Autoria: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Sociedade Brasileira de Infectologia Sociedade Brasileira de Reumatologia



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Transcrição:

Autoria: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Sociedade Brasileira de Infectologia Sociedade Brasileira de Reumatologia Elaboração Final: 31 de janeiro de 2011 Participantes: Conde MB, Mello F, Lima MA, Guerra RL, Miranda SS, Galvão TS, Pinheiro VG, Laurindo IM, Carvalho NB As Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar, iniciativa conjunta Associação Médica Brasileira e Agência Nacional de Saúde Suplementar, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. 1

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA: Foi realizada revisão da literatura publicada, baseada em artigos científicos na base de dados PUBMED/MEDLINE. Os principais descritores utilizados foram:tuberculosis, Isoniazid, rifampin; antitubercular agents; prevention & control; latent tuberculosis infection; chemotherapy tuberculosis, antitubercular, therapeutics, treatment, prevention, prophylaxis, hepatitis, toxic hepatitis, hepatotoxic, liver and injury. Os artigos foram selecionados baseados nos seguintes critérios de inclusão abaixo e após avaliação crítica da força de evidência: - Idioma: inglês, espanhol e português; - Tipo de artigo: meta-análise; ensaio clínico randomizado; revisão sistemática - Período 2009-2000 * 1 Artigo de 1978 (clássico sobre o assunto) GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. OBJETIVO: Discutir os esquemas para tratamento da tuberculose latente, seus efeitos adversos e sua efetividade. CONFLITO DE INTERESSE: Os conflitos de interesse declarados pelos participantes da elaboração desta diretriz estão detalhados na página 5. 2 Tuberculose Infecção Latente: Tratamento

1.QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ESQUEMAS DE TRATAMENTO PARA TBIL? A escolha do esquema de tratamento depende de vários fatores, como disponibilidade dos fármacos, potencial de efeitos adversos, adesão ao tratamento, possibilidade de resistência medicamentosa, custos e efetividade da proteção conferida. No Brasil, o Ministério da Saúde, baseado nesses parâmetros, tem recomendado a administração de isoniazida (H), na dose de 5 a 10 mg/kg de peso até 300 mg/dia por 6 meses, para o tratamento da TBIL nas populações sob risco de adoecimento. Esse esquema é considerado tão efetivo quanto seu uso por 12 meses 1 (A), quanto à proteção conferida com a vantagem de reduzir a ocorrência de eventos adversos e aumentar a adesão. Contudo, mesmo regimes de 6 meses ainda são considerados prolongados. Terapias encurtadas de 2-4 meses com drogas isoladas ou drogas associadas têm sido propostas como alternativas de tratamento 2 (A). Estudo multicêntrico aleatorizado, comparando a frequência de eventos adversos do uso de rifampicina (4R) 600mg/dia durante 4 meses para o tratamento da TBIL, demonstrou melhor adesão e menos ocorrência de eventos adversos graves do que o uso de isoniazida (9H) 300mg/dia por 9 meses. Entretanto, o desenho do estudo não foi capaz de comparar a eficácia da proteção conferida pelas drogas isoladas 3 (A). A associação de rifampicina e isoniazida por 3 meses (3RH) tem se mostrado equivalente ao uso de isoniazida por 6 ou 12 meses (6H ou 12H) quanto à efetividade do esquema em evitar o desenvolvimento de TB doença, assim como quanto ao percentual de casos com eventos adversos 2,4,5 (A). Por outro lado, a associação de rifampicina e pirazinamida por 2-3 meses (2-3 RZ), embora apresente efetividade semelhante à isoniazida por 6-12 meses, aumenta cerca de 3 vezes o risco de eventos adversos graves como hepatite 6 (B). Por este motivo, a maior parte dos autores sugere que o esquema 2RZ só deve ser considerado em indivíduos com risco especialmente elevado de desenvolver TB doença e quando não houver outra possibilidade terapêutica, devendo ser administrado sob monitorização cuidadosa da função hepática 7,8 (A) 9 (D). Tuberculose Infecção Latente: Tratamento 3

Estudo comparando a efetividade do uso semanal de rifapentina 900 mg/isoniazida 900 mg, por 12 semanas, com a administração diária de rifampicina 450-600 mg/pirazinamida 750-1.500 mg, por 8 semanas, demonstrou que rifapentina/isoniazida foi melhor tolerada do que a rifampicina/pirazinamida e que ambos os esquemas conferiram boa proteção contra o aparecimento de TB doença 10 (A). Assim, a maioria dos estudos confirma a eficácia do uso da isoniazida nas populações sob risco de adoecimento por TB, tal como proposto pelo Ministério da Saúde. Entretanto, outras drogas alternativas isoladas ou combinadas podem ser utilizadas com igual eficácia e melhor adesão, sendo que o esquema combinado rifapentina/isoniazida semanal por 12 semanas, pela facilidade do tratamento, boa tolerância e eficácia da proteção conferida, parece ser promissor para o tratamento da TBIL. 2. QUAL É O ESQUEMA INDICADO PARA TRATAMENTO DA TBIL EM PACIENTE COM INTOLERÂNCIA À ISONIAZIDA? Na impossibilidade do uso de isoniazida, a droga indicada para o tratamento da tuberculose latente seria a rifampicina, que inclusive produz menos efeitos adversos. O uso da rifampicina 600mg/dia por 4 meses permite maior adesão do que o uso da isoniazida por 6 meses 3 (A). 3. CONTATOS DE PACIENTES COM TB PULMONAR RESISTENTE À ISONIAZIDA E/OU RIFAMPICINA SÃO INFECTADOS DA MESMA FORMA QUE CONTATOS DE PACIENTES COM TUBERCULOSE SENSÍVEL? QUAL É O ESQUEMA A SER INDICADO PARA O TRATAMENTO DA TBIL NESTES CASOS? Um estudo brasileiro tipo caso-controle, conduzido com o objetivo de comparar a ocorrência de TB doença em contatos intradomiciliares de casos de TB pulmonar multirresistente (TBMR) versus casos de TB sensível, concluiu que o número de casos de doentes gerados entre os dois grupos é semelhante, o que justifica a adoção de medidas de proteção e tratamento adequado para os familiares de portadores de TBMR 11 (B). Entretanto, para contatos de casos índices diagnosticados como TBMR não existe recomendação objetiva, uma vez que não existe experiência universal consistente e conclusiva no assunto, que possa dar sustentação às recomendações 11 (B) 12 (A). A lógica indica que contatos de casos de TBMR devem ser tratados com fármacos aos quais os bacilos sejam sensíveis 13 (C). A recomendação empírica seria o uso de rifampicina por 4 meses (4R) ou rifampicina/pirazinamida 2 meses (2RZ), quando o caso-índice for resistente à isoniazida; e pirazinamida/ etambutol ou pirazinamida associada à quinolona (ofloxacino, levofloxacino ou ciprofloxacino) por 6 a 12 meses, se o casoíndice de TB for resistente a rifampicina e isoniazida 14 (D). 4. QUAL É O RISCO DE HEPATITE INDUZIDA POR ISONIAZIDA DURANTE TRATAMENTO PARA TBIL? As drogas antituberculose estão relacionadas entre os fármacos indutores de alterações das aminotransferases hepáticas. Elevações de até 3 vezes o limite superior da normalidade (LSN) de aspartato aminotransferase (AST ou TGO denominação anterior) ou alanina aminotransferase (ALT ou TGP-denominação anterior) podem ser observadas durante o uso dessas drogas e, em geral, não determinam sua suspensão. 4 Tuberculose Infecção Latente: Tratamento

A hepatopatia induzida por isoniazida ocorre raramente, ao contrário do que se pensava 1 (A) e parece estar mais relacionada à idade (>35 anos). A hepatotoxicidade que traduz lesão hepatocelular é definida quando o nível de ALT/AST está 5 ou mais vezes acima do LSN 15 (B). A ALT é mais específica para dano hepático que a AST, que pode estar alterada em outras condições. A suspensão da isoniazida está indicada no caso de ALT > 3 vezes LSN, se associada com sinais ou sintomas, e em caso de ALT > 5 vezes LSN, mesmo em paciente assintomático 6 (B). Extensa revisão sistemática da literatura, baseada em ensaios clínicos e meta-análises analisando o tratamento da TBIL, concluiu que o risco de desenvolver hepatite por isoniazida foi menor que 1%. A monitorização laboratorial das aminotransferases hepáticas durante o tratamento da TBIL é recomendada nos indivíduos com idade superior a 35 anos, usuários de álcool e pacientes sabidamente com testes de função hepática anormais 16 (A) 17 (D). 5. QUAL É O TEMPO DE TRATAMENTO PARA TBIL QUE DEVE SER RECOMENDADO AOS CAN- DIDADOS AO USO DE TNF-α, ANTES DO INÍCIO DA TERAPIA IMUNOBIOLÓGICA? Ainda não existe evidência suficiente definindo quando a prevenção da tuberculose deve ser iniciada, se o tratamento com isoniazida isolada é suficiente e por quanto tempo essa terapia deve ser mantida. A maior parte dos estudos disponíveis, contudo, concorda que o tratamento da TBIL deve ser começado antes do início da terapia anti-tnf e sugerem que candidatos ao uso de bloqueadores de TNF-α infectados pelo M. tuberculosis devem completar pelo menos um mês de tratamento preventivo com isoniazida, ou 2 meses, caso tenham história de doença tuberculosa ativa prévia. Excepcionalmente, o início pode ser concomitante quando a atividade da doença inflamatória exija urgência na introdução de terapia anti-tnf 18,19 (D). 6. QUAL É O TEMPO DE PROTEÇÃO CONFERIDA PELO TRATAMENTO DA TBIL? Estudos clássicos realizados pelo Centro de Pesquisa em Tuberculose de Madras (1992) 20 (A), avaliando a eficácia do tratamento da TBIL em portadores de silicose, demonstrou que a proteção decresce com o tempo; por outro lado, reinfecções exógenas são possíveis em qualquer época. A proteção do tratamento da TBIL nos contatos, embora seja mais marcante nos primeiros anos, se estende por praticamente toda a vida, exceto nos casos de reinfecção. O uso da isoniazida como monoterapia por 6 ou 12 meses resulta em um risco relativo (RR) de desenvolver tuberculose ativa de 0,40, em 2 anos ou mais 1 (A). 7. O TRATAMENTO DA TBIL PODE SER REPETIDO? A repetição do tratamento para a infecção latente pode ser considerada em duas condições: persistência da imunodepressão e re-exposição a focos bacilíferos. No primeiro caso, mantida a imunodepressão, o tratamento da TBIL deve ser repetido a cada 2 ou 3 anos e sempre em caso de re-exposição 21 (D). CONFLITO DE INTERESSE Miranda SS: recebeu honorários da empresa Bibliomed para consultoria. Tuberculose Infecção Latente: Tratamento 5

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