APROVEITAMENTO DO MACHO LEITEIRO UTILIZANDO DIETAS À BASE DE AMIREA 45S. II DESEMPENHO 1

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Transcrição:

APROVEITAMENTO DO MACHO LEITEIRO UTILIZANDO DIETAS À BASE DE AMIREA 45S. II DESEMPENHO 1 TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Bezerros, amirea 45S, desempenho JULIO CÉSAR TEIXEIRA 2 JUAN RAMON OLALQUIAGA PEREZ 3 INGRID ROBLES MORON 4 RUBEM DELLY VEIGA 5 ROSELENE MARQUES DOS SANTOS 6 RESUMO - O presente experimento foi realizado na Universidade Federal de Lavras - UFLA, com o objetivo de estudar o desempenho de bezerros alimentados com dietas contendo amirea 45S em substituição ao farelo de soja. Utilizaram-se 20 bezerros machos provenientes de fazendas da região de Lavras - MG, com idade de 21 dias, que permaneceram no experimento até atingirem 200 kg de peso vivo. Os animais foram distribuídos em um delineamento experimental em blocos casualizados, com 4 tratamentos: T 1 - Controle (concentrado à base de milho e farelo de soja); T 2 = 100% de substituição do farelo de soja por amirea 45S; T 3 = 100% de substituição do farelo de soja pela mistura raspa de mandioca/uréia; T 4 = 100% de substituição do farelo de soja por amirea 45S e mistura raspa de mandioca/uréia. O desempenho dos animais não foi afetado pela substituição do farelo de soja por amirea 45S, ou seja, a amirea 45S pode ser uma alternativa na alimentação de bezerros leiteiros para produção de carne. USE OF MALE CALVES FEEDED WITH DIETS CONTAINING AMIREA 45S. II PERFORMANCE ABSTRACT - This experiment was carried out at the Federal University of Lavras - UFLA with objective to study the performance of male calves feeded with diets containing amirea 45S us a replacement to soybean meal. Twenty male calves aging 21 days were taken from different dairy cattle herd located in Lavras-MG. The animals were blocked on the basis of their body weight and randomly allocated into four treatment groups: T 1 - Control (corn base concentrate and INDEX TERMS: Calves, amirea 45S; performance. INTRODUÇÃO O avanço das técnicas de alimentação e manejo na pecuária leiteira, principalmente relacionado com a criação de bezerros, tem levado os criadores a buscarem a racionalização da produção de bezerros, soybean meal); T 2 = 100% soybean meal replaced with amirea 45S; T 3 = 100% soybean meal replaced with a mixture of manioc scrapings plus urea; T 4 = 100% soybean meal replaced with a mixture of manioc scrapings plus urea and amirea 45S. The animal performance was not affected by the replacement of soybean meal with amirea 45S, indicating the use of amirea 45S as na alternative to feed in diets to male calves for meat production. empregando métodos eficientes e econômicos que reflitam no aumento da disponibilidade de carne e na maior oferta de leite para o mercado. No Brasil, a maioria dos bezerros de origem leiteira ainda não é utilizada para o corte, sendo sacrificada ao nascer, desperdiçando-se uma fonte de renda em potencial. 1. Pesquisa financiada pelo Departamento de Zootecnia (DZO) da UNIVERSIDAE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) 2. Professor Titular do DZO/UFLA, Caixa Postal 37 37.200.000 Lavras - MG 3. Professor Adjunto do DZO/UFLA 4. Zootecnista, Doutora em Nutrição de Ruminantes 5. Professor Adjunto do Departamento de Ciências Exatas/UFLA 6. Zootecnista, Msc

204 O grande potencial do bezerro proveniente do rebanho leiteiro, para produção de carne, deixa de ser explorado pelos produtores, com a finalidade de poupar o leite produzido na propriedade, destinando-o à venda. Os bezerros, ao nascimento, são considerados pré-ruminantes e permanecem nessa condição até a desmama. Algumas técnicas de manejo têm permitido a antecipação da idade de transformação dos animais em ruminantes, e isso tem permitido a utilização de alimentos que normalmente são usados para animais adultos, especialmente a uréia, como pode ser comprovado em vários trabalhos de pesquisas realizadas (Brown et al., 1960; Kay et al., 1967; Nelson, 1970; Viera e McLeod, 1980) A amirea é o produto obtido pela extrusão de uma mistura de amido e uréia, sob condições de alta temperatura e pressão, levando à gelatinização do amido (Bartley e Deyoe, 1975 e Teixeira et al., 1988). Segundo os autores, nesse tipo de processamento, o grânulo de amido é gelatinizado e a uréia é modificada de uma estrutura cristalina para uma forma não cristalina, sendo que a maior parte das estruturas não cristalinas formadas é encontrada dentro da porção gelatinizada, tornando-a mais palatável que misturas não processadas de grãos e uréia, pois quanto maior a quebra do amido, mais perfeitamente incorporada será a uréia ao material amiláceo. Nas condições brasileiras, a produção de bezerros de rebanhos leiteiros baseia-se, principalmente, na alimentação com concentrados, cuja fração protéica tem um alto custo. Dentro desse contexto, torna-se importante dispor de alternativas viáveis com vistas a minimizar o custo, promovendo o aproveitamento de bezerros oriundos de rebanhos leiteiros para produção de carne. Objetivou-se, portanto, com o experimento, avaliar o desempenho de bezerros machos leiteiros alimentados com dietas à base de Amirea 45S. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido nas instalações de criação de bezerros do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras - UFLA. Utilizaram-se 20 bezerros machos (holandeses e mestiços), com idade inicial de 21 dias, provenientes de diferentes rebanhos leiteiros da região de Lavras - MG. Após a identificação e pesagem, os animais foram encaminhados a um bezerreiro equipado de baias individuais, de metal e estrado de madeira, com dispositivos para fixação de baldes para o fornecimento de feno, concentrado e dietas líquidas. Os animais receberam, além do concentrado e do volumoso (feno de capim-braquiária), fornecidos à vontade, 4,0 litros de soro de leite por dia até os 56 dias de idade, quando, então, foram desaleitados abruptamente, passando a receber somente a dieta sólida. Os animais foram distribuídos nos 4 tratamentos, em um delineamento experimental de blocos casualizados com 5 repetições, agrupados de acordo com o peso inicial. Os concentrados experimentais (à base de fubá de milho, farelo de soja, farinha de carne, farelo de trigo, sal comum, premix mineral e vitamínico, fosfato bicálcico) foram produzidos e peletizadas na fábrica de ração do Departamento de Zootecnia - UFLA (Tabela 1), e formulados para atingir as exigências do animal (NRC, 1989), além de serem isonitrogenados e isoenergéticos. Os tratamentos avaliados visavam à substituição do farelo de soja, no concentrado, pelos seguintes alimentos: T 1 - Controle (concentrado contendo farelo de soja); T 2 - Concentrado contendo 100 % de substituição do farelo de soja pela amirea 45S; T 3 - Concentrado contendo 100 % de substituição do farelo de soja pela mistura raspa de mandioca/uréia; T 4 - Concentrado contendo 50 % de substituição do farelo de soja pela amirea 45S e 50% da mistura raspa de mandioca/uréia. A amirea 45S (tabela 2) foi obtida pela mistura de raspa de mandioca residual (fonte de amido), gesso e uréia, em misturador vertical, visando a obter um produto o mais homogêneo possível. Feita a mistura, o material foi então processado em um extrusor de fabricação nacional, de rosca única. O produto obtido foi moído e incorporado aos concentrados experimentais. Os animais foram pesados semanalmente, sendo mantidos no experimento até atingirem 200kg de peso vivo. O fornecimento da dieta foi realizada de forma a permitir o consumo à vontade. Diariamente as sobras eram recolhidas, pesadas e armazenadas para posterior análise bromatológica. Para verificar o desempenho dos animais submetidos aos diferentes concentrados experimentais, foram avaliados: consumo de concentrado (CC), consumo de volumoso (CV), ganho de peso (GP), conversão alimentar (CA).

205 TABELA 1 - Composição percentual dos ingredientes utilizados e teores de proteína bruta (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) dos concentrados experimentais. Ingredientes T 1 T 2 T 3 T 4 Fubá de Milho 66,6 66,6 66,6 66,6 Farinha de Carne 5,0 5,0 5,0 5,0 Farelo de Soja 17,4 Amirea 45S 17,4 Mistura (raspa/uréia) 17,4 Amirea 45S + Mistura 17,4 Farinha de Trigo 8,8 8,8 8,8 8,8 Fosfato Bicálcico 1,0 1,0 1,0 1,0 Sal Comum 1,0 1,0 1,0 1,0 Px. Vitamínico 0,1 0,1 0,1 0,1 Px. Mineral 0,1 0,1 0,1 0,1 PB (% da MS) 1 18,0 18,0 18,0 18,0 NDT (% da MS) 1 69,0 69,0 69,0 69,0 1 Valores calculados com base na composição das dietas e no NRC, 1989 TABELA 2 - Composição percentual da amirea 45S Ingredientes % e ijk = erro aleatório As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey a 5%. Raspa de mandioca residual 81,0 Uréia animal 16,0 Gesso agrícola 3,0 Equivalente Protéico 45,0 As análises estatísticas dos dados obtidos foram realizadas no programa Sistema de Análises Estatísticas (SAEG). Utilizou-se o seguinte modelo matemático: Y ij = m + t i + b j + e ijk, em que: m = média geral; t i = efeito do tratamento i, sendo i = 1,...4; b j = efeito do bloco j, sendo j = 1,..5; RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 3, pode-se observar as médias do ganho de peso diário (GP), o consumo de concentrado (CC), consumo de volumoso (CV) e conversão alimentar (CA) dos bezerros. Não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) entre as fontes de proteína (N) para quaisquer das variáveis controladas. Vários autores (Viera e McLeod, 1980; Huber e Kung, 1981) verificaram que bezerros desmamados precocemente poderiam utilizar fontes de nitrogênio não-protéico e obter bons ganhos de peso. Rodrigues, Campos e Verneque (1984) concluíram que a inclusão de 1,5% de uréia no fubá da dieta de bezerros a partir da sétima semana de idade permitiu aumentos no ganho de peso na ordem de 50% em relação a dietas sem

206 uréia. Pelos resultados, há a indicação de que os animais alimentados com uréia ou amirea estavam aptos a utilizar nitrogênio não protéico e a obter parte de seus requerimentos protéicos a partir da uréia. Pode-se observar na Tabela 3 que a substituição da fonte protéica de origem vegetal por amirea 45S não afetou o desempenho dos animais. Winter (1976), trabalhando com três níveis de proteína na dieta (12,9%; 17,5% e 21,6%), suplementadas com 0,0; 1,5 e 2,7% de uréia, respectivamente, e ainda com uma dieta com 17,9% de proteína bruta à base de farelo de soja, verificou maiores ganhos de peso e consumo de concentrado para a dieta suplementada com farelo de soja, apesar de não diferir estatisticamente das dietas suplementadas com uréia (1,5 e 2,7%). Apesar de apresentar menor consumo, o mesmo autor, em 1973, afirma que o uso da uréia para bezerros desaleitados precocemente pode ser economicamente vantajosa, Winter (1973). A utilização da amirea 45S (T 2 ) não apresentou qualquer problema em relação à sua palatabilidade para os bezerros. De acordo com Stile et al. (1970), a extrusão provoca a incorporação da uréia na estrutura do amido, o que promove melhora na aceitabilidade do concentrado. Esses resultados discordam dos obtidos por Morril e Dayton (1974), os quais utilizaram bezerros jovens entre 7 e 12 semanas de idade para comparar amirea e farelo de soja em dois níveis de proteína na ração. Os autores observaram diferenças significativas no ganho de peso e consumo de concentrado para as dietas com amirea como único suplemento nitrogenado. A diferença no desempenho foi justificada pelo menor consumo de ração. Os tratamentos T 3 e T 4 apresentaram menores valores, apesar de não estatisticamente diferentes (P>0.05), em comparação aos tratamentos T 1 e T 2 com respeito aos parâmetros de CC, GP e CA. Um problema que freqüentemente ocorre nas rações à base de uréia é que ela, normalmente, fica segregada em rações que contêm ingredientes moídos. Stiles et al., (1970), comparando diferentes formas físicas de rações à base de grãos e uréia (macerada, moída e peletizada, grãos expandidos e amirea), concluíram que a amirea foi a forma em que a mistura com uréia se apresentou mais homogênea. Apesar de todos os concentrados deste experimento terem sido peletizados, no momento da mistura pode ter ocorrido alguma segregação, causando menor consumo, devido à menor palatabilidade da uréia e, conseqüentemente, provocando menores ganhos de peso e conversão alimentar. Pode-se observar também que o tratamento T 3 teve o maior consumo de volumoso, apesar de não apresentar diferença estatística, em comparação aos outros tratamentos, o que poderia estar ligado provavelmente à menor palatabilidade dessa ração. Grande parte da proteína consumida pelos ruminantes é degradada no rúmen pelos microrganismos ali presentes e grandes quantidades de amônia podem acumular-se no rúmen. Parte dessa amônia é utilizada para a síntese de proteína microbiana, mas uma grande proporção é, usualmente, perdida. Essas perdas podem ser minimizadas se a taxa de fermentação dos carboidratos degradáveis no rúmen for devidamente sincronizada com a taxa inerente de degradação da proteína. Quando o suprimento de carboidratos disponíveis no rúmen aumenta, existe mais energia para induzir a síntese de proteína microbiana e a utilização de amônia, Russel (1992). A suplementação protéica com amirea pode moderar a concentração de amônia e, conseqüentemente, aumentar a produção de proteína microbiana no rúmen quando comparada com a suplementação com uréia (Stiles et al., 1970) TABELA 3 - Consumo de concentrado (CC), consumo de volumoso (CV), ganho de peso (GP) e conversão alimentar (CA) obtidos com os diferentes tratamentos experimentais, com seus respectivos erros padrões. T 1 T 2 T 3 T 4 CC (g/dia) 2444 a ± 130 2437 a ± 130 2301 a ± 120 2258 a ± 120 CV (g/dia) 553 a ± 90 544 a ± 60 563 a ± 90 507 a ± 60 GP (g/dia) 910 a ± 60 800 a ± 40 740 a ± 60 730 a ± 60 CA 3,07 a ± 0,90 3,76 a ± 0,70 3,86 a ± 0,70 3,82 a ± 0,70 Médias com a mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%

207 CONCLUSÃO A utilização de níveis de amirea 45S de 17,4% nos concentrados, como principal fonte protéica, não afetou as características de desempenho avaliadas, demonstrando ser uma fonte protéica viável, quando comparada à fonte de proteína vegetal, como o farelo de soja, no aproveitamento do macho leiteiro, visando à produção de carne. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a PETROBRÁS S/A, pelo apoio fornecido para a condução deste experimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTLEY, E.E.; DEYORE, C.W. Starea as a protein replace for ruminants. Feedstuffs, Minneapolis, v.47, n.30, p. 42-44, Jul, 1975. BROWN, L.D.; JACOBSON, D.R.; EVERETT JUNIOR, J.P. et al. Urea utilization by young dairy calves as affects by chlortetracycline supplementation. Journal of Dairy Science, Champaign, v.41, n.3, p. 933-944, 1960. KAY, M.; McLEOD, N.A.; McKIDDIE; et al. The nutrition of early weaned calf. 10. The effect of replacement of fish meal with either urea or ammonium acetate on growth rate and nitrogen retention in calves fed ad libitum. Animal Production, Edinburg, v.9, p.197-201, 1967. HUBER, J.T.; KUNG, Jr.L. Protein and non-protein nitrogen utilization in dairy cattle. Journal of Dairy Science, Champaign, v.64, n.6, p. 1170-1195. Jun. 1981. MORRIL, J.L.; DAYTON, A.D. Soy bean meal versus starea at two concentrations for young calves. Journal of Dairy Science, Champaign, v.57, n.4, p.427-429, 1974. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of dairy cattle, 6 ed., Washington, D.C., 1989. 235p. NELSON, D.K. Urea in starters. Feedstuffs, Minneapolis, v.42, n.29, p. 32-34, 1970. RODRIGUES, A. de A.; CAMPOS, O.F. de; VERNEQUE, R. da S. Uréia no concentrado para bezerros desaleitados precocemente. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.13, n.4, p.542-546, 1984. RUSSEL, J.B. Minimização das perdas de nitrogênio pelos ruminantes. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES, 1992, Lavras. Anais... Lavras- MG ESAL, 1992. P.232-251. STILES, D.A.; BARTLEY, E.E.; MEYER, R.M.; et al. Feed processing. VII. Effect of an expansionprocessed mixture of grain and urea (starea) on rumen metabolism on cattle and on urea toxicity. Journal of Dairy Science, Champaign, v.53, n.10, p. 1436-1447, 1970. TEIXEIRA, J.C.; CORREIA, L.F.A.; FALCO, J. E.; MAIA, R.L.A.; VILELA, E.R. Use of amirea in rabbits as nitrogen source in partial substitution for soybean meal. Journal of Animal Science, Champaign, v.66, (Supl.1), p. 337-338, 1988. VIEIRA, D.M.; McLEOD, G.K. Effects of physical form of corn and urea supplementation on the performance of male Holstein calves. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v.60, n.4, p.931-936, Dec. 1980. WINTER, K.A. Urea as a nitrogen supplemented in starter feeds for early weaned calves. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v.53, n.2, p.339-343, June 1973. WINTER, K.A. Protein levels in urea supplemented starter rations for young calves. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v.56, n.4, p.817-821, Nov. 1976.