CAPOEIRA: O CORPO HISTORIADO RAÍZES AFRICANAS E ORIGENS BRASILEIRAS

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Transcrição:

CAPOEIRA: O CORPO HISTORIADO RAÍZES AFRICANAS E ORIGENS BRASILEIRAS Profª. Esp. Angela Maris Murillo Araújo 1 Profª. Esp. Jéssica Camila Ramos Rodrigues 1 Profª. Doutoranda Zenaide Galvão 2 A Capoeira em 15 de julho de 2008 torna-se patrimônio imaterial da cultural brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, porém é parte da história brasileira desde o período que a luta se manifestava enquanto sobrevivência do negro escravizado e oprimido pelos brancos colonizadores nas grandes fazendas de algumas regiões do Brasil, uma vez que outros países do continente americano também foram pontos para a escravidão do negro. Essa luta que mais tarde se transformaria em folclore, jogo, dança, música, esporte e arte. É com esse propósito que este trabalho tem como objetivo contextualizar e explanar as possibilidades de vivência do processo de construção da História da Capoeira, retratando como esta narrativa marcou incisivamente os seus Corpos, desde sua opressão e resistência até sua libertação e legado cultural. Permeando uma abordagem do processo histórico-antropológico a partir de distintas linguagens como: música (cantos e instrumentos), representação gráfica (desenhos), artes visuais (obras, filmes e documentários), artes plásticas (esculturas em argila), jogos e brincadeiras (pega-pega), teatro (encenação), leitura e produção textual (poemas e ladainhas) entre outras. Palavras chave: Capoeira, História e Linguagens. Capoeira um mato que foi rasteiro, interpretado por uma língua tupi, um local de luta, sobrevivência, malícia, treino e disfarce, habitado e transformado por escravizados que confirmam um berço de uma cultura e caminhos que mais tarde se reconheceria como patrimônio cultural (NEIRA, 2006) de um povo com raízes européias por uma pequena parte e africana e indígena pela maioria. Um mix de etnia com costumes e valores que descrevem essa grande manifestação cultural que se configura enquanto luta, jogo, brincadeira, dança, música, esporte e arte, conceituada Capoeira, mas que, assim como citado por Silva (2008), em sua origem/étimo seria Caá-puêra (mato fino e raso). Uma capoeira preenchida por uma imensa história vivida pela dor e lembranças de um costume/cultura que ficara para trás em troca de chibatadas e muita resistência e luta por respeito, dignidade e liberdade de um povo tratado com irracionalidade. Considerando aqui, porém não justificando tais maltratos, que algumas tribos africanas realizavam o 1 Professoras Especialistas de Educação Física da E.E. Luís Vaz de Camões São Paulo/Brasil. 2 Professora Doutoranda da Universidade do Minho Braga/Portugal.

sistema escravista, que foi observado e reproduzido pelos colonizadores com outras interpretações e significados (NEMI e MURYATAN, 2009). É essa história que pretendemos explanar neste trabalho como possibilidades de apresentar diferentes produções/ações pedagógicas que configuram e retratam esta manifestação desde sua opressão e resistência até sua libertação e legado cultural e que incisivamente marcaram os Corpos da Capoeira. E que para Falcão (2006), estes Corpos de homens e mulheres são imersos de contextos e histórias com inerentes necessidades de semovimentar na busca de libertação e emancipação. Tal explanação se fará numa práxis com os outros elementos da cultura corporal, tais quais: jogo, luta, dança e esporte, assim como proposta na Educação Física. É partindo destas indagações que este trabalho tem como objetivo contextualizar e explanar as possibilidades de vivência do processo de construção da História da Capoeira. Quando pensamos em histórias, imaginamos grandes enciclopédias e relatos dos fatos ocorridos em filmes com cenários e roupas antigas, porém iremos apresentar todo processo histórico que envolve a cultura da capoeira, com diversas vias de produções, como: o teatro (encenação), artes visuais (obras de arte Rugendas e Caribé, filmes Amistad e Besouro & documentários Mestres Pastinha e Bimba), artes plásticas (escultura em argila), jogos e brincadeiras, representação gráfica (desenho), música (ladainhas e instrumentos), leitura e produção textual (poemas e ladainhas). Todos os princípios curriculares são ressaltados em aula, numa seqüência didática dos temas, assim como a sistematização dos blocos temáticos de conteúdos (SANCHES NETO, 2007). A seguir apresentaremos pontualmente a metodologia dos acontecimentos. A cultura da capoeira perpassa por várias linguagens, expressões e áreas de conhecimento que possibilita seu estudo e compreensão de um passado vivido e representado no presente pela música com suas letras e ritmos que expressam a legitimidade do sentimento de outrora, no qual o primeiro momento foi apresentado e apreciado três músicas diferentes com passagens da Capoeira em distintos períodos, tais quais: o primeiro sobre o continente africano, o segundo com o início da escravidão e o terceiro com o enfoque da capoeira regional e contemporânea. Sendo que a cada música, os e as estudantes individualmente retratam com desenhos (representação gráfica) conforme sua interpretação. Após é dialogado com a turma sobre suas interpretações em relação à música, observando as palavras que construíam um sentido (sentimento) à história do texto cantado.

Para retratar os fatos iniciais sobre como tudo possivelmente começou, ou seja, o processo de escravidão. Foi contextualizada uma linguagem artística: o teatro, onde toda cena, os personagens e a improvisação acontecem ao mesmo tempo, sendo que um navio negreiro (tumbeiro) é construído como cenário, um mercado escravo (NEMI e MURYATAN, 2009) com compradores (senhores do engenho) e a rota entre o continente africano (Angola, Moçambique, Congo e Guiné) e o sul-americano (Brasil - Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís), com elucidação do Mapa Geográfico dos continentes. Na chegada, nos portos, os negros eram encaminhados para a venda, como mercadoria, tendo como prioridade na escolha pelos seus futuros senhores, características físicas (dentes e tornozelos considerados saudáveis). Talvez, uma das hipóteses do branco europeu ter escolhido o povo africano para ser escravizado, tenha sido por conta de suas várias habilidades para o trabalho (ofícios), assim como: sapateiros, marceneiros, quituteiras, amas-de-leite, cozinheiras, minerador, ourives, músicos e outros (LOPES e GALAS, 2006), conforme os interesses de produção dos europeus colonizadores que idealizavam erigir riquezas, assim construindo a nação brasileira. Vale ressaltar que os negros vindo de Moçambique apresentavam para aquela época, estado de saúde precária devido ao tempo da viagem ser muito longo, o que resultava num menor valor. Já os negros vindos dos países de Angola, Congo e Nigéria eram mais caros (SOURIENT et al, 2004). Entre os fatos historiados, enfocamos também no decorrer do conteúdo estudado a linguagem poética (versos e rimas) com leituras e interpretações de poemas que retratam o sofrimento do negro no processo escravocrata com um sentido figurado, pela ótica do escritor-artista com uma estética irônica que traça o sofrimento e confirmação do papel do escravizado. Conforme Sourient et al (2004), segue trecho de um poema O Navio Negreiro, uma vez que o autor aponta outros textos poéticos como: A Canção do Africano (Castro Alves, 1963), Essa Negra Fulô (Jorge de Lima, 1974) & O Negrinho Ganga Zumba (Rogério Borges, 1988). O Navio Negreiro Ontem, a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormindo à toa Sob as tendas da amplidão... (Castro Alves, 1868, p. 68) Outro enfoque para expansão do processo histórico está nos jogos e brincadeiras sejam enquanto objetivo, conteúdo e estratégia (LIBÂNEO, 2004) onde ocorrem numa

sequência didática de ressignificados da história a partir das diversas literaturas que representam a escravidão como parte da construção da História no Brasil. É com o elemento cultural jogos e brincadeiras que os e as estudantes representaram os negros escravizados no trabalho no canavial, na senzala dormindo ou sendo punidos, numa fuga para os quilombos, na Casa-grande com certos confortos e até mesmo como capitão do mato (inversão de papéis). Como exemplo, podemos citar: o pega-pega senzala, no qual há três capitães do mato que ao perceber os escravizados descansando ou conversando nos canaviais saem mato a fora para pegá-los e prendê-los nos grilhões dentro das senzalas, ou seja, quem fosse pego pelos capitães ficaria num espaço criado como senzala, até que todos e todas fossem capturados. Outro jogo é o ajuda ajuda quilombo, onde os escravizados fogem para os quilombos (simulação de grandes matagais) e atrás destes os capitães do mato que ao pegarem, transformam-se em capitães (discussão sobre a inversão de papéis e interesses hierárquicos). A toca do coelho é um jogo realizado para representar os quilombolas e/ou as próprias senzalas vigiadas pelos capitães do mato durante a noite, para evitar a fuga dos escravizados. Todos os jogos podem ocorrer durante o processo de escravidão como depois de conhecer os diversos movimentos da capoeira, para exemplificar: o duro mole AU, no qual ao livrar um capoeirista que foi pego pela polícia, conforme a Lei de Proibição da Capoeira (1890) regida por Marechal Deodoro da Fonseca citado por Areias (1983); o outro capoeirista realizava um AU para salvar o que foi pego. O processo antropológico dos movimentos da capoeira também pode ser explanado pelo jogo, como possibilidade de compreender a sua construção cultural, seja pela imitação dos animais (AREIAS, 1983), por danças vindas da cultura Africana, como a dança da zebra (IÓRIO, 2005) ou pela imensa necessidade de sobrevivência. É na abordagem dos movimentos da capoeira Angola e Regional (ginga, meia lua, negativas, benção, queixada, cabeçada, au etc) que fundamentamos a proibição por Marechal Deodoro e liberação da capoeira por Getúlio Vargas, assim como outras manifestações artísticas, considerando as intenções políticas para época (AREIAS, 1983). A produção de ladainhas (linguagem falada, escrita e musical) é uma grande via para contextualizar o processo histórico. Numa experiência de reconstrução da música na capoeira, os e as estudantes exploraram alguns instrumentos, como o agogô, o berimbau, o reco-reco, o atabaque (baldes), o caxixi (chocalho) e o pandeiro. Buscando tempos rítmicos para atrelar aos diferentes toques e letras das ladainhas construídas pelos estudantes que

abordaram vários conceitos declarativos (SANCHES NETO, 2007) adquiridos durante os estudos do conteúdo capoeira. Todo o percurso histórico elaborado neste trabalho teve como premissa quatro fases importantes relatadas por Munanga e Gomes (2006): 1) a do início da escravidão, quando o escravizado, usando apenas o instinto de sobrevivência, tentava usar o seu corpo para livrar-se do sofrimento e fugir; 2) a da áurea dos quilombos, na qual a capoeira já era uma das armas necessárias aos quilombolas para a defesa; 3) a da proibição oficial da capoeira após a Abolição, e; 4) por fim, a fase da sua liberação no ano de 1932. Essas fases históricas resumem a sabedoria que as palavras de Areias (1983, p. 8) expressam: a capoeira é música, poesia, festa, brincadeira, diversão e, acima de tudo, uma forma de luta, manifestação e expressão do povo, do oprimido e do homem em geral para sobreviver e lutar contra qualquer tipo de opressão, seja ela física, econômica, cultural ou psicológica. É importante ressaltar que não há uma ordem cronológica para realização das diversas linguagens apresentadas neste trabalho. O professor e a professora na organização do plano de ensino têm autonomia para inserir no contexto necessário, conforme as intenções da turma e da professora ou professor para o processo de ensino e aprendizagem da Cultura da Capoeira. Referências Bibliográficas AREIAS, A. das. O que é capoeira. São Paulo: Brasiliense, 1983. FALCÃO. J. L. C. Unidade Didática 2 Capoeira. In.: KUNZ, E. (Org.). Didática da educação física 1. 4ª ed. Ijuí, RS: Editora Unijuí, 2006. IÓRIO, L. S.; DARIDO, S. C. Capoeira. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. (Org.) Educação Física na Escola: Implicações para prática pedagógica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2005. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2004.

LOPES, A. L.; GALAS, M. B. Uma visita ao Museu Afro Brasil. Instituto Florestan Fernandes. Imprensa Oficial: São Paulo, 2006. MUNANGA, K.; GOMES, N. L. Para entender o negro no Brasil hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo. Global: Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação, 2006. NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: críticas e alternativas. São Paulo: Phorte, 2006. NEMI, A. L. L.; BARBOSA M. Para viver juntos: História, 7º ano: ensino fundamental. 1ª edição revisada. São Paulo: Edições SM, 2009. 2006. SANCHES NETO, L. A brincadeira e o contexto da educação física na escola. In.: SCARPATO, M. (Org.). Educação Física - como planejar as aulas na educação básica. São Paulo: Avercamp, 2007. SILVA, E. L. da. O corpo na capoeira. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2008. SOURIENT, L. et al. Interagindo com a história, 3ª série. São Paulo: Editora do Brasil, 2004. OBS: Datashow.