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Transcrição:

Imagem da Semana: Radiografia Imagem 01. Radiografia de tórax e abdome em AP

Recém-nascido (RN), a termo, sexo masculino e parto vaginal. Foi reanimado na sala de parto devido a apneia e frequência cardíaca menor que 100 bpm. Recebeu ventilação com pressão positiva com balão autoinflável e cânula traqueal. Apgar 1':2; 5': 9. Foi apresentado aos pais e encaminhado à unidade neonatal de cuidados progressivos (UNCP). Ao exame, apresentou sons respiratórios diminuídos à esquerda, abdome escavado e tórax abaulado. Pré-natal inadequado, com três consultas no centro de saúde, tendo sido realizado um exame ultrassonográfico no primeiro trimestre sem alterações. Foi solicitado radiografia de tórax e abdome realizada no leito na UNCP. Qual a conduta mais adequada diante desse quadro? a) Abordagem cirúrgica através de toracotomia em regime de emergência b) Toracocentese no 2º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular c) Terapia inalatória com surfactante e controle dos distúrbios ácido-básicos d) Estabilização hemodinâmica com controle dos distúrbios ácido-básicos e posterior abordagem cirúrgica

Análise da Imagem Imagem 01. Radiografia de tórax e abdome demonstrando formação arredondada hipotransparente com nível hidroaéreo na metade inferior do hemitórax esquerdo (delimitado em vermelho), compatível com bolha gástrica. Associa-se opacidade na metade superior deste hemitórax e desvio das estruturas do mediastino para o lado oposto. A opacidade presente na metade superior do hemitórax esquerdo pode corresponder a atelectasia ou hipoplasia pulmonar. Diagnóstico O quadro clínico de insuficiência respiratória associado aos achados do exame físico de abdome escavado, tórax abaulado e radiografia com evidência de bolha gástrica sugere o diagnóstico de hérnia diafragmática congênita. Na década de 1980, a abordagem cirúrgica de emergência era considerada a conduta mais adequada. Atualmente, está indicada a estabilização hemodinâmica prévia do paciente e controle de possíveis distúrbios ácido-básicos secundários à hipoplasia e à hipertensão pulmonares que geralmente estão associadas à hérnia diafragmática.

A toracocentese é indicada em casos de pneumotórax hipertensivo, cujo diagnóstico deve ser clínico. São achados radiográficos: desvio contralateral do mediastino e hipertransparência ipsilateral, essa última não visualizada na imagem do paciente. Deve ser suspeitado em paciente submetido à ventilação com pressão positiva que apresenta súbita instabilidade respiratória e hemodinâmica. A terapia com surfactante é indicada principalmente em casos de síndrome do desconforto respiratório que acomete RNs pré-termos em função de imaturidade pulmonar, o que não se aplica ao caso em questão. Discussão A hérnia diafragmática congênita (HDC) consiste em um defeito do diafragma que leva à herniação de vísceras abdominais para o tórax, sendo que 87% ocorre à esquerda e 2% bilateralmente. Acomete 1 em cada 2200 nascidos e em 50% dos casos está associada a outras anomalias como alterações cromossômicas, doença cardíaca congênita e defeitos do tubo neural. A herniação ocorre durante um período crítico do desenvolvimento pulmonar e a compressão deste órgão pelas vísceras abdominais pode levar à hipoplasia pulmonar, que é mais grave ipsilateral à hérnia, mas também pode ocorrer contralateralmente. As manifestações podem variar de insuficiência respiratória aguda grave ao nascimento, que é o quadro mais comum, a sintomas mínimos ou mesmo ausência deles. Recém-nascidos com HDC possuem risco aumentado para desenvolvimento de hipertensão pulmonar persistente, síndrome caracterizada por hipoxemia grave e refratária, proveniente da diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar e de shunt direito-esquerdo formado através do forame oval e/ou canal arterial. O grau de insuficiência respiratória varia de acordo com a gravidade da hipoplasia pulmonar e do desenvolvimento de hipertensão pulmonar persistente. O RN com HDC pode apresentar, ao exame físico, tórax em forma de barril e abdome escavado em função do deslocamento das vísceras para o tórax, e ausência ou diminuição dos sons respiratórios ipisilateral ao defeito. Quando a hérniação ocorre do lado esquerdo, os batimentos cardíacos são melhor auscultados no lado direito em função do deslocamento do coração. O diagnóstico pode ser feito no pré-natal por meio da ultrassonografia, nesse caso, o RN deve ser prontamente intubado ao nascimento com baixo pico de pressão de O2 para evitar lesão pulmonar. Quando o diagnóstico não é realizado intra-útero, deve ser sempre suspeitado em RN com insuficiência respiratória ao nascimento, especialmente na ausência de sons respiratórios. O diagnóstico é confirmado com a radiografia de tórax, que demonstra herniação de conteúdo abdominal, geralmente com presença de ar ou líquido no hemitórax. Outros achados incluem deslocamento contralateral do coração e de outras estruturas do mediastino, além de compressão do pulmão contralateral. O tratamento mais adequado consiste no controle da hipoplasia e hipertensão pulmonar para posterior abordagem cirúrgica corretiva (ver imagem 3). Idealmente, o RN deve estar estável hemodinamicamente e do ponto de vista respiratório e controlado quanto ao estado ácido-básico para ser encaminhado à cirurgia.

Imagem 02. Radiografia de tórax em AP após correção cirúrgica de hérnia diafragmática, sem anormalidades aparentes. Aspectos relevantes - A hérnia diafragmática congênita: defeito congênito do diafragma com herniação de vísceras abdominais para o tórax. -Hipoplasia pulmonar e hipertensão pulmonar geralmente estão associadas à HDC -O diagnóstico pode ser feito no pré-natal por ultrassonografia -Insuficiência respiratória aguda e grave é o quadro mais comum. -Radiografia de tórax associada ao quadro clínico estabelece o diagnóstico -Tratamento: estabilização para posterior cirurgia Referências 1. Ballén, F.; Arrieta, M.; Hernia diafragmática congénita. Rev. Col. Anest. Mayo - julio 2010. Vol. 38 - No. 2: 241-258 2. MOREIRA, MEL., LOPES, JMA and CARALHO, M., orgs. O recém-nascido de alto risco: teoria e prática do cuidar [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. 564 p. ISBN 85-7541-054-7.

3. Hedrick, H.L.; Adzick, N.S.; Congenital diaphragmatichernia in theneonate. In UpToDate. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/congenital-diaphragmatic-hernia-in-the-neonate. Acessado em 15 de agosto de 2014. 4. Atenção à Saúde do Recém-Nascido - Guia para os Profissionais de Saúde 2011 V.3 Ministério da saúde Responsável Luanna da Silva Monteiro, acadêmica do 11º período de Medicina da UFMG. Email: luannasmonteiro[arroba]gmail.com Orientadora Márcia Penido, professora do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Email: mgpenido[arroba]gmail.com Revisores Marina Bernardes Leão, Cinthia Barra, Fabio M. Satake, Júlia Petrocchi, André R. Guimarães