RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS NO LEITE BOVINO PRODUZIDO EM MORRINHOS-GOIÁS 1

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Transcrição:

RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS NO LEITE BOVINO PRODUZIDO EM MORRINHOS-GOIÁS 1 Consuelo Ribeiro do Vale 2 ; Aroldo Vieira de Moraes Filho 2 ; Erick Weberth de Lima Junqueira 2 ; Suéllen do Vale Costa 2 ; Mara Lucia Lemke de Castro 3 moraesfilho18a@hotmail.com; suellendovale.bio@hotmail.com; maralemke@uol.com.br INTRODUÇÃO O leite é um produto oriundo da ordenha de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas (LANGE, 2005; ALMEIDA, 2004). Infecções no úbere influenciam na concentração de gordura, lactose e caseína, e aumentam a concentração de proteínas, cloretos e soro. Entre as infecções do gado a mais comum é a mastite bovina (SOUZA; AIRES, 2006; NASCIMENTO et al., 2001). O antibiótico pode ser encontrado no leite de duas formas: uma direta, quando o produtor adiciona antibiótico no leite visando uma maior durabilidade do produto, ou de forma indireta, proveniente do tratamento terapêutico, onde o produtor não respeita o tempo de carência após a aplicação de um produto (ALMEIDA, 2004; FOLLY; MACHADO, 2001). O uso indiscriminado de antibióticos acarreta no aparecimento de resíduos no leite. Sabe-se que medicamentos têm sido utilizados para combater doenças, no controle de mortalidade e mobilidade animal e adicionadas a rações para ganho de peso (BARROS et al., 2001). A principal fonte de resíduos de antibiótico no leite é proveniente do combate a mastite, contudo o antibiótico é eliminado naturalmente durante o período de carência, devendo assim o produtor ter a consciência de não utilizar tal produto para o consumo humano neste período (NERO et al., 2005). O período de carência é o tempo necessário para a eliminação do antibiótico no leite, após a última aplicação do medicamento. Esse período varia de acordo com cada medicamento, e o descumprimento desse período é que gera resíduos de antibiótico no leite (BRITO; LANGE, 2005; ALMEIDA, 2004; SANTOS; FONSECA, 2004). A presença de antibióticos no leite pode trazer sérios problemas, já que auxilia na seleção de cepas mais resistentes tanto no ambiente como no consumidor, hipersensibilidade e possível choque anafilático em pessoas alérgicas ao medicamento presente no leite. Aproximadamente 5% a 10% das pessoas são alérgicas a penicilina, medicamento presente em vários antibióticos (NERO et al., 2005). O antibiótico pode inibir algumas bactérias utilizadas na produção de produtos lácteos tais como iogurtes, manteigas e queijos inviabilizando um futuro processamento, e a pasteurização geralmente não elimina o antibiótico (DIETRICH, 2008; FOLLY; MACHADO, 2001; DENOBILE; NASCIMENTO, 2004; SANTOS; FONSECA, 2004; VIEIRA; SANTOS, 2003; BRANCHER; FAGUNDES, 1998). Outras conseqüências de resíduos de antibiótico são a seleção de cepas bacterianas resistentes, induzir uma falsa idéia de qualidade do leite e efeitos teratogênicos (SOUZA; AIRES, 2006). As indústrias são as principais responsáveis na detecção de antibiótico no leite, e elas usam esse fator para penalizar produtores que enviam leite com resíduos de antibióticos (SANTOS, 2003). No Brasil o Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde e o Ministério 1 Projeto de pesquisa 2010/1. 2 PVIC/UEG 2010/1; Biologia UEG UnU Morrinhos. 3 Coordenadora; Docente temporária UEG UnU Morrinhos; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia - EA/UFG; Bolsista pelo CNPq. 1

do Meio Ambiente são os órgãos responsáveis pela segurança alimentar (SOUZA; AIRES, 2006), através da instrução normativa n 51 vigente desde 2002 (MENDES et al., 2008; ROSA; QUEIROZ, 2007). Contudo, sabe-se que o monitoramento no Brasil é falho, mas leis, cooperativas, fundações e produtores estão se conscientizando e esforçando-se para controlar o uso indiscriminado de antibiótico (TETZNER et al., 2005). Os métodos de detecção de antibióticos no leite podem ser físico-químicos, microbiológicos e imunoquímicos ou imunoenzimáticos (TENÓRIO, 2007; GOMES, 2005; BRANCHER; FAGUNDES, 1998). Alguns métodos, como o Teste Charm, fazem a identificação de antibiótico presente de forma direta. Baseia-se em um receptor específico, por meio de técnica de radioisótopos (GOMES, 2005). O resultado é muito preciso e rápido, porém é um teste não certificado. De acordo com Brancher e Fagundes (1998), o método da redutase, utilizando o azul de metileno (TRAM), pode ser aplicado com segurança para avaliar a presença de antibióticos no leite, com a vantagem de ser um teste de baixo custo, mas seu tempo de avaliação é relativamente longo se comparado aos kits e demandam equipamentos e vidrarias de laboratório. De acordo com Tenório (2007), existem poucos trabalhos no Brasil comparando os diferentes métodos existentes no mercado. Pouco se conhece sobre os kits de avaliação em relação a sua especificidade e sensibilidade. O assunto demanda mais pesquisas a respeito, a fim de validar tecnicamente a utilização dos kits no Brasil. OBJETIVO O objetivo desta pesquisa foi comparar os resultados do teste Charm e TRAM verificando se são compatíveis. Possibilitando verificar se o kit Charm poderá substituir com segurança o TRAM. METODOLOGIA Foram realizadas visitas de reconhecimento à cinco fazendas no município de Morrinhos e foi escolhida a Fazenda Vera Cruz para implantação do projeto em função do volume de leite produzido (4.700 litros. dia -1 ) ser bastante representativo em relação as demais. O volume desta fazenda representa 1,4% do volume total recebido pela cooperativa de leite local (330.000 litros. dia -1 ). Foram coletadas amostras de 50ml de leite em frasco limpo e esterilizado, quantidade suficiente para realizar as análises e as repetições. Após a coleta, as amostras permaneceram em uma caixa térmica sob refrigeração até a realização das análises. As análises foram realizadas em laboratório num período máximo de 12 horas após a coleta. Foram realizadas coletas aleatórias, pelo período de três meses em diferentes vacas que estavam em tratamento com antibiótico e vacas saudáveis. Foi levado em consideração o prazo de carência indicado na bula, a dosagem e a forma de aplicação do medicamento, coletando as amostras somente após o período de carência. Foram realizadas três repetições em diferentes indivíduos aleatórios totalizando 210 amostras. Foram escolhidos dois métodos de testes utilizados pelos laticínios, o Teste Charm (imunoquímico) por sua rapidez e praticidade e o TRAM (microbiológico) por ser o método descrito na normativa n 51. O Teste Charm é um kit de análise, sendo que uma pequena amostra é colocada em contato com o reagente e o resultado é observado imediatamente, indicando presença ou ausência de antimicrobianos. O TRAM é um método simples para estimar a quantidade de bactérias presente no leite fresco. A amostra de leite é misturada com azul de metileno, que é uma substância 2

indicadora do potencial de óxido-redução, e é incubada a temperatura de 37 o C. O azul de metileno perde a coloração como resultado de redução devido ao crescimento bacteriano. Em geral, o tempo de redução é inversamente proporcional ao número de bactérias presentes na amostra de leite no início da incubação, isto é, quanto mais bactérias estiverem presentes na amostra, mais rapidamente se dará a redução da substância indicadora, tornando-a incolor. O resultado do teste de redutase é dado em horas e não pelo número de bactérias (BRITO et al., 2011). Este teste tem por objetivo avaliar a carga bacteriana do leite, podendo classificar vários tipos de leite de acordo com o grau de higiene. O TRAM, de acordo com a Instrução Normativa nº 51/2002 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento prevê o tempo mínimo de 300 minutos para o leite tipo A; 210 minutos para leite tipo B e 90 minutos para leite tipo C (Brasil, 2002). Antes do início dos testes, as amostras foram submetidas a aquecimento a 80 C por cinco minutos e posteior resfriamento, a fim de reduzir a ação de possíveis antimicrobianos naturais, conforme descrito por Tenório (2007) e Nascimento et al. (2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 210 amostras avaliadas pelos dois métodos (Charm e TRAM) obteve-se o mesmo resultado nos dois métodos, ou seja, 100% de compatibilidade entre estes. Sendo que 1,05% das amostras indicaram a presença de antimicrobianos no leite. Na pesquisa de Nascimento et al. (2001), avaliando 96 amostras de leite de seis marcas comerciais, em Piracicaba Estado de São Paulo, 50% apresentaram contaminação com antimicrobianos. De acordo com Gomes (2005) o Teste Charm pode apresentar falso positivo para antibióticos, caso a amostra esteja com acidez fora dos padrões. Conforme Tenório (2007), a sensibilidade e seletividade dos testes microbiológicos podem interferir no desempenho. Dentre os fatores interferentes temos a elevada contagem de células somáticas (CCS); elevada contagem bacteriana total (CBT); fatores antibacterianos presentes no leite de vacas com mastite e presença de outras drogas. Estes fatores podem apresentar falso positivo para antimicrobianos por interferirem no crescimento do microrganismo do teste. Este interferente foi controlado nesta pesquisa com o aquecimento a 80 C e posterior resfriamento das amostras antes das análises. Os fluidos excretados pelo corpo, tais como lágrimas, saliva e leite, possuem inibidores naturais de microrganismos, justamente para proteger o organismo. No leite, estes inibidores são geralmente proteínas como a lactoferrina, lisolizima e o sistema lactoperoxidase. É preciso que estas substâncias sejam controladas para verificar se estão em níveis normais e assim não serem confundidas com resíduos de antimicrobianos (TENÓRIO, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS O Teste Charm mostrou-se compatível com o TRAM, configurando um resultado seguro, com custo relativamente baixo. Esta metodologia é acessível a laticínios de pequeno e médio porte sem grande estrutura laboratorial, ou mesmo para utilização em testes de campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. P.. Epidemiologia do uso de antibióticos entre produtores de leite da região de Uberlândia-MG. Revista Horizonte Cientifico, Brasil, v. 3, n. 1, p. 1-13, 2004. 3

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