Análise do financiamento da União destinado às instituições federais de educação superior no Brasil ( )

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Transcrição:

Análise do financiamento da União destinado às instituições federais de educação superior no Brasil (1995-2008) Cristina Helena Almeida de Carvalho Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB) - Brasil cristinahelenaa@yahoo.com.br FORGES 2011 Lisboa, 15 de novembro de 2011

Objetivos e Métodos Investigação Como o Governo Federal (MEC) destinou recursos públicos às Instituições Federais de Educação Superior (IFES) Período Mandatos de Fernando Henrique Cardoso (FHC): 1995 a 2002 Mandatos de Luís Inácio Lula da Silva (Lula): 2003 a 2008 Metodologia Base de dados: Portal da Câmara dos Deputados (1995 a 2000) e Portal do Senado Federal (2001 a 2008) SIGA BRASIL Análise de Dados Orçamento Geral da União atualizados pelo IPCA Filtro: Despesas do MEC com ensino superior Origem de recursos: Receitas orçamentárias do Tesouro Nacional Receitas todas as fontes

Ponto de Partida Constituição Federal : 18% de impostos da União destinados à Manutenção e Desenvolvimento da Educação (MDE) Contenção fiscal: em 1994, Fundo Social de Emergência (FSE) Desvinculação de Receitas da União (DRU) 20% da arrecadação de impostos são deduzidos da base de cálculo da vinculação constitucional até 2009 Política Fiscal: meta de superávit primário reduz a autonomia da política educacional

Bilhões Gráfico 1. Despesas das IFES, por origem dos recursos, a preços de 2008 (R$) 12,0 11,0 10,0 9,0 8,0 7,0 6,0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Tesouro Todas as Fontes Fonte: SIAFI. Elaboração própria

Governo FHC Evolução dos gastos com as IFES Discurso de crítica ao modelo universitário público Agenda governamental de racionalização administrativa Não houve total sucateamento: recursos próprios e fundações de apoio 1995 a 2002: crescimento real médio de 1% a.a. Governo Lula Discurso de crítica à visão anterior Racionalização associada ao aumento de recursos Programas Expansão Fase I e REUNI Afrouxamento da política fiscal a partir de 2006 2003 a 2008: crescimento real médio de 5% a.a.

Fonte: SIAFI. Elaboração própria Gráfico 2.Despesas das IFES - Pessoal e Encargos - por origem de recursos, a preços de 2008 (R$) Bilhões 9,0 8,5 8,0 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Tesouro Todas as Fontes

Evolução dos gastos com pessoal e encargos Governo FHC Gestão de pessoal reposição parcial de docentes e inexistência de recomposição linear salarial Trajetória de queda interrompida em 1999 com a criação das gratificações: GED e GDAE 1995 a 2002: crescimento real médio de 1% a.a. Governo Lula Retomada dos concursos públicos Recuperação salarial Reformulação da GED e programas de expansão 2003 a 2008: crescimento real médio de 3,6% a.a.

Fonte: SIAFI. Elaboração própria Milhões Gráfico 3. Despesas das IFES com Outras Despesas Correntes (Custeio), por origem de recursos, a preços de 2008 (R$) 2.000 1.800 1.600 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Tesouro Todas as Fontes

Evolução dos gastos com outras despesas correntes Governo FHC Pagamento a fornecedores e serviços de utilidade pública Modalidade de contratação precária de substitutos 1995 a 2002: crescimento real médio de 1,5% a.a. Governo Lula Acréscimo nas compras de material permanente e em serviços essenciais para o processo de expansão 2003 a 2008: crescimento real médio de 11% a.a.

Milhões Gráfico 4. Despesas das IFES com investimento, por origem de recursos, a preços de 2008 (R$) 700 600 500 400 300 200 100 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SIAFI. Elaboração própria Tesouro Todas as Fontes

Governo FHC Evolução dos gastos com investimento Queda vertiginosa com a capacidade de produção de conhecimento e na capacidade instalada Ajuste fiscal e queda no investimento público 1995 a 2002: crescimento real médio de - 20% a.a. Governo Lula Recuperação da capacidade de investimento Criação de novas universidades e novos campi 2003 a 2008: crescimento real médio de 41% a.a.

Gráfico 5. Despesas das IFES com investimentos, por fonte de recursos, a preços de 2008 (R$) Milhões 700 600 500 400 300 200 100 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SIAFI. Elaboração própria Tesouro Outras Fontes Total

Gráfico 6. Assistência ao estudante do ensino de graduação das IFES, a preços de 2008 (R$) Milhões 160,0 140,0 141,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 15,5 13,6 15,2 26,2 27,2 36,0 42,7 49,5 0,0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SIAFI. Elaboração própria

Financiamento à demanda Governo FHC Ausência de política pública Verbas insuficientes provenientes das IFES Governo Lula Agenda das políticas afirmativas e da permanência Aporte crescente de recursos à assistência estudantil Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)

Considerações Finais Manutenção da lógica da política educacional de FHC no início da gestão de Lula: política fiscal e financiamento às IFES A partir de 2006, recuperação do financiamento acompanhado do afrouxamento da política fiscal Expansão Fase I e REUNI: centralidade do segmento federal Ampliação dos gastos com pessoal, custeio e investimento das IFES e com assistência estudantil (PNAES) Tendência em ampliar os gastos até 2012 com REUNI Insuficiência no montante de recursos processo de expansão e interiorização