LEVANTAMENTO DE QUEIXAS FÍSICAS DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA DA CIDADE DE TRÊS LAGOAS/MS



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LEVANTAMENTO DE QUEIXAS FÍSICAS DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA DA CIDADE DE TRÊS LAGOAS/MS CLAUDINEI APARECIDO DOS SANTOS Discente do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Três Lagoas - AEMS MARISTELA DO NASCIMENTO ATALAIA Discente do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Três Lagoas - AEMS GRACIELA JUNQUEIRA DE ABREU Docente MSc. do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Três Lagoas - AEMS Juliana de Carvalho Apolinário Coelho Docente MSc. do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Três Lagoas - AEMS RESUMO A má postura adquirida pelos alunos na realização dos seus estudos e na prática de suas atividades físicas e de lazer pode acarretar problemas posturais, que se não diagnosticados e tratados precocemente podem causar problemas ainda mais graves na vida adulta desses alunos. O objetivo deste estudo é identificar as queixas físicas e os hábitos posturais durante as atividades diárias de alunos do ensino fundamental de uma escola de Três Lagoas/MS. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, realizado com 72 alunos do ensino fundamental da rede municipal, com idade variando de 6 a 14 anos. O levantamento dessas queixas foi feito através da aplicação de questionário entre os alunos selecionados. Palavras-chave: ensino fundamental, queixas físicas, postura. INTRODUÇÃO A postura é o resultado de hábitos que o indivíduo adquire com o passar dos anos, os adolescentes são os que mais sofrem e desenvolvem alterações posturais, ou por permanecerem muito tempo em posições inadequadas, ou ainda carregarem muito peso, considerando que suas estruturas ainda não se encontram totalmente desenvolvidas (MAGGE, 2005).

A fase da vida que mais chama a atenção quanto aos problemas posturais é o período escolar, pois nessa idade não existe a preocupação com a postura adequada. Além disto, os estudantes permanecem por um longo período de tempo nas escolas, que podem não apresentar condições ergonômicas adequadas, fazendo com isso que os alunos utilizem posturas que podem prejudicá-los com o passar dos anos (PAPALIA; OLDS, 2000). A quase totalidade dos problemas posturais tem sua origem na infância, uma vez que as crianças em idade escolar estão em um período de acomodação das estruturas anatômicas de seus corpos. Entretanto, a maioria dos desvios posturais na criança em crescimento é classificada como desvio de desenvolvimento e, quando os padrões se tornam habituais, podem resultar em alterações posturais patológicas. (MOMESSO, l997). A má postura que as crianças costumam adquirir na escola e em casa para realizar suas atividades podem causar não só problemas musculoesqueléticos, mas também problemas respiratórios, visuais, entre outros. Problemas esses que, se não tratados, elas levarão para a vida adulta, podendo até se agravar com o passar do tempo (MAGGE, 2005). O presente estudo tem como objetivo identificar as queixas físicas e os hábitos posturais durante as atividades diárias de alunos do ensino fundamental de uma escola de Três Lagoas/MS. 1. POSTURA Postura é a posição assumida pelo corpo, quer seja por meio da ação integrada dos músculos, operando para contra atuar com a força da gravidade, quer seja quando mantida durante a inatividade muscular (PAPALIA; OLDS, 2000). A postura mantida e os maus hábitos posturais podem influenciar e alterar a morfologia de algumas estruturas ósseas, durante a infância e a adolescência. Levando na vida adulta a diversas complicações em níveis funcionais, ortopédicos, respiratórios entre outros, além de dores musculares devido às compensações do organismo (MORO, 2005).

A postura adequada é aquela que melhor se ajusta ao nosso sistema musculoesquelético, equilibrando e distribuindo todo o esforço de nossas atividades diárias, favorecendo a menor sobrecarga em cada uma de suas partes. A má postura é aquela em que o relacionamento entre as várias partes do corpo induz a agressão da estrutura de suporte, promovendo fadiga e o aumento do processo degenerativo (PEREIRA, 2001). 1.1 FATORES QUE INFLUENCIAM A POSTURA EM ESTUDANTES São diversos os fatores que interferem a postura dos estudantes, no que se refere ao ambiente escolar percebe-se que os problemas são diversos, como por exemplo, dificuldades ergonômicas, arquitetura desfavorável do imóvel, disposição e proporções inadequadas do mobiliário escolar. O mobiliário escolar atualmente utilizado apresenta carteiras e cadeiras diametralmente inadequadas à criança, cuja fabricação ocorre em grande quantidade, tornando precária a qualidade de uso. A condição do mobiliário usado pela criança é importante e deve adequar-se à atividade e ao tamanho da mesma. Nas escolas, o mobiliário é único e atende a todas as idades, do ensino fundamental ao médio, não oferecendo o conforto necessário para o tempo de atividade exigida, obrigando a criança a assumir uma postura inadequada, alterando consequentemente o seu desenvolvimento e a sua postura normal. Reis et al (2003), afirma que a maioria das escolas públicas do Brasil possuem mobiliário escolar inadequado. Os autores esclareceram que o mesmo mobiliário escolar é utilizado nos três turnos com clientelas diferentes, ou seja, indivíduos com medidas antropométricas diferenciadas. Os autores ressaltam que a altura poplítea fica próxima de 27 cm em crianças de 7 anos de idade e até 50 cm em adultos de 18 anos. As escrivaninhas, da mesma maneira que as cadeiras necessitam possuir várias alturas. Uma escrivaninha muito alta estimula a má postura, especialmente do pescoço. Uma escrivaninha muito baixa estimula a postura relaxada. A relação entre as alturas da cadeira e da escrivaninha é também muito importante, pois se a altura da cadeira estiver correta e a altura da mesa incorreta, os benefícios do móvel correto são desperdiçados (OLIVER, 1998 p. 22).

Portanto, um mobiliário escolar do tipo regulável, é a mais importante adequação ergonômica apresentada até o presente momento, para superar os velhos problemas encontrados na sala de aula (MORO, 2005). 1.2 A MOCHILA E O MATERIAL ESCOLAR Os alunos carregam todos os dias para a escola uma enorme quantidade de livros e de materiais em suas mochilas, e quando carregadas de forma inadequada, este se torna um grande problema para os mesmos. O excesso de material escolar nas mochilas deixa a criança com a postura alterada, pois usando a bolsa em um dos ombros, há uma sobrecarga em um dos lados do corpo, o que aumenta o risco de escoliose e dores musculares (SANTOS, 1999). O excesso de peso que a criança transporta todos os dias pode dar origem a deformações graves na coluna vertebral, uma vez que a criança ainda se encontra em fase de crescimento, sendo a sua constituição musculoesquelética ainda muito frágil (MAGGE, 2005). O efeito combinado de mochilas pesadas, posição da carga no corpo, tamanho e forma da carga, distribuição da mesma, tempo gasto em carregá-las, características físicas e condições físicas dos indivíduos foram hipotetizadas como fatores associados às disfunções causadas pelas mochilas (CHANSIRINUKOR et al, 2001). Weir (2002), em seus estudos concluiu que mochilas pesadas sobre a coluna vertebral também afetam a mecânica pulmonar e seus volumes, onde as cargas superiores a 20% do peso corporal mostraram diminuir os volumes pulmonares em 43 crianças em idade escolar, e que a redução da carga para 10% do peso corporal manteria a postura normal, bem como a função pulmonar em crianças. 1.3 FISIOTERAPIA PREVENTIVA Os problemas físicos que podem acometer crianças e adolescentes tendo início na fase de crescimento e constituem fator de risco para o aparecimento de disfunções da coluna vertebral, muitas vezes irreversíveis na fase adulta.

A idade escolar compreende a fase ideal para recuperar estas disfunções de maneira eficaz. A fase escolar representa o melhor momento para o estímulo de hábitos saudáveis, como prevenção do desenvolvimento de alterações posturais em estudantes, a fisioterapia fornece orientações que visam evitar as posições habituais ou atividades que aumentem as curvaturas da coluna vertebral dos alunos (ZAPATER, 2004). A fisioterapia preventiva escolar ainda representa um campo de atuação pouco explorado pelo fisioterapeuta, tendo como foco de ação os aspectos relacionados à postura, problemas físicos e o estresse infantil. Toda criança além de crescer, ou seja, ganhar peso e altura necessita adquirir habilidades físicas e motoras e é muito importante observar permanentemente o desenvolvimento físico e a postura da criança. (ZAPATER, 2004). A atuação preventiva consiste em disponibilizar aos alunos e professores, informações que promovam o conhecimento sobre a saúde em geral e sobre as questões posturais, que envolvam prioritariamente as necessidades da atividade escolar. Procura também, orientar, ensinar sobre as questões da saúde física, sobre posturas e atividades como sentar, escrever e carregar mochilas. Os professores devem trabalhar em parceria com os pais, alertando-os no caso de detectarem algum desvio postural na criança; quanto aos pais, estes devem procurar um profissional de saúde capaz de avaliar e de indicar o tratamento mais adequado para corrigir o problema de seus filhos, e ninguém mais especializado do que o fisioterapeuta para orientar sobre essa prevenção. 2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS CRIANÇAS ENTRE 6 A 14 ANOS A palavra crescimento é empregada para representar o desenvolvimento físico da criança até a adolescência (PAPALIA; OLDS, 2000). O crescimento diminui entre os seis e quatorze anos de idade, até o salto, que ocorre no final deste período. No entanto, percebe-se uma diferença impressionante entre as crianças de seis anos, que ainda são pequenas e as crianças de quatorze, que começam a parecerem adultas. A postura e suas prováveis alterações é o que comprova a passagem da criança pequena para criança em idade escolar, período em que ocorre uma

transformação de sua postura, ou seja, em sua conformação física. (PAPALIA; OLDS, 2000). Na faixa etária dos 6 aos 14 anos de idade começam a surgir adaptações funcionais, consequentes do desenvolvimento corporal, emocional e de atividades, podendo levar aos desvios da coluna vertebral, uma vez que a mobilidade é extrema e a postura se adapta às atividades desenvolvidas (CARVALHO, 2003). Durante a terceira infância as crianças crescem de 2,5 a 7,6 cm a cada ano e ganham em torno de 2,2 a 3,6 kg, duplicando seu peso corporal médio. No final deste estágio, entre os 10 e 12 anos, as meninas sofrem o surto de crescimento, adquirindo cerca de 4,5 kg por ano (estes dados com referências americanas). Tornam-se mais pesadas e mais altas que os meninos, permanecendo assim até os 12 ou 13 anos, quando inicia o surto de crescimento dos meninos. As meninas também conservam um pouco mais de tecido adiposo do que os meninos, o que persiste até a idade adulta (PAPALIA; OLDS, 2000, p. 20). Segundo Braccialli (2000) deve-se ficar atento às alterações posturais encontradas em crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, por ser um período intermediário entre o primeiro estirão de crescimento, que ocorre do nascimento até o 3º ano de idade e o segundo, que acontece na adolescência. Vários fatores podem interferir na postura corporal do adolescente e entre os mais comuns apresentam-se hábitos errados de postura, hereditariedade, traumatismo, doenças inflamatórias, enfermidades musculoesqueléticas, debilidade muscular ou neural, estresse, desnutrição, roupas inadequadas, sobrepeso e obesidade (MAGGE, 2005). O clímax dos problemas de coluna acontece no início da idade escolar. Um grande número de orientadores e crianças não tem a mínima noção do que fazer para evitar os enormes problemas decorrentes dos malefícios espinhais (MOMESSO, 1997). A fase da adolescência é demasiadamente conturbada pelas diversas alterações que naturalmente ocorrem devido ao desequilíbrio de crescimento e desenvolvimento, possibilitando, então, o surgimento de problemas posturais bastante numerosos. Neste período, a postura normal é sensivelmente afetada pelo chamado pico de crescimento, fase na qual as alterações ocorrem com a maior frequência (PINTO; LOPES, 2001).

É nesse período de pico de crescimento que a coluna vertebral se desenvolve com maior rapidez, provocando, algumas vezes, um crescimento desigual das vértebras, ou um desenvolvimento desequilibrado da musculatura dorsal. Desde modo, é neste momento que a fisioterapia preventiva atua, através do trabalho de prevenção que deve ser proporcionado a esses adolescentes, para que não apresentem alterações posturais ou problemas mais sérios em sua estrutura física, como deformidades (MAGGE, 2005). 3 ESTUDO DE CASO 3.1. CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE E MOBILIÁRIO As salas de aulas da escola pesquisada, apresentam aproximadamente 15 metros de comprimento e 8 de largura, contendo em cada uma, um quadro negro com 5 metros de comprimento e 1 metro de largura. A iluminação e a ventilação das salas é feita de forma natural e artificial, com janelas, 2 ventiladores e 4 lâmpadas fluorescentes. As salas de aula são distribuídas em 5 pavilhões, que contem em média de 4 à 5 salas, cada sala contendo em média 20 alunos. O mobiliário escolar apresenta as mesmas medidas para todas as turmas, sem levar em consideração as diferenças no tamanho dos alunos, como mostra a Figura 1. As carteiras apresentam 73 cm de altura, 37 cm de largura e 58 cm de comprimento. As cadeiras apresentam altura total de 74 cm, altura até o assento 44 cm e o assento 35 cm de profundidade. Figura 1: Mobiliário escolar Fonte: Pesquisa Própria

Foram avaliados 72 alunos que apresentaram características, conforme mostra a Tabela 1. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO Frequência absoluta Frequência relativa (n) (%) GÊNERO Feminino 41 56,94 Masculino 31 43,06 SÉRIE Primeira 2 2,78 Segunda 4 5,56 Terceira 13 18,06 Quarta 23 31,94 Quinta 12 16,67 Sexta 18 25 IDADE 6 1 1,39 7 5 6,94 8 10 13,89 9 10 13,89 10 18 25 11 12 16,67 12 11 15,28 13 4 5,56 14 1 1,39 Tabela 1: Características da população Fonte: Pesquisa própria Os alunos apresentam altura variando entre 1,31m a 1,67m, massa corpórea entre 19,2kg a 70,7 kg e IMC entre 11,73 a 35,47. Dos 72 alunos avaliados, 70 praticam atividades físicas (97%) e 02 (3%) não praticam nenhuma atividade física, Quando os alunos foram questionados sobre quais atividades físicas costumam realizar com maior frequência e quais atividades de lazer são as suas favoritas foram obtidas os dados apresentados na Tabela 2. ATIVIDADES FÍSICAS Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%) Pular corda 1 1,39 Futebol 39 54,17 Basquete 10 13,89 Volei 38 52,78 Natação 22 30,56 Andar de bicicleta 31 43,06 Queimada 1 1,39

Corrida 12 16,67 Capoeira 1 1,39 Hip Hop 1 1,39 Boxe 1 1,39 ATIVIDADES DE LAZER TV 44 61,11 Computador 29 40,28 Vídeo game 38 52,78 Tabela 2: Atividades físicas e de lazer Fonte: Pesquisa própria Ao se verificar a posição em que os alunos preferem assistir televisão ou dormir e sobre o uso do travesseiro pode-se observar os resultados relacionados na tabela 3. Posição que preferem ver TV Frequência absoluta (n) Frequência relativa (%) Deitado no sofá 60 83 Deitado no chão 10 13 Sentado no sofá 3 4 Posição em que preferem dormir Decúbito ventral 19 26 Decúbito dorsal 18 25 Decúbito lateral 35 49 Usam travesseiro Sim 68 94 Não 4 6 Fonte: Pesquisa própria Outro fator analisado na pesquisa foi como os alunos se sentam durante as aulas. Dentre o total de participantes, 22 alunos responderam que quando se sentam apoiam os pés no chão, 18 alunos se sentam com as pernas entrelaçadas para trás, 17 apoiam os braços na carteira, levando o tronco para frente, 5 alunos cruzam as pernas estendidas e 10 dizem que se sentam sobre uma das pernas. Os dados colhidos nesse quesito merecem maior atenção, principalmente porque apenas 22 alunos apóiam os pés no chão, o que é considerado adequado, do ponto de vista ergonômico, na hora de se sentar, enquanto que 50 alunos assumem outras posturas quando estão sentados nas carteiras na escola. O modo como é feito o transporte do material escolar também foi avaliado, sendo que 51 alunos transportam o material em mochilas sobre as costas, 12 alunos a usam, transportando-a lateralmente e somente 9 alunos usam bolsas equipadas com rodinhas para transportarem seu material escolar. Quanto à percepção do peso das mochilas, apenas 16 alunos referiram sentir a mochila muito pesada e 56 deles referem não perceberem excesso de peso, de acordo com o Gráfico 7. As mochilas também foram pesadas e o peso variava de 1,5 kg a 6,9 kg.

Foi analisada a relação entre a massa corporal dos alunos e o peso das mochilas que eles transportam todos os dias para a escola. Conforme a literatura, o peso ideal da mochila que uma criança pode transportar não pode ultrapassar 10% de seu peso corporal, com o objetivo de evitar lesões nas estruturas físicas das crianças, como alterações posturais e sintomas decorrentes dessas alterações. Quando os dados foram analisados, foi possível verificar que dos 72 alunos participantes da pesquisa, 22 deles, o que corresponde à 30,5% transportam suas mochilas com excesso de peso. Quando questionados sobre em qual local da casa costumam estudar, 28 alunos responderam que costumam realizar suas tarefas escolares na cama, enquanto 35 alunos costumam se posicionar na mesa e o sofá é o local preferido de 5 alunos para realizar seus estudos. No chão foi a resposta de mais 4 alunos. De todos os participantes, 52 alunos avaliados dizem que preferem estudar deitados, enquanto 20 preferem estudar sentados. A maioria dos alunos relatou sentir dores de cabeça e algum tipo de dor física, dor essa que acomete principalmente a região da coluna vertebral. A maioria dos participantes, representada por 55 alunos não apresenta deficiência visual, ao passo que 17 apresentam algum tipo de dificuldade para visualização. CONCLUSÃO Através da realização desta pesquisa e diante dos resultados obtidos e analisados, pode-se perceber que crianças e adolescentes apresentam queixas físicas, principalmente na coluna vertebral, dores que podem ter relação com os hábitos posturais inadequados que eles assumem para se sentarem durante as aulas e durante as atividades diárias fora da escola. Pode-se deduzir que os problemas posturais em estudantes estão cada vez mais presentes, e que as alterações que ocorrem nessa fase podem trazer danos na coluna vertebral, que provavelmente os acompanharão por toda a sua trajetória de vida. Nos estudos utilizados, a prevalência das alterações posturais é considerável e em cada pesquisa houve sempre uma quantidade expressiva de

alterações posturais na coluna vertebral. As únicas contradições encontradas sobre o assunto nos estudos utilizados referiram-se a idade e gênero dos alunos. No presente estudo, os fatores de risco relacionados ao aparecimento de alterações posturais na coluna vertebral foram a idade, o peso corporal, as atividades de vida diária, as atividades escolares, os calçados utilizados para a prática de atividade física, o mobiliário escolar e o peso da mochila escolar. Todos estes fatores associados podem estar produzindo os sintomas referidos pelos participantes da pesquisa, sendo agravados com a ausência de um programa de prevenção, com o objetivo de fornecer orientações e adequações no ambiente, que auxiliem a correção dos problemas observados. Com esse estudo, pode-se verificar a importância da presença de um profissional da fisioterapia nas escolas, para que assim, através da implantação de medidas de intervenção, como a ergonomia escolar, avaliações e orientações posturais, seja durante as atividades escolares ou de lazer, os problemas relacionados nesta pesquisa sejam minimizados ou solucionados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRACCIALLI, L. M. P. Estudo das Relações Existentes entre Crescimento e Desvios na Postura. Revista Reabilitar. São Paulo. v. 09, n. 03, 2000. CARVALHO, L. A. P. Análise cinemática do Perfil da Coluna Vertebral durante o Transporte da Mochila Escolar. Dissertação de Mestrado. Pós-graduação do Curso de Engenharia Mecânica - Área de Gestão da Produção ergonômica, Setor de tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, 2004. CHANSIRINUKOR, W e cols. Effects os backpacks on students: measurement of cervical and shoulder posture. Aust J Physiother, vol. 47, n. 2, p. 110-6, 2001. MAGGE, J. D. Avaliação Musculoesquelética. 4 ed. São Paulo: Manole, 2005. MOMESSO, B. R. Proteja sua Coluna, São Paulo: Ícone, l997. MORO, A. R. P. Ergonomia na Sala de Aula -Constrangimentos Posturais impostos pelo Mobiliário Escolar. Revista Digital - Buenos Aires. v. l0 n 85, jan. 2005. Disponível em <http//.www.efdeportes.com/> Acesso 23 abr. 2012. OLIVER, J. MIDDLEDITCH, A. A anatomia funcional da Coluna vertebral. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.

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