Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Ensino Religioso. Escola pública.

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Transcrição:

01396 CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DE ESTÁGIO DE ENSINO RELIGIOSO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO FAZER PEDAGÓGICO DAS DOCENTES DA ESCOLA PÚBLICA Isabel Christiani Susunday Berois i Centro Universitário Municipal de São José RESUMO Este trabalho aborda questões referentes ao terceiro ano de vivência do estágio curricular supervisionado em ensino religioso nos anos iniciais da educação básica do curso Ciências da Religião, com habilitação em Ensino Religioso, com a mesma docente de estágio supervisionado e em uma mesma escola pública estadual de Santa Catarina. Propõe-se a discorrer acerca das contribuições da prática de estágio em ensino religioso nos anos iniciais do ensino fundamental em uma escola pública estadual, em especial, na prática pedagógica das docentes envolvidas neste processo. Fundamentam este trabalho, quanto a concepção de estágio, Pimenta e Lima (2008),e sobre ensino religioso, a Proposta Curricular de Santa Catarina (2001), e legislação concernente. Foram realizadas 8 visitas de acompanhamento de 11 (onze) estagiários do curso e observação em sala de aula de 5 (cinco) docentes dos anos iniciais de diferentes anos/série do ensino fundamental, nos meses de setembro e outubro de 2013, totalizando 40h. Fez-se registro em diário de campo, coletou-se o registro descritivoavaliativo das docentes do campo acerca do estágio realizado e promoveram-se conversas informais entre as docentes da escola, os estagiários e a docente de estágio. Foi a partir desta terceira vivência de estágio do curso de ciências da religião que, os sujeitos da escola, evidenciaram a necessidade de rediscussão do ensino religioso no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola; constatou-se a resiginificação das práticas de algumas docentes na disciplina de ensino religioso; e, mudança na concepção, de diferentes sujeitos da comunidade escolar, da finalidade do ensino religioso na escola. Considera-se que, se há intenção de estabelecer uma relação de diálogo e formação concomitante entre os sujeitos das diferentes instituições de ensino envolvidas no processo de estágio, deve manter um trabalho contínuo e processual que considere os saberes da escola, bem como, os advindos dos cursos de formação inicial docente. Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Ensino Religioso. Escola pública.

01397 1 INTRODUÇÃO A prática dos estágios nos anos iniciais no Curso Ciências da Religião com habilitação em ensino religioso tem se constituído em um desafio tanto para os sujeitos da instituição de ensino superior, docente e estudantes, quanto para a instituição concedente do estágio, especialmente as docentes dos anos iniciais. A primeira entradas, em 2011, de grupos de estágio supervisionado obrigatório do curso ciências da religião do Centro Universitário Municipal de São José (USJ) nos anos iniciais de uma escola pública estadual catarinense, no município de São José/Santa Catarina, causaram estranheza aos sujeitos da escola concedente. A estranheza advinda da equipe pedagógica deu-se devido a inexistência de professor habilitado na área de ensino religioso específico para os anos iniciais. Já a estranheza da merendeira e pessoal do serviço geral, grosso modo, girava em torno da natureza de conhecimento religioso que estes sujeitos do curso ciências da religião poderiam ofertar às crianças dos anos iniciais. Os olhares curiosos e falas como Eles vão dar aula de catequese? ou A professora da x série vai gostar de vocês porque é evangélica. advindos especialmente dos funcionários que, aparentemente, parecem não estar inseridos nas discussões pedagógicas da escola, trouxe a tona a concepção confessional/catequista que a disciplina de ensino religioso teve no Brasil por muitas décadas e que ainda habita o imaginário de parcela da população. Outro desafio, e em certa medida de maior importância, foi dialogar com as docentes e estagiários sobre quais objetivos instituir e quais conteúdos propor às crianças do 1º. ao 5º. ano de modo que possibilitasse à elas [...] o acesso à compreensão do fenômeno religioso e ao conhecimento de suas manifestações nas diferentes denominações religiosas. (SANTA CATARINA, 2001, p. 08). A definição de conteúdos e objetivos com o intuito de promover o acesso a compreensão do fenômeno religioso deu-se, de modo ainda incipiente, a partir da segundo turma de vivência do estágio, em 2012. Na medida em que as relações entre a docente de estágio, as docentes dos anos iniciais e a equipe pedagógica, foram se estreitando e solidificando, no decorrer das vivências de estágio em ensino religioso na escola, observou-se que parte das docentes envolvidas, inclusive a docente de estágio, começaram a identificar quais objetivos e conteúdos da área do conhecimento religioso eram mais significativos para aquela comunidade.

01398 Finalmente, após três anos consecutivos de vivência do estágio em ensino religioso nos anos iniciais em uma mesma escola, com acompanhamento da mesma docente de estágio, é que se conseguiu identificar mudanças significativas nos diferentes sujeitos da escola no que tange a oferta do ensino religioso nos anos iniciais da escola. E é esta terceira vivência que se traz neste trabalho para discorrer acerca das contribuições da prática de estágio em ensino religioso nos anos iniciais do ensino fundamental em uma escola pública estadual, em especial, na prática pedagógica das docentes da escola. 2 O ENSINO RELIGIOSO E AS DOCENTES DO CAMPO DE ESTÁGIO É preciso que os professores orientadores de estágios procedam, no coletivo, junto a seus pares, a essa apropriação da realidade, para analisá-la e questioná-la criticamente, à luz de teorias. (PIMENTA; LIMA, 2008, p. 45) Durante os períodos de observação no campo de estágio observou-se a existência de práticas religiosas como, por exemplo, canções religiosas de um determinado credo em sala de aula, a prática de orações, comemoração de datas religiosas no calendário escolar, dentre outras, como atividades pertencentes ao ensino religioso. Estas práticas, que por vezes estão institucionalizadas na escola, não contemplam a pluralidade religiosa existente no mosaico religioso brasileiro e estão na contramão do que preconiza a Lei 9475/97, que altera o art. 33 da LDB 9394/96. Apesar da mudança de concepção de ensino religioso a ser ofertado na escola pública não seja doutrinação religiosa e nem se confunda com o ensino de uma ou mais religiões (SANTA CATARINA, 2001, p. 09), E, apesar de no Estado de Santa Catarina existir uma Proposta Curricular para Implementação do Ensino Religioso (2001), que prevê a oferta do ensino religioso em todos os anos do ensino fundamental, na perspectiva que preconiza a legislação federal citada, não raro observa-se certa resistência por parte das docentes dos anos iniciais em propor aulas que abordem o fenômeno religioso. De certo modo, pode-se dizer que a oferta da disciplina de ensino religioso na escola campo de estágio era burlada nos anos iniciais, possivelmente por falta de conhecimento sobre fenômeno religioso dos docentes, e ora por negligência dos gestores da instituição que pareciam desconhecer a finalidade do ensino religioso nos anos iniciais. Constituiu-se assim o primeiro desafio da docente de estágio

01399 supervisionado, junto ao campo de estágio, ou seja, repensar as propostas pedagógicas em ensino religioso das docentes para as crianças a partir da prática de estágio. As docentes dos anos iniciais tinham a ofertar aos estagiários diversos conhecimentos sobre como ensinar, administrar a turma, propor atividades coletivas e individuais, mas desconheciam o que os estudantes poderiam ofertar da área de conhecimento religioso, então não raro solicitaram temáticas como: amor, valores morais, respeito, família. As crianças, independente da série, demonstravam muita curiosidade, dúvidas e preconceitos acerca das questões religiosas nas suas falas, como por exemplo: Eu não gosto de macumba porque eu tenho que dar a volta na outra rua. É que quando tem uma galinha preta na esquina e não posso passar ali (Izadora, 3º. ano em 2011). Nas rodas de diálogo, com docente da escola, estagiários e docente de estágio, procurou-se rediscutir acontecimento como o acima citado e resignificar as temáticas propostas pela docente, trazendo-as para o campo do ensino religioso. Cuidadosamente o amor, solicitado pela docente do segundo ano, foi significado em manifestações de devoção em diferentes matrizes religiosas e assim sucessivamente trabalhou-se cada temática sugerida pelas docentes. Para que o ensino seja revertido em aprendizagem, é necessário revolver a terra, penetrar saberes [...]. Aquele que semeia sem revolver a terra consegue, no máximo, espalhar as sementes sobre a superfície sem esperança de que algum dia criem raízes, cresçam e dêem frutos. (TORRES, 2011, apud PIMENTA; LIMA, 2004, p. 177) Após dois anos revolvendo a terra, chega-se ao terceiro ano de estágio com as docentes da escola solicitando temáticas como: ritos e símbolos religiosos, matrizes africanas em especial a Umbanda. A promoção de práticas pedagógicas com temáticas como ritos africanos para o 3º. e 5º. ano e, justiça social e justiça divida em diferentes religiões para o 2º. e 5º. ano passaram a ser percebidas como necessárias e pertinentes ao processo de aprendizagem das crianças. O fomento do estágio em diferentes anos, mas com as mesmas docentes, contribuiu na chamada de atenção dos docentes dos anos iniciais e dos gestores da escola, acerca da necessidade de formação inicial e continuada para lecionar os conteúdos pertencentes a área de conhecimento das ciências da religião e de rever o Projeto Político Pedagógica da escola pois não havia anuência ao ensino religioso nos anos iniciais.

01400 Por fim, pode-se dizer que o estágio subsidiou as docentes da escola, para que estejam em maiores e melhores condições, para dialogar, questionar e repensar as práticas religiosas que por vezes estão institucionalizadas na escola, haja vista que estas práticas não contemplam a pluralidade religiosa existente no mosaico religioso brasileiro. E, que foi a partir da vivência com o campo de estágio que de fato a docente de estágio incorporou a concepção de estágio anunciada por Pimenta: [...] o estágio, ao contrário do que se propugnava, não é atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade. (1994 apud PIMENTA; LIMA, 2008, p. 45). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A vivência do estágio nos anos iniciais tem revelado a necessidade de formação continuada específica em ensino religioso para os docentes dos anos iniciais atenderem os questionamentos, da área de conhecimento das ciências da religião, advindos das crianças. Esta possível fragilidade na formação dos docentes dos anos iniciais é reveladora da fragilidade da qualidade do ensino público ofertado às crianças e jovens que usufruem deste bem público chamado escola. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9475.htm. Acesso em: 30.mai.2014. PIMENTA, Selma G. ; LIMA, Maria Socorro.L. Estágio e docência na formação de professores.são Paulo: Cortez, 2004. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina: Implementação do Ensino Religioso Ensino Fundamental. Florianópolis, SC: SED, 2001. i Pedagoga pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Coordenadora e docente da disciplina Estágio Supervisionado nos anos iniciais do ensino fundamental do curso Ciências da do Centro Universitário Municipal de São José (USJ). Contato eletrônico: belberois@gmail.com