GRUPO 6.2 MÓDULO 6
Índice 1. Conceitos Gerais...3 2
1. CONCEITOS GERAIS A Semana de Arte Moderna de 1922 só poderia acontecer em São Paulo, o centro financeiro do país, que enriquecida pelo comércio do café se modernizou rapidamente. Os mentores desse movimento eram, em sua maioria, filhos de famílias paulistanas abastadas que podiam comprar livros e revistas estrangeiras, aperfeiçoar seus estudos na Europa, com exceção de Mário de Andrade que era um professor de piano de origem modesta, mas intelectual que dedicou toda sua vida ao aprimoramento de sua notável erudição. Na era das vanguardas, todo movimento se caracterizava por mobilizar um grupo coeso e pelo lançamento de um manifesto (Manifesto Futurista 1, Manifesto Dadaísta 2, entre outros), ou seja, um texto que defendia o conjunto de intenções desses artistas que em geral colocavam a sua arte a serviço de uma aguda crítica social e da reflexão sobre o seu tempo. Vejamos as ideias defendidas no Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, em 1928: Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Únicaleidomundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi or not tupi that is the question. (...) (Andrade, 1 990, p.47). A grande questão dos modernistas era a criação de uma arte nacional, pois no Brasil o que se fazia até então era uma reprodução da estética européia. A proposta modernista da antropofagia era devorar a tradição, assim como nossos ancestrais indígenas devoravam seus inimigos para melhor conhecê-los e assim vencê-los, se apropriar de todas as produções artísticas estrangeiras, criando uma linguagem e uma estética brasileira. A frase tupi or not tupi that is the question trabalha com dois recursos característicos das vanguardas: a paródia e o humor. A imitação brincalhona da famosa frase do personagem de Shakespeare, o príncipe Hamlet, to be or not to be that is the question (ser ou não ser eis a questão), coloca de forma cômica questões essenciais para indivíduos que são produto da diversidade racial e cultural como o brasileiro. Qual é, afinal, a nossa origem? Seremos tupis, africanos ou europeus? 1 O Manifesto Futurista foi escrito pelo poeta italiano Marinetti, e publicado no jornal francês le Figaro, em 1909. Este manifesto marcou a fundação do Futurismo, um dos primeiros movimentos da arte moderna. Consistia em 11 itens que proclamavam a ruptura com o passado e a identificação do homem com a máquina, a velocidade e o dinamismo do novo século (fonte: Wikipédia). 2 O movimento Dadá (Dada) ou Dadaísmo foi uma vanguarda moderna iniciada em Zurique (Alemanha), em 1916, por um grupo de escritores e artistas plásticos, dois deles desertores do serviço militar alemão e que era liderado por Tristan Tzara, Higo Ball e Hans Arp. Embora a palavra dada em francês signifique cavalo de brinquedo, sua utilização marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na língua de um bebê). Para reforçar esta ideia foi criado o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente, abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo-se um estilete sobre a mesma. Isso foi feito para simbolizar o caráter anti-racional do movimento, claramente contrário à Primeira Guerra Mundial (fonte: Wikipédia). 3
Compartilhando dessa mesma pergunta, também se juntou ao grupo modernista a pintora Anita Malfatti, filha de mãe norte-americana e pai italiano, nasceu com um defeito congênito no braço direito. A mãe era uma pintora de sólida cultura que logo notou a grande habilidade da filha para as artes plásticas. Em 1910, aos 21 anos, Anita vai aperfeiçoar seus estudos de pintura na Alemanha, onde toma contato com os pintores de vanguarda, tendo até sido aluna de Bischoff-Culm. Vai aos EUA atraída por um grupo de pintores que havia rompido com a arte acadêmica e retorna ao Brasil em 1916, depois de ter desenvolvido uma maneira de pintar totalmente livre dos rígidos padrões estéticos clássicos. Pelo incentivo de amigos e estímulo de críticos respeitados, em 1917, alugou um espaço na antiga loja de departamentos Mappin, na rua Líbero Badaró, em São Paulo, montando aquela que seria a sua única exposição. O grupo de artistas modernistas que começava a se articular era alvo de ataques e repúdio, tanto de críticos como do público formado por uma elite que tivera seu gosto moldado aos padrões estrangeiros conservadores. Por isso, Anita temia pela reação das pessoas à telas como A boba, O homem amarelo, Mulher de cabelos verdes e O japonês. Anita não contava com o fato de que a maior agressão ao seu trabalho viesse de um escritor renovador, de estilo francamente pré-modernista Monteiro Lobato criador de um estilo livre, que valorizava a cultura e os temas nacionais. Sem ter sequer ido à exposição, Lobato publicou no Jornal O Estado de São Paulo o artigo Paranóia ou mistificação a propósito da exposição Malfatti. 4
Veja alguns dos ferinos argumentos do escritor sobre o estilo modernista: (...) escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos de cultura excessiva... produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência (...) (...) Embora se dêem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como paranóia e mistificação.(...) (...) De há muito que a estudam os psiquiatras, em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que, nos manicômios, essa arte é sincera, produto lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses (...) (...) e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura. (...) (...) Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida em má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se, de qualquer daqueles quadrinhos, como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui umas tantas qualidades inatas, das mais fecundas na construção duma sólida individualidade artística. (...) (...) Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e pôs todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. (...) (...) Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e cia. (...) (Lobato, 1917). Mesmo com os elogios a sua técnica, essa crítica provocou o abandono da carreira por Anita, que entrou em longo período de isolamento e depressão emocional e, por outro lado, rendeu a Lobato o rótulo de reacionário. Ao que parece, Anita teria sido vítima de uma guerra de egos, e acabou por ser atingida numa investida que seria direcionada a seus colegas escritores modernistas. Por outro lado, de um outro ponto de vista, Lobato estava com a razão. Se os modernistas queriam criar uma arte nacional, por que se inspirar nos movimentos de vanguarda estrangeiros? O fato é que essa polêmica foi o estopim para a criação da Semana de Arte Moderna, que viria a ocorrer cinco anos depois. Dentre os que dela participaram, uma figura de relevo ainda não citada é o compositor e maestro Heitor Villa-Lobos. Músico formado na tradição erudita, inovou os padrões unindo música clássica a cantigas de roda do cancioneiro popular brasileiro e a sons naturais. Uma estória que teria ocorrido com ele, tornouse lenda da Semana de Arte Moderna. Conta-se que o compositor ao ser chamado para o palco, entra com um dos pés calçado de sapato e o outro de sandália, com uma atadura chamativa no dedão. Interpretada como uma atitude de vanguardismo provocativo, Villa-Lobos foi vaiado e só depois viria a explicar que o ferimento era verdadeiro. 5