Avaliação Psicológica ISSN: Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica Brasil

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Avaliação Psicológica ISSN: 1677-0471 revista@ibapnet.org.br Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica Brasil Araújo da Cunha, Claudia; Fernandes Sisto, Fermino; Machado, Fernanda DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA ESCRITA E O AUTOCONCEITO NUM GRUPO DE CRIANÇAS Avaliação Psicológica, vol. 5, núm. 2, diciembre-, 2006, pp. 153-157 Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica Ribeirão Preto, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=335027180005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

153 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA ESCRITA E O AUTOCONCEITO NUM GRUPO DE CRIANÇAS Claudia Araújo da Cunha 1 Universidade Federal de Uberlândia Fermino Fernandes Sisto Universidade São Francisco Fernanda Machado Universidade Federal de Uberlândia RESUMO Este trabalho teve como objetivo discutir as possíveis correlações estabelecidas entre o autoconceito e a dificuldade de aprendizagem na escrita de 300 crianças de 2 a, 3 a e 4 a séries do ensino fundamental. Para tanto, utilizou-se a Escala de Autoconceito Infanto Juvenil e uma escala de avaliação das dificuldades de aprendizagem na escrita (ADAPE). Os dois instrumentos foram aplicados coletivamente em crianças, de ambos os sexos, de duas escolas da rede pública de uma cidade do interior de Minas Gerais. Os coeficientes de correlação sugerem que houve uma correlação negativa entre o autoconceito social e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninos de 2 a série, entre o autoconceito social e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninos da 3 a série e entre o autoconceito familiar e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninas da 4 a série. Palavras-chave: avaliação psicológica; autoconceito; alfabetização DIFFICULTY IN LEARNING WRITING AND THE SELF-CONCEPT IN A GROUP OF CHILDREN ABSTRACT The purpose of this paper was to discuss the possible correlations established between the self-concept and the difficulty in learning writing of 300 children of 2 nd, 3 rd and 4 th grades of elementary school. In order to do it, the Escala de Autoconceito Infanto Juvenil (scale of self-concept of youngsters) and a Escala de Avaliação das Dificuldades de Aprendizagem na Escrita - ADAPE (a scale of evaluation of the difficulties in learning writing) were used. Both methods were used collectively in children, of both genders, in two public schools in a city in the state of Minas Gerais. The correlation coefficients suggest a negative correlation between the social self-concept and the difficulty in learning writing in boys of the 2 nd grade, between the social self-concept and the difficulty in learning writing in boys of the 3 rd grade and between the familial self-concept and the difficulty in learning writing in girls of the 4 th grade. Keywords: psychological evaluation; self-concept; literacy INTRODUÇÃO 1 Segundo Sisto (2002 A), o baixo rendimento escolar é uma das manifestações mais evidentes das dificuldades de aprendizagem. Se uma criança apresenta um bom desempenho escolar, mesmo que tenha dificuldade para aprender e com muito esforço a esteja superando, esta criança passará despercebida, da mesma forma que crianças que não estudam por falta de interesse ou preguiça correm o risco de serem classificadas como crianças com dificuldade de aprendizagem. As generalizações excessivas podem, por vezes, levar a confusões conceituais sérias em que pouco ou quase nada ajudam no diagnóstico das possíveis causas dos problemas de aprendizagem para as crianças que de fato apresentam dificuldades de aprendizagem. 1 Contato: Rua Saturnino Pedro dos Santos, 181 - Apto 102 Bloco B - Bairro Jardim Finotti CEP: 38408-090 Uberlândia MG E-mail: ccunha@uber.com.br Pacheco (2003) objetivou averiguar a relação entre variáveis psicossociais e as dificuldades de aprendizagem na escrita. Foram analisadas respostas de 123 crianças da 3 a série do ensino fundamental, pertencentes a quatro escolas da rede pública da cidade de Campinas - SP. Utilizou a escala ADAPE - Avaliação das Dificuldades de Aprendizagem na Escrita - no intuito de detectar as dificuldades de aprendizagem na escrita, além da escala de personalidade para crianças. Os resultados apontaram que os sujeitos dissimulados socialmente, com pontuações mais baixas na escala sinceridade ou dissimulação social (S) apresentaram dificuldade de aprendizagem acentuada na escrita. Dentro de um enfoque em que a interação pessoal também é constituída por percepções e expectativas em relação à(s) outra(s), Schiavoni e Martinelli (2003) investigaram a existência de relação entre o desempenho em escrita de crianças e como essas percebem as expectativas de seus professores. Participaram deste estudo 139 sujeitos, sendo 73 do sexo masculino e 66 do

154 Claudia A. da Cunha,Fermino F. Sisto & Fernanda Machado sexo feminino, freqüentando a 3 a série do ensino fundamental. A avaliação do desempenho em escrita foi medida através de um ditado padronizado (ADAPE) elaborado e padronizado por Sisto (2002 B) que detecta as dificuldades mais comuns na escrita de crianças, sendo constituídos três grupos de acordo com o desempenho em escrita. A percepção dos sujeitos em relação ao que pensam ser a opinião de seus professores a seu respeito foi obtida através de um instrumento contendo vinte afirmações, dez positivas, que indicam boa percepção do aluno, e dez que indicam uma percepção negativa, cujas opções de respostas eram sempre, às vezes ou nunca. Os resultados indicaram que quanto pior o desempenho em escrita, mais negativa a percepção que as crianças acreditam terem seus professores a seu respeito. Borges e Martinelli (2003) pesquisaram as possíveis relações entre dificuldades de escrita e a força do ego. Para tal, aplicou-se à escala ADAPE para avaliar a dificuldade de escrita e para avaliar a força do ego, utilizou-se o teste desiderativo. A amostra foi composta por 100 crianças, de ambos os sexos, da 3 a série do ensino fundamental. Os resultados apontaram que as dificuldades de escrita por erros por palavras e erros por letras estão significativamente relacionados à força do ego. Assim, quanto maior a força do ego maior a dificuldade de escrita e quanto mais bem estruturado o ego se apresenta, melhor desempenho na escrita. Sisto e Bartholomeu (2003) procuraram analisar as relações entre a intensidade de problemas emocionais e os erros na escrita. Os participantes foram 88 alunos de classes de 2 a série do ensino fundamental de uma escola pública. Foram utilizados o Desenho de Figura Humana e o ADAPE (Escala de Avaliação de Dificuldades de Aprendizagem em Escrita). Os resultados evidenciaram que crianças que apresentam maiores dificuldades na aquisição da escrita, encontram-se acompanhadas por indícios de problemas emocionais. O autoconceito tem sido definido por diversos autores como o conhecimento que o indivíduo tem de si. Conforme Burns (1979) essas percepções construídas e as atitudes a elas correspondentes (autoconceito) possuem três componentes básicos. Um componente cognitivo que diz respeito ao conjunto de características com o que a pessoa se descreve e que não é necessariamente verdadeiro ou objetivo, mas que orienta seu modo habitual de ser e se comportar. Um aspecto afetivo que diz respeito aos afetos e emoções que acompanham a descrição de si mesmo e que foi definida por Coopersmith (1967) de auto-estima. E o aspecto comportamental que passa a ser influenciado diretamente pelo conceito que a pessoa tem de si mesma. MÉTODO Objetivo O objetivo da presente pesquisa foi o de verificar possíveis correlações entre a dificuldade de aprendizagem na escrita e o autoconceito geral, pessoal, familiar, escolar e social de um grupo de crianças do ensino fundamental de uma cidade do interior do Estado de Minas Gerais. Participantes Participaram da pesquisa 300 alunos, sendo 157 do sexo masculino (52,3%) e 143 do sexo feminino (47,7%). As idades das crianças variaram de 6 a 15 anos (média = 9,10; mediana = 10; moda = 9; desvio padrão = 1,37), sendo que a maioria dos sujeitos tinha entre 7 e 11 anos, perfazendo um total de 95,4% da amostra. Eram todos alunos de segunda, terceira e quarta séries do ensino fundamental de escolas públicas de uma cidade do interior do Estado de Minas Gerais. Materiais e Procedimentos Utilizados Os dois instrumentos foram aplicados coletivamente, um a um, juntamente com a professora regente de cada classe. A seguir descrever-se-á a aplicação de cada um dos instrumentos. Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ) A Escala de Auto-Conceito Infanto-Juvenil foi construída e validada por Sisto & Martinelli (2004). A escala é constituída por um questionário formado por perguntas relacionadas ao âmbito pessoal, familiar, escolar e social dos sujeitos. As respostas podem ser sempre, às vezes ou nunca. As pontuações são mostradas na Tabela 1. Tabela 1. Pontuações da Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-J) Autoconceito Resposta marcada Sempre Às vezes Nunca Pessoal 0 1 2 Escolar 2 1 0 Familiar 2 1 0 Social 0 1 2

Escala de Avaliação na Aprendizagem da Escrita (ADAPE) O texto da escala de Avaliação de Dificuldades na Aprendizagem da Escrita (ADAPE) foi construído e validado por Sisto (2002 B) e ficou constituído por 114 palavras, com 60 delas apresentando algum tipo de dificuldade classificada como encontro consonantal, dígrafo, sílaba composta e sílaba complexa, e 54, não. Cada uma das palavras foi considerada um item ou unidade de medida para efeitos de pesquisa. A aplicação do ditado foi feita pela professora da classe, juntamente com um experimentador, depois de instruída para informar aos alunos que eles iriam fazer um ditado, e que seria dilatada uma palavra de cada vez e nenhuma delas seria repetida e, por isso, precisariam prestar bastante atenção. Para a correlação dos ditados, cada palavra foi considerada uma unidade e qualquer erro ortográfico ou ausência de palavra foi considerado erro, assim como acentos e letras maiúsculas e minúsculas indevidas, sendo a soma dos erros a pontuação de cada criança. Sisto (2002 B) propôs critérios de classificação de dificuldade de aprendizagem na escrita de alunos de 2 a série, por meio do ADAPE (instrumento de avaliação de dificuldade de aprendizagem na escrita) que comparou crianças critério (alfabetizadas pelos professores até o mês de setembro); crianças de 1 a séries comuns (acompanhadas por professores tradicionais e que não usavam cartilhas) e crianças de Dificuldade de Aprendizagem na Escrita e o Autoconceito num grupo de crianças 155 2 a série. Os critérios ficaram assim definidos: sujeitos sem indícios de dificuldade de aprendizagem, pertencentes a categoria zero, com até 20 erros; dificuldade de aprendizagem leve (categoria 2), entre 50 a 79 erros e dificuldade de aprendizagem média (categoria 3), com 80 ou mais erros. Para as crianças de 3 a e 4 a série, os critérios são os que se seguem: até 10 erros (categoria 1A) sem indícios de DA; entre 11-19 erros (categoria 1B- DA leve); 20-49 erros (categoria 3 DA média) e 50 ou mais erros (categoria 4 DA acentuada). RESULTADOS Os dados da Tabela 2 demonstram que com relação à 2 a série houve uma correlação positiva entre o autoconceito escolar e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninas e correlação negativa entre o autoconceito social e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninos. Em se tratando de 3 a série, houve correlação negativa entre o autoconceito social e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninos, bem como no que tange ao autoconceito geral e a dificuldade de aprendizagem na escrita. Já com relação à 4 a série, houve uma correlação negativa entre o autoconceito familiar e a dificuldade de aprendizagem na escrita em meninas. Tabela 2. Correlações entre a Escala de Autoconceito Infanto Juvenil e a Dificuldade de Aprendizagem na Escrita Autoconceito Escala de Autoconceito Infanto Juvenil 2 a Série - ADAPE 3 a Série - ADAPE 4 a série - ADAPE Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Pessoal r -0,19-0,13-0,003 0,033 0,14-0,06 p 0,176 0,366 0,984 0,854 0,393 0,63 Escolar r 0,12 0,32(*) 0,023-0,16-0,09-0,02 p 0,42 0,03 0,852 0,36 0,599 0,89 Familiar r 0,16 0,01-0,22-0,03-0,160-0,27(*) p 0,27 0,97 0,08 0,885 0,33 0,04 Social r -0,35(*) -0,171-0,45(**) -0,246-0,037-0,01 p 0,013 0,239 0,000 0,162 0,823 0,941 Geral r -0,13-0,01-0,29(*) -0,21-0,05-0,13 p 0,35 0,95 0,02 0,22 0,76 0,31 * A correlação é significante ao nível de 0,05(bicaudal). ** A correlação é significante ao nível de 0,01(bicaudal).

156 Claudia A. da Cunha,Fermino F. Sisto & Fernanda Machado À GUISA DE CONCLUSÃO Os resultados evidenciaram que quanto mais as meninas de 2 a série se aceitam socialmente, menos erram no ditado, evidenciando que a percepção das crianças de quanto às outras pessoas gostam e admiram-na mostra-se positiva. Uma vez que o autoconceito social tem como enfoque tratar das relações sociais com os colegas e como ele se percebe nessas relações, pode-se dizer que uma pessoa com alta pontuação se percebe bem intelectualmente, se compara ou se sente superior aos seus amigos, tem vontade de ajudar os outros e busca ajuda quando precisa. O mesmo foi evidenciado com meninos de 3 a série, sendo que o autoconceito geral também manteve uma correlação negativa com a alfabetização. Tal processo significa que quanto mais os meninos se aceitam em termos pessoais, sociais, familiares e escolares, menos erram no ditado, demonstrando, pois, menos dificuldades de aprendizagem na escrita. Foi possível identificar, então, que meninos mais velhos tendem a se aceitar mais no âmbito geral em comparação às meninas e quando isso ocorre, também se vê que cometem menos erros no ditado. Logo, os fatores afetivoemocionais se mostram relacionados aos aspectos acadêmicos. As meninas, por sua vez, quanto mais velhas (4 a série) mais voltadas para a família. Isso quer dizer que quando nos referimos ao comportamento adotado nas situações do dia-a-dia em casa com os pais e irmãos, o fato de dizer a verdade e fazer corretamente o solicitado pela família, apresentou uma pontuação alta no aspecto familiar da escala do autoconceito. Pode-se inferir que são crianças que se avaliam alegres e contentes com seus irmãos e com um relacionamento de confiança e lealdade com seus pais. As meninas de 4 a série, no que se refere ao aspecto familiar se sentem bem adequadas e adaptadas às exigências do lar e isso apresenta uma relação estreita com o aspecto cognitivo. Demonstram, assim, serem crianças que tendem a aprender mais em virtude de serem mais aceitas pela suas respectivas famílias. Merece destaque, contudo, a correlação positiva evidenciada pelas meninas de 2 a série entre as variáveis alfabetização e o autoconceito escolar. O autoconceito escolar trata de questões relativas às relações interpessoais que ocorrem no contexto escolar. Os critérios se referem à avaliação de suas possibilidades de liderança, de ser academicamente visto como esperto e seus colegas aceitarem suas colocações, ao mesmo tempo em que é reconhecido como uma pessoa bondosa e divertida, tanto no sentido positivo como no negativo. Nesse contexto, as crianças desse estudo apontaram uma alta pontuação nesse item. Logo se vêem bem intelectualmente, se sentem mais ou menos líderes e aceitos pelos colegas de escola e se vêem como divertidos e bondosos, apesar de errarem mais no ditado Isso significou que as meninas tendem a aceitar com mais facilidade o fracasso escolar, mantendo o autoconceito escolar elevado. Os meninos, por sua vez, não evidenciaram essa tendência, demonstrando ser mais sensíveis quando o assunto se referia às questões de cunho interpessoais que ocorrem no contexto escolar. Rossini e Santos (2002) colocam que o fracasso escolar tem sido um dos temas mais discutidos e explorados pela literatura científica, sendo possível constatar que, apesar de não se tratar de uma questão nova, trata-se de uma questão não resolvida, uma vez que inúmeras variáveis podem contribuir com o bom andamento do processo de aprendizagem, sejam fatores ditos afetivo-emocionais, ambientais, orgânicos e culturais. Sisto (2002B), por sua vez, destaca a existência de uma interação entre fatores sociais, educativos e individuais como possíveis explicações para as dificuldades de aprendizagem. Inúmeros estudos e pesquisas que abordam as dificuldades de aprendizagem como um processo mais amplo, porém, muitos questionamentos continuam a nos instigar: Até que ponto, enquanto educadores, somos colaboradores passivos frente à explicação reducionista do problema de aprendizagem? Segundo Sisto 2002A, é possível encontrarmos crianças que apesar de participarem de interações que envolvem fatores sociais, educativos e individuais bastante precários, aprendem rápida e facilmente a escrever muito bem. Nesse sentido, outros estudos devem ser feitos nesse sentido, levando-nos a investigar segmentos, por vezes, negligenciados e, portanto, pouco explorados pela literatura vigente. REFERÊNCIAS Borges, T. B. & Martinelli, S. C. (2003). Dificuldades de escrita e força do ego. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Anais, XXXIII Reunião da Sociedade

Brasileira de Psicologia (p. 199). Belo Horizonte, MG: SBP. Burns, R. B. (1979). The self concept. London: Longman. Coopersmith, S. (1967). The antecedents of selfesteem. San Francisco: Freeman. Pacheco, L. M. B. (2003). Diagnóstico de escolares: Aspectos acadêmicos e psicossociais. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Anais, XXXIII Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia (p. 212). Belo Horizonte, MG: SBP. Rossini, S. D. R. & Santos, A. A. A. (2002). Fracasso escolar: Um estudo documental de encaminhamentos. Em F.F. Sisto, E. Boruchovich, D.D.T Fini, R.P. Brenelli & S.C. Martinelli (Orgs.), Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico (pp. 214-235). Petrópolis, RJ: Vozes. Schiavoni, A. & Martinelli, S.C. (2003). Desempenho em escrita e sua relação com a percepção de alunos sobre as expectativas de seus professores. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Anais, XXXIII Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia (p. 189). Belo Horizonte, MG: SBP. Dificuldade de Aprendizagem na Escrita e o Autoconceito num grupo de crianças 157 Sisto, F. F. & Martinelli, S. C. (2004). Escala de Autoconceito Infanto Juvenil (EAC-IJ). São Paulo: Editora Vetor. Sisto, F. F. & Bartholomeu, D. (2003). Afetividade e dificuldades de aprendizagem na escrita. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Anais, XXXIII Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia (p. 222). Belo Horizonte, MG: SBP. Sisto, F. F. (2002A). Avaliação de dificuldade de aprendizagem: Uma questão em aberto. Em F. F. Sisto, E. A. Dobránszky & A. Monteiro (Orgs.), Cotidiano escolar: Questões de leitura, matemática e aprendizagem (pp. 121-141). Petrópolis: Vozes. Sisto, F.F. (2002B). Dificuldade de aprendizagem em escrita: Um instrumento de avaliação (ADAPE). Em F. F. Sisto, E. Boruchovitch, L. D. T. Fini, R. P. Brenelli & S. C. Martinelli (Orgs.). Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico (pp. 190-213). Petrópolis: Vozes. Recebido em Agosto de 2006 Reformulado em Setembro de 2006 Aceito em Novembro de 2006 SOBRE OS AUTORES: Claudia Araújo da Cunha: Docente da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, MG Fermino Fernandes Sisto: Docente do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, Itatiba, SP Fernanda Machado: Discente da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, MG