DETERMINAÇÃO DA POROSIDADE DA CORTIÇA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE TRANSMISSÃO DE RAIOS GAMA E ANÁLISE DE IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

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Transcrição:

2007 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2007 Santos, SP, Brazil, September 30 to October 5, 2007 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 978-85-99141-02-1 DETERMINAÇÃO DA POROSIDADE DA CORTIÇA ATRAVÉS DA METODOLOGIA DE TRANSMISSÃO DE RAIOS GAMA E ANÁLISE DE IMAGENS DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA 1 Antonio M. C. Moraes, 2 Anderson C. Moreira e 3 Carlos R. Appoloni Universidade Estadual de Londrina / Departamento de Física / Centro de Ciências Exatas Caixa postal 6001, CEP 86051-990 / Londrina PR 1 toninho_bmx@hotmail.com 2 sandersoncamargo@yahoo.com.br 3 appoloni@uel.br RESUMO Neste trabalho foram empregadas as técnicas de transmissão de raios gama (TRG) e imageamento por microscopia eletrônica de varredura (MEV), na determinação da porosidade da cortiça de rolhas de garrafas de espumantes. O arranjo experimental da técnica de transmissão de raios gama é constituído por uma mesa micrométrica automatizada de movimentação de amostra (ZX), fonte de Am-241 (59,53 kev, 100 mci), colimadores de chumbo, porta amostras, detector de NaI(Tl) e eletrônica nuclear apropriada. Para a obtenção das imagens microscópicas foi utilizado um microscópio eletrônico FEI (Quanta 200), com eletrônica apropriada, e a análise das imagens obtidas foi realizada com o software Imago. A porosidade média para 22 amostras analisadas pela TRG foi de φ =58±4.6%. Pela técnica de imageamento, a porosidade média encontrada para as fatias analisadas foi de φ =60.0±6.2%. 1. INTRODUÇÃO A pesquisa de meios porosos vem ganhando considerável destaque no meio científico, visando o desenvolvimento de técnicas e metodologias acuradas e precisas para a caracterização estrutural de amostras. A cortiça é uma matéria-prima nobre, da qual cerca de 80 % da produção mundial se dá na Europa. Tem amplas aplicações como em revestimentos de solos, isolamentos (térmicos e acústicos), componentes para calçados, indústria automobilística e conservação de vinhos. A literatura científica sobre o estudo da cortiça é extensa, focando-se principalmente na determinação de sua composição química, propriedades físicas e mecânicas. Dados sobre porosidade da cortiça, apesar de ser um item de grande importância em sua caracterização física e estrutural, e determinante na classificação qualitativa dos sobreiros, que são as árvores que originam a cortiça, são escassos. O desenvolvimento de metodologias alternativas para sua determinação se faz necessário. Metodologias convencionais de estimativa de porosidade são bem documentadas, como o método de Arquimedes e porosimetria por intrusão de mercúrio. Mas considerando-se que o método de Arquimedes é inapropriado na determinação de micro-porosidade, e que a porosimetria por intrusão de mercúrio, além de desconsiderar poros fechados, subestima a macro-porosidade e superestima a micro-porosidade (Diamond, 2000 e Cnudde and Jacobs, 2004), estas técnicas convencionais podem se tornar inadequadas.

Uma alternativa para a solução deste problema é empregar as metodologias nucleares. Neste contexto está a técnica de Transmissão de Raios Gama (TRG), que tem a vantagem de ser não-destrutiva, e metodologias de imageamento, como a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), que já vêm sendo utilizadas para a determinação de porosidade de espumas cerâmicas como o titânio (Oliveira et al., 2006). Neste trabalho foram utilizadas as técnicas de TRG e MEV para a determinação da porosidade de rolhas de cortiça encontradas em espumantes nacionais e importadas. 2.1. Determinação da porosidade 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fase porosa de uma amostra é constituída pela soma dos volumes vazios dentro de um volume total por ela ocupado no espaço. Sua porosidade (φ) é dada pela razão entre estes volumes, na forma de porcentagem, que pode ser definida pela equação (1). A arquitetura que constitui a estrutura da amostra é denotada por matriz. ( ) φ = 100 Vv V (1) onde: φ é a porosidade total, V v e V são a somatória dos volumes vazios e volume total da amostra, respectivamente. A técnica de transmissão de raios gama é baseada na atenuação que um feixe de radiação incidente sofre ao atravessar um meio material. A absorção exponencial que caracteriza a passagem da radiação eletromagnética através da matéria é dada pela Lei de Lambert-Beer: Ι = Ι (2) μ e `x 0 onde: x representa a espessura do material usado como amostra (cm), μ` o coeficiente de atenuação linear (cm -1 ), I 0 é a intensidade do feixe incidente na amostra e I é a intensidade do feixe emergente da amostra, as intensidades são dadas em contagens por unidade de tempo. Podemos também definir μ como: μ μ = ρ (3) onde: μ é o coeficiente de atenuação de massa (cm 2 /g), e ρ é a densidade volumétrica da amostra (g/cm 3 ). Em casos que este coeficiente não é conhecido, faz-se o uso de valores tabelados de μ ρ encontrados na literatura, ou ainda constrói-se uma matriz não porosa do material através de pastilhas confeccionadas a partir da pulverização do material primário.

Para o uso da técnica de transmissão de raios gama, em termos de coeficiente de atenuação linear (PHOGAT& AYLMORE, 1989), podemos escrever a equação (1) da seguinte maneira: μp μs φ = 100 (1) μp onde: μ s é o coeficiente de atenuação linear da amostra e μ p (de partícula) é o coeficiente de atenuação linear do material que constitui a amostra, conhecido como coeficiente de atenuação linear de partícula da amostra. 2.2. Analise das imagens (Software IMAGO). O software IMAGO Image Analysis System (IMAGO, 2002) é um programa utilizado na análise quantitativa de imagens. É uma ferramenta computacional formada por um núcleo central de trabalho (um software), composto por ferramentas básicas de aquisição, navegação e armazenamento de arquivos, visualização das imagens (2D e 3D), manipulações básicas (inversão, conversões), operações aritméticas, entre outras. O software foi desenvolvido pelo Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT) da Universidade Federal de Santa Catarina em colaboração com a ESSS (Engineering Simulation and Scientific Software) e CENPES/Petrobrás. 2.3 A matéria prima Cortiça 2.3.1. Distribuição de classes por porosidade. As rolhas de espumantes são geralmente confeccionadas a partir de diferentes qualidades de cortiça. A cortiça encontrada na parte inferior da rolha que está diretamente em contato com o líquido possui uma qualidade melhor do que as demais, sendo geralmente selecionada por uma análise de variância de porosidade e defeitos aparentes presentes na extensão da prancha de cortiça (Fonseca, F. M, 1992). Esta qualidade vai gradativamente diminuindo para a parte superior da rolha aonde chegam a serem usados até granulados agregados de cortiça. As qualidades de cortiça são divididas nas classes apresentadas na figura 1. Figura 1. Classes de qualidade da cortiça (Costa, A., 1998). 2.3.2. A estrutura Física da Cortiça. A estrutura física da cortiça, embora não aparente, é formada por pequeno poros da ordem de algumas dezenas de micra de volume. A estrutura básica que representa o volume do poro é muito semelhante com a de um favo de abelhas, sendo que na secção tangencial a estrutura

representa basicamente polígonos entre 5 e 7 faces, já na secção radial e transversal as células são retangulares e alinhadas na direção radial com 30-40 μm de comprimento, numa estrutura tipo parede de tijolo que esta representada na figura 2. Figura 2. Representação estrutural da cortiça (Costa, A., 1998). O fato da cortiça analisada neste trabalho estar na forma de rolhas já usadas pode vir a distorcer a estrutura como um todo em alguns pontos da amostra, no entanto as técnicas podem ser utilizadas amplamente para a analise da cortiça in-natura. Devido a isto podemos encontrar valores de porosidade diferentes de rolha para rolha, e também se comparados a valores de porosidade obtidos em pranchas de cortiça in-natura, rolhas novas e ainda na garrafa. 3.1.1. Transmissão de raios Gama. 3. MATERIAIS E MÉTODOS: O equipamento de transmissão de raios gama é composto por um sistema automatizado de medidas em uma mesa de movimentação de amostra XZ. O arranjo experimental do sistema pode ser observado na figura 3. Figura 3. Arranjo experimental de Transmissão de Raios Gama. O sistema consiste em eletrônica nuclear padrão de transmissão gama, formada por detector de NaI(Tl) com cristal de 2 polegadas de diâmetro por 2 polegadas de espessura, fonte de

241 Am (59.53keV, 100mCi) com feixe colimado de 2mm de diâmetro, mesa automatizada de movimentação de amostra (XZ), pré-amplificador, amplificador, fonte de alta tensão (HV) e PC com softwares gerenciadores (SAMARA e MSC-PLUS). 3.1.2. Amostragem. Foram realizadas medidas sobre um total de 22 rolhas de 10 diferentes marcas de espumantes e champagnes, sendo oito deles nacionais e dois de outros paises (França e Espanha). Na preparação das amostras, as duas extremidades de cada amostra sofreram cortes paralelos próximos às superfícies, a fim de se reproduzir uma geometria ideal de faces paralelas buscando se obter uma espessura atravessada pelo feixe gama, que seja uniforme. A geometria e a distribuição dos pontos medidos na amostra estão representadas na figura 4. (a) (b) Figura 4. (a) Distribuição dos pontos medidos e (b) Geometria de medida. 3.1.3. A pastilha de cortiça. Para determinar o parâmetro μ p, especificado na equação (4) que é o coeficiente de atenuação linear do material que constitui a matriz da amostra, ou seja, o μ de uma mostra totalmente fechada de poros, foi confeccionado um pó de cortiça, constituído por cortiça cortada e pulverizada. Este pó foi prensado em um pastilhador a 8 toneladas durante 25 min. Tanto a cortiça quanto o pó que gerou a pastilha não recebeu nenhum tipo de tratamento químico. Esta pastilha então foi tomada como uma matriz livre de poros, mesmo sabendo que a ocorrência de alguma microporosidade não pode ser descartada. O pastilhador utilizado tinha um raio interno de 13mm, sendo de 5mm a espessura media da pastilha. A pastilha foi medida em 25 pontos, com um tempo de 600s para cada ponto, assim como nas 22 rolhas. 3.2. Imageamento por MEV. As medidas de Microscopia Eletrônica de Varredura foram realizadas no laboratório de microscopia eletrônica da Universidade Estadual de Londrina. O equipamento é um FEI (Quanta 200) que opera com resolução espacial de imagem máxima na faixa de 3nm à 12nm variando de medidas realizadas em alto vácuo (10 a 130 Pa) e à baixo vácuo (<6x10-4 Pa) operando com alta tensão de (3 a 30 kv).

3.2.1 Amostragem. A analise da cortiça no microscópio eletrônico de varredura nos forneceu imagens das três classes de cortiça presentes nas rolhas, sendo que foram analisadas 3 rolhas diferentes, gerando 3 amostras cada, que posteriormente foram analisadas com o software IMAGO. A amostragem para a visualização no MEV se deu por três cortes realizados na rolha, separando a cortiça por qualidade como é mostrado na figura 5. Figura 5. Separação das amostras de cortiça por qualidade. Depois de separadas por qualidades, as amostras foram cortadas em pedaços menores e receberam o tratamento adequado para a visualização no MEV. Foram geradas imagens por (BSE) electron backscattering, (SE) electron secondary e também por uma superposição das duas imagens denominada MIX. 3.2.2. Analise por Imago. Assim, obtendo imagens através do MEV que apresentam a superfície estrutural porosa da cortiça com alta resolução, foi possível utilizar o software IMAGO nas analises das imagens obtidas por (BSE). As imagens obtidas por (SE) apesar de serem da mesma qualidade da (BSE), são formadas considerando resíduos de uma certa profundidade da amostra, tornandoas inadequadas para a análise por não representar fielmente a superfície real da amostra. Com o IMAGO, as imagens são primeiramente pré-processadas, sendo recortada a região de interesse e posteriormente é feita a binarização da imagem através de um histograma de níveis de cinza, que define na imagem final o que é poro (pixel branco) e o que é matriz (pixel preto), sendo possível também estimar a distribuição de tamanho de poros na amostra. Ao todo 10 imagens foram analisadas pelo IMAGO. 4.1. Transmissão de Raios Gama 4. Resultados e Discussão Considerando a análise individual das rolhas, encontra-se uma variação média de porosidade da ordem de 4.7%, o que se pode considerar um intervalo relativamente pequeno, quando comparado com a variação de porosidade obtida por determinismo fenotípico, que podem chegar a até 34,5% (Fonseca, F. M, 1992).

Comparando os valores de porosidade obtidos através da análise das amostras por TRG, encontra-se uma variação máxima de 33% de porosidade de uma rolha para outra, esta variação indica que a porosidade é fortemente influenciada pela deformação estrutural causada na rolha, devido à pressão a qual é submetida no gargalo da garrafa, e até mesmo a qualidade de cortiça que a compõe. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos separando as rolhas por marca, note que existem porosidades altas, contrastadas por algumas rolhas de baixa porosidade, talvez devido ao fato já comentado da deformação estrutural sofrida pela cortiça. A porosidade média obtida, φ = 58 ± 4.6%, indica um valor correlato com diversas citações da literatura que afirma a cortiça ter alta porosidade, embora a literatura sobre porosidade de cortiça, mais especificamente na forma de rolhas, apresente somente valores de variação de porosidade em pranchas in-natura. Tabela 1. Resultados obtidos por TRG para 22 amostras separadas por marca. Marca: Porosidade% Desvio com 95% de confiança Nacional 1 52.7 5.8 Nacional 2 50.2 4.8 Nacional 3a 53.8 4.0 Nacional 3b 45.7* 5.6 Nacional 4 55.1 3.8 Espanhola 35.5* 4.0 Francesa 43.5* 4.4 Nacional 6 a 59.7 3.7 Nacional 6 b 49.1* 4.7 Nacional 6 c 61.6 5.7 Nacional 6 d 48.6* 4.4 Nacional 7 32.6* 5.5 Nacional 8a 65.1 4.0 Nacional 8b 61.3 6.0 Nacional 8c 59.5 4.8 Nacional 8d 66.1 3.0 Nacional 8e 63.2 4.1 Nacional 9a 52.0 6.2 Nacional 9b 59.5 3.6 Nacional 9c 53.7 3.2 Nacional 9d 62.0 4.9 Nacional 9e 52.0 5.5 Média 58.0 4.6 * Rolhas que apresentaram grande deformação estrutural e conseqüente indicação de distorção no valor da porosidade. 4.2. Microscopia Eletrônica de Varredura Os resultados obtidos através da analise das imagens pelo Imago foram bons, sendo que quando comparado com os resultados obtidos pela técnica de transmissão de raios gama, nos revelou que os valores determinados estão de acordo dentro do intervalo de confiança de 95% estabelecido para as medidas de porosidade por TRG.

As imagens obtidas pelo MEV estão representadas nas figuras 6, 7a e 7b. divididas em BSE, SE, MIX, respectivamente. Figura 6. Imagens microscópicas geradas através de (BSE) retroespalhamento de elétrons. (a) (b) Figura 7. (a) Imagem microscópica gerada através de (SE) elétrons secundários e (b) superposição de (SE) e (BSE), MIX. Depois de obtidas as imagens de alta resolução por (BSE), que apresentam perfeitamente a estrutura porosa presente na cortiça, estas sofreram um processo de binarização, alguns ajustes de filtragem, e com a nova imagem foi obtido através do Imago o valor de porosidade.

Estão representadas na figura 8, duas das fatias analisadas (a e b), antes e depois do processo de binarização. (a) (b) Figura 8. (a) imagem microscópica 3D e (b) imagem binarizada 2D. A Figura 9 apresenta os valores de porosidade obtidos pela analise com IMAGO de 10 fatias visualizadas por MEV. 68 65 Porosidade % 62 59 56 53 50 0 2 4 6 8 10 Fatias Figura 9. Dispersão de porosidade nas fatias analisadas por IMAGO.

A porosidade média obtida na analise das fatias 2D pelo imago é de φ = 60,0 ± 6,2%, sendo que apresentam uma variação máxima de 15%, esta variação pode ser explicada pelo fato de terem sido obtidas imagens por MEV das três classes de cortiça presentes na rolha, e serem analisadas sem distinção. Sendo que a porosidade é uma característica marcante e especifica de cada classe, podendo chegar a variações de até 34,5% entre classes(fonseca, F. M, 1992). O valor da porosidade média obtido pelo Imago, quando comparado com o valor médio de porosidade obtido por TRG, apresenta concordância dentro do intervalo estabelecido para 95% de confiança. 5. Conclusões Os resultados obtidos através das duas técnicas utilizadas neste trabalho nos revelam uma correlação satisfatória indicando uma grande acurácia entre as mesmas, considerando o fato da amostragem se dar de diferentes formas em ambas. Também se verificou que o método de confecção de pastilhas, visando obter o valor do coeficiente de atenuação de partícula da amostra necessário na metodologia de transmissão de raios gama se revelou suficientemente eficaz mesmo se tratando de uma matriz com grande porosidade e elasticidade. Conclui-se então que os métodos aqui expostos são ferramentas de grande validade para a determinação da porosidade de cortiça, podendo ser aplicados na industria corticeira como um todo, já que a porosidade e sua variação são fatores de grande importância desta matéria prima, que vêem sendo utilizada mais a cada dia e requisitada na industria, na moda e no comércio para diversos fins. Referências 1. Diamond, S. Mercury porosimetry - an inappropriate method for the measurement of pore size distributions in cement-based materials. Cement Concrete Res. 30, 1517-1525. 2000. 2. Cnudde, V. and Jacobs, P.J.S. Monitoring of weathering and conservation of building materials through non-destructive X-ray computed microtomography. Environmental Geology. 46, 477-485, 2004. 3. Oliveira, M. V., Moreira, A. C., Appoloni, C. R., Lopes, R.T., Pereira, L. C., Cairo C.A.A. Porosity Study of Sintered Titanium Foams. Materials Science Forum. 530, 22-28, 2006. 4. Phogat, V.K. & Aylmore, L.A.G. Evaluation of Soil structure by using computer assisted tomography - Soil physics and hydrology. 27, 313-323, 1989. 5. IMAGO Versão 2.1.3. ESSS - Engineering Simulation and Scientific Software Ltda. Copyright, 2002. 6. Fonseca, F. M., Louzada, J. L., Variação da porosidade de cortiça Determinismo fenotípico. I Congresso Florestal Hispano Luso. (1992). 7. Costa, A. Cortiça: Produção e transformação da industria corticeira. Silvicultura geral (17.10.05). Instituto Superior de Agronomia Centro de Estudos Florestais (1998).