Açúcar/etanol: Revisão da safra brasileira 2016/17 30 de agosto de 2016 Com o desenvolvimento da safra no C-S do Brasil observamos que algumas das nossas premissas para a safra não se concretizaram e, principalmente, várias dúvidas estão sendo levantadas pelo mercado sobre a influência do clima na produção de cana de açúcar. A meteorologia tem apresentado muitas surpresas e variações acentuadas, criando ainda mais dúvidas e aumentando o risco envolvido na atividade. O período chuvoso da safra passada foi seguido por um muito seco e ainda por cima ocorreram episódios (repetidos) de geadas na região mais ao sul da área canavieira. Adicionalmente ocorreu uma grande mudança dos preços relativos no setor no início desse ano. Mudanças que puderam ser aproveitadas, em partes, pelas usinas para maior remunerar a atividade. Esse conjunto de mudanças faz com que nossas previsões tenham que ser revisadas. Mudanças nos preços No início de 2016, os preços do setor de sucro-energético se alteraram fortemente, com o aumento expressivo do etanol brasileiro nos primeiros meses do ano. Seguidos pela forte valorização do açúcar no mercado internacional, retornando a patamares que só foram vistos em meados de 2012. Concomitantemente com a queda nos preços do etanol com o início da safra no C-S do Brasil, que começou precocemente. A mudança de preços relativos foi muito forte a partir de fevereiro, porém só se tornou mais atrativo a produção do açúcar em abril (e a partir daí a diferença foi expressiva). Dessa forma, as usinas foram atraídas pela fabricação do açúcar de maneira inexorável. O limite da fabricação de açúcar nessa safra é a capacidade de cristalização das usinas, que ficaram vários anos sem investimentos nesse setor. Por causa da maior atratividade do etanol nas últimas três safras. Esse fator limitante é tão atuante que vários investimentos em capacidade de cristalização já foram divulgados nas últimas semanas. Assim, o mix de açúcar na produção das usinas se tornou maior que prevíamos anteriormente, porém essa alta esbarra no seu limite industrial. O limite deve ser próximo a 45% no agregado da safra 2016/17. Esse aumento do mix vem de encontro ao consenso de mercado, mas reforçamos que existe um limite ao aumento do mix de açúcar, além da remuneração das usinas. Equivalência de preços do etanol: mudança no início da safra 35 30 25 Preços em açúcar equivalentes (U$ cents/lb) ESALQ_Anidro ESALQ_Hidratado ICE_Açúcar 40% 30% 20% 10% Paridade de preços em relação ao açúcar (%) incentivo ao etanol 20 0% 15-10% 10 5-20% -30% -40% incentivo ao açúcar ESALQ_Hidratado ESALQ_Anidro Equivalência de custos - -50% jan-01 jan-02 jan-03 jan-04 jan-05 jan-06 jan-07 jan-08 jan-09 jan-10 jan-11 jan-12 jan-13 jan-14 jan-15 jan-16 jan-17 Fonte: Bloomberg, CEPEA/ESALQ; elaboração: PINE Macro & Commodities Research abr-13 jul-13 out-13 jan-14 abr-14 jul-14 out-14 jan-15 abr-15 jul-15 out-15 jan-16 abr-16 jul-16
Clima e produtividade agrícola O clima seco tem levantado algumas dúvidas no mercado sobre a produtividade agrícola nessa safra, alguns participantes chegam a visualizar o cenário de quebra de safra. Outro dado que cria dúvidas é a diminuição da produtividade agrícola nos últimos relatórios da ÚNICA frente aos meses anteriores dessa safra. Porém consideramos muito oportuno reforçar dois pontos: 1) a sazonalidade da produtividade agrícola é cadente nos próximos meses. Como podemos ver no gráfico abaixo, a produtividade é maior no começo da safra e cai até o final dela. 2) devido à produtividade inicialmente projetada ser menor que da safra 2015/16, a produtividade pode ser menor que a anterior sem que seja necessário um redução das projeções de moagem. Nossa projeção é de 79 ton/ha (o que se traduz em 630 milhões de toneladas disponíveis) e já apresentava uma queda de quase 5% na comparação anual. O histórico da evolução mensal da produtividade agrícola nos últimos não apresenta episódios de queda extrema no meio da safra. As safras que apresentaram quebra, já iniciavam com produtividade bem abaixo dos níveis atuais. Como a área de produção canavieira é vasta e engloba lugares variados com climas diferentes, a média tende a ser menos surpreendente do que as localidades isoladas. Como podemos ver abaixo, para uma produção de 590 milhões de toneladas de cana disponível a produtividade teria que cair até que a média ficasse em 74 ton/ha, o mesmo nível da safra 2014/15 (um ano de quebra de safra). Porém as médias mensais de produtividade da safra 2014/15 estavam bem abaixo da safra atual. Ou seja, mesmo que a produtividade continue a cair, dificilmente, teremos uma disponibilidade abaixo dos 600 milhões de toneladas de cana no C-S do Brasil. Apenas para ilustrar, se a produtividade agrícola ficar próxima a safra passada, a produtividade seria de 83 ton/ha e a disponibilidade seria de 662 mln ton de cana. Já na ponta oposta, se a produtividade média ficar no nível da quebra de 2011/12, em 69 ton/ha, a disponibilidade de cana ficaria em apenas 551 mln ton. Sazonalidade da produtividade X Cenários de produtividade agrícola no C-S do Brasil Sazonalidade da produtividade (%pdd média) 110% 105% 100% 95% 90% Mai-Nov: ~90% 85% Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Produtividade Moagem ton/ha mln ton 83 662 82 654 81 646 80 638 79 630 78 622 77 614 76 606 75 598 74 * 590 73 582 72 574 71 567 70 559 69 ** 551 (*) 2014/15 (**) 2011/12 Fonte: Inmet, NCEP; elaboração: PINE Macro & Commodities Research
Estimativa: aumento da produção de açúcar Na nossa nova estimativa, as maiores mudanças foram na alocação da sacarose pelas usinas. Pois a moagem reduziu marginalmente, muito em função da mudança de metodologia do calendário. Dessa forma, o aumento da produção de açúcar e, consequentemente, a queda do etanol são as principais diferenças. Da nossa projeção anterior, a produção de açúcar passou de 33,8 para 35,5 milhões de toneladas. Enquanto a destilação de etanol hidratado caiu de 17,8 para 16,5 bilhões de litros, da mesma forma, o etanol anidro caiu de 10,8 para 10,4 bilhões de litros. O fato do consumo de combustíveis reduzir em 2016 está ajudando a equilibrar a redução da produção do biocombustível. Ainda existem várias dúvidas que precisam ser respondidas com o desenvolvimento da safra, porém cada vez mais diminuem o espaço para grandes surpresas, como por exemplo, o cenário de morte súbita da safra nos próximos meses. Porém existe uma grande dúvida sobre a safra 2017/18, pois os problemas para o plantio e renovação dos canaviais estão sendo grandes. Se o clima for muito seco, poderemos ter um cenário de renovação pequena, apesar dos preços serem remuneradores. 2014/15 2015/16 % 2016/17* % Cana-de-açúcar (mln ton) 573.1 617.7 7.8% 620 0.4% Açúcar (mln ton) 32.0 31.2-2.5% 35.5 13.8% Etanol anidro (bln l) 10.7 10.6-0.9% 10.4-2.1% Etanol hidratado (bln l) 15.5 17.6 13.5% 16.5-6.2% Etanol total (bln l) 26.2 28.2 7.6% 26.9-4.7% ATR/ton cana 136.4 130.4-4.3% 133.5 2.4% Etanol de milho (bln l) 0.08 0.14 63.6% 0.18 29.8% Mix (%) Açúcar 42.7% 40.0% 45.0% Etanol 57.3% 60.0% 55.0% * Projeção PINE Macro & Commodities Research Research: Commodities - PINE Lucas Brunetti
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