O Mar como Vector Estratégico para o Desenvolvimento 1

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Transcrição:

2013/09/30 O Mar como Vector Estratégico para o Desenvolvimento 1 José Manuel Neto Simões 2 Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português. Padrão, Fernando Pessoa (1918) O enquadramento geopolítico, geoestratégico de Portugal e a sua identidade histórica são determinantes para que o País possa tirar partido do seu potencial estratégico 3. Porém, isso só será possível através de uma Estratégia Nacional (ou grande Estratégia global do Estado) que seja consequente - não estabelecida e que garanta a continuidade às opções assumidas - e alicerçada na integração das várias políticas nacionais para cada sector do Estado. Essa grande Estratégia global do Estado deveria assim ter em conta a opção pela vertente do mar já consubstanciada na Estratégia Nacional para o Mar (2006-2016). Ou seja, a afirmação do País pelo mar deve ser tomado como essencial para perspectivar o crescimento económico, assegurando um desenvolvimento sustentado, de forma a garantir o bem-estar social. A sua importância para Portugal tem uma dimensão politica, económica, cientifica, cultural e de segurança. Neste âmbito, importa integrar convenientemente a iniciativa lançada, recentemente, pelo Secretário-geral da ONU Compacto Oceanos", que prevê uma coordenação mais eficaz ao nível mundial para a salvaguarda dos oceanos, através da mobilização e reforço da capacidade dos organismos da ONU em prestar ajuda aos vários governos. A grave crise que o país enfrenta exige um novo paradigma de desenvolvimento, que só uma adequada concepção da Estratégia Nacional permitirá enquadrar, de forma coerente, as reformas estruturantes que o País reclama. Possibilitaria ainda a integração apropriada dos diversos factores de potencial estratégico, através das principais orientações sectoriais e dos objectivos a alcançar, de forma articulada, garantindo a prossecução das opções adoptadas. 1 O presente artigo é a versão completa do publicado no Jornal Diário de Noticias, n.º 52 521, de 29 Janeiro 2013. 2 Capitão-de-fragata SEF (Reserva) 3 Potencial estratégico, consiste no conjunto de meios materiais (factores tangíveis) e não materiais (factores intangíveis), numa dupla componente (recursos e características enquadrantes) á disposição da sociedade nacional (Estado e sociedade civil), tendo em vista o Poder Nacional ( Recursos Alimentares, Poder e Segurança Nacional Loureiro dos Santos, 2010). Página 1 de 5

Todavia, existe uma cultura de governos de gestão, que parece ter esquecido o método da estratégia. Isto é, formular uma visão e objectivos a atingir, de acordo com o País e aquilo que somos, no seu espaço, população, recursos e estruturas, para avaliar capacidades, potencialidades e vulnerabilidades - num exercício prospectivo de médio e longo prazo -, tendo em conta o enquadramento do ambiente estratégico. Portugal não é um país pequeno e da periferia se tivermos em conta a extensão da nossa Plataforma Continental (PC) e a posição estratégica de charneira entre três continentes Europa, África e América em que o mar lhe confere centralidade Atlântica. Além disso, sendo o mar um elemento comum dos países da CPLP 4 - com costas importantes e extensões arquipelágicas -, situando-se muito perto das grandes linhas de comunicação marítimas globais, seria de grande alcance estratégico a promoção de uma visão estratégica integrada, que permitisse estabelecer uma Estratégia Marítima conjunta da CPLP consequente. Neste contexto, o mar poderá conferir projecção estratégica a Portugal na ligação à Europa e Atlântico Sul, bem como Sudeste Asiático e Oceânia. O mar e o controlo do seu uso continuam a assumir uma grande importância, como via de comunicação e fonte de recursos naturais. O País que possui uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) equivalente a 18,7 vezes o território terrestre - a 3ª mais extensa da UE e 11ª maior área a nível mundial a sua dimensão corresponde à superfície terrestre ocupada pela Espanha, França, Itália e Alemanha. O espaço marítimo resultante da fusão da ZEE e da extensão da PC será equivalente à dos países da UE (ou Índia). Ou seja, mais de 40 vezes o território nacional, passando 97% do território a ser de natureza marítima. Pelo mar são enviadas mais de 60% das nossas exportações, estamos dependentes em cerca de 70% das importações, é recebida a totalidade do petróleo e 2/3 do gás natural que o país consome e pelas águas de jurisdição nacional passa cerca 53% do comércio externo da UE. Importa também potenciar as vantagens competitivas únicas que os portos e, em especial, o porto de águas profundas de Sines tirando partido do factor geoestratégico -, podem proporcionar como porta Atlântica da Europa em articulação com a rede de plataformas logísticas, quando se perspectiva uma enorme revolução nos fluxos do comércio mundial, provocada pelo novo canal do Panamá. Portugal é uma Nação euro-atlântica, que tem o território com características arquipelágicas - espaços marítimos de soberania e responsabilidade nacional com importantes rotas marítimas e recursos -, cuja extensão e importância económica lhe conferem elevado potencial estratégico. No entanto, no seu espaço interterritorial é também indispensável garantir a segurança para criar confiança ao normal desenvolvimento da actividade económica 4 Comunidade dos países de Língua Portuguesa (CPLP), foi criada em 1996 com sede em Lisboa (Portugal). Os Estados membros da CPLP são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e príncipe e Timor-Leste. Recentemente pediram a adesão a Guiné Equatorial, Indonésia e Austrália. A CPLP integra uma população cerca de 250 milhões de habitantes (3,8 por cento da população mundial), e os seus países tem uma área total de 10.742.000 km² (cerca de 8 por cento do mundo habitado). O PIB somado dos oito Estados membros supera os US$ 900 biliões (2005). Página 2 de 5

(a segurança marítima na vertente protecção security e na dimensão segurança safety ) 5. A este propósito, a opinião pública nem sempre está bem informada de algumas missões de interesse público das FA, designadamente, a participação do da Marinha e Força Aérea no apoio ao narcotráfico, fiscalização marítima e busca e salvamento (em média são executadas, por ano, cerca de 18 mil vistorias a embarcações, 30 acções de combate à poluição e mais de 1 500 salvamentos de vidas humanas) 6. São também realizadas pela Marinha inúmeras acções de apoio ao combate de actividades ilícitas de redes transnacionais, incluindo o narcotráfico, com utilização dos submarinos e fuzileiros (DAE), em cooperação com a PJ. Os submarinos são essenciais para a vigilância e controlo dos espaços marítimos sob jurisdição nacional com vantagens únicas, sendo de realçar a elevada autonomia, mobilidade, factor surpresa, utilização de menos pessoal e reduzido consumo de combustível. Estes dados para além de reforçarem o papel das FA e da importância de alguns dos seus meios, ajudam a combater o discurso ameaçador da inutilidade das FA. Com divulgação adequada, os cidadãos teriam uma melhor percepção, que os custos na defesa devem ser encarados como investimento, pois têm uma influência directa e indirecta sobre o desenvolvimento socioeconómico do País, tendo em vista a Segurança Nacional. Sendo o País essencialmente marítimo, não pode deixar de zelar pela segurança do mar face às novas ameaças e riscos, mantendo uma Marinha de guerra e mercante credível para defesa dos seus interesses e apoio à cooperação institucional e multilateral. Por isso, o mar deverá também constituir um factor essencial no âmbito de um Conceito Estratégico de Segurança Nacional 7, que englobasse as diferentes dimensões do desenvolvimento e da segurança e substituísse o actual Conceito Estratégico de Defesa Nacional. As explorações da PC revelaram espécies marinhas raras para a utilização em medicina de ponta, elevada probabilidade de existência de hidrocarbonetos, minério em estado de elevada pureza e fontes hidrotermais. Na gestão dos nossos espaços marítimos assumem especial relevância os aspectos de natureza económica relacionadas com os portos e transportes marítimos, construção e reparação naval, pescas e aquacultura e turismo, extracção de inertes e energia, devendo ser potenciada a investigação científica, sem descurar os aspectos ambientais e de segurança. O sector da pesca pode ser mais competitivo face ao potencial do País e às nossas necessidades: águas de excelentes condições, peixe de grande qualidade 5 Security (medidas de protecção dos espaços marítimos contra as ameaças e actos ilícitos no âmbito da Segurança Nacional); Safety (medidas que garantem a segurança ambiental e da navegação, bem como da salvaguarda da vida humana no mar). 6 Dados referidos pelo Almirante CEMA na sua Alocução por ocasião da cerimónia do Dia da Marinha (2012). 7 A Segurança Nacional tem evoluído para um conceito mais alargado e integrado da segurança e defesa, segurança cooperativa e segurança humana. Inclui a resposta a ameaças militares, mas também de natureza não militar e riscos que possam afectar o País. Tendo em conta o conceito estabelecido pelo IDN A Segurança Nacional é o objectivo do Estado e a Defesa Nacional é uma actividade para a alcançar, cujo carácter intersectorial permite a individualização de uma das suas componentes, a Defesa Militar, que é assegurada pelas FA. Página 3 de 5

(reconhecimento do melhor peixe do mundo) e proximidade dos mercados europeus. Apesar disso, importamos 8 cerca de dois terços das necessidades alimentares (3º maior consumidor a seguir ao Japão e Islândia), com um contributo ainda pouco expressivo do aquacultura com menos 10 mil toneladas, que necessita de mais incentivos, desburocratização dos licenciamentos e planos integrados de produção. Considerando existir um diferencial de quase 400 mil toneladas para satisfazer as nossas necessidades, existe um grande potencial de crescimento e, não fará muito sentido, alguns governantes afirmarem que o sector está estabilizado e é competitivo. Sendo a opção pelo mar um objectivo político nacional, Portugal terá de proteger e valorizar o recurso que o mar representa para o nosso País. Na Estratégia para o mar foram estabelecidos os objectivos, as acções prioritárias e as correspondentes medidas. Contudo, não se encontram identificados os meios adequados. Apesar de já terem decorrido alguns anos, várias iniciativas e dos apelos do Presidente da República, ainda não é visível concretização dos objectivos dessa estratégia, que têm vindo a ser adiados. É necessário a adequação do enquadramento legislativo - ordenamento do espaços marítimos - para que seja possível atrair investimentos de forma efectiva com adequados meios financeiros. Tem-se falado muito no mar como desígnio nacional de uma nova realidade, quando o País se vê confrontado com uma grave crise económica e financeira. Portugal tem de saber defender os seus interesses vitais, tendo em conta a Nação marítima que sempre foi e continuará a ser pela sua geografia, história e carácter do seu povo. A nossa história ilustra bem, que a ligação profunda entre o Povo, o Estado e o mar manteve-se imutável, tendo tido D. João II (Século XV) uma visão única de grande alcance estratégico ao iniciar a expansão marítima. Não basta falar do mar para que ele seja valorizado. É preciso planear, organizar e implementar o pensamento estratégico. E é da sua qualidade e determinação para a concretização, que dependerá a diferença entre o fracasso e o sucesso. Desde a integração na UE que temos vivido de costas voltadas para o mar. Importamos cerca de 70% do peixe, quando devíamos ser o maior exportador. Tínhamos uma marinha mercante e indústria de construção naval que é praticamente inexistente. A Bélgica com uma costa de reduzidas dimensões produz cerca de três vezes mais riqueza do mar. A estratégia só poderá alcançar os seus objectivos se o mar for considerado por todos como um verdadeiro projecto nacional. O mar é uma fonte de riqueza incalculável, pelo que Portugal não pode assim perder a oportunidade de potenciar os seus recursos, que representam actualmente apenas cerca de 2 a 3 % do PIB, sendo possível aumentar o seu impacto para 6%. Os estudos efectuados referem que poderão vir a representar 15 a 20 mil milhões de euros, duplicando o seu peso na riqueza nacional em 2025 9. 8 A nossa pesca per capita é cerca de 20 Kg de peixe habitante/ano (média da UE), mas consumimos cerca de 60 Kg per capita/ano. Os nossos parcos recursos pesqueiros não vão além das 200 mil toneladas, quando necessitávamos de 600 mil toneladas. Temos um défice na balança comercial de 700 M, que não faz sentido e devia ser uma das prioridades do poder político. 9 Elementos de acordo com o Estudo "Hypercluster da Economia do Mar", elaborado pela SaeR, Lisboa, 2009. Página 4 de 5

Concluindo, se existe algo indiscutível em Portugal é a importância do mar, não só pela soberania e identidade histórica que lhe confere, mas também por razões económicas. O mar - único elemento verdadeiramente diferenciador e característico da natureza dos portugueses -, exige ao governo, como instrumento do Estado, capacidade de motivar e mobilizar os cidadãos, no sentido de compreenderem a importância do exercício do Poder nacional 10 através do mar. Para tal, é necessário conjugar esforços a nível nacional de forma a não perdermos definitivamente a capacidade que ainda temos de decidir, sem constrangimentos, o nosso próprio futuro. Só assim será possível evitar sermos um Estado Exíguo 11 sem hipotecar as próximas gerações. No momento em que o País atravessa uma grave crise, cujo modelo de desenvolvimento se encontra esgotado, falta concretizar a opção pelo mar alcançando os objectivos políticos já sucessivamente definidos. Mas, só possíveis de concretizar, através de uma Estratégia Nacional, fazendo prevalecer a mais valia oceânica e o respectivo potencial em termos de valor e poder, contribuindo para que seja possível resgatar o futuro de Portugal. 10 Poder nacional é capacidade de atingir os objectivos básicos do Estado: bem-estar e segurança, que se traduz na inteligência de actuação estratégica ( Recursos Alimentares, Poder e Segurança Nacional Loureiro dos Santos, 2010) 11 Expressão utilizada pelo Professor Adriano Moreira na sua obra A Circunstância de Estado Exíguo, Prefácio, 2009. Página 5 de 5