Palavras chave: Educação do Campo; Educação de Jovens e Adultos; Projovem Campo Saberes da Terra

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Transcrição:

PROJOVEM CAMPO SABERES DA TERRA, UMA EXPERIÊNCIA COM PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 1 Gleycia Valéria de Souza Silva UFRN gleyciasouza@ymail.com Resumo O presente artigo objetiva discutir a execução do programa Projovem Campo Saberes da Terra no Rio Grande do Norte, almejando verificar a contribuição do Programa no âmbito educacional (qualificação social e profissional), econômico e cultural dos sujeitos beneficiados e consequentemente das localidades onde é desenvolvido. No Rio Grande do Norte o Projovem Campo Saberes da Terra é fomentado pelas parcerias entre a Secretária de Estado da Educação e Cultura, as Secretárias Municipais de Educação, as Movimentos Sociais do Campo, as Cooperativas Agrícolas, as equipes de docentes com perfil apropriado e o empenho dos alunos. Desse modo, o referido Programa está imerso na especialidade da Educação do campo que tem por fim incluir os povos do campo a um modelo de ensino que possibilite educação contextualizada e por isso significativa a eles, e assim, a possibilidade ampliada de permanência em seus meios de sobrevivência. Assim no decorrer do trabalho a Educação de jovens e Adultos também merecerá destaque visto que o Projovem Campo Saberes da Terra é voltado a essa modalidade de ensino. Como instrumento metodológico para o desenvolvimento desta pesquisa realizamos estudos bibliográficos, assim como coleta de dados diretamente na SEEC e sítio do Ministério da Educação de modo que o artesanato deste estudo nos permitiu fazer uma reflexão sobre o elo existente entre a Educação de Jovens e Adultos e Educação do Campo no programa Projovem Campo Saberes da Terra e a Educação do Campo. Palavras chave: Educação do Campo; Educação de Jovens e Adultos; Projovem Campo Saberes da Terra 1 Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 1

Introdução O desenvolvimento deste artigo resulta-se da sistematização de dados obtidos durante um estudo de caso sobre políticas educacionais voltadas para os jovens e adultos no Rio Grande do Norte. Assim, esse trabalho vai se deter à analise e compreensão do programa Projovem Campo Saberes da Terra que integra escolarização básica aos jovens do campo. A educação de Jovens e Adultos em nossa atual sociedade já é melhor acentuada nas políticas públicas se compararmos com os avanços anteriores, tanto que temos o privilégio de nos depararmos com ações direcionadas ao público desta, hoje, reconhecida modalidade. Mas sabemos o quanto ainda precisamos, sociedade civil e poder público, alcançar um horizonte de maior quantidade e, principalmente, qualidade no sistema de ensino que inclui o jovem e adulto ao ensino formal. Sem querer apontar comparações entre as populações do campo e da cidade, pelo simples fato de cada uma destas é provedora de necessidades específicas é valido salientar que se restringirmos a problemática da EJA no campo, a situação se torna bem agravante, tanto em relação aos recursos materiais como humano e também como a carente motivação que recebem a maioria desses jovens para encarar uma realidade escolar, que por vezes só oferece a inicial vaga em uma instituição de ensino, mas não possibilita a continuidade dos referentes sujeitos em uma cotidiana vida escolar significativa às suas necessidades econômica, social, cultural e política para que possam intervir positivamente nas suas respectivas vidas particular e coletiva. Por esses fatores brevemente apresentados é que o Projovem Campo Saberes da Terra vem tentando incluir a realidade do campo e as necessidades dos povos inerentes a esse meio a um modo mais preparado de atuação profissional e social no próprio campo. Em conseqüência disso, uma política como essa capaz de mudar modos de sobrevivência antes não prometedores para melhor expectativa de vida financeira e social do sujeito beneficiado, de sua família e da localidade onde está inserido. Porém é com o intuito de diminuir as altas taxas de desistência escolar no campo e principalmente na modalidade da EJA que políticas como o exemplo do Projovem Campo Saberes da Terra, implementado com base em uma experiência piloto no ano de 2005 em doze estados com a denominação Saberes da Terra e ampliado a partir de 2008 com a atual denominação estão cada vez mais avançando entre as populações prejudicadas pela dívida social com milhões de brasileiros que 2

não tiveram acesso aos vários níveis de educação na idade própria (CAMPELO, 2009). O Projovem Campo Saberes da Terra é direcionado aos agricultores familiares de 18 a 29 anos que almejem a conclusão do Ensino Fundamental e por conseguinte qualificação social e profissional. Com esse fim a metodologia da ação funciona segundo os moldes do sistema da alternância que prima incluir as necessidades dos povos do campo (os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural) 2. Planejada para beneficiar a população do campo, a referida ação acolhe os princípios da Educação do Campo que fornece a base para sua sistematização enquanto uma política educacional, uma vez que a Educação do Campo valoriza o campo como espaço de vida, onde há especificidades intrínsecas ao meio e aos sujeitos que estão incorporados nele. Assim, essa educação deve ser construída pelos seus sujeitos sociais que mediados pelo trabalho clamam pelas suas devidas necessidades. Sendo assim, para compreender o desenvolvimento no campo é almejado que os povos que vivem nele e dele adquiram o conhecimento de modelo de agricultura, das novas fontes tecnológicas, da produção econômica. Enfim, de conhecimentos que garantam o progresso e qualidade de vida dos que vivem no e do campo e essa afirmativa é uma das importâncias dadas pelo Projovem Campo Saberes da Terra. Assim, conforme o decreto Nº 7.352 de 4 de novembro de 2010 que discorre sobre a Educação do Campo, entendemos que o Projovem Campo Saberes da Terra fomenta a EJA integrando qualificação social e profissional ao Ensino Fundamental. Diante desses pressupostos fizemos pesquisas bibliográficas, bem como coletas de dados na SEEC e MEC. 2 Os povos do Campo, conforme o decreto lei Nº 7.352 de 4 de novembro de 2010. 3

Os jovens e adultos e a ênfase da Educação do Campo A partir da Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, criada em 2004, especificidades como Educação de Jovens e Adultos e Educação do Campo ganharam mais centralidade, pois deixaram de está dispersos em outras secretárias, sendo o objetivo da SECAD diminuir a desigualdade educacional e consequentemente social através de Programas que ampliem à educação, à cultura e ao desenvolvimento profissional e sustentável. Projovem Campo Saberes da Terra, os princípios da Educação do Campo incluindo jovens e adultos à escolarização contextualizada O Projovem Campo Saberes da Terra foi implementado no ano de 2005 em doze estados brasileiros (BA, PB, PE, MA, PI, RO, TO, PA, MG, MS, PR e SC) com a denominação Saberes da Terra, funcionava com as parcerias entre secretárias estaduais de educação, representantes estaduais da UNIDIME União dos Dirigentes Municipais em Educação, entidades e movimentos sociais do Campo e integrantes dos comitês e fóruns estaduais de Educação do Campo. Enquanto Saberes da Terra a ação objetivava beneficiar aos povos do campo sem restringir a faixa etária, porém em 2007 o referido programa passou a ser uma das quatro modalidades do PROJOVEM, Programa Nacional de Inclusão de Jovens. Com a integração do Saberes da Terra no PROJOVEM o programa passou a ser desenvolvido pelos entes federativos estaduais ou municipais com prioridade aos Territórios da Cidadania, em parceria com instituições de Ensino Superior públicas, organizações não-governamentais e movimentos sociais do campo. Nesse novo contexto o Projovem Campo Saberes da Terra visa ampliar a qualificação profissional e escolarização aos jovens agricultores familiares de 18 a 29 anos já alfabetizados, mas que não tenham concluído o Ensino Fundamental e que sejam agricultores familiares residentes nas áreas de abrangência do Programa, garantindo assim o respeito às características dos povos do campo. Foi então que em 2008, dezenove estados (AL, BA, CE, MA, PE, PB, PI, RN, SE, PR, MG, ES, AM, RO, PA, TO, MS, SC e MT) passaram a atender aos jovens do campo com meta de atingir nesse período a 35 mil jovens, dando continuidade ao avanço das metas em novas matriculas no ano de 2009, quando foram aprovadas mais 30.375 novas vagas e em 2010 mais 34.800 novas matrículas no programa. 4

O custo aluno no decorrer do curso é de R$2.400,00, sendo que os jovens agricultores que participam do Projovem Campo recebem uma bolsa de R$1.200,00 em doze parcelas iguais de R$100,00, mas para o pagamento desse benefício é preciso que o educasse tenha 75% de freqüência no decorrer do curso. O Projovem Campo oferece aos estados da federação através de um projeto base, embasamento sobre os objetivos, metodologias, matrículas, certificação entre outros aspectos, para que a partir dele os estados tenham autonomia em executar um projeto político pedagógico que esteja de acordo com as reais necessidades dos respectivos sujeitos que serão atendidos. No curso que se dar o programa, temas como sistemas de produção e processo de trabalho agrícola; desenvolvimento sustentável e solidário; economia solidária; cidadania, organização social e política pública e agricultura familiar, etnia, cultura e identidade são contextualizados a fim de atender as reais perspectivas dos seus alunos. Sendo que para essa contextualização cada Estado, onde o Programa é executado, tem a autonomia de planejar o projeto político pedagógico que se enquadre às suas necessidades. Esses temas são metodologicamente pensados para serem desenvolvidos por alternância como veremos, e assim analisamos que o programa em destaque pode apresentar bons índices de aprovação entre os educandos porque se adapta às suas realidades, uma dessas adaptações que a ação dispõe é a Pedagogia da Alternância, pois A Pedagogia da Alternância é uma proposta educacional que respeita as peculiaridades regionais, valoriza o modo de vida do homem rural, seus costumes e valores, conseguindo adequar-se às complexidades existentes na Agricultura Familiar, diferenciando-se da educação urbana adotada em municípios com características rurais ou até mesmo no ensino agrícola. Essa proposta educativa para o meio rural procura relacionar o processo de educação com seu público alvo, conciliando o trabalho na propriedade rural com a educação, valorizando o conhecimento do aluno numa interação entre a escola-família-comunidade, utilizando a interdisciplinariedade e os temas geradores no processo de ensino-aprendizagem. (GNOATTO; RAMOS; PIACESKI; BERNARTT, 2006) Assim, a metodologia adotada pelo referido programa possibilita a inclusão dos jovens agricultores familiares que por diversos fins não concluíram a etapa do Ensino Fundamental, uma vez que a educação formal nos meios rurais geralmente não oferece um projeto que integre uma educação voltada aos interesses de seus povos. Essas novas políticas educacionais como é o caso do Projovem Campo - Saberes da Terra estão 5

preocupadas não com a ação compensatória do ensino formal, mas com os valores significativos da vida dos sujeitos da EJA, com a plenitude do ser enquanto cidadão. Projeto Político Pedagógico do Projovem Campo Saberes da Terra no Rio Grande do Norte O projeto político pedagógico do mencionado programa no Estado do Rio Grande do Norte é baseado no projeto base do Projovem Campo, sofrendo algumas adequações para dialogar com a diversidade dos municípios até então atendidos. No estado a meta inicial é que 1.200 jovens de 31 municípios sejam beneficiados. Esses municípios estão distribuídos na região do Mato Grande (16) e na região do sertão do Apodi (15), ao todo já são 40 turmas em plena atividade e outras com a promessa de serem formadas nas demais regiões do Estado. Cada turma possui, em média, trinta alunos, sendo a meta do programa formar turmas a cada dois anos e o curso corresponde ao ensino fundamental. Então para a formação das turmas que acontece pela Secretária Estadual de Educação e Cultura do RN em parceria com os movimentos sociais, sindicatos rurais, Comitê Gestor de Educação do Campo e das Secretárias Municipais, os interessados devem já ser alfabetizados, porém não terem concluído o Ensino Fundamental, serem agricultores familiares entre a faixa etária instituída no projeto base que é de 18 a 29 anos, residir nas áreas de abrangência do programa, não se encontrarem matriculados em instituições de ensino de qualquer modalidade e portarem de documento de identificação, sendo todas essas informações de responsabilidade do candidato. O objetivo principal do programa é contribuir para a formação integral do jovem do campo, oportunizando que jovens agricultores familiares excluídos do sistema formal de ensino, concluam o Ensino Fundamental na modalidade da EJA, integrando a qualificação social e profissional. Outros objetivos do Programa são a elevação da escolaridade e qualificação social e profissional inicialmente de 1.200 jovens do campo; estímulo do desenvolvimento sustentável e solidário como possibilidade de vida e constituição de sujeitos cidadãos do campo; realização de formação continuada para educadores envolvidos no Programa; fortalecimento da autonomia e do processo democrático no universo da escola, família e sociedade pela busca do desenvolvimento pessoal e social; produção de saberes baseados nos princípios da Educação do Campo. 6

A fim de alcançar os objetivos listados há uma organização curricular que está voltada a um tema central, a agricultura familiar e sustentabilidade. A partir desse tema são trabalhados eixos temáticos como: Agricultura familiar: cultura, identidade, gênero e etnia; Sistema de produção e processos de trabalhos no campo; Cidadania, organização social e políticas públicas; Economia solidária e Desenvolvimento sustentável e solidário com enfoque territorial. Os eixos temáticos apresentados, no PPP do programa no Estado, dão suporte aos seguintes arcos ocupacionais: Sistemas de cultivo; Sistemas de Criação; Extrativismo; Aqüicultura e Agroindústria. Vale salientar que os arcos ocupacionais são as profissões que o concluinte do curso poderá exercer segundo o certificado que recebe, essas ocupações vão de encontro com as expectativas das especificidades do estado e mais particular das regiões onde há o funcionamento do Programa. Os recursos tanto didáticos como humanos dão suporte à materialização do dos eixos temáticos e arcos ocupacionais, pois sevem de alicerces para o desenvolvimento do programa e dos seus respectivos objetivos, assim os recursos didáticos compreendem os Cadernos Pedagógicos Nacionais direcionados a cada eixo temáticos e planos estaduais organizados a partir dos cadernos pedagógicos e do projeto pedagógico vigente no Estado. Os recursos humanos que atuam no programa estão divididos em cargos como: um coordenador geral, oito coordenadores de turma, cento e vinte educadores da área de conhecimento geral e quarenta profissionais da área de qualificação profissional, em particular esses devem ter experiência em escolas do campo. Além dos recursos citados é notório que para a efetivação do Projovem Campo Saberes da Terra o calendário escolar deve ser flexível, no sentido das adaptações necessárias às condições de vida das comunidades atendidas que vai depender da época do cultivo e colheita, o que também está de encontro com o Sistema da Pedagogia da Alternância. Sabendo dessa flexibilidade e para melhor fazer relações com o ensinoaprendizagem da escola e das vivências dos alunos o curso se desenvolve através da Pedagogia da Alternância, adequando o ensino escolar ao modo de vida do campo, respeitando as atividades de produção da região, as condições climáticas, contribuindo também para a forma social e econômica das comunidades. Diante disso, esse sistema de alternância integra escola e família, teoria e prática, formação humana e acadêmica e 7

formação humana além do saber popular e científico que destina um tempo escola e um tempo comunidade, o que vai de encontro com o artigo 28 da LDB: Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adequações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III adequação à natureza do trabalho na zona rural. (LDB, 1996) O tempo escola abrange 1.800 horas das 2.400 horas totais do curso, sendo responsável pelas atividades presenciais. Nesse tempo acontece a socialização das ações-pesquisas desenvolvidas pelos alunos no tempo comunidade; é, no entanto o tempo dos saberes apreendidos, das dúvidas e inquietações, é também o tempo da problematização, da construção de hipóteses, do estudo, da pesquisa bibliográfica, dos debates e reflexões com a mediação dos professores, porém vale afirmar que esse tempo é sobre tudo articulado ao tempo comunidade. O tempo comunidade abrange as atividades realizadas pelos alunos em suas localidades de vivência e compreende uma carga horária de 600 horas, o respectivo tempo é destinado a realização da pesquisaação, além das atividades de estudos individuais ou mesmo coletivos para o aprofundamento dos conhecimentos e também da aplicação dos novos saberes apreendidos/construídos no tempo escola de modo a permitir a contextualização da teoria na prática. Desse modo, os educandos podem exercer ações comunitárias. Guiado pelo princípio da Pedagogia da alternância, o programa segue a uma metodologia que atenda às especificidades dos seus participantes enquanto sujeitos que têm direitos a uma qualificação social e profissional, para tanto as estratégias das aulas são variadas podendo envolver aulas expositivas, debates, trabalhos em grupo, pesquisas em diferentes fontes, contato situações, etc. Os processos avaliativos apresentados no Programa objetivam primeiramente acompanhar o desenvolvimento formativo dos educandos, visando melhorar e fazer correções construtivas no decorrer da formação, por isso o processo é dado de modo 8

coletivo, cumulativo, contínuo, permanente e flexível. No entanto há critérios avaliativos que almejam: a coerência entre as práticas avaliativa, os objetivos e a metodologia; o processo contínuo e permanente de participação de educandos e professores; a utilização de diferentes instrumentos e procedimentos de avaliação, entre outros. A avaliação ainda privilegia os educandos quanto a um mecanismo de recuperação da aprendizagem, o qual é sistematizado no processo de ensinoaprendizagem através de um diagnóstico feito por toda equipe de ensino, o educando e se necessário a sua família para relatarem a possível causa de o aluno não ter atingido resultados satisfatórios, conforme os objetivos propostos pelo Programa. Vale colocar que essa recuperação visa nivelar o participante enquanto educando para dar prosseguimento aos estudos com êxito. Para dirigir todas as ferramentas apresentadas o Projovem Campo o Programa é financiado pelos recursos do FUNDEB; pelos recursos a serem disponibilizados pelo MEC e de contrapartida pela Secretária de Estado de Educação e Cultura do RN, sendo executado da seguinte forma: O governo federal fomenta recursos para secretarias estaduais de Educação e municípios a fim que estes desenvolvam o Programa, ou seja, implementem as turmas e para instituições de Ensino Superior Públicas custear a formação continuada dos profissionais em exercício efetivo no Projovem Campo - Saberes da Terra. Por fim, o Projovem Campo Saberes da Terra no RN vem adquirido o status de um dos projetos, dentre os demais Estados, que aderiram essa política nacional de inclusão de jovens em seus municípios do interior, visto a cooperação de todos os entes participativos. O que merece destaque o perfil dos professores selecionados a trabalharem de acordo com os princípios da Educação do Campo e o empenho dos alunos matriculados que almejam maior qualificação social e profissional. Considerações Finais Para eu, iniciante dos estudos sobre a Educação de Jovens e Adultos aliada à concepção e prática da Educação do Campo, o trabalho, até então, desenvolvido é importante porque proporciona novos conhecimentos sobre as temáticas postas e aprofundamento nas políticas do governo, além de me instigar a preocupação em pesquisar a realidade das práticas desenvolvida nas comunidades do campo. 9

Porém, a partir dessa breve pesquisa percebemos que iniciativas estão sendo alavancadas para a população jovem e adulta do Brasil, em relação ao campo. Mas sabemos que essas iniciativas são decorrentes de vastos processos de avanços e recuos, mas que foram e são de suma importância para a melhoria na qualidade do ensino aos jovens e adultos, inclusive do campo. Por fim, compreendemos que a Educação do Campo apresenta um projeto voltado para a dimensão humana de seus sujeitos, levando em considerações suas experiência e trajetórias de vida, com vista para o desenvolvimento humano por completo e o Projovem Campo, enquanto programa pode exercer, mesmo que em curto ou médio prazo de execução, um vínculo efetivo no modo de vida dos sujeitos do campo. 10

Referências BRASIL. Ministério da Educação. Projovem Campo Saberes da Terra. Brasília, Ed. 2009.. Ministério da Educação. Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Agricultura familiar: cultura, identidade, gênero e etnia. In: Cadernos Pedagógicos do Projovem Campo Saberes da Terra. Brasília: MEC/SECAD, 2008.. Diretrizes operacionais para a educação básica nas escolas do campo. Resolução n 1 de 03 de abril de 2002.. Diário Oficial da União. N 83, terça feira, 4 de maio de 2010. Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte. Projeto Político Pedagógico do Projovem Campo - Saberes da Terra, 2008. CAMPELO, Maria Estela Costa Holanda. A função reparadora na educação de Jovens e Adultos. Revista Educação em Questão. Natal, v.35, n.21, 210-233, maio/ago, 2009. GNOATTO, A. A.; RAMOS, C. E. P.; PIACESKI, E. E.; BERNARTT, M. L. PEDAGOGIA DA ALTERNANCIA; UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO. In: Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Fortaleza, 2006. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12306&ite mid=817. Acesso em 08 de novembro de 2010 às 00h30min. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14847. Acesse em 08 de novembro de 2010 às 00h. 11