JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº201070530009622/PR RELATOR : Juiz André Luís Medeiros Jung RECORRENTE : CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA RECORRIDO : NODAK E TAKASHI LTDA - ME VOTO Preliminar de Incompetência Absoluta do Juizado Especial Federal A recorrente sustentou a incompetência absoluta do Juizado Especial Federal para julgar a presente demanda uma vez que a apreciação do mérito implica declarar nulo o ato administrativo. Guarda razão em parte a recorrente. No caso, ao Juizado Especial Federal compete tão somente apreciar o pedido de repetição de indébito de anuidades vertidas a Conselho de Fiscalização Profissional, não possuindo competência no que tange ao pedido de declaração de inexigibilidade de inscrição da parte autora no Conselho Regional de Medicina Veterinária, o qual resta adstrito ao Juízo Comum por tal ato configurar anulação de ato administrativo federal (art. 3º, 1º, III da Lei nº 10.259/01). Nesse sentido: REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONSELHO DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. ANUIDADES. CAUSA DE PEDIR ILEGALIDADE DA INSCRIÇÃO. PET SHOPS. DECLARAÇÃO DE ILEGALIDADE DA INSCRIÇÃO. INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO. Incompetência de Juizado Especial Federal para a declaração direta de inexigibilidade de inscrição em Conselho de Fiscalização Profissional, com efeitos futuros e erga omnes, por representar anulação de ato administrativo federal (art. 3º, 1º, III da Lei nº 10.259/01). Reforma, de ofício, da decisão recorrida, neste ponto. O Juizado Especial Federal é competente para processar e julgar ação de repetição de indébito de anuidades vertidas a conselho de fiscalização 1/5
profissional, com fundamento na ilegalidade do ato de inscrição. Repetição das anuidades deferidas por não estarem sujeitas ao registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária empresas cujo objeto social seja o comércio verejista de rações para animais, acessórios para animais, medicamentos, animais de estimação, peixes ornamentais, aquários, gaiolas, adubos, sementes, artigos para pesca, serviços de banho e tosa,e outras atividades análogas, que não consistam em exercício de atos inerentes à Medicina Veterinária. (IUJEF 2006.70.50.009062-6, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator Ivori Luís da Silva Scheffer, D.E. 08/05/2009). Assim, em face da decisão acima, prossigo na apreciação do recurso interposto, tão somente no que se refere ao pedido de repetição dos valores vertidos pela autora a título de anuidades. Preliminar de Ilegitimidade Passiva do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná Os Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional exercem, por delegação, o poder que detém o Conselho Federal das respectivas categorias, o que os legitima a figurar no pólo passivo das demandas em que se discute a cobrança da anuidade. Da mesma forma, não há falar em litisconsórcio necessário, uma vez que o objeto da demanda fixação do valor da nulidade está incluído na referida delegação (Nesse sentido TRF4, APELREEX 2008.72.00.012608-6, Primeira Turma, Relatora Vivian Josete Panteleão Caminha, D.E. 19/01/2010; TRF4, AG 2007.04.00.030921-2, Primeira Turma, Relator Vilson Darós, D.E. 08/01/2008). Recorrente. Assim, resta afastada a preliminar aventada pelo Mérito No que tange aos limites da matéria objeto do Recurso Inominado interposto pela parte ré, a sentença, nos termos em que 2/5
prolatada, está em absoluta harmonia com os mais recentes precedentes jurisprudenciais, como se pode verificar da seguinte ementa: ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA CRMV. COMÉRCIO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS. REGISTRO. RESPONSÁVEL TÉCNICO. A atividade básica da empresa define a entidade classista perante a qual deve manter registro. A anotação de responsabilidade técnica deve ser providenciada em face da natureza das atividades ou dos serviços prestados. Tendo a empresa como atividade básica comércio varejista de medicamentos e produtos veterinários e agropecuários, comércio varejista de plantas, flores naturais e artificiais e frutos ornamentais e comércio varejista de implementos agrícolas, inexiste a obrigatoriedade de registro perante o CRMV, anuidade do Conselho e de contratação de médico veterinário como responsável técnico. (TRF4, AC 2008.71.00.026084-0, Quarta Turma, Relator Sérgio Renato Tejada Garcia, D.E. 23/11/2009). Assim, no mérito, mantenho a sentença por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46, parte final, da Lei n. 9099/1995 ( Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão ). Ficam adotados como fundamentos do acórdão desta Turma, portanto, exatamente aqueles mesmos contidos na sentença recorrida, no bojo da qual foram analisadas todas as alegações que se mostravam pertinentes à solução da presente causa. Saliento que (...) Não viola a exigência constitucional de motivação a fundamentação de turma recursal que, em conformidade com a Lei n. 9099/95, adota os fundamentos contidos na sentença recorrida. (STF - AI 732667 AgR, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 09/06/2009). A decisão da Turma Recursal assim proferida é suficiente para interposição de qualquer recurso posterior, já que o prequestionamento é desnecessário no âmbito dos Juizados Especiais. 3/5
Basta constatar que para conhecimento de pedido de uniformização de jurisprudência não se exige que a matéria ventilada tenha sido prequestionada. E para a interposição de recurso extraordinário igualmente não se há de exigir, até porque tal iria em contrariedade aos princípios que norteiam os Juizados Especiais (dentre os quais, destaquem-se, os da simplicidade, informalidade e celeridade) e em muito enfraqueceria aqueles mecanismos que emprestam grande celeridade e se encontram previstos no art. 46 da Lei n. 9099/1995. Todavia, para evitar futuros embargos declaratórios, dou por expressamente prequestionados todos os dispositivos indicados pelas partes neste processo, para fins do art. 102, III, da Constituição Federal, respeitadas as disposições do art. 14, caput e parágrafos, e art. 15, caput, da Lei n. 10.259/2001. A repetição dos referidos dispositivos no corpo deste voto é desnecessária, para não causar tautologia. Importa ainda destacar que o órgão jurisdicional somente necessita tecer considerações acerca dos dispositivos legais/constitucionais que entende relevantes para o deslinde da lide. Dele não se exige que afaste, um a um, todo artigo invocado pelas partes. Entendam-se, pois, por inaplicáveis os dispositivos referidos pelas partes que já não foram expressamente refutados no feito. Pelo exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso interposto, pois julgo que: a) o Juizado Especial Federal é incompetente para processar e julgar o pedido de declaração de inexigibilidade de inscrição da autora no Conselho de Fiscalização Profissional que figurou como réu neste feito; nesse ponto, fica anulada a sentença; b) o Juizado Especial Federal é competente para processar e julgar ação de repetição de indébito de anuidades vertidas a Conselho de Fiscalização Profissional; c) procede o pedido de repetição de indébito, nos termos estabelecidos pelo Juízo de Origem, daí porque, nesse tocante, mantenho a sentença por seus próprios fundamentos. 4/5
Sem condenação em custas processuais ou honorários de advogado, pois a parte recorrente logrou algum êxito em grau recursal. É o voto. ANDRÉ LUÍS MEDEIROS JUNG Juiz Federal Relator 5/5