EPISTEMOLOGIA E PEDAGOGIA. Profa. Jaqueline Santos Picetti

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Transcrição:

EPISTEMOLOGIA E PEDAGOGIA Profa. Jaqueline Santos Picetti

Existem três diferentes formas de conceber a relação ensino/aprendizagem: Empirismo Pedagogia Diretiva Apriorismo Pedagogia Não-Diretiva Interacionismo/Construtivismo Pedagogia Relacional

PEDAGOGIA DIRETIVA SUA EPISTEMOLOGIA

Como é essa sala de aula?

O professor observa seus alunos entrarem, esperando que sentem e fiquem silenciosos. Se o silêncio não ocorre, exige que se faça para então iniciar a aula.

As classes estão enfileiradas e afastadas umas das outras, impedindo conversas paralelas entre os alunos.

Nessa relação: - o professor fala e o aluno escuta; - ele dita e o aluno copia; - decide o que fazer e o aluno executa; - ele ensina e o aluno aprende.

Ação do professor - crença de que o conhecimento pode ser transmitido para o aluno. Mito da transmissão do conhecimento.

Para esse tipo de epistemologia (EMPIRISMO), a pessoa, ao nascer, é como uma folha de papel em branco, uma tábula rasa, onde depositamos todos os conhecimentos. Para o professor, que trabalha a partir desse enfoque teórico, somente ele pode produzir algum novo conhecimento no aluno.

EMPIRISMO: O progresso intelectual é atribuído à pressão do meio exterior. As características do meio exterior seriam gravadas no espírito da criança. Ignora-se a atividade intelectual em proveito da pressão exercida pelas coisas.

EMPIRISMO: A experiência se impõe por si mesma, sem que o sujeito tenha de organizá-la. A experiência é uma recepção (PIAGET, 1987). A aprendizagem é concebida como registro de dados exteriores (PIAGET, 1990).

Nessa pedagogia, configura-se o quadro da reprodução: da ideologia, do autoritarismo, da coação, da heteronomia, da subserviência, do silêncio, da morte da crítica, da criatividade, da curiosidade etc.

S O A P

Nessa relação, o professor nunca aprende e o aluno nunca ensina.

PEDAGOGIA NÃO-DIRETIVA SUA EPISTEMOLOGIA

Epistemologia Apriorista Difícil de detectá-la. Sua presença ocorre mais nas concepções pedagógicas e epistemológicas do que na prática de sala de aula.

O professor é uma auxiliar do aluno, um facilitador. Pedagogia Humanista Carl Rogers.

O aluno já traz em si um saber que necessita trazer à consciência, organizar ou rechear de conteúdos. É um processo de florescimento do conhecimento professora jardineira.

O professor interfere o mínimo possível. O desenvolvimento e a aprendizagem dependem do amadurecimento do sistema nervoso.

Qualquer ação do aluno é considerada, a priori, boa e instrutiva.

É um trabalho a partir do laisser-faire: deixa fazer, o aluno encontrará o caminho.

A ideia do professor - o aluno aprenderá por si mesmo. O professor - poderá apenas auxiliar a aprendizagem do aluno, despertando o conhecimento que já existe nele.

Aprioristas - o conhecimento é concebido como algo que mergulha suas raízes no sistema nervoso, isto é, na estrutura pré-formada do organismo.

A partir dessa epistemologia, o professor pode inconsciente, renunciar sua característica fundamental, que é a de intervir no processo de aprendizagem do aluno.

S O A P

PEDAGOGIA RELACIONAL SUA EPISTEMOLOGIA

Como pode ser a sala de aula?

O professor e os alunos entra na sala de aula. O professor traz algum material algo que, presume, tem significado para os alunos. Propõe que eles explorem o material (...) Esgotada a exploração do material, o professor dirige um determinado número de perguntas, explorando, sistematicamente, diferentes aspectos problemáticos a que o material dá lugar. Pode se solicitar, em seguida, que os alunos representem desenhando, pintando, escrevendo, fazendo cartunismo, teatralizando, etc. o que elaboraram. A partir daí, discute-se a direção, a problemática, o material da (s) próxima (s) aula (s). As matérias que envolvem laboratório constituem campo aberto para todo tipo de experiência (BECKER, 2001, p. 23).

O professor compreende que, o aluno aprende quando constrói algum conhecimento novo, precisando para isso agir e problematizar a ação.

Professor - duas condições necessárias para que o conhecimento novo seja construído: * que o aluno aja sobre o material que ele presume que tenha algo cognitivamente interessante (significativo) e * que o aluno responda para si mesmo os desafios provocados pela interação com o material, podendo assim também apropriar-se, num segundo momento, dos mecanismos íntimos de suas ações sobre o material (reflexionamento e reflexão).

Aprender: é realizar uma síntese renovada entre a continuidade e a novidade.

Piaget: o conhecimento tem início quando o recémnascido age, assimilando alguma coisa do meio físico ou social; esse conteúdo assimilado, ao entrar no mundo do sujeito, provoca, aí, perturbações, pois traz consigo algo novo, para o qual a estrutura assimiladora não tem instrumento;

Piaget: o sujeito refaz seus instrumentos de assimilação em função da novidade; o refazer do sujeito sobre si mesmo é a acomodação. esse movimento, essa ação que refaz o equilíbrio perdido (BECKER, 2001).

CONSTRUTIVISMO (interacionismo):... a inteligência constitui uma atividade organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, graças à elaboração de novas estruturas (PIAGET, 1987, p. 379). O conhecimento não está nem na pessoa que aprende e nem no objeto, mas que se constrói na interação desse sujeito com o objeto.

O conhecimento resulta das interações que ficam a meio caminho entre o sujeito e o objeto, dependendo dos dois ao mesmo tempo e não havendo trocas entre formas distintas (PIAGET, 1990).

Pedagogia Relacional O aluno é capaz de aprender sempre.

A relação aluno-professor dialetização - o professor tanto ensina quanto aprende e aluno tanto aprende quanto ensina. O que o professor aprende?

S O A P

O professor precisa responder para si mesmo: Que cidadão ele quer que seu aluno seja?