A Revolução de Abril como grande acontecimento discursivo Dea Merlini, Appunti per un analisi comparata del fenomeno della canzone impegnata degli anni 60 e 70 in Portogallo e Italia Maria João Almeida, Teatro italiano em Portugal: 10 anos depois de Abril de 1974 Manuel G. Simões, Um rio com vários afluentes: o 25 de Abril e o contributo italiano Manuel Cadafaz de Matos, Apontamentos para a circulação de Boccaccio em Portugal nos séculos XV e XVI Mario G. Losano, Wenceslau de Moraes e la Grande Guerra vista dal Giappone Nova Série Nº 9 2014 Estudos Italianos em Portugal 9 2014

Estudos Italianos em Portugal Nova Série, N.º 9, 2014 Instituto Italiano de Cultura de Lisboa Direcção: Lidia Ramogida Coordenação Editorial: Rita Marnoto Conselho Científico: Aires A. Nascimento, Eugénio Lisboa, João Bigotte Chorão, Manuel G. Simões, Maria Manuela Tavares Ribeiro, Paulo Cunha e Silva Conselho Editorial: Ernesto Rodrigues, Gianluca Miraglia, Isabel Almeida, Maria João Almeida ISSN: 0870-8584 Depósito Legal: 368065/13 Design: FBA. Ferrand, Bicker & Associados Impressão e Acabamento: Simbolomania - Artes Gráficas, Lda. Direcção e Administração: Instituto Italiano de Cultura de Lisboa Rua do Salitre, 146 1250-204 Lisboa iiclisbona@esteri.it www.iiclisbona.esteri.it Coordenação Editorial: Instituto de Estudos Italianos Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 3004-530 Coimbra rmarnoto@fl.uc.pt Os trabalhos publicados são sujeitos a avaliação, de forma anónima, por especialistas internos e externos à Comissão Científica e à Comissão Redactorial da revista.

ÍNDICE Editorial Dossiê O 25 de Abril de 1974 e as relações luso-italianas 5-8 9-118 Luciana Castellina, La prima rivoluzione in diretta Susana Lobo, Viaggio in Italia. O SAAL Norte e os anos de chumbo Giulia Strippoli, Lotta Continua e il processo rivoluzionario portoghese Marco Gomes, Dove va il Portogallo? A Revolução de Abril como grande acontecimento discursivo Dea Merlini, Appunti per un analisi comparata del fenomeno della canzone impegnata degli anni 60 e 70 in Portogallo e Italia Maria João Almeida, Teatro italiano em Portugal: 10 anos depois de Abril de 1974 Manuel G. Simões, Um rio com vários afluentes: o 25 de Abril e o contributo italiano Artigos Manuel Cadafaz de Matos, Apontamentos para a circulação de Boccaccio em Portugal nos séculos XV e XVI Mario G. Losano, Wenceslau de Moraes e la Grande Guerra vista dal Giappone 13 27 47 63 81 95 111 121 133 Recensões Clelia Bettini, Apocrife contee. José Cardoso Pires: Faulkner, Vittorini e il neorealismo portoghese (Manuel G. Simões) 149

Tabucchi o del Novecento, a cura di Vincenzo Russo (Giovanni Capecchi) Parole per Antonio Tabucchi, a cura di Roberto Francavilla (Riccardo Greco) Adamastor e dintorni. In ricordo di Antonio Tabucchi, a cura di Valeria Tocco (Clelia Bettini) Editou-se... (Paola D Agostino) Vasco Graça Moura in memoriam (Rita Marnoto) 152 155 159 165 167

EDITORIALE L ormai consueto appuntamento annuale con la rivista Estudos Italianos em Portugal non poteva ignorare, questa volta, il 40.º anniversario della Rivoluzione dei garofani e la data del 25 aprile, che di per sé ha assunto negli anni un sapore tutto particolare per gli italiani che vivono in Portogallo e che vedono in tale data una sorta di simbolo (sia pure casuale nella coincidenza che l associa alla nostra festività del 25 aprile) dell amicizia fra i due popoli. Il dossier che presentiamo quest anno analizza appunto gli avvenimenti, affascinanti e contraddittori, che caratterizzarono il 25 aprile del 1974 in Portogallo e le lotte che ne seguirono, fino alla definitiva democratizzazione del Paese e al suo ingresso nella Comunità europea. Come è ormai consuetudine, i contributi che la rivista ospita sono di altissimo prestigio e vanno dal valore memorialistico di chi assisté in prima persona agli eventi (come Luciana Castellina) al sapiente amalgama di memoria personale e lungo studio dei rapporti culturali che da decenni legano il Portogallo all Italia (come nel caso dei professori Maria João Almeida e Manuel G. Simões), fino alla cura accademica degli altri prestigiosi interventi, i quali mirano a ricostruire un epoca attraverso lo studio successivo dei numerosi documenti. E ancora una volta, come negli altri anni, il pur ricco dossier non esaurisce l offerta culturale della rivista, che presenta

due articoli su due scrittori di grande pregio, come Giovanni Boccaccio e Wenceslau de Moraes (quest ultimo diventa anche occasione per ricordare l altro grande anniversario dell anno: la Grande Guerra) oltre alle recensioni su quanto di meglio si va pubblicando nell ambito dei rapporti culturali luso-italiani. Ancora una volta desidero rinnovare il mio sentito ringraziamento a tutti coloro che hanno generosamente contribuito alla realizzazione di questo numero, il 9 della nuova serie, in particolare alla Prof.ssa Rita Marnoto che, con la passione e la perizia di sempre, ne ha curato il coordinamento editoriale. Lidia Ramogida

EDITORIAL O já habitual encontro anual com a revista Estudos Italianos em Portugal não podia esquecer, desta vez, o 40.º aniversário da Revolução dos Cravos e a data do 25 de abril, que só por si adquiriu ao longo dos anos um sabor muito particular para os italianos que vivem em Portugal e que veem nesta data uma espécie de símbolo (ainda que casual na coincidência que a associa ao nosso feriado do 25 de abril) da amizade entre os dois povos. O dossiê que apresentamos este ano analisa de facto os acontecimentos, fascinantes e contraditórios, que caraterizaram o 25 de abril de 1974 em Portugal e as lutas que os seguiram, até à definitiva democratização do País e à sua entrada na Comunidade Europeia. Como já é hábito, os contributos que a revista recebe são de altíssimo prestígio e vão desde o valor memorialístico de quem assistiu na primeira pessoa aos eventos (como Luciana Castellina) à sapiente amálgama de memória pessoal e aprofundado estudo das relações culturais que desde há anos ligam Portugal a Itália (como é o caso dos Professores Maria João Almeida e Manuel G. Simões), até à atenção académica das outras prestigiosas intervenções, as quais visam reconstruir uma época através do sucessivo estudo dos diversos documentos. E mais uma vez, como nos anos anteriores, o tão rico dossiê não esgota a oferta cultural da revista, que apresenta dois

artigos sobre dois escritores de grande prestígio, como Giovanni Boccaccio e Wenceslau de Moraes (tornando-se este também ocasião para recordar o outro grande aniversário do ano: a Grande Guerra), além das recensões sobre o que de melhor se vai publicando no âmbito das relações culturais luso-italianas. Mais uma vez desejo renovar os meus sentidos agradecimentos a todos os que generosamente contribuíram para a realização deste número, o 9 da nova série, em particular à Professora Rita Marnoto que, com a paixão e a perícia de sempre, cuidou da sua coordenação editorial. Lidia Ramogida

DOSSIÊ O 25 de Abril de 1974 e as relações luso-ita LIANAS Passados 40 anos sobre o 25 de Abril de 1974, a revista Estudos Italianos em Portugal dedica o seu dossiê temático às relações entre as duas culturas no contexto da revolta organizada pelo Movimento das Forças Armadas. Na verdade, se a Itália foi um dos países que com mais atenção e entusiasmo acompanhou o pulsar de uma população que se libertava de meio século de ditadura, Portugal reviveu nesse interesse o reforço de relações desde sempre muito estreitas. Uma extraordinária coincidência faz com que no calendário de ambos os Estados o dia 25 de Abril assinale uma memória comum. Na manhã de 25 de Abril de 1945, as forças resistentes ao fascismo e à ocupação alemã proclamavam a libertação de Itália. 29 anos depois, na madrugada de um outro 25 de Abril, era difundido o primeiro comunicado anunciando que o Movimento das Forças Armadas derrubara a ditadura. A ideologia e a organização corporativa deste regime muito devem ao modelo fascista, e a política cultural de Mussolini investiu zelosamente nas relações com Portugal. A ligação entre os dois países remontava às origens da nacionalidade, com o casamento entre o primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques, e a filha do conde Amadeo III de Savoia. O relacionamento de forma alguma foi afectado pela diversidade dos regimes políticos que no pós-guerra governaram cada um deles, apenas passando a ser equacionado sob uma nova perspectiva.

Portugal estava bem posicionado no Tratado da Aliança Atlântica e a Inglaterra era o seu ancestral aliado histórico, o que tinha grande interesse para uma Itália saída da Guerra e à procura de reconhecimento internacional. Além disso, a presença colonial africana oferecia-se como plataforma com vantagens económicas mútuas. Contudo, na década de 1960 as tensões começaram a aflorar em campo diplomático, ao mesmo tempo que movimentos antifascistas e anticolonialistas organizavam, nas principais cidades italianas, acções de informação e manifestações de apoio à resistência portuguesa. A Itália recebera muitos refugiados políticos, embora a sua geografia não fosse a mais favorável para o direccionamento do fluxo dos exilados. Funcionou, porém, como um elo importante na comunicação com as democracias da Europa Central, com o Leste, sendo a escala de voo habitual, e com a América do Sul. Quando no dia 1 de Julho de 1970 o papa Paulo VI recebeu no Vaticano os representantes dos principais movimentos de libertação africanos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, percebeu-se claramente que a derrocada do regime estava iminente. 4 anos depois, deu-se a chamada rivoluzione in diretta, uma formulação que traduz muito bem a especificidade da recepção do 25 de Abril em Itália. Os operacionais de comunicações do exército deram um contributo fundamental ao bom êxito da acção militar e as estações de rádio difundiram as senhas e, cerca das 4 horas da madrugada, o primeiro comunicado das Forças Armadas. Os meios de comunicação italianos deram-lhe destaque imediato em espaço nobre, enquanto um batalhão de repórteres rumava para Lisboa. Mas a diretta não foi só a dos jornalistas, como também a de uma multidão mais ou menos anónima que veio até Portugal para nela participar na primeira pessoa. À diferença de outros golpes de estado que num passado recente tinham abalado o mundo, a Rivoluzione dei garofani estava ali, qual vivência à espera de todos. Italianos e italianas intuíram-no desde o primeiro momento.

A uns, interessava ver como se derrubava uma ditadura sem derramamento de sangue e como depois de 13 anos de guerra colonial se fazia a transição para um regime democrático; a outros, como funcionava a implantação de estratégias políticas de esquerda ou de direita e quais as possibilidades de entendimento; a outros ainda, como se punha em prática o programa dos 3D, Descolonizar, Democratizar, Desenvolver. Vários autores proibidos pela censura encontraram em Itália, antes de 1974, editores e tradutores. Mas a recuperação da liberdade de viajar livremente para o estrangeiro levou então muitos portugueses e portuguesas até Itália, além do mais no objectivo de mostrarem a nova face do país e as mudanças entretanto processadas, e de planificar novas formas de colaboração. Aliás, à viagem a Itália, numa perspectiva alargada, será dedicado o próximo dossiê de Estudos Italianos em Portugal. Este dossiê reúne contributos no âmbito da história, da arquitectura, das ciências políticas, do jornalismo, da música, do teatro e da literatura. Para além da revisitação do passado, propõe-se como projecção de um futuro e necessária reflexão acerca das relações culturais entre dois países tão próximos, 40 anos depois de Abril de 1974. Rita Marnoto