Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil. Marcelo Neves

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Transcrição:

Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil Marcelo Neves

Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil Plano da palestra I. Características da Federação Brasileira a partir do texto constitucional II. A prática jurídico-política do federalismo brasileiro III. O paradoxo do federalismo brasileiro na área financeira

I. Características da Federação Brasileira a partir do texto constitucional 1. A forma federativa como cláusula pétrea (Art. 60, 4.º, inciso I) 2. Federação com tendência centralizadora, mas com a ampliação das competências dos Estados-Membros e dos Municípios em relação ao modelo da Constituição de 1967/69. 3. Federalismo nominalmente cooperativo Art. 3, III ( reduzir as desigualdades regionais - objetivos fundamentais) Art. 43 ( Das Regiões ) Art. 165, 7.º (orçamento com funções de reduzir desigualdades interregionais ) Art. 170, VII ( redução das desigualdades regionais Princípio da Ordem Econômica) Art. 174, 1 : A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.

II. A prática jurídico-política do 1. Federalismo competitivo federalismo brasileiro 2. Federalismo centrípeto (luta por recursos federais) e dissociativo (luta selvagem entre os Estados por recursos, guerra fiscal) 3. Desigualdades regionais fortalecem-se: Falta a concretização dos institutos constitucionais de equilíbrio federativo e de compensação financeira

II. A prática jurídico-política do federalismo brasileiro - Desigualdades regionais (1995) São Paulo: PIB de 35,7% PIB: Sudeste (57,3%), Sul (16,7%), Nordeste (13,2%), Centro-Oeste (7%) - Recursos federais destinados aos Estado do Nordeste: 26,1% (1995), 21,5% (1996), 20,8% (1997) - Recursos Federais destinados aos Estados do Sudeste: 40,4% (1995), 45,5 (1996), 47,5% (1997)

III. O paradoxo do federalismo brasileiro na área financeira 1. A fragilidade do federalismo financeiro 1980 Receitas disponíveis da União (69%), dos Estados (22%) Municípios (9%) 1988 Receitas disponíveis da União (62%), dos Estados (27%) e dos Municípios (11%) 1993 Receitas disponíveis da União (58%), dos Estados (26%) e dos Municípios (16%) Média de 1990/1992 Receitas próprias da União (68%), dos Estados (27%) e dos Municípios (5%) Média de 1990/1992 Despesas públicas da União (51%), dos Estados (32%) e dos Municípios (17%)

III. O paradoxo do federalismo brasileiro na área financeira 4. Duas formulações do paradoxo do federalismo brasileiro na área financeira 1 a Formulação do paradoxo: Fortificação do federalismo com a ampliação das funções e atribuições dos Estados e Municípios não significa necessariamente fortificação de federalismo financeiro e vice-versa 2 a Formulação do paradoxo: Fortificação do federalismo tributário com a ampliação das competências tributárias dos Estados e Municípios não significa necessariamente fortificação do federalismo financeiro e vice-versa

Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil Conclusões 1. União forte com Estados e Municípios Frágeis 2. Descentralização de atribuições vinculada à baixa capacidade de exercer a autonomia 3. Deturpação do federalismo no campo de relações clientelistas entre poder local e poder central 4. É uma ilusão a tese da força dos Governadores no Federalismo Brasileiro

Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil Alguns problemas da reforma tributária 1. Redução do federalismo tributário mediante redução da competência dos Entes Municipais e Estaduais implica negação do federalismo financeiro no sentido da negação da autonomia dessas entidades locais? Fundos de participação e transferências de tributos arrecadados (participação na Arrecadação, Art. 159). 2. Um certo grau de redução de competência tributária prejudica necessariamente a autonomia local? E se houver formas de compensação com fundos de participação e outras formas vinculadas de transferências da receita da União? 3. No caso de reforma constitucional referente ao ICMS: As leis complementares que viessem a limitar a competência tributária dos Estados e Municípios levam à destruição da autonomia financeira? 4. Elas tendem a abolir a forma federativa de Estado, caso venham em conexão com medidas que possibilitem um federalismo financeiro mais forte, intensificando a autonomia dos Estados?