O risco de contaminação pelo vírus HIV na cirurgia ortopédica*



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O risco de contaminação pelo vírus HIV na cirurgia ortopédica* MILTON CHOHFI 1, EDUARDO ALEXANDRINO SERVOLO DE MEDEIROS 2, JOSÉ LAREDO FILH0 3, SÉRGIO BARSANTI WEY 4 RESUMO Os autores realizam trabalho de revisão a respeito dos riscos que representam para os profissionais de saúde o tratamento cirúrgico de pacientes portadores do vírus da AIDS. Após considerações sobre o estado atual da infecção em nosso meio, apresentam aspectos dos mecanismos de transmissão do vírus, assim como a história natural da evolução da doença e os meios disponíveis para seu diagnóstico. Em seguida, analisam os acidentes que podem ocorrer no ato cirúrgico e os riscos que representam para os profissionais de saúde. Opinam que a prática do exame sorológico sistemático dos pacientes a serem submetidos a cirurgia deve ser evitada por ser ineficiente e ilegal e substituída por medidas universais de precaução, procurando prevenir os acidentes. Finalmente, apresentam recomendações de medidas a serem tomadas em caso de acidente durante o tratamento de um paciente. Unitermos HIV, cirurgia ortopédica, acidentes cirúrgicos. SUMMARY The risk of HIV transmission in the orthopedic surgery The risks of HIV viral transmission for orthopedic surgeons and other care workers during an operation have been reviewed. The authors presented the current status of this * 1. 2. 3. 4. 670 Trab. realiz. pelo Dep. de Ortop. e Traumatol. da Esc. Paul. de Med. (Serv. do Prof. Dr. José Laredo Filho) e pela Com. de Contr. de Infec. Hosp. da Esc. Paul. de Med. Mestre em Ortop. e Traumatol.; Membro do Setor de Quadril Adulto da Esc. Paul. de Med. Doutor em Doenças lnfecciosas e Parasitárias; Méd. da Com. de Contr. de Infec, Hosp. da Esc, Paul. de Med. Prof. Titular e Chefe do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Esc. Paul. de Med. Prof. Adjunto da Disc. de Doenças Infec. e Parasit. da Esc. Paul. de Med.; Presid, da Com. de Contr. de Infec. Hosp. da Esc. Paul. Med infection in our environment, some aspects of the viral transmission, the evolution of this illness and the diagnostic procedures, They also analysed the accidents which may occur during operation and the potential risks for the health care workers involved in it. They stated that routine screening of all patients undergoing operations must be avoided because it is neither effective nor legal and advocated universal precautions for all patients in order to prevent the risk of HIV infection. Finally, they recommended some procedures to be taken in case of accidents during the treatment of a HIVinfected patient. Key words - HIV orthopedic surgery surgical accidents, INTRODUÇÃO A epidemia da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) contínua em crescimento. Estima-se que no final de 1993 existiam mais de 13 milhões de indivíduos com infecção em todo o mundo (3). No Brasil, até março de 1994, foram notificados 50.022 casos de síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Estimando-se que para cada caso de AIDS existam 50 a 100 indivíduos assintomáticos, provavelmente tenhamos cerca de 2,5 a 5,0 milhões de pessoas com infecção. O Estado de São Paulo é responsável por cerca de 50% dos casos de AIDS notificados no Brasil (23). A transmissão do HIV se faz principalmente através do sangue, secreção vaginal e sêmen. Entretanto, em indivíduos com infecção, o HIV ja foi isolado a partir de várias secreções corporais. Sua identificação na saliva, lágrima, leite humano, líquor, líquido amniótico e urina apresenta diversas implicações para os profissionais de saúde de uma variedade de especialidades clínicas e cirúrgicas. Nos indivíduos assintomáticos, a quantidade habitual do vírus no sangue varia de dez a 50 particular infectantes (PI) por mililitro (ml), aumentando progressivamente com a evolução da doença. De acordo com diversos estudos, o risco de Rev Bras Ortop Vol. 29, Nº 9- Setembro, 1994

O RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV NA CIRURGIA ORTOPÉDICA infecção após um acidente percutâneo com material contaminado pelo HIV é menor que 1%, em geral 0,28% (15). A pequena quantidade de vírus circulante pode explicar o baixo risco de infecção após acidentes percutâneos, em comparação com o vírus da hepatite B, que está presente no sangue de indivíduos com infecção, em concentrações de 10 9 PI por ml, determinando taxas de infecção após acidentes percutâneos de seis a 30% (6,15). Outros líquidos orgânicos, como lágrima, saliva e secreções auriculares, contém pelo menos um décimo a um centésimo da quantidade de vírus do sangue. Assim, estas secreções não representam fontes de contágio. Até esta data não temos conhecimento de qualquer indivíduo que tenha sido infectado pelo HIV através desses líquidos orgânicos. A despeito das evidências epidemiológicas demonstrando baixo risco de transmissão ocupacional do HIV, muitos trabalhadores da saúde com graus limitados de exposição acreditam que exista risco muito maior do que ocorre na realidade. Em diversos profissionais, principalmente das áreas cirúrgicas, o medo da AIDS progrediu a níveis de histeria, tendo impacto negativo na assistência aos pacientes com esta infecção. Os fatores que contribuem para esse receio são complexos e envolvem a falta de conhecimento acerca da transmissão do HIV, a natureza epidêmica da doença, o alto índice de mortalidade e a falta de um tratamento eficaz. Assim, elaboramos esta revisão discutindo os fatores envolvidos na transmissão do HIV a profissionais de saúde, com ênfase às medidas de transmissão e algumas recomendações sobre medidas de precaução que podem ser adotadas. PATOGÊNESE E HISTÓRIA NATURAL O HIV é um retrovírus que predominantemente age sobre células que expressam moléculas CD4, principalmente linfócitos T CD4+. As células de linhagem monócito-macrófago também são suscetíveis à infecção pelo HIV, entretanto, em teoria qualquer célula pode ser infectada pelo HIV. Embora a infecção pelo HIV se caracterize por longo período de latência após a infecção primária, estudos recentes demonstram que o HIV concentra-se em órgãos linfáticos e permanece em replicação contínua durante esse período. A infecção primária dos órgãos linfáticos provavelmente ocorre durante o período de viremia, logo após a infecção primária e, por vezes, e acompanhada da síndrome de infecção aguda pelo HIV, quadro clínico semelhante à síndrome da mononucleose infecciosa ou de infecção pelo vírus da influenza. Assim, embora em pequenas concentrações no sangue periférico, nos estágios iniciais da infecção, a maior car- Rev Bras Ortop - Vol. 29, Nº 9 Setembro, 1994 ga viral concentra-se em órgãos linfáticos, que são os maiores reservatórios do vírus e de sua replicação (24). A infecção pelo HIV determina imunodepressão progressiva decorrente predominantemente do efeito citopático do HIV sobre linfócitos T CD4+, responsáveis pela indução e regulação de amplo espectro da resposta imunológica. As alterações qualitativas e quantitativas desta população de células determinam prejuízo dramático do sistema imune. O declínio na quantidade de linfócitos CD4 é gradual durante toda a fase de latência da doença e os indivíduos freqüentemente permanecem assintomáticos até que a contagem destas células caem abaixo de 500/mm 3. Quando os níveis de células CD4 estão entre 500/mm 3 e 200/mm 3, sintomas constitucionais, candidíase oral, herpes simples de repetição e demais infecções oportunísticas começam a se manifestar. As infecções oportunísticas, tais como pneumonia por Pneumocystis carinii, citomegalovírus e micobacterioses atípicas geralmente desenvolvem-se quando a contagem de CD4 cai a nível menor do que 200/mm 3. A progressiva destruição do sistema imune invariávelmente leva ao aparecimento de manifestações sistêmicas relacionadas a AIDS, tais como emagrecimento, febre persistente, diarréia, astenia, sintomas neurológicos, uma variedade de infecções oportunísticas e doenças neoplásicas, incluindo as linfoproliferativas, como o linfoma. Em geral, a taxa pela qual a AIDS se desenvolve nos indivíduos soropositivos varia de quatro a dez por cento ao ano. Estimativas da progressão da doença sugerem que quase todas as pessoas com infecção pelo HIV desenvolverão sintomas clínicos dentro de dez a 15 anos da soroconversão. Diversos fatores podem estar envolvidos na evolução mais rápida da doença, entre os quais: exposição a doenças sexualmente transmissíveis, incluindo reinfecções pelo HIV, infecção pelo citomegalovírus, vírus de hepatite tipo B, idade, fatores genéticos, comportamentais e nutricionais. Mais do que doença rapidamente fatal, atualmente a AIDS deve ser considerada como doença crônica e tratável. A identificação precoce da infecção pelo HIV nas populações de maior risco, o melhor acesso aos serviços de saúde e aos programas de tratamento e o desenvolvimento de regimes anti-retrovirais e profiláticos mais efetivos para infecções oportunísticas devem resultar em melhoras contínuas no seguimento dos pacientes. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Em 1983, com o isolamento do agente etiológico da AIDS, o vírus da imunodeficiência humana, foi possível a 671

M. CHOHFI, E.A.S MEDEIROS, J. LAREDO Fº & S.B. WEY preparação dos primeiros métodos diagnósticos sorológicos para identificação dos indivíduos infectados pelo HIV e sua utilização no rastreamento em bancos de sangue e aconselhamento de pessoas com comportamento de risco. Para que se possa compreender os vários aspectos relacionados com os portadores do virus HIV, é essencial o conhecimento da sua história natural. Após a infecção, ocorre intensa replicação viral e nesse período não é possível a determinação de anticorpos. Assim, as sorologias que identificam a presença destes, como ELISA e western blot, estarão não reagentes, testes que são realizados na prática clínica e como triagem em bancos de sangue. Freqüentemente, os níveis de anticorpos tornam-se detectáveis pelas sorologias convencionais oito a 12 semanas após a infecção aguda, embora existam relatos de até seis a 18 meses. Nesse período, que os autores chamam de janela de conversão, o diagnóstico poderá ser realizado através de pesquisa de antígeno, método que apresenta baixa sensibilidade, e pela pesquisa de viremia plasmática, de alta sensibilidade e especificidade, porém não disponível comercialmente. Após a infecção aguda, o indivíduo entra em período assintomático, a replicação viral diminui e os primeiros anticorpos anti-hiv tomam-se detectáveis. 1) Técnicas sorológicas para identificação de anticorpos A) Ensaio imunoenzimático ou ELISA É o mais amplamente utilizado em virtude de suas características de elevada sensibilidade, preço, facilidade de automatização e praticidade. Atualmente, estes testes são propositadamente desenvolvidos para apresentar elevada sensibilidade, mesmo que com isso se comprometa, parcialmente, a especificidade. Isso se justifica porque a finalidade primordial destes testes é a identificação de portadores em bancos de sangue, como exame de triagem. Em virtude disso e considerando que a prevalência da infecção na população geral é habitualmente baixa (menor do que 1% na cidade de São Paulo), a possibilidade de que um resultado positivo seja verdadeiramente positivo e baixa, isto é, o valor preditivo do resultado positivo, nessas circunstâncias, é baixo. Portanto, há necessidade de se confirmar essa positividade através de outra técnica, especialmente em indivíduos que não tenham comportamento de risco ou que não tenham dados epidemiológicos que os tomem prováveis portadores. Dentre as técnicas mais freqüentemente empregadas na confirmação da positividade, destacamos: B) Reação de imunofluorescência indireta É baseada na ligação antígeno-anticorpo entre células infectadas pelo 672 HIV, mortas, e o soro suspeito, revelada pela adição de conjugado anti-igg humana com isotiocianato de fluoresceina. A reação é lida em um microscópio de fluorescência e necessita de um técnico experiente e da adequada manutenção dos equipamentos empregados. Com esses cuidados, a técnica e bastante adequada para laboratórios que não apresentem elevado número de testes. C) Reação de imunoeletrotransferência ou western blot É considerada a técnica de escolha para confirmação do ELISA pelo volume de informações que fomece e pela objetividade do resultado. Baseia-se na ligação dos anticorpos do soro suspeito com proteínas fracionadas do vírus cultivado em células, inativado e submetido a eletroforese. As reações antígeno-anticorpos presentes serão evidenciadas pela adição de conjugado anti- IgG humana, marcada com enzima. No local desta reação, poderá ser visto um borrão de cor azul-escura, caracterizando a presença de anticorpos contra determinado antígeno. A técnica de western blot apresenta a vantagem de especificar a presença de anticorpos contra determinadas proteínas do vírus. Nesse sentido, é um teste confirmatório da infecção pelo HIV obtida pelo exame de ELISA. Entretanto, é um teste de custo elevado, cuja interpretação deve ser cuidadosa. RISCOS DE CONTAMINAÇÃO ATRAVÉS DE ATO CIRÚRGICO O primeiro caso relatado na literatura de contaminação de um profissional de saúde pelo vírus HIV ocorreu na África, em 1983, com uma enfermeira que recebeu uma picada de agulha de uma seringa contendo sangue fresco de paciente contaminado (1). Teoricamente, vários são os mecanismos através dos quais um profissional de saúde pode vir a ser contaminado por um paciente: ferimentos perfurantes por agulhas, ferimentos por objetos cortantes, exposição de lesões prévias de pele ao sangue do paciente, transmissão através de mucosas, queimaduras por cautério. Durante uma cirurgia, a possibilidade de ocorrência de um acidente que exponha o profissional ao sangue do paciente é de cerca de 10% (11,22). Em algumas estatísticas de cirurgia ortopédica, esta incidência e menor, o que pode ser atribuído à utilização do no-touch technique comum entre muitos destes especialistas (18). As picadas de agulha constituem a ocorrência mais comum: 107 vezes em 112 acidentes (95%) para Hussain & col. (18) e 962/1.201 (80%) segundo Marcus (20). Em geral, eles Rev Bras Ortop Vol 29, Nº 9 Setembro, 1994

O RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV NA CIRURGIA ORTOPÉDICA acontecem no momento da sutura, quando o cirurgião procura recolher com os dedos a agulha que emerge dos tecidos. As luvas cirúrgicas fabricadas em látex, desde que intactas, constituem barreira eficiente para a penetração de microorganismos (8). Entretanto, mesmo a utilização de dois pares de luvas não impede o ferimento por agulhas. Após uma cirurgia ortopédica, cerca de 50 a 60%) das vezes ocorre a perfuração da luva externa e seis a 10% das duas luvas (9). O mais preocupante e que em cerca de 50/o das vezes estas perfurações não são percebidas pelos cirurgiões (11,22). Para o pessoal paramédic, a maioria dos acidentes perfurantes acontece no momento do recapeamento da agulha ou na manipulação, pelo pessoal de limpeza, de agulhas usadas e não devidamente protegidas. O volume de sangue necessário para a transmissão do HIV deve ser maior do que o que está presente numa agulha de sutura e a passagem por duas luvas limpa a agulha, reduzindo a quantidade de sangue que chega a pele do cirurgião. Muitas das contaminates de profissionais da saúde foram conseqüência de inoculações profundas de agulhas ligadas a seringas contendo grande quantidade de sangue (17). A exposição a outros fluidos diferentes do sangue não provocou qualquer caso de contaminação. Até hoje, o sangue é o único fluido corporal responsabilizado pela transmissão do HIV nos atos médicos. Os diversos estudos realizados com profissionais de saúde que foram inoculados por sangue de pacientes portadores de HIV mostram que o risco de soroconversão é de três para cada 1.000 ocorrências (7,14,16,20). É preciso considerar que, nessas mesmas condições, o risco de contaminação com o vírus da hepatite B é de seis a 30%. O risco de aquisição do vírus HIV a partir do sangue de um indivíduo com infecção esta diretamente ligado ao estado de evolução da doença. Os casos descritos na literatura, que apresentam soroconversão, foram contaminados por pacientes sintomáticos (20). Embora o risco de transmissão de HIV seja muito pequeno após um simples ferimento percutâneo, é preciso considerar que um cirurgião esta exposto a inúmeras picadas de agulhas ou ferimentos cortantes durante sua vida profissional. Assim, deve-se levar em conta a somatória dos riscos de toda uma vida profissional e não de uma única cirurgia. Outro aspecto da transmissão do HIV está ligado ao receptor de um enxerto ósseo alógeno que pode estar eventualmente contaminado pelo vírus HIV. Esta ocorrência já foi verificada em algumas ocasiões, conforrne citação de Hernigou & col.( l6). Tais riscos impõem a adoção de controle Rev Bras Ortop Vol. 29, Nº 9 Seternbro, 1994 rigoroso dos doadores e medidas de esterilização que garantam a segurança deste procedimento. ASPECTOS DO TESTE SISTEMÁTICO ANTI-HIV Esta situação de insegurança para os profissionais de saúde que cuidam de pacientes que eventualmente possam ser portadores do vírus da AIDS despertou o interesse pela prática da solicitação sistemática de sorologia para HIV de todo paciente cirúrgico. As análises preliminaries de levantamento que estamos realizando entre ortopedistas do Estado de São Paulo, cujos dados ainda estão sendo recolhidos, mostram que cerca de 75% deles são favoráveis ao exame de todo paciente candidato a um tratamento cirúrgico. Este procedimento, aparentemente sensato, tem implicações que precisam ser analisadas com muito cuidado. Independente dos aspectos legais e morais do exame sistemático, esta prática apresenta falhas inquestionáveis. A ocorrência de resultado negativo pode conferir à equipe sensação de segurança na manipulação do paciente. Mas devese considerar que este paciente pode estar situado na chamada janela de conversão, em que, apesar de portador do vírus e portanto capaz de transmiti-lo, ainda não ocorreu a formação de anticorpos, sendo que os testes ELISA e western blot estarão não reagentes. O intervalo de tempo entre a infecção e a positividade do teste pode prolongar-se além de três meses (20). Da mesma maneira, podem ocorrer casos de falsa positividade, dependendo da qualidade do reagente, podendo ser de um para 2.000 exames (13), implicando em graves danos morais para o paciente. O rastreamento sistemático seria inviável nos casos de emergência, pela impossibilidade de se ter conhecimento do resultado do exame antes da realização do procedimento cirúrgico. Alguns cirurgiões que defendem o exame sistemático dizem que quem argumenta contra o teste são clínicos que correm pouco ou nenhum risco, enquanto eles, cirurgiões, estão nas trincheiras. Eles defendem que, enquanto as medidas universais de precaução são adequadas em teoria, o comportamento na sala de operações é diferente quando o paciente e sabidamente HIV-positivo (17). Entretanto, na pratica não se verifica a diminuição na incidência de acidentes quando um paciente tem sabidamente infecção pelo HIV, havendo mesmo maior ocorrência (7). Estranhamente, esses mesmos profissionais desprezam os riscos de transmissão da hepatite tipo B, cuja prevalência 673

M. CHOHFI, E.A.S. MEDEIROS, J. LAREDO Fº & S.B. WEY é maior e que apresenta poder concomitante muito mais ameaçador. A simples vacinação seria suficiente para protegê-los deste risco. Os resultados parciais de nosso levantamento mostram que cerca de 65% dos entrevistados não foram vacinados contra a hepatite B. Em suma, os estudos analisados não demonstram os benefícios dos testes rotineiros. O valor do teste em áreas de baixa prevalência ou em pacientes tidos como de risco deve ser avaliado para determinar a eficácia na redução das exposições acidentais, nos custos da instituição e no impacto global na qualidade dos cuidados com o paciente. Em áreas onde o HIV é altamente prevalente, o profissional de saúde e capaz de perceber em si mesmo o risco de infecção. E muito especialmente se algum colega de trabalho tenha sido acidentalmente infectado. O profissional de saúde que aceita a presença do risco genérico de HIV em seu local de trabalho esta fortemente motivado a cumprir rotineiramente as precauções universais. Pouco benefício adicional é obtido testando e rotulando os pacientes com HIV neste tipo de ambiente (12). Em nosso meio, a resolução 1.359, de 11 de novembro de 1992, do Conselho Federal de Medicina, faz coro com as normas vigentes na maioria dos países e coloca um ponto final na questão: Art. 4º É vedada a realização compulsória de sorologia para HIV em especial como condição necessária a internamento hospitalar pré-operatório, ou exames pré-admissionais ou periódicos e, ainda, em estabelecimentos prisionais. RECOMENDAÇÕES PARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO ACIDENTAL Para que sejam efetivas, as medidas de segurança devem ter seu emprego generalizado e não restritas aos pacientes sabidamente soropositivos. Deve-se evitar o risco de conduzir-se com falsa segurança diante de um paciente cuja pesquisa de HIV revelou-se negativa mas que pode encontrar-se num período de soroconversão (7). Estas medidas têm por objetivo evitar ao máximo a ocorrência de ferimentos, picadas por instrumentos cortantes e a exposição aos fluídos do paciente de lesões anteriores de pele e das mucosas. Elas são mais efetivas no controle da infecção do que a obrigatoriedade do teste e a segregação dos pacientes infectados (5). Proporção importante dos acidentes que ocorrem poderia ser evitada se o profissional observasse as normas de segurança recomendadas na manipulação de materiais (21). 674 Desde que a maior parte dos acidentes ocorre por picada de agulhas no momento de recapeá-las ou na manipulação, pelo pessoal da limpeza, dos sacos contendo materiais descartáveis, diversos hospitais já adotaram medidas para minimizar a ocorrência desse tipo de acidente: o hábito de não recapear as agulhas de injeção e o uso de recipientes de paredes resistentes para colocar os materiais cortantes usados. Alguns autores preconizam ainda a adoção de medidas adicionais de segurança: o emprego de duas luvas, a passagem dos instrumentos cortantes por duas pessoas somente sob controle visual, a manipulação de gazes apenas com pinças, a eliminação de material cortante desnecessário (cautérios de ponta) (5), a colocação de uma bandeja entre o cirurgião e a instrumentadora para evitar a passagem direta de materiais cortantes e não permissão de pessoas inexperientes na mesa de operações (17). Alguns cirurgiões preconizam o uso de óculos protetores para impedir o contato da conjuntiva com partículas de osso e sangue que possam respingar do campo cirúrgico (10). Certamente, uma prática capaz de evitar a maior parte dos acidentes com a equipe cirúrgica é a adoção da no-touchtechnique preconizada no fim do século passado por Lane, para evitar o contato da mão do cirurgião com a ferida operatória. Naquela época, este procedimento tinha por objetivo a proteção do paciente da contaminação por germes que pudessem estar presentes nas mãos do cirurgião. Hoje, esta técnica deve visar também a proteção da equipe em relação a uma transmissão do paciente. Infelizmente, temos assistido com freqüência a não observância deste procedimento, especialmente pelos cirurgiões mais jovens, que não levam em consideração a proteção que este confere ao cirurgião e ao paciente, além de constituir um evidente gesto de elegância do ato cirúrgico. A solução ideal seria o desenvolvimento de novos modelos que proporcionem uma real proteção do profissional e procedimentos que dispensem o uso de materiais perfurantes ou cortantes (19). A possibilidade de transmissão do vírus HIV através de um enxerto ósseo alógeno obriga a adoção de medidas de controle rigorosas dos doadores. Os processos de esterilização dos enxertos ósseos apresentam implicações que não garantem a ausência de agentes transmissores. A esterilização por raios gama (25.000 grays) destrói as bactérias e os parasitas, mas não os vírus. O óxido de etileno, eficaz contra bactérias e vírus, altera a estrutura óssea e a osteoindução. A esterilização pelo calor por auto- Rev Bras Ortop - Vol. 29, Nº 9 Setembro, 1994

O RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV NA CIRURGIA ORTOPÉDICA clave esteriliza os enxertos em relação às bactérias e ao vírus HIV (7). Na maioria das vezes, os métodos de congelamento dos enxertos ósseos são capazes de inativar os vírus HIV que possam estar presentes (4). Entretanto, embora reduzido, resta um risco que só pode ser eliminado através da seleção rigorosa dos doadores de risco. As normas recomendam que, para doador vivo, deve-se realizar, além da história epidemiológica, exames laboratoriais sorológicos para hepatites B e C e HIV. Estes exames devem ser repetidos após três meses para ultrapassar o período pré-sorológico. CONDUTAS EM CASO DE ACIDENTE Em caso de picada ou ferimento: fazer sangrar a lesão, limpar com água e sabão, enxaguar e realizar a antisepsis com PVP-I ou álcool a 70 ; Em caso de projeção sobre a mucosa: lavar copiosamente com água; Em caso de contato com uma pele lesada: limpar com água e sabão e depois fazer anti-sepsis (PVP-I ou clorexidina); Em todos os casos, fazer uma notificação para a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e órgãos competentes de acidente do trabalho. Em todos os casos de acidente percutâneo, devem ser feitos os seguintes exames sorológicos do profissional acidentado: HIV, HBsAg, HCV (vírus da hepatite C) e Chagas. Este procedimento justifica-se na medida em que identifica um portador/doente no momento do acidente, impedindo que o profissional atribua ao acidente a sua infecção. As sorologias devem ser repetidas com seis semanas, três meses e seis meses (7). Caso seja conhecido o paciente-fonte, devem ser colhidas as seguintes sorologias: HIV, HBsAg, HCV e Chagas. Dessa forma, dispensa o acidentado do seguimento sorológico se o paciente-fonte for não reagente aos testes realizados. Se o paciente-fonte tiver história de exposição a fatores de risco para hepatite B/HIV/HCV (uso de drogas IV politransfusão, hábitos sexuais promíscuous, entre outros), o profissional acidentado deve ser orientado para a profilaxia da hepatite B (imunoglobulina específica e vacinação). O emprego de AZT (zidovudina) em profissionais que sofreram inoculação com sangue de pacientes com infecção pelo HIV não está bem definido. Sua eficácia é duvidosa e determina efeitos adversos, tais como: anemia, leucopenia, náuseas, vômitos, insônia, entre outros (2). Rev Bras Ortop Vol. 29, Nº 9 Setembro, 1994 Na prática, orientamos o profissional dos riscos da infecção e os possíveis benefícios e efeitos adversos provocados pela AZT. Em relação à hepatite tipo C, não existem medidas profiláticas definidas. Discute-se a possível proteção com imunoglobulina humana inespecífica (standard), na dose única de 15ml, intramuscular. Enfim, diante do crescimento no número de pacientes portadores do vírus HIV, devemos evitar atitudes preconceituosas e insensatas que freqüentemente chegam até à recusa em tratar tais pacientes. Por outro lado, embora seja baixo o risco de contaminação em caso de acidente com paciente portador do vírus HIV (< 1%), é preciso considerar que durante sua vida profissional um cirurgião realiza inúmeras operações, o que faz com que esse risco aumente de forma progressiva. Torna-se imperativo, então, que sejam adotadas medidas universais de precaução a fim de evitar a ocorrência de acidentes, o que constitui atitude muito mais eficiente do que simplesmente rotular um paciente como soropositivo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 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