AULA 04 PONTO: 04 Objetivo da aula: Teoria geral dos contratos. Teoria geral dos contratos. Perfil e princípios. Formação defeito e extinção. Classificação e interpretação. Garantias legais específicas. Tópico do plano de ensino: Princípios modernos do direito contratual: supremacia da ordem pública; boa-fé objetiva; função social; revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva. Roteiro de aula PRINCÍPIOS CONTRATUAIS Na concepção moderna contrato é negócio jurídico bilateral que gera obrigações para ambas às partes, que convencionam, por consentimento recíproco, a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, verificando, assim, a constituição, modificação ou extinção do vínculo patrimonial. (RUFINO, T. H. Natureza Jurídica do Contrato de Seguro: Análise da Responsabilidade Civil e questões processuais relevantes. Trabalho de conclusão de curso. Direito. Uninove, 2012). Utilizado como meio idôneo e eficaz de fomentar a economia como mola propulsora dos negócios jurídicos, representando o interesse prático das pessoas, com intuito pecuniário, disciplinando direitos e deveres entre os particulares. Deverá ser concebido e permeado pelos princípios basilares da boa-fé, da eticidade, sociabilidade e, especialmente, pelo princípio da operabilidade, pois devem ser avençados com escopo de poderem ser executados. (ALMEIDA, Patricia Martinez. Teoria da imprevisão: a relativização dos contratos pelo judiciário. Trabalho de Conclusão de Curso Direito. Uninove, 2009). Probidade e boa-fé A boa-fé é a constatação de observância a regra do dever geral de não lesar a outrem, tornando os acordos claros e consistentes expressando a real vontade manifestada pelas partes, pela autonomia da vontade, que deve se coadunar com a eticidade abarcada no ordenamento jurídico que versa sobre os requisitos essenciais da formação do negocio jurídico.
Dever das partes de agir de forma correta antes, durante e depois do contrato, isso porque, mesmo após o cumprimento do contrato, podem sobrar-lhe efeitos residuais (art. 422); Funções: interpretativa (art.113); controle dos limites (art.187) e integração do negócio jurídico (art.421). Cláusula geral de aplicação ao direito obrigacional: a) boa-fé subjetiva: estado de consciência; b) boa-fé objetiva: padrão de comportamento, modelo aceito na sociedade. A boa-fé objetiva importa em: 1. Vedação de comportamento contraditório ou vedação de alegação da própria torpeza venire contra factum próprio; 2. Teoria do tu quoque em que a pessoa que invoca a própria idade para se eximir do dever obrigacional quando maliciosa à ocultou por ocasião da celebração do negócio jurídico fica obrigada a cumprir o avençado. Supremacia da ordem pública Por meio de leis cogentes de ordem pública, o legislador desvia o contrato de seu leito natural dentro das normas comuns para conduzi-lo ao comando do dirigismo contratual, em que as imposições e vedações são categóricas, não admitindo a modificação ou revogação pela vontade das partes (Humberto Teodoro Junior). Dirigismo Contratual O liberalismo exacerbado na liberdade de contratar, no pós Revolução Francesa, acarretou extremos prejuízos aos contratantes em todos os países que aderiram à filosofia e regramento do Código Napoleônico. Diante do desequilíbrio econômico das partes contratantes o princípio da autonomia da vontade teve que ser parcialmente cerceada, mitigada, pois a incerteza gerada pela igualdade jurídica em detrimento da igualdade material, deixando, os economicamente mais fracos, à mercê dos grupos mais fortes, que se utilizando da autonomia da vontade subvertida em proveito próprio, para validar seus negócios abusivos, gerou inúmeras injustiças.
Insurge-se o Estado contra tal discrepância, a priori na figura do Estado- Legislador, impondo limites, requisitos e condições previamente padronizadas às contratações; num segundo momento intervindo como Estado-Juiz a modificar o convencionado pelas partes com vistas a encontrar o justo equilíbrio em dada situação; até mesmo genericamente atua o Poder Judiciário quando aplica às operações jurídicas os princípios gerais como a boa-fé, preservação da justiça comutativa, a ilidir o abuso de direito, enriquecimento ilícito em detrimento do empobrecimento sem causa com fulcro na garantia da das questões ordem pública. Neste sentido anota José Anísio de Oliveira: O dirigismo contratual indubitavelmente revolucionou sobremaneira os preceitos tradicionais da convenção, excedendo, por assim dizer, as suas vetustas maneiras de compleição, hospedando a interferência plena do poder público numa ordem de relações jurídicas, representada nas vontades dos cidadãos e do direito social, proporcionando ao juiz e à Administração modos de equilibrar os fatos sociais, tais como a determinação de cláusulas limitativa na observância de obrigações, a prorrogação dos prazos e a estancação imediatas de preços. (OLIVEIRA. Anísio José de. A teoria da imprevisão nos contratos. 3.ed. São Paulo: Leud Editora, 2002. pp. 25-26) Nos dizeres de Francisco Serrano Martins (2004) 1 : O intervencionismo estatal apresentou-se como adaptação aos fenômenos econômicos e sociais da sociedade. Assim, o princípio pacta sunt servanda, o contrato faz lei entre as partes, foi cedendo lugar ao dirigismo contratual. As relações contratuais passaram a ser tuteladas pelo Estado, tentando estabelecer uma igualdade de fato entre os contratantes. Com efeito, o dirigismo contratual se configura pelo conjunto de normas protetoras ou restritivas que se impõem às relações contratuais sob pena de nulidade. O contrato passa a obedecer a sua função social, cabendo, aos contratantes, conciliar os interesses individuais com os coletivos sob pena de serem revisionados, não obstante continuarem a observar seu fim econômico em si mesmo. 1 MARTINS, Francisco Serrano. A teoria da imprevisão e a revisão contratual no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 327, 30 mai. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5240>. Acesso em: 19 out. 2008
Função Social Do Contrato A função social do contrato está intimamente relacionada com o princípio da socialidade adotado pelo Código Civil de 2002 que reflete a prevalência dos valores coletivos aos individuais, em detrimento do sentidoindividualista do Código Beviláqua. Serve precipuamente para limitar a liberdade contratual, quando esta confrontar com o interesse social, pois a aplicação da letra fria da lei, muitas vezes, acaba por causar injustiça transformando a vontade da norma, pelas particularidades do caso concreto. Ou seja, não basta à simples subsunção da norma ao caso concreto, devem ser observados os critérios de justiça, da boa-fé, da ordem pública, dos usos e costumes, para poder assim, alcançar a finalidade e a função social das normas. Atendendo a este postulado, busca-se o equilíbrio entre as necessidades individuais avençadas e as necessidades coletivas, pois os contratos como geradores de riquezas guardam em si finalidades outras que devem, necessariamente, ser obedecidas, como sua finalidade econômica de primeiro plano, entre as partes pactuantes, e de segundo plano: a repercussão econômica na sociedade. Ainda sim, o conteúdo dos acordos deve estar em consonância com bem estar comum, vez que podem influir no ambiente em que serão cumpridos; como exemplo a locação de um prédio em área residencial para fins de recreação noturna. Ora, tal entretenimento não se coaduna com a área em questão, pois nestas áreas devem ser respeitados os direitos de vizinhança, quais sejam: o sossego, saúde e segurança. O contrato em si seria lícito, a locação, contudo o uso, pela particularidade do caso concreto, restaria inviável. Revisão por onerosidade excessiva Rebus sic stantibus O Pacta sunt servanda: O acordo faz lei entre as partes, balizado pela segurança jurídica se impõe como instrumento à manutenção da vontade real expressa na avença, porém ao se interpretar as convenções pelo método puramente gramatical, se atendo apenas a literalidade da letra fria das cláusulas expressas, a depender do momento
histórico ou do local onde for executado o acordo, os fins do contrato não alcançarão a vontade manifesta no mesmo do momento em que foi ultimado e, por mais das vezes, o transforma em instrumento de aniquilamento, subvertendo-o em ilícito. Ou seja, devem-se manter as bases do negócio jurídico e as expectativas da época da celebração, para dar segurança jurídica às relações contratuais. (ALMEIDA, Patricia Martinez. Teoria da imprevisão: a relativização dos contratos pelo judiciário. Trabalho de Conclusão de Curso Direito. Uninove, 2009). A revisão contratual é instrumento que visa dirimir conflitos em havendo modificações decorrentes do desequilíbrio das bases contratuais, gerado por evento superveniente ao do momento da estipulação negocial, e, imprevisível aos contratantes, que tornou o cumprimento da obrigação excessivamente onerosa para uma das partes, restando insustentável a manutenção do pacto nos termos acordados. Neste sentido: Em uma sociedade organizada, o exercício de direitos subjetivos não deve sair da função a que correspondem; do contrário, seu titular os desvia de seu destino, cometendo um abuso de direito. (SANTOS, 2002, p. 102). Dentro do princípio da autonomia da vontade com fulcro na operabilidade está inserta a possibilidade da revisão contratual pelo judiciário, para readequar o pacto, alcançando seu fim econômico e a harmonização das partes pactuante ou resolve-lo se insanável.