Uma reflexão sobre Cultura Organizacional em Organizações Internacionais 1



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Transcrição:

Uma reflexão sobre Cultura Organizacional em Organizações Internacionais 1 Eliza Corneli Ciarelli 2 Resumo: Este trabalho apresenta um estudo realizado afim de proporcionar uma reflexão sobre Cultura Organizacional em Organizações Internacionais. Ao aprofundar sobre temas como organizações, internacionalidade e cultura e tecer um paralelo em relação aos mesmos, o texto proporciona uma visão ampla dos fatores que constituem a cultura organizacional. A partir disso, é lançado um convite para refletir essa temática no contexto das organizações com atuação em mais de um país. Palavras Chave: Organizações, Organizações Internacionais, Cultura, Cultura Organizacional. Introdução Estudar o viés da cultura dentro do contexto organizacional internacional exige primeiramente compreender alguns fatores integrantes dessa realidade. Assim, este estudo inicia abordando a questão das organizações na sociedade. Vivemos em um mundo cada vez mais interligado e conectado, e essas antigas instituições sofreram muitas alterações para acompanhar este desenvolvimento. O resultado disso é a quantidade cada vez maior de organizações que se expandem para outros países. Deve-se ressaltar, no entanto, que essas organizações possuem suas peculiaridades, independentemente do local onde estão localizadas. Para aprofundar nessa questão o estudo entra no campo de definições de cultura e de cultura aplicada as organizações. Os costumes, hábitos, modo de pensar e de agir em relação a cada tipo de situação tornam-se fatores importantes para a compreensão da organização e de seu modo de vida. No campo teórico autores (como THOMPSON, 1995, PARKER, 1995, CHIAVENATO, 2002 e MARCHIORI, 2066) trazem para os livros a relevância das questões subjetivas e das práticas particulares de cada organização. Com essas questões exploradas fica possível então refletir o viés da cultura organizacional nas organizações de âmbito internacional. 1 Artigo apresentado na disciplina Seminário Avançado em Comunicação do curso de Relações Públicas da UNISINOS em 2011-1. 2 Aluna do 8º semestre. Contato: eliza_ciarelli@yahoo.com.br.

Organizações e Internacionalização As organizações existem desde a antiguidade e assumem um importante papel na sociedade, sendo responsáveis por grandes transformações sociais da história, como, por exemplo, a ascensão do Império Romano, a disseminação do cristianismo e o crescimento e desenvolvimento do capitalismo e do socialismo (HALL, 2004). É difícil destacar um período exato na história para caracterizar o surgimento das organizações. Etzioni (1984) afirma que as organizações não são uma invenção moderna e que já existiam no antigo Egito, quando foram construídas as pirâmides. Existem muitos autores que explicam o que são organizações e é amplo o campo de teorias e conceito sobre a temática. Considerando autores clássicos, destaca-se a definição de Max Weber. Primeiramente Weber (1947, p.145) define algo que chama de grupo corporativo a social relationship wich is either close or limits the admission of outsiders by rules, Will be called a corporate group (...) so far as its order is enforced by the action of specific individuals whose regular function this is, of a chief for head and usually also an administrative staff. 3 Nesta definição é possível destacar as relações sociais, ou seja, pessoas convivendo dentro de um meio social, e as características de ordem e hierarquia. Weber (1947, p.151) completa seu pensamento afirmando que as organizações são um sistema de atividades contínuas propositais de um tipo especificado. Com isso, é possível refletir a ideia de objetivo, meta, pois as atividades são realizadas por um propósito. Ainda seguindo a linha clássica, mas com outro foco, é importante ressaltar o pensamento de Barnard (1979, p.101) que defende que uma organização passa a existir quando há pessoas aptas a se comunicarem entre si que estão desejando contribuir com sua ação para a realização de um propósito comum. Percebe-se nessa afirmativa, assim como no pensamento de Weber, a ideia de coordenação consciente, ou seja, voltada para um fim específico. Essa ideia também pode ser observada na definição de Freeman e Stoner (1994, p.4), que definem organizações como duas ou mais pessoas trabalhando juntas e de modo estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de objetivos. 3 uma relação social que é fechada ou limita a admissão de novos membros por meio de regras, (...) até o ponto em que sua ordem seja imposta pela ação de indivíduos específicos que ocupam essa função usual de um chefe ou superior e, geralmente, também uma equipe administrativa (tradução nossa).

Observa-se, entretanto, que a definição de Barnard enfatiza o envolvimento humano, o papel das pessoas dentro deste sistema. O autor ainda destaca três elementos que constituem uma organização: comunicação, desejo de servir e propósito comum. Barnard defende que a vitalidade das organizações depende da disposição de seus indivíduos em servir e que essa disposição é guiada pela possibilidade de ver o objetivo tornar-se realidade. Assim, a medida que essa possibilidade é diminuída, desaparece a disposição em contribuir. Apesar de mais antigas, as definições de Weber e Barnard apresentam muito do que se tem atualmente em termos de definição de organizações. Etzioni (1984, p.3) expõe de maneira simplificada que: Organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas afim de atingir objetivos específicos. Incluem-se as corporações, exércitos, escolas, hospitais, igrejas e prisões; excluem-se as tribos, classes, grupos étnicos e família. A partir disso, torna-se possível entender que tipo de agrupamentos sociais são as organizações e também refletir sobre a participação destas na vida cotidiana, pois delas dependem a sociedade para se desenvolver. A ideia de interferência das organizações na sociedade está claramente evidenciada na definição de Hall (2004, p. 30) Um organização é uma coletividade com uma fronteira relativamente identificável, uma ordem normativa (regras), níveis de autoridade (hierarquia), sistemas de comunicação e sistemas de coordenação dos membros (procedimentos); essa coletividade existe em uma base relativamente contínua, está inserida em um ambiente e toma parte de atividades que normalmente se encontram relacionadas a um conjunto de metas; as atividades acarretam consequências para os membros da organização, para a própria organização e para toda sociedade. Com um olhar mais amplo, refletindo sobre as relações das organizações com o ambiente, a teoria sistêmica aplicada as organizações de Katz e Kahn (1976, p. 44) apresenta as organizações como uma classe especial de sistemas abertos, com algumas propriedades peculiares e outras em comum com todos os sistemas abertos. Estas propriedades incluem a importação de energia do ambiente, a transformação da energia importada em alguma forma de produto que é

característica do sistema, a exportação desse produto para o ambiente e a renovação de energia para o sistema, de fontes que existam no ambiente. Desta forma, Katz e Kahn apresentam as organizações como sistemas abertos e ressaltam a dependência organizacional quanto ao ambiente. Pode-se entender sistema como um conjunto de elementos interdependentes, que formam um todo unitário, visando a realização de objetivos comuns, com as características de importação, transformação e exportação de energias, numa perspectiva dinâmica e total (KUNCH, 2003, p.30). Daft (2008, p.14) destaca que a distinção entre sistemas fechados e abertos foi um passo importante para o desenvolvimento do estudo das organizações. De acordo com o autor um sistema fechado não depende do ambiente, é autônomo e completamente isolado do mundo externo. Já um sistema aberto precisa interagir com o ambiente para sobreviver. Este sistema consome e exporta recursos para o ambiente e não pode ser isolado, precisando adaptar-se continuamente ao ambiente. Bernardes e Marcondes (2004, p.14) definem organizações como: uma coletividade formada por pessoas que: 1)Tem a função de produzir bens e prestar serviços a sociedade, bem como atender as necessidades de seus participantes;2) Possui uma estrutura formada por indivíduos que se relacionam, colaborando e dividindo o trabalho para transformar insumos em bens e serviços Na definição de organizações de Bernardes e Marcondes pode-se reconhecer, de modo simplificado, algumas das características expostas na classificação de Katz e Kahn, como a finalidade das organizações para com a sociedade. Os autores explicam que essa definição é baseada no processo vindo da biologia o qual ficou conhecido nas ciências sociais como funcional, isto é, existindo alguma necessidade (como a da pessoa adquirir conhecimentos) surge uma entidade com a função de supri-la que no exemplo é a de ensinar), concretizada por uma estrutura com o fim de operacionalizá-la (a escola). (BERNARDES, 2004, p.14) Assim, torna-se possível compreender as atividades desempenhadas pelas organizações, bem como características das mesmas, que podem ou não ter fins lucrativos, mas que existem para exercer determinadas atividade na sociedade. Com a análise das ideias dos autores acima expostos, parte-se da ideia que organizações são agrupamento sociais formados por pessoas com um objetivo comum, regidos por regras específicas, que

obedecem níveis hierárquicos e que existem para atender as demandas sociais em todos os níveis. Compreendendo o sentido de organizações é possível passar para uma próxima etapa, a de compreensão das organizações que atuam em mais de um país. Há tempos que as organizações não podem ser consideradas estruturas restritas a apenas um país. Não se sabe ao certo quando surgiram as primeiras organizações internacionais, porém é possível destacar atuação de organizações em nível internacional ao longo da História, como no Imperialismo, por exemplo, quando nações mais poderosas e apropriavam de nações mais fracas afim de ampliar seus mercados e reduzir custos. Assim, era possível encontrar mão de obra barata e, sendo politicamente dependentes, as nações mais fracas concediam vantagens tributárias e incentivos (HALL, 2004, p.23). Com a mesma linha de pensamento, complementando a explicação de Hall, Pereira (1978, p.12) explica como surgiram as primeiras organizações com atuação internacional: Os países capitalistas já industrializados dispunham de excedentes de capital, necessitavam de matérias-primas e produtos agrícolas tropicais, e interessavam-se por abrir novos mercados para seus produtos manufaturados. Na busca de maiores lucros, lançam-se no projeto imperialista. As empresas extrativas são organizadas pelos próprios países centrais. A instalação de uma organização em outro país traz para este uma série de consequências, tanto positivas quanto negativas. Hall (2004, p.23) explica que do ponto de vista da geração de empregos, a chegada de uma nova organização pode trazer muitas novas oportunidades. Porém, esta organização pode acabar gerando uma relação de dependência muito grande por parte da comunidade. Bertin (1978), ao abordar os motivos pelos quais as empresas se expandem para outros países destaca alguns aspectos, como a redução dos custos de instalação ou de funcionamento no exterior, as vantagens concedidas pelo país receptor ou ainda em função da legislação em vigor ou de sistemas ficais favoráveis. Com o passar do tempo, novos interesses e novas formas de atuação internacionais foram surgindo. Este desenvolvimento fez com que as organizações internacionais se tornassem cada vez mais conhecidas e atuantes no mercado. Muitos autores se utilizam do termo multinacionais para denominar essas organizações.

Pereira (1978, p.12) apresenta a definição das Nações Unidas (1974) a qual defende que multinacionais são todas as empresas que controlam ativos fábricas, minas, escritórios de venda etc. em dois ou mais países. Essa simples definição leva a idéia central das organizações multinacionais: atuação em mais de um país. Entretanto, na questão da nomenclatura desse tipo de organização existe certa divergência entre autores. Bertin (1978, p.10) define a empresa multinacional como a empresa, ou antes, o grupo de empresas cujas atividades, estendendo-se a numerosos países são concebidas, organizadas e conduzidas em escala mundial. O autor observa, no entanto, que não se pode chamar de empresa multinacional toda empresa que alcance certo nível de atividades no exterior. A empresa presente em outros países apenas por seu comércio, processos técnicos, conclusão de acordos de fabricação etc., não é uma multinacional, mesmo quando essa ação cobre vários países e representa uma fração importante de sua atividade total. Ele ainda explica que uma empresa não pode ser considerada internacional apenas por dispor uma rede de filiais de venda em outros países. Nesse caso, efetivamente, a política global da firma não é dirigida num quadro realmente internacional, mas permanece centrada, de modo prioritário, no país de origem. (BERTIN, 1978, p.10) No campo de definições de organizações com atuação em mais de um país, além da multinacional, encontra-se outras nomenclaturas, como a organização internacional, transnacional e global. Para que seja possível compreender as diferenças entre os diversos tipos de organizações com atuação no exterior, Barlett e Ghoshal (1992) apontam as características de cada forma como são as chamadas essas organizações. Como multinacional os autores definem as organizações que desenvolveram uma postura estratégica e uma capacidade organizacional que lhes permite ser bastante sensíveis e receptivas às diferenças entre os ambientes nacionais ao redor do mundo (BARLETT E GHOSHAL, 1992, p. 20). Os autores explicam que essas organizações administram um portfólio de várias identidades nacionais, por isso são chamadas de multinacionais. Nesta definição o conceito de multinacional é mais específico e apresenta uma característica distinta, que vai além da atuação em mais de um país, mencionando a adaptação ás diferenças organizacionais de cada país. Barlett e Ghoshal (1992, p.21) caracterizam outro tipo de organização, chamada de organizações globais, as quais desenvolveram operações internacionais muito mais impulsionadas pela necessidade de eficiência global e muito mais centralizadas em suas decisões operacionais e estratégicas. Nessas organizações o mercado mundial é tratado

como um todo integrado e é o foco de atuação, não a nação-estado e nem o mercado local. Os produtos e as estratégias são desenvolvidos para demanda do consumidor mundial. Os autores definem um terceiro tipo chamado de organização internacional. De acordo com os autores essa organização baseia-se principalmente na transferência e adaptação do conhecimento e habilidades da companhia-mãe aos mercado externos. Neste tipo, a empresa mãe mantém certa influência e controle, mas as unidades nacionais podem adaptar produtos e ideias vindo do centro, porém em menor proporção do que nas organizações multinacionais (BARLETT e GHOSHAL, 1992, p.21). Apesar de apresentar nomes e características diferentes essas organizações possuem um aspecto muito importante em comum: a internacionalização. Atuar em mais de um país demanda da organização uma série de fatores para que ela possa se adaptar a outras realidades e outras culturas. Para a compreensão deste processo torna-se necessário o estudo sobre cultura e cultura organizacional. Cultura e Cultura Organizacional Muitos autores defendem a ideia de que cada organização possui características próprias que fazem parte de um conjunto chamado de cultura organizacional. Para que seja possível a compreensão desse termo é preciso primeiro entender o significado de cultura. A palavra cultura, que tem sua origem no latim, pode ser interpretada de diversas maneiras. Thompson (1995) explica que, nos primeiros usos da palavra em idiomas europeus, cultura significava, fundamentalmente, o cultivo ou o cuidado de alguma coisa, tal como grão ou animais. A partir do século XVI, a palavra teve seu sentido original estendido da esfera agrícola para o processo do desenvolvimento humano, do cultivo de grãos para o cultivo da mente (THOMPSON, 1995). Conforme Marconi e Presotto (1998, p. 42), a palavra cultura, muitas vezes, é utilizada para identificar o desenvolvimento do indivíduo por meio da educação, da instrução. Nesse caso, uma pessoa culta seria aquela que adquiriu domínio no campo intelectual ou artístico. Thompson (1995) explica que no início do século XIX, a palavra cultura era usada como um sinônimo para, ou em alguns casos em contraste com, a palavra civilização. O termo civilização foi usado para descrever uma processo progressivo de desenvolvimento humano, um movimento em direção ao refinamento e á ordem, por oposição á barbárie e á selvageria (THOMPSON, 1995, p.168).

Tomando como base estudos mais atuais pode-se encontrar a definição de cultura como aquilo que caracteriza os grupos sociais definidos em termos de sua especificidade, estando associados a uma sociedade e a um território. De acordo com essa visão, grupos diferentes ocupariam espaços distintos e seriam portadores de culturas particulares e únicas (PARKER, 1995, p.66). Chiavenato defende que a cultura está em tudo que nos cerca, como a maneira pela qual as pessoas vivem, como vivem, como se comunicam, etc. (CHIAVENATO, 2002). Complementando essa ideia Marchiori (2006) defende que as preocupações e os discursos atuais sobre cultura referem-se ás questões de identidade, sexo, subjetividade, sujeito e estrutura, transformações sociais, consequências dos impactos da tecnologia, conhecimento e inovação entre outros aspectos que levam a diferentes análises e concepções. Marchiori (2006, p.55) destaca ainda a visão de Sackman (1991), que defende que Cultura ou civilização, tomadas no seu amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e qualquer outra capacidade e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membros da sociedade. É possível perceber nesses conceitos a idéia de que cultura representa uma série de características específicas de um grupo, ligadas aos costumes, comportamento, crenças e atitudes. Compreender o conceito de cultura possibilita estudar a temática aplicada ao ambiente organizacional. De acordo com Marchiori (2006), o conceito de cultura organizacional começou a ser utilizado a partir dos anos 80, quando a área administrativa passou a dar uma ênfase maior a essa ideia. Angeloni (2008) explica que as definições de cultura organizacional podem ser divididas em duas vertentes, a mecanicista e a holográfica. Na abordagem mecanicista a cultura organizacional é composta por uma série de elementos distintos, como crenças, história, mitos, heróis, tabus, normas e rituais e estabelece a ideia de que a cultura pode controlar ou manipular essas variáveis. A autora destaca, no entanto, que embora seja possível exercer certa influência existem outros fatores mais profundos, relacionados a percepção das pessoas, que impedem resultados certos e definitivos (ANGELONI, 2008). Já a abordagem holográfica vê a cultura organizacional como um reflexo da forma pela qual a organização é interpretada pelos seus integrantes (ANGELONI, 2008, p.56). Angeloni

(2008) explica que, assim como uma hológrafo apresenta as características do todo do qual faz parte, mesmo em tamanho menor, a cultura organizacional caracteriza-se como uma representação da realidade, que é compartilhada por todos os membros da organização, até nas menores unidades que dela fazem parte. Chiavenato (2002) atribui ao termo cultura organizacional o modo de vida próprio que cada organização desenvolve com seus participantes. Este conceito, de maneira simples, levanta a questão das particularidades de cada organização, presentes tanto na abordagem mecanicista quanto na holográfica. O autor completa seu pensamento colocando a cultura organizacional como a força vital da organização, a alma de seu corpo físico. Para o autor A cultura da organização repousa sobre um sistema de crenças e valores, tradições e hábitos, dentro de uma forma aceita e estável de interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização. (CHIAVENATO, 2002, p.182) Chiavenato explica que alguns fatores da cultura organizacional são de fácil percepção e são chamados de aspectos formais e abertos, enquanto os de difícil compreensão são denominados aspectos informais e ocultos. O autor utiliza o exemplo de um iceberg para representar estes fatores, sendo que os aspectos formais seriam a parte visível do iceberg (políticas e diretrizes, métodos e procedimentos, objetivos, estrutura organizacional e a tecnologia adotada pela organização). Na parte inferior do iceberg estariam os aspectos informais (envolvem as percepções, sentimentos, atitudes, valores, interações informais e normas grupais). Chiavenato defende que os aspectos informais são mais difíceis de compreender e interpretar, como também de mudar ou sofrer transformações. Marchiori (2006, p.68) destaca o conceito elaborado por Jaques em 1952, o qual caracteriza cultura organizacional como um forma costumeira de fazer as coisas, compartilhada em proporção maior ou menor entre todos os membros e sobre a qual os novos devem aprender a, pelo menos, aceitar. Marchiori destaca neste conceito o fato de não existir a preocupação com mudança, ambiente e performance, talvez por que na época em que foi elaborado as organizações não estivem passando por modificações que necessitassem essa dinâmica. Com base nas ideias apresentadas pelos autores abordados, é possível perceber que cada organização é dotada de um sistema de valores, costumes e crenças que constituem o

modo de vida da organização, sua cultura organizacional. Todos os integrantes da organização fazem parte deste sistema que, de maneira geral, caracteriza as particularidades e o modo de agir e de se relacionar de cada organização. Considerações Finais Considerando as ideias expostas pode-se compreender que as organizações existem por que delas depende a sociedade. Essas organizações, assim como defende a teoria dos sistema abertos de Katz e Kahn, precisam interagir com o ambiente para sobreviver. A interação com o ambiente é mais complexa quando a organização não é original daquele meio, como no caso das organizações internacionais. Visto que cada país possui sua própria cultura, ao estudar sobre cultura e internacionalização somos convidados a refletir qual é a cultura presente em uma organização que está em muitos países. Pensar sobre essa temática nos proporciona uma idéia de quão interligado culturalmente o mundo se encontra em função das organizações. No momento em que a organização começa a atuar internacionalmente uma série de adaptações são necessárias. Essas adaptações vão desde o produto, o idioma e a cultura dos colegas de trabalho ou clientes de outro país. As organizações precisam estar preparadas para a ampliação internacional. A internacionalização hoje, além de grande oportunidade de negócio, é um caminho quase obrigatório para que muitas organizações possam se manter competitivas. A preparação para esse novo desafio está diretamente ligada a cultura organizacional. Uma organização aberta a novas ideias, que busca estar sempre se atualizando de acordo com o mercado possui mais chances de se adaptar a uma nova realidade do que uma organização presa a normas e regras antigas. A adaptação vai depender do conjunto de valores presentes na cultura organizacional, da alma da organização, como exposto no pensamento de Chiavenato (2002). Como visto, alguns fatores da cultura organizacional são mais difíceis de ser alterados. Quando essa demanda se torna necessária, e no caso da internacionalização a adaptação exige mudanças, as organizações precisam aprender os caminhos para gerar essas transformações. A receita para trabalhar essas mudanças não foi apresentada nas idéias dos autores estudados, porém a compreensão da cultura organizacional pode ser o primeiro passo. Entender a organização para então tentar transformá-la.

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