ARMAZENAGEM E CONSERVAÇÃO DOS IMUNOBIOLÓGICOS EM UNIDADES DE SAÚDE Autor(es): Apresentador: Orientador: Revisor 1: Revisor 2: Instituição: VANINI, Marisa; CASARIN, Sidnéia Tessmer Marisa Vanini Elaine Thumé Michele Mandagará de Oliveira Valeria Cristina Christello Coimbra Universidade Federal de Pelotas ARMAZENAGEM E CONSERVAÇÃO DOS IMUNOBIOLÓGICOS EM UNIDADES DE SAÚDE VANINI, Marisa 1 ; CASARIN, Sidnéia Tessmer 2 1 Acadêmica do 9º semestre da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da UFPEL; 2 Enfermeira, Especialista em Saúde da Família. Aluna do curso de especialização em Projetos Assistenciais de Enfermagem FEO/UFPEL. 1. INTRODUÇÃO A finalidade principal da vacinação é a redução da morbidade e da mortalidade causadas pelas doenças preveníveis através de imunização. No entanto, para que um imunobiológico possa agir e estimular a produção de anticorpos é preciso que seja manipulado de forma segura antes, durante e após sua administração na população (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001a). No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) implantado na década de 70 do século passado,é considerado um importante avanço na prevenção das doenças infecciosas imunopreveníveis. Neste período, foram investidos recursos estimáveis na adaptação da Rede de Frio, porém são escassos os estudos que avaliam a adequação do armazenamento e conservação nas Unidades Básicas de Saúde. Portanto, este trabalho objetivou avaliar o processo de armazenagem e conservação dos imunobiológicos através da observação da estrutura das salas de vacina em relação à Rede de Frio, da distribuição dos imunobiológicos na geladeira e caixas de isopor e dos procedimentos adotados em caso de falta de energia elétrica. Os achados foram comparados com as normas técnicas do PNI. 2. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados em quatro salas de vacina sob responsabilidade da
Universidade Federal de Pelotas, três localizadas em Unidades Básicas de Saúde e uma no ambulatório. A coleta foi realizada durante um turno típico de trabalho, com duração de quatro horas, os dados foram registrados em um instrumento estruturado, além da anotação das observações de campo. Também foi realizada uma entrevista semi-estruturada com os trabalhadores que estavam responsáveis pela sala de vacina no momento da coleta de dados. A pesquisa contemplou todos preceitos éticos e o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da respectiva Universidade. Para garantir o sigilo e o anonimato, os locais de estudo foram identificados por 1, 2, 3 e 4 e os entrevistados por A, B, C e D, respectivamente. Após coletados e digitados fez-se sucessivas leituras para destacar os principais temas a serem abordados. Os achados foram comparados com o preconizado nas normas técnicas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os profissionais entrevistados faziam parte da equipe de enfermagem, três eram técnicos de enfermagem e um enfermeiro, sendo que no momento da coleta de dados, nos locais onde havia técnicos de enfermagem, não havia supervisão do profissional enfermeiro. Estrutura; Com relação à área física verificou-se que todas possuíam o tamanho mínimo preconizado pelo PNI de 6 m 2 e parede de cor clara e fácil higienização, com exceção da Unidade 1 que tinha espaço restrito e parede de material áspero, metade de madeira e outra metade de tijolo na cor verde escuro. As Unidades 1 e 3, além de não possuírem arejamento adequado e as condições de higiene serem precárias, apresentavam vários cartazes nas paredes tornando o ambiente poluído visualmente, propiciando o acúmulo de poeira. Apenas a Unidade 3 possuía pia com bancada, as demais possuem lavabo. Na Unidade 3 não havia proteção adequada contra incidência direta do sol. Ressaltando que na Unidade 1 não havia incidência de luz solar, pois estava localizada nas dependências de um ambulatório. Nas Unidades 1 e 2, além da vacinação, eram realizadas outras atividades como teste do pezinho, aplicação de medicação injetável e até mesmo refeições. Com relação aos equipamentos da Rede de Frio foi verificado que na Unidade 1 não havia caixa térmica adequada, nas demais a caixa era ideal e monitorada com termômetro analógico de cabo extensor, porém a mesma estava sendo usada apenas na Unidade 2, sendo necessário, nas demais, abrir a geladeira para retirar os imunobiológicos a serem administrados. No local onde a caixa térmica estava sendo utilizada, a temperatura era de 0ºC, a mesma continha duas bobinas de gelo reciclável e os imunobiológicos dispersos, além de haver uma estufa próxima a caixa. Com relação à organização dos imunobiológicos na geladeira verificou-se que apenas em duas Unidades (2 e 3) as vacinas que podem ser submetidas a temperaturas negativas (Sabin e Tríplice Viral) estavam dispostas na primeira prateleira e as vacinas que não podem ser submetidas a temperaturas negativas estavam dispostas corretamente na segunda prateleira. Nas demais Unidades estavam alojadas na terceira e na primeira prateleira. Na terceira prateleira foi verificada a presença de materiais diversos, como medicações injetáveis, pomadas, caixas de isopor e de vacinas vazias, testes do pezinho, bobinas de gelo reciclável e algumas vacinas e termômetro que deveriam estar na segunda prateleira. Em alguns casos esses materiais dificultavam a circulação do ar entre os demais
compartimentos da geladeira. Nas quatro Unidades foi verificada a armazenagem de outros materiais na porta da geladeira, como por exemplo, Insulina, Benzilpenicilina, refrigerante, copos etc. A maioria das Unidades visitadas apresentava a gaveta dentro da geladeira e nenhuma delas continha as 12 garrafas de água com corante neste local, diferente do que é recomendado pelo Ministério da Saúde (2001 b), o qual indica que sejam retiradas todas as gavetas plásticas e que no local dessas sejam colocadas 12 garrafas de água com corante. Essa providência é de vital importância para manter a temperatura da geladeira entre +2 C e +8 C quando ocorrer falta de energia ou defeito no equipamento. Porém por estarmos no extremo Sul do país e na estação do inverno, essa recomendação torna-se facultativa. Com relação ao controle de temperatura foi observado que todas as Unidades continham pelo menos um termômetro de máxima e mínima. Apenas duas Unidades apresentavam o termômetro analógico de máxima e mínima disposto segundo a norma técnica, ou seja, entre a primeira e a segunda prateleira da geladeira em posição vertical na área central do equipamento. Com relação às anotações diárias da temperatura a Unidade 1 é a única que não realiza, pois não possui o formulário para registro. Em casos de defeito técnico na geladeira dois funcionários relataram que entram em contato com a Secretaria Municipal da Saúde para que essa recolha os imunobiológicos até o reparo do equipamento. A funcionária C disse que os imunobiológicos são colocados diretamente na caixa de isopor onde permanecem até a geladeira ser consertada. Já na Unidade 2 a funcionária referiu que nunca houve defeito e que se houvesse, não sabe dizer o que seria feito. Em casos de corte de energia em duas das Unidades os funcionários relataram que as vacinas são acondicionadas em câmara fria no setor ao lado, ou que é observada a temperatura e em caso de risco pedem para a SMS recolher. O acondicionamento dos imunobiológicos na própria geladeira ou em caixas térmicas por todo o período de falta de energia ou defeito técnico no equipamento, poderia acarretar, se for por um período longo, o aumento da temperatura nos equipamentos e conseqüentemente um dano irreversível nas propriedades dos imunobiológicos. Todos os funcionários relataram que a limpeza da geladeira era realizada periodicamente. Em três das Unidades era realizada a cada 15 dias, já na Unidade 4 o profissional referiu que não deixava exceder 1 cm a camada de gelo, não havendo intervalos regulares, o controle era a quantidade de gelo acumulado. Porém, ao contrário da indicação da norma técnica, durante a observação dessa última Unidade foi constatado que a camada de gelo passava de 5 cm e na Unidade 1 excedia 1 cm. A limpeza era feita com água e um pano limpo nas Unidades 1 e 4, e às vezes com produto neutro. Com relação aos procedimentos para a realização da limpeza da geladeira, todos os funcionários relataram que as vacinas são retiradas com antecedência e colocadas em local monitorado por termômetro como caixas de isopor ou câmara fria existente em setor próximo da sala de imunização. Quanto ao retorno das vacinas à geladeira após a limpeza, nenhuma delas segue rigorosamente o que é preconizado pela norma técnica do Ministério da Saúde. 4. CONCLUSÃO A enfermagem tem um importante papel na efetivação do Programa Nacional de Imunização e esta pesquisa permitiu algumas reflexões a respeito da atuação da
enfermagem nas Unidades de Saúde sob responsabilidade de uma Universidade. Os objetivos traçados tornaram-se um desafio para a análise da situação do dia-adia nos aspectos de armazenagem e conservação dos imunobiológicos. A realidade das salas visitadas é preocupante e as soluções aos problemas precisam ser rapidamente respondidas. As equipes de saúde encontram-se, muitas vezes despreparadas e as condições de estocagem dos imunobiológicos inadequadas. Alguns técnicos de enfermagem trabalham sem a supervisão direta de um enfermeiro, infringindo a legislação. Os motivos do trabalho de técnicos de enfermagem sem supervisão não foram explorados neste estudo, podendo ser objeto de outras pesquisas sobre o trabalho na saúde. A estrutura relacionada aos insumos e equipamentos mostrou estar adequadamente disponível na maior parte das Unidades, porém, problemas básicos persistem, entre eles o uso indevido da geladeira, o acúmulo de gelo além do limite seguro e o fato dos profissionais não saberem como proceder em caso de defeito técnico em um equipamento. O estudo demonstrou que não basta ter equipamentos, é preciso usá-los adequadamente. Não basta ter vacinas dentro da geladeira, é necessário saber conservá-las de modo a evitar o comprometimento na qualidade do imunobiológico que vai ser administrado, fornecendo assim segurança e proteção aos usuários. As UBS estudadas servem de campo de estágio para alunos da graduação e pós-graduação e o esperado eram serviços modelos. A solução aos problemas encontrados é complexa e acreditamos ser necessário investir na articulação do trabalho entre o município e a Universidade. Aponta-se como possibilidade o investimento em educação continuada envolvendo os professores da Universidade, trabalhadores das Unidades de Saúde e técnicos da Secretaria Municipal de Saúde. Por outro lado, os profissionais também tem o compromisso de manterem-se atualizados e não esperar passivamente que as soluções sejam propostas em outros âmbitos. É necessário uma postura pró-ativa, os manuais técnicos estão ao alcance de qualquer cidadão, e servem para guiar as atividades desenvolvidas em sala de vacina, inclusive os procedimentos que devem ser realizados com a rede de frio. É preciso estimular os profissionais para que se guiem através dos manuais e que os consultem sempre que surgirem dúvidas, além de procurarem apoio com os técnicos da Secretaria Municipal da Saúde. A divulgação dos resultados do estudo e a devolução dos achados aos profissionais das Unidades, professores e técnicos será de extrema importância para subsidiar a tomada de decisão no sentido do enfrentamento dos problemas identificados. Outros estudos poderão auxiliar na busca do entendimetno sobre o tema com a análise do processo de trabalho nas salas de vacina. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação de Acompanhamento e Avaliação. Avaliação na Atenção Básica em Saúde: caminhos da institucionalização.brasília, DF: 2005. 36p.. Manual de vigilância epidemiológica dos eventos adversos após vacinação Organizada pela Coordenação de Imunizações de
Auto- Suficiência em Imunobiológicos Brasília : Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 1998. 102p.. Manual de Normas de Vacinação. 3.ed. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde; 2001a 72p.. Manual de Rede de Frio / elaboração de Cristina Maria Vieira da Rocha et al. - 3. ed. - Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde; 2001b. 80p. il.. Manual de Procedimentos para Vacinação / elaboração de Clélia Maria Sarmento de Souza Aranda et al. 4. ed. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001 c 316 p. il.. A Implantação da Unidade de Saúde da Família. Caderno 1. Org. Milton Menezes da Costa Neto Brasília: Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas de Saúde; Departamento de Atenção Básica, 2000. 44 p.