Renata Rodrigues da Silva Universidade Federal de Uberlândia

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Transcrição:

A GEOGRAFIA DO COMÉRCIO E OS PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO E CRIAÇÃO DE NOVAS CENTRALIDADES EM UBERLÂNDIA (MG) A PARTIR DA INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE SHOPPING CENTERS Renata Rodrigues da Silva Universidade Federal de Uberlândia renatadageo@yahoo.com.br Geisa Daise Gumiero Cleps Universidade Federal de Uberlândia gdgumiero@ras.ufu.br RESUMO Destaca-se o comércio como um dos agentes responsáveis por transformações no espaço urbano, bem como no lugar que, ao longo do tempo, tem contribuindo para o desenvolvimento das cidades. Portanto, o estudo do comércio permite compreender tais transformações, uma vez que as atividades comerciais constituem-se como as principais responsáveis pelo surgimento de novas centralidades nos espaços urbanos. Os shopping centers, enquanto grandes superfícies comerciais, exercem importante influência no espaço urbano, tendo em vista que, uma vez instalados estes estabelecimentos são responsáveis pela criação de novas centralidades, modificando as áreas ao seu entorno. A partir da instalação dessas novas modalidades comerciais, nas áreas periféricas, as áreas centrais sofrem um processo de descentralização que gera a desvalorização dos terrenos e a popularização do comércio. Consequentemente, surgem em outras localidades da cidade uma nova concentração de atividades terciárias, dando origem às novas centralidades no espaço urbano. Todas essas transformações no espaço urbano, bem como a criação de novas centralidades a partir do desenvolvimento do comércio também podem ser observadas em Uberlândia. Nesta, como em outras cidades médias brasileiras, observa-se o processo de descentralização das atividades comerciais nos antigos centros, seguida pelo surgimento das novas centralidades. O primeiro shopping center instalado na cidade foi o Ubershopping, inaugurando em 1987, localizando em uma área residencial de classe média. Nesse período existiam apenas dois shopping centers no estado de Minas Gerais, um em Uberlândia e outro em Belo Horizonte. Atualmente, Uberlândia possui apenas um shopping em operação, o Center Shopping, inaugurado em 1992, e outro empreendimento em fase de construção, previsto para ser inaugurado em 2011, conforme veremos abaixo. INTRODUÇÃO Entende-se por comércio o processo de trocas diretas ou indiretas, iniciado a partir do surgimento do excedente na produção, que se intensificou com a criação e a padronização de moedas, pesos e medidas e, também, pelo surgimento e desenvolvimento das cidades. O comércio sempre esteve muito associado ao urbano, sendo que, ao passo em que se intensificavam as atividades comerciais as cidades surgiam e se desenvolviam. A influência do comércio sobre as cidades nos últimos séculos ainda mostra-se muito evidente. Porém, nota-se também a influência da cidade nas atividades comerciais, tendo em vista que, na medida em que essas se desenvolvem e se modernizam, o comércio precisa se reinventar, 1

criar novas formas para sobreviver num mercado cada vez mais competitivo e inovador. Nesse sentido, o surgimento do auto-serviço, representado pelas grandes superfícies comerciais, como os supermercados, os hipermercados e os shopping centers, foi uma das principais e mais inovadoras formas de distribuição de produtos e serviços. Outro fato a ser destacado, refere-se ao processo de deslocamento do comércio para diferentes áreas da cidade, sendo que, a princípio, a maioria das atividades comerciais localizava-se nas áreas centrais das cidades. Devido a alguns fatores como, por exemplo, infra-estrutura, acessibilidade, possibilidade de expansão, preço mais acessível, dentre outros, encontrados em áreas periféricas, há uma migração do comércio para tais áreas, o que não significa dizer que não há mais a presença do comércio nos centros urbanos. O que se observa, na maioria dos casos, é que nessas áreas atualmente evidencia-se a concentração e a expansão de um comércio popular. Nesse sentido, destaca-se o comércio como um dos agentes responsáveis por transformações no espaço urbano, bem como no lugar que, ao longo do tempo, tem contribuindo para o desenvolvimento das cidades. permite compreender as transformações ocorridas no urbano. Portanto, o estudo do comércio A relação entre o comércio e a cidade constitui-se em uma importante ferramenta para se conhecer a dinâmica urbana. Dessa forma, Salgueiro (1995, p. 183) destaca que O comércio é importante para a cidade por uma série de razões. Em primeiro lugar, a troca é aí uma actividade tão significativa que diversos autores vêem nela a razão essencial do urbano. O comércio tradicionalmente tende a se concentrar nas áreas centrais da cidade, onde se encontram o maior fluxo de pessoas e veículos, de equipamentos urbanos e de serviços. Porém, com o crescimento das cidades aparece uma série de problemas como a falta de segurança, dificuldades em relação à acessibilidade e o aumento do preço dos terrenos, especialmente nas áreas centrais. Por estes motivos, bem como pela saturação do espaço físico nas áreas centrais, inicia-se um processo de descentralização de atividades comerciais e de serviços, seguida pela realocação de tais atividades, surgindo no espaço urbano as chamadas novas centralidades, ou seja, a criação de novas áreas centrais na cidade. Desse modo, Spósito (2001, p. 236) salienta que: O aumento do número de áreas centrais produz duas dinâmicas econômico-territoriais correlatas entre si: a da descentralização territorial dos estabelecimentos comerciais e de serviços e a recentralização dessas atividades. Essas dinâmicas ocorrem através 2

de iniciativas de duas ordens, que se dão simultaneamente: a de surgimento de novas atividades e estabelecimentos comerciais e de serviços fora do centro principal e a relocalização, em novos centros, de atividades e estabelecimentos que antes estavam restritos ao centro principal. Entretanto, para que ocorra o processo de descentralização de atividades comerciais é necessário que condições favoráveis a localização de tais atividades, fora da área central, sejam criadas, como, por exemplo, infra-estrutura, acessibilidade, menor preço da terra, possibilidade de expansão dos estabelecimentos dentre outros. O processo de descentralização/surgimento de novas centralidades ocorre nas grandes e médias cidades e necessita de mercado consumidor, bem como de acessibilidade para as novas áreas criadas. Segundo Spósito (2001), essas novas áreas centrais contribuem para a reestruturação das cidades brasileiras. A descentralização das atividades do terciário confere ao espaço urbano o caráter de ser ao mesmo tempo fragmentado e articulado, como sugere Corrêa (2005). Portanto, as atividades comerciais constituem-se como principais responsáveis pelo surgimento de novas centralidades nos espaços urbanos. Em relação às novas centralidades formadas a partir do comércio, Cleps (2005, p. 30) salienta que [...] a centralidade não se define pela localização, mas pela articulação entre as localidades, pois trata-se de relações espaciais. Dessa forma, apontam-se os shopping centers como uma das modalidades comerciais responsáveis pela formação de novas centralidades nas cidades. Ainda, segundo Cleps (2005, f. 268): Como modalidade comercial que requer grandes áreas para a sua instalação, os shopping centers criam uma nova centralidade nos locais onde são construídos, dinamizam o espaço do seu entorno, atraem formas comerciais e de serviços, além da atenção do poder público que acaba realizando toda a infra-estrutura necessária à instalação destes. Ruas e avenidas são pavimentadas, viadutos, rotatórias e contornos são construídos; cabos e redes de comunicação são instalados, além da estrutura básica como as redes de água, luz e esgoto, entre outros. Na medida em que criam novas centralidades, os shopping centers também contribuem para a valorização das áreas de seu entorno, através da infra-estrutura construída para a instalação desses empreendimentos e da nova circulação decorrente do desenvolvimento de suas atividades. 3

Todas essas transformações no espaço urbano, bem como a criação de novas centralidades, a partir do desenvolvimento do comércio, também podem ser observadas em Uberlândia. No que tange a shopping centers ele também se destaca, uma vez que, com exceção à capital Belo Horizonte, Uberlândia foi a primeira cidade de Minas Gerais a sediar um shopping center, denominado Ubershopping. Posteriormente, no início da década de 1990, foi inaugurado um outro shopping na cidade, denominado Center Shopping. Em termos de mudanças no espaço urbano de Uberlândia este último estabelecimento apresentou maiores resultados, como exemplo destaca-se a concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços presentes no seu entorno, bem como o grande fluxo de pessoas e veículos nas proximidades do mesmo. Além desses estabelecimentos acima citados, no ano de 2008 iniciou-se a construção de um novo shopping center na cidade de Uberlândia, localizado na zona sul da cidade, local onde se concentra uma expressiva quantidade de condomínios residenciais de alto padrão econômico e também algumas instituições privadas de ensino superior. Assim, a localização deste shopping center provavelmente criará na cidade uma nova centralidade, como ocorre com a maioria desses empreendimentos no Brasil. OBJETIVO Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar as modificações ocorridas no espaço urbano de Uberlândia (MG), bem como as novas centralidades criadas a partir da instalação e da operação de shopping centers na cidade. METODOLOGIA Para atingir os objetivos propostos fez-se, inicialmente, um levantamento bibliográfico acerca do tema, as novas centralidades provenientes dos shopping centers, no município de Uberlândia. Além disso, realizou-se trabalhos de campo para as áreas estudadas, ou seja, nos shopping centers da cidade de Uberlândia. No que concerne ao referencial teórico básico, foram utilizados vários trabalhos de autores que tem se dedicado aos estudos da Geografia urbana, da Geografia do comércio, das cidades médias brasileiras e, em especial, das grandes 4

superfícies comerciais, como o caso dos shopping centers. Entre estes trabalhos destacam-se os de BARATA SALGUEIRO, T. (1995); PINTAUDI, S. M. (1989); SPOSITO, M. E. B. (2001); VARGAS, H. C. (2001) entre outros. RESULTADOS OS SHOPPING CENTERS E O ESPAÇO URBANO O espaço constitui-se como uma das necessidades básicas para a realização de atividades comerciais. De acordo com Vargas (2001), com exceção do comércio virtual, para que haja o comércio é necessário o encontro e este encontro se dá no espaço. Nesse sentido, entende-se o comércio como um dos agentes responsáveis por modificações no espaço urbano, contribuindo tanto para a valorização quanto para a desvalorização de áreas no interior das cidades. Cabe ressaltar que o comércio torna ainda mais evidente a relação entre tempo e espaço, uma vez que o desenvolvimento de atividades comerciais permite a renovação da paisagem urbana, originando mudanças no espaço das cidades. Dessa forma, segundo Salgueiro (1995, p. 230), o comércio proporciona [...] a readaptação das velhas formas para novas funções, o que é bastante visível nas áreas em que foram implantados os shopping centers. Ainda, em relação às mudanças na paisagem urbana a partir da instalação de shopping centers, Montessouro (2001, p. 221) acredita que, [...] o shopping, como um novo espaço dentro da cidade, atrai novas atividades para ocupar velhos espaços, visando novos usos. Contudo, destaca-se a influência das grandes superfícies comerciais no espaço urbano, tendo em vista que as mesmas são responsáveis por profundas modificações nesse espaço, como, por exemplo, mudanças relacionadas ao fluxo de pessoas e veículos, investimentos em infra-estrutura, melhorias no sistema viário, nas áreas onde essas modalidades comerciais estão instaladas. Os shopping centers, enquanto grandes superfícies comerciais exercem grande influência no espaço urbano, tendo em vista que, uma vez instalados estes estabelecimentos são responsáveis pela criação de novas centralidades, modificando as áreas ao seu entorno. 5

No Brasil, a expansão dos shopping centers ocorreu a partir da década de 1980, que apesar deste período ter apresentado um decréscimo na economia nacional, a participação dos shopping centers na economia do país neste período aumentou. Atualmente de acordo com dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE, 2009), existem 385 shopping centers em operação no Brasil. Ainda de acordo com a mesma instituição a maioria destes empreendimentos encontra-se distribuída pela Região Sudeste, que possui um total de 213 shopping centers, representando 55% do total existente no país. Tais empreendimentos da referida região concentram-se no estado de São Paulo, 130 shopping centers, sobretudo na capital paulista que, possui 49 estabelecimentos. Diante da expansão dos shopping centers faz-se necessário apresentar alguns dados que comprovem o crescimento desses estabelecimentos na economia brasileira. Logo, em 2008, de acordo com a ABRASCE (2009), o faturamento anual dos shopping centers brasileiros superou a cifra de 64 bilhões de reais. As vendas nesses estabelecimentos representaram mais de 18% do total de vendas no varejo nacional. Desse modo, ressalta-se também o crescimento na comercialização de produtos e serviços realizada nos shopping centers do país. Outro dado fornecido pela ABRASCE (2009), refere-se ao número de empregos gerados pelos shopping centers do país que, em 2009, foi de aproximadamente 800 mil vagas geradas pela indústria de shopping centers. Os shopping centers também são responsáveis por mudanças nos hábitos de consumo da população. A própria disposição das lojas no interior de um shopping induz ao consumo de mercadorias que não são verdadeiramente necessárias ao consumidor. Assim sendo, a importância da análise dos shopping não se restringe apenas às transformações ocorridas no espaço urbano, mas também em relação aos hábitos de consumo da população. O primeiro shopping center que se instalou no Brasil foi o Shopping Center Iguatemi, em 1966, localizado na zona sul da cidade de São Paulo, construído para atender a elite da sociedade paulistana. No entanto a expansão destes empreendimentos para outros estados e regiões do país só ocorreu na década de 1980. Alguns dos fatores que contribuíram para a expansão dos shopping centers no Brasil foram: o aumento da população urbana, principalmente na Região Sudeste; a inserção da mulher no mercado de trabalho e as mudanças no comportamento dos consumidores. 6

Desse modo, observa-se que a maior parte dos shopping center instalados no Brasil concentram-se na Região Sudeste, tendo em vista que é nessa região que se encontra o maior índice de urbanização, de concentração populacional, de industrialização, maior número de automóveis e também de maior poder aquisitivo. A intensificação da urbanização no Brasil contribui para o aumento no consumo, principalmente nas grandes superfícies comerciais. A partir da década de 1980 observa-se um processo de expansão de shopping centers no Brasil, sobretudo no estado de São Paulo. Neste estado a localização desses estabelecimentos, de acordo com Pintaudi (1989), acompanha a nova localização das indústrias, que saem da Região Metropolitana de São Paulo rumo ao interior do estado. Dessa forma, o estado de São Paulo destaca-se dos demais por possuir o maior número de shopping centers. Porém, a presença destes empreendimentos não se restringe apenas a este estado. Cabe destacar a existência de shopping centers na maioria das cidades que compõem as regiões metropolitanas e nas cidades médias do país. Observa-se que a maioria dos shopping centers encontrados no Brasil são do tipo Shopping Center Regional, ou seja, estabelecimentos que comercializam mercadorias em geral e oferecem a prestação de serviços variados, que possuem como lojas âncoras lojas de grandes redes de hipermercados e departamentos, e que tenha um raio de influência de 15 a 20 km de distância, de acordo com a classificação proposta pela Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE 2009). OS SHOPPING CENTERS DE UBERLÂNDIA Em Uberlândia, como em outras cidades médias brasileiras, observa-se o processo de descentralização das atividades comerciais dos antigos centros, seguida pelo surgimento das novas centralidades. Nesse sentido, ressalta-se o processo de instalação de shopping centers e o surgimento de novas centralidades. Na década de 1960, ou seja, anteriormente a instalação do primeiro shopping center de Uberlândia, foram criados na cidade dois empreendimentos então denominados de Shopping Center Norte, localizado no bairro Nossa Senha Aparecida, e o Shopping Center Sul, presente no bairro Martins, os mesmos ainda encontram-se em atividade. Porém, esses 7

estabelecimentos não se caracterizam como shopping, mas sim como os primeiros centros comerciais populares de Uberlândia. Atualmente, a cidade apresenta apenas um shopping center em funcionamento, um em fase de construção e outro fechado por motivo de falência. O primeiro shopping center instalado na cidade foi o Ubershopping, inaugurando em 1987, localizando em uma área residencial de classe média. Nesse período existia apenas dois shopping centers no estado de Minas Gerais, um em Uberlândia e outro em Belo Horizonte. O Ubershopping, na década de 1990, entrou em processo de falência, devido, dentre outros fatores, a sua localização e difícil acessibilidade, e também em decorrência da instalação de um novo shopping center na cidade, e foi fechado. O Ubershopping possui 91 lojas, sendo 3 dessas lojas âncoras (Sears, Alô Brasil e Uberplay), em 17 mil m² de Área Bruta Locável, além de 1.200 vagas de estacionamento. O Armazém do Comércio (ARCOM), um grupo atacadista de Uberlândia, que possuía um terreno no encontro de duas importantes vias da cidade, as Avenidas João Naves de Ávila e Rondon Pacheco, localizadas no setor leste da cidade, e tendo conhecimento de que o poder público local apresentava a pretensão de investir e fazer crescer tal setor, decidiu construir um novo shopping center em Uberlândia. Assim, em 1992 inaugurou-se o Center Shopping que, atualmente, constitui-se no único shopping center em funcionamento na cidade de Uberlândia. O empreendimento localiza-se na zona leste da cidade, próximo a importantes equipamentos públicos como, a Prefeitura Municipal de Uberlândia e a Universidade Federal de Uberlândia (campus Santa Mônica e Educação Física). O Center Shopping faz parte de um complexo que reúne, além do shopping, um hipermercado da rede francesa Carrefour, um hotel e um centro de convenções, sendo, portanto caracterizado como um shopping multiuso. O referido empreendimento, desde sua construção, passou por três fases de expansão, sendo: a primeira em 1997, além da expansão do shopping também foi construído um hotel, Plaza Inn ; a segunda expansão ocorreu no ano 2000, quando aumentou-se o número de lojas e construiu-se o centro de convenções, Center Convention. Assim o Centre Shopping tornou-se o Complexo Center Shopping, um dos principais do interior do país; a terceira expansão ocorreu em 2010. A partir da terceira expansão o Center Shopping passou a contar com 287 lojas, sete novas lojas âncoras (dentre elas Centauro, Etna e Riachuelo), o 8

número total de vagas de estacionamento do shopping passou a ser 4.100 vagas. Assim, a área total construída do shopping é superior a 188 mil m², sendo 54.600 m² de Área Bruta Locável. Com essa expansão, o Center Shopping tornou-se o maior shopping center do estado de Minas Gerais. Também na cidade de Uberlândia encontra-se em fase de construção outro shopping center, localizado na zona sul da cidade, próximo a diversos condomínios horizontais fechados de classe alta, conforme mencionado. Este empreendimento localiza-se em uma área periférica, tendo como base a localização do atual centro comercial da cidade, a exemplo dos outros shopping center de Uberlândia,que no momento de sua construção também encontravam-se distantes da área central. Com 156 lojas, quatro lojas âncoras, 2.000 vagas de estacionamento. A Área Bruta Locável do novo shopping será de 33.000 m² de. O grupo empreendedor do shopping é a Sonae Sierra, de capital português. A inauguração do novo shopping de Uberlândia está prevista para o primeiro semestre de 2011. Portanto, a partir da instalação dessas novas modalidades comerciais, nas áreas periféricas, as áreas centrais sofrem um processo de descentralização que gera a desvalorização dos terrenos e popularização do comércio. Consequentemente, surgem em outras localidades da cidade uma nova concentração de atividades terciárias, dando origem às novas centralidades no espaço urbano. REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Shopping Centers ABRASCE. Disponível em: <www.portaldoshopping.com.br>. Acesso em 28 de setembro de 2009. CLEPS, G. D. G. Estratégias de reprodução do capital e as novas espacialidades urbanas: o comércio de auto-serviço em Uberlândia (MG). Rio Claro: UNESP, 2005. 317 f. Tese (doutorado em Geografia) IGCE, UNESP, 2005. CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989. MONTESSOURO, C. C. L. Presidente Prudente: a instalação dos shopping centers e a (re)estruturação da cidade. In: SPOSITO, M. E. B. (org.). Textos e contextos para a leitura geográfica de uma cidade média. Presidente Prudente: [s. n.], 2001. NASCIMENTO, I. S. Shopping Center e paisagem urbana em Uberlândia: Uma metodologia de impacto de vizinhança. Uberlândia: UFU, 2004. Dissertação (mestrado em Geografia) IG UFU, 2004. 9

PINTAUDI, S. M. O templo da mercadoria: estudo sobre os shopping centers no estado de São Paulo. São Paulo: USP, 1989. Tese (doutorado em Geografia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1989. SALGUEIRO, T. B. Do comércio a distribuição: roteiro de uma mudança. Lisboa: Celta, 1995. SPOSITO, M. E. B. (org.). Textos e contextos para a leitura geográfica de uma cidade média. Presidente Prudente: [s. n.], 2001. VARGAS, H. C. Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comércio. São Paulo: SENAC, 2001. 10