MORTALIDADE DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NA 16ª REGIONAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL ESTUDO COMPARATIVO

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Transcrição:

MORTALIDADE DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS NA 16ª REGIONAL DE SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL ESTUDO COMPARATIVO L.M. Campos 1, M.M. Erhardt 2, J.M. Penso 3, V. Sant Anna 4 1-Área da Vida e Meio Ambiente Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Campus Encantado CEP: 95960-000 Encantado RS Brasil, Telefone: 55 (51) 3751-3376 Fax: 55 (51) 3751-3376 e-mail: (lenon.moraesdecampos@gmail.com) 2-- Área da Vida e Meio Ambiente Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Campus Encantado CEP: 95960-000 Encantado RS Brasil, Telefone: 55 (51) 3751-3376 Fax: 55 (51) 3751-3376 e-mail: (magnolia-erhardt@uergs.edu.br) 3 - Área da Ambiente e Desenvolvimento Centro Universitário UNIVATES CEP: 95960-000 Lajeado RS Brasil, Telefone: 55 (51) 3714-7073 Fax: 55 (51) 3714-7073 e-mail: (jessica.m.penso@gmail.com) 4 - Área da Vida e Meio Ambiente Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Campus Encantado CEP: 95960-000 Encantado RS Brasil, Telefone: 55 (51) 3751-3376 Fax: 55 (51) 3751-3376 e-mail: (voltaire-santanna@uergs.edu.br) RESUMO As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) ocorrem através da ingestão de alimentos contaminados, sendo um problema de saúde pública. O objetivo deste estudo foi comparar a epidemiologia espaço-temporal da mortalidade por DTA na 16ª Regional de Saúde/RS, no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, no período de 2004 a 2013. Utilizou-se um estudo ecológico, para discorrer sobre os coeficientes anuais de mortalidade. A distribuição dos coeficientes ajustados pelo modelo bayesiano empírico local foi utilizada para apontar quais são as áreas mais vulneráveis a mortalidade por DTA. Os resultados temporais indicam diminuição da mortalidade no Brasil, aumento no Rio Grande do Sul e fortes oscilações na 16ª Regional de Saúde. Os dados servem de embasamento para o desenvolvimento de ações de intervenção, principalmente nas áreas com coeficientes mais elevados, contribuindo para a diminuição do número de mortes por DTA e também para minimizar os problemas oriundos. ABSTRACT The Foodborne Diseases occur through ingestion of contaminated food and may cause avoidable deaths. The aim of this study was to compare the epidemiology spatiotemporal mortality from Foodborne Diseases at the 16th Regional Health / RS, in Rio Grande do Sul state and in Brazil, from 2004 to 2013. We used an ecological study, to discuss the annual mortality rates. The distribution of the coefficients set by the local empirical Bayesian model was used to point out which are the most vulnerable areas mortality Foodborne Diseases. The temporal results indicate decreased mortality in Brazil, an increase in Rio Grande do Sul and wild swings in the 16th Regional Health. The data serve as the basis for the development of intervention actions, especially in areas with higher weightings, contributing to the decrease in the number of deaths from Foodborne Diseases and also to minimize the problems arising. PALAVRAS-CHAVE: Doenças Transmitidas por Alimentos; Intoxicação Alimentar; Vigilância Epidemiológica; Surtos Alimentares; Alimentos Contaminados. KEYWORDS: Foodborne Diseases; Food poisoning; Epidemiological surveillance; outbreaks Food; Contaminated food.

1. INTRODUÇÃO As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) ocorrem através da ingestão de alimentos contaminados, principalmente por bactérias, vírus ou parasitas (Oliveira et al., 2010). Entre outros fatores, o crescimento de casos de DTA estão relacionados com o desordenado processo de urbanização, devido à ampliação demográfica e a demanda cada vez maior da produção e de produtos processados. Soma-se a isso, a falta e/ou dificuldade de monitoramento dos casos de DTA agravam a situação no Brasil em termos de ações que previnam esse problema. Levando em consideração a necessidade de aprofundamento sobre as DTA (Santos et al, 2013; Figueiredo et al, 2013), o presente estudo teve como objetivo comparar a epidemiologia espaçotemporal da mortalidade por DTA na 16ª Regional de Saúde/RS, no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil. As DTA ocasionam mortes evitáveis (Brasil, 2008a; Brasil, 2008b; Malta et al., 2007) e estão incluídas na lista nacional de condições sensíveis à atenção primária, através da classificação internacional das doenças 10ª revisão (CID 10) A00 a A009, caracterizando um importante problema de saúde pública (Malta et al., 2007). O Brasil é destaque enquanto o maior país em extensão da América do Sul e da América Latina e o quinto maior do mundo (IBGE, 2016), característica envolvida na dificuldade da avaliação do processo de saúde-doença da população e averiguação das condições dos serviços de saúde (Oliveira et al., 2013). Dados sobre óbitos causados por DTA no Brasil e no Rio Grande do Sul são escassos, e por isso observa-se a necessidade de estudos que analisem e mapeiem os óbitos para se apresentar mais eficazes ações de políticas públicas nesta área. Assim, o objetivo deste estudo foi comparar a epidemiologia espaço-temporal da mortalidade por DTA na 16ª Regional de Saúde/RS, no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, no período de 2004 a 2013. 2. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi elaborado através de estudo ecológico, observacional e comparativo. A área de estudo foi composta por três âmbitos geográficos: o Brasil, o estado do Rio Grande do Sul e a 16ª Regional da Saúde. O período temporal analisado foi entre os anos de 2004 a 2013. Foram coletados os números absolutos de óbitos, por ano e por local de residência, atestados segundo a CID 10 através das categorias de A00 a A09, que representam as Doenças Transmitidas por Alimentos. Os dados foram coletados no site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) (Brasil, 2016). A descrição de cada categoria da CID 10 utilizada neste estudo é: A00 (cólera), A01 (febres tifóide e paratifoide), A02 (outras infecções por salmonella), A03 (shiguelose), A04 (outras infecções intestinais bacterianas), A05 (outras intoxicações alimentares bacterianas, não classificadas em outra parte), A06 (amebíase), A07 (outras doenças intestinais por protozoários), A08 (infecções intestinais virais, outras e as não especificadas) e A09 (diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumível). Para a apresentação da série histórica anual foi calculado o coeficiente bruto de mortalidade para cada uma das áreas geográficas de análise. Para tanto, foi utilizado como numerador o número de óbitos do local e como denominador a população geral do local e o valor foi multiplicado por 100.000. Para o primeiro quinquênio o denominador foi a população estimada no ano de 2006 e para o segundo quinquênio a população de 2011, ambas por representarem a população do meio de cada período. Os valores descritivos, do quantitativo, sobre o impacto de cada categoria/cid acerca da mortalidade foram apresentados em números absolutos e em frequências, para cada unidade geográfica. Para tanto utilizou-se o conjunto dos 10 anos analisados. Para a distribuição espacial, as unidades foram estratificadas conforme segue: para a 16ª Regional de Saúde/RS foram utilizados os municípios que compões a regional; para o estado do Rio

Grande do Sul foram utilizadas as regiões de saúde do estado; e, para o Brasil foram utilizadas as regiões geográficas do País. Os coeficientes foram ajustados pelo modelo bayesiano empírico local por 100.000. Para tanto, foram utilizados como casos o número total de óbitos ocorridos no período de 2004 a 2013 e como população de risco a população do ano de 2010 de cada unidade geográfica, por representar a população calculada pelo censo demográfico (IBGE, 2016). Para elaboração dos mapas foram utilizadas as malhas cartográficas oriundas do DATASUS. A manipulação dos dados e o cálculo dos coeficientes brutos foi realizado no software TabWin 32 e em planilhas Excel. O cálculo dos coeficientes ajustados pelo modelo bayesiano e a distribuição espacial foi desenvolvida no software TerraView 4.2.2. A presente pesquisa não dispõe de implicações éticas, pois fez uso de informações secundárias, agrupadas e acessíveis ao público. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Fizeram parte do estudo o conjunto de 59 óbitos na 16ª Regional de Saúde/RS, 1.910 óbitos no estado do Rio Grande do Sul e 49.474 óbitos no Brasil, que foram atestados tendo como causa as DTA, no período de 2004 a 2013. A série histórica anual do coeficiente bruto de mortalidade por DTA nos três âmbitos geográficos está representado na Figura 1. Figura 1 - Série histórica anual dos coeficientes de mortalidade por DTA. 16ª Regional de Saúde/RS, estado do Rio Grande do Sul e Brasil, 2004 a 2013. A 16ª Regional de Saúde do Rio Grande do Sul apresentou aleatoriedade e oscilação nos coeficientes anuais de mortalidade por DTA, principalmente quando estes são comparados aos do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil. O Rio Grande do Sul apresentou tendência de aumento no período estudado, com algumas oscilações, totalizando o acréscimo de 26% no coeficiente de mortalidade por DTA. O Brasil apresentou diminuição de 13% durante todo o período, mas com tendência de aumento e acréscimo de 19% entre os anos de 2011 a 2013. O Rio Grande do Sul está localizado na Região Sul, possui como limites o estado de Santa Catarina ao norte, o oceano atlântico ao leste, o Uruguai ao Sul e a Argentina a oeste. Fazem parte do estado 497 municípios (IBGE, 2016) agrupados em trinta regiões de saúde. Duas destas regiões de saúde (Vales e Montanhas e Vale da Luz) formam a 16ª Regional de Saúde do estado do Rio Grande

do Sul, que integra 37 municípios e é caracterizada pela grande quantidade de municípios de pequeno porte (população inferior a 15 mil habitantes) (Rio Grande do Sul, 2013; IBGE, 2016), fato que se constitui um problema, uma vez que existe uma grande dependência externa para prestar assistência integral à saúde da população local (Medeiros et al., 2012). Os resultados descritivos do impacto de cada categoria da CID em relação à mortalidade por região geográfica (Tabela 1) apontam que as três unidades geográficas apresentam similaridades. A maior proporção de óbitos ocorre pela categoria de diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível (A009), seguida da categoria de outras infecções intestinais bacterianas (A004) e na sequência pela categoria infecções intestinais virais, outras e as não especificadas (A008). O estudo de Polański et al. (2015) apontou que o agente mais frequentemente associado com os surtos de DTA na Polônia é a Salmonella spp., dissentindo do presente estudo. Tabela 1 - Proporção de óbitos por categoria da Classificação Internacional de Doenças 10ª revisão. 16ª Regional de Saúde/RS, estado do Rio Grande do Sul e Brasil, 2004 a 2013. Categoria CID - 10 16ª RS BR n (%) N (%) n (%) Febres tifóide e paratifoide 0 0.0 0 0.0 57 0.1 Outras infecções por salmonella 0 0.0 6 0.3 162 0.3 Shiguelose 1 1.7 3 0.2 27 0.1 Outras infecções intestinais bacterianas 7 11.9 97 5.1 2118 4.3 Outras intoxicações alimentares bacterianas, não 0 0.0 17 0.9 504 1.0 classificadas em outra parte Amebíase 1 1.7 16 0.8 909 1.8 Outras doenças intestinais por protozoários 0 0.0 2 0.1 101 0.2 Infecções intestinais virais, outras e as não 4 6.8 83 4.3 2004 4.1 especificadas Diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível 46 78.0 1686 88.3 43592 88.1 A distribuição espacial dos coeficientes de mortalidade ajustados pelo modelo bayesiano possibilita observar geograficamente os maiores números de óbitos por DTA. No Brasil o coeficiente mais elevado foi apontado na Região Nordeste (43.1), seguida da Região Norte (33.1). As regiões Centro-Oeste (21.6), Sudeste (16.7) e Sul (17.5) apresentaram os coeficientes inferiores, conforme representado na Figura 2a. No Rio Grande do Sul as regiões de saúde que possuem os coeficientes mais elevados estão localizadas na parte norte do estado e são as regiões de Araucárias (29.1), Sete Povos das Missões (27.9), Fronteira Noroeste (27.3) e Alto Uruguai Gaúcho (25.3). A 16ª Regional de Saúde abrange as duas regiões de saúde com coeficientes medianos: Vales e Montanhas (15.7) e Vale da Luz (16.9), de acordo com a Figura 2b. Na 16ª Regional de Saúde/RS a distribuição espacial dos coeficientes de mortalidade por DTA, tendo como unidade de análise os municípios, apresenta clusters tanto para municípios com coeficientes elevados, quanto para municípios com coeficientes baixos. O cluster com valores mais elevados está localizado na parte norte da regional e contempla principalmente, entre os municípios com maiores taxas, as cidades de Ilópolis (41.9), de Anta Gorda (41.6), de São Valentim do Sul (40.9) e de Dois Lajeados (38.3), conforme representado na Figura 2c. Figura 2 - Distribuição espacial dos coeficientes de mortalidade por DTA no Brasil (a), no Rio Grande do Sul (b) e na 16ª Regional de Saúde / RS (c), 2004 a 2013.

A distribuição espacial dos coeficientes de mortalidade por DTA permitiu constatar quais são as áreas mais vulneráveis e que necessitam de intervenções mais urgentes. Um estudo semelhante utilizou abordagem espaço-temporal, com taxas brutas e suavizadas, da incidência de salmonelose, segundo o fago associado com a doença, nas regiões de saúde da província de Ontário/Canadá. O estudo apontou para o conjunto de 1.336 casos no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2009, apontando clusters de áreas mais vulneráveis pela incidência de salmonelose e servindo de subsídio para o desenvolvimento de ações intervencionistas - principalmente nas áreas com mais acometimento pela condição clínica (Varga et al., 2015). Os resultados apontados pelo presente estudo possibilitam compreender a diferença no padrão temporal entre a 16ª Regional de Saúde / RS, o Rio Grande do Sul e o Brasil. Dados apontam que as DTAs vêm apresentando tendência de aumento em nível mundial e caracterizando, com isso, um problema de saúde pública importante (Brasil, 2010). 4. CONCLUSÕES Assim, observa-se redução do número de óbitos atestados por DTA no Brasil, aumento no Rio Grande do Sul e grande oscilação de relatos desses óbitos na região da 16º Coordenadoria de Saúde do estado do Rio Grande do Sul no período entre 2004 e 2013. A principal causa de morte atestada por DTA está relacionada à categoria de diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível (CID10 - A009). No Brasil o coeficiente mais elevado foi apontado na Região Nordeste, no Rio Grande do Sul foi a região das Araucárias e na região da 16º Coordenadoria de Saúde do estado o município de Ilópolis. Apesar dos dados apresentados serem notadamente subnotificados, já que foram obtidos a partir do sistema se saúde diretamente, apontar a tendência temporal das mortes causadas pelas DTA é relevante para compreender se as ações de educação em saúde e de vigilância epidemiológica estão sendo eficazes. Desta mesma forma, apresentar os locais mais vulneráveis à mortalidade por DTA,

assim como as CIDs mais fortemente relacionadas, possibilita o planejamento de estratégias de intervenção que visem à diminuição deste evento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil. (2008a). Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS. Doenças transmitidas por alimentos - Informações gerais sobre a doença. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31757 Brasil. (2008b). Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS. Doenças transmitidas por alimentos - Descrição da doença. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31756 Brasil. (2010). Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Brasília: Ministério da Saúde. 158 p. Brasil. (2016). Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Sistemas de Informações em Saúde DATASUS. Brasília (DF). Disponível em http://www2.datasus.gov.br Figueiredo, D., Tim, L. N., Cecconi, M. C. P., Both, J. M. C., Soeiro, M. L. T., Ramos, R. C., Haas, S., Longaray, S. M. (2013). Programa de Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão Hídricas e Alimentares VE-DTHA. Boletim Epidemiológico, 15(3), Porto Alegre: Secretária Estadual da Saúde. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016). Disponível em http://www.ibge.gov.br/home Malta, D. C., Duarte, E. C., Almeida M. F., Dias M. A. S., Morais Neto, O. L., Moura L., Ferraz, W., Souza, M. F. M. (2007). Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 16(4), 233-244. Medeiros, C. R. G., Meneghel, S. N., Gerhardt, T. E. (2012). Desigualdades na mortalidade por doenças cardiovasculares em pequenos municípios. Revista Ciência e Saúde Coletiva, 17(11), 2953-2962. Oliveira, A. B. A., Paula, C. M. D., Capalonga, R., Cardoso, M. R. I., Tondo, E. C. (2010). Doenças transmitidas por alimentos, principais agentes etiológicos e aspectos gerais: uma revisão. Revista do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, 30(3). Oliveira, M. M. C., Harzheim, E., Riboldi, J., Duncan, B. B. (2013). PCATool Adulto - Brasil: uma versão reduzida. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 8(29), 256-63. Polański P., Ostrek, J., Sadkowska-Todys, M. (2015). Foodborne infections and intoxications in Poland in 2013. Przegląd Epidemiologiczny, 69(4), 755-61. Rio Grande do Sul (2013). Secretaria da Saúde do Estado. Plano Estadual de Saúde: 2012/2015. Porto Alegre: Secretaria da Saúde do Estado. Santos, D. V., Figueiredo, D. M. S., Santini, A. P., Ramos, L. S., Saccol, A. L. F. (2013). Implantação e Situação do Sistema de Notificações das Doenças Transmitidas por Alimentos no Estado do Rio Grande do Sul. Boletim Epidemiológico, 15(3), Porto Alegre: Secretária Estadual da Saúde. Varga, C., Pearl, D. L., McEwen, S. A., Sargeant, J. M., Pollari, F., Guerin, M. T. (2015). Spatialtemporal epidemiology of human Salmonella Enteritidis infections with major phage types (PTs 1, 4, 5b, 8, 13, and 13a) in Ontario, Canada, 2008-2009. BMC Public Health, 15, 1247.