ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MORTO JACAREPAGUÁ/RJ

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Transcrição:

ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MORTO JACAREPAGUÁ/RJ Caroline Pereira Pires da Silva Universidade do Estado do Rio de Janeiro carolineppires@gmail.com RESUMO: O presente trabalho, que se apresenta como uma pesquisa ainda em andamento irá tratar das ocupações irregulares e suas conseqüências ambientais na Baixada de Jacarepaguá, situada na zona Oeste do município do Rio de Janeiro, mais precisamente na bacia hidrográfica experimental-representativa do Rio Morto. É sabido que o crescimento desordenado das cidades brasileiras, sem o planejamento prévio vem causando efeitos na paisagem das grandes cidades. Com isto, a pressão por terrenos para ocupação humana acompanha o crescimento das cidades, contudo, muitas vezes em locais com fragilidades ambientais, como regiões de baixada, encostas, áreas de proteção ambiental e às margens de rios. A Baixada de Jacarepaguá, que no ano de 1969, através do Plano Lúcio Costa, recebeu investimentos públicos voltados para a urbanização e desenvolvimento da região, atualmente é conhecida como uma região onde a infra-estrutura urbana se mostra ausente para seus moradores, mesmo sendo uma área de expansão da cidade do Rio de Janeiro, em função da especulação imobiliária. Essa omissão por parte do poder público à região vem trazendo consequências ambientais como desmatamentos, pressão nas áreas de proteção ambiental, problemas na qualidade dos recursos hídricos locais, alagamentos ocasionando impactos diretos à população local. Na atualidade, esta região ganhou importância ainda maior, pois será o local que concentrará o aparelhamento esportivo para as Olimpíadas de 2016. Vale ressaltar que o local de estudo em questão, a bacia do Rio Morto, está situado no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca, onde teoricamente não deveria haver moradias. Um dos grandes problemas dos moradores do entorno da bacia de estudo é a falta de redes de captação de água e redes de esgoto sanitário, resultando nos problemas ambientais nos rios da bacia. A região que devido as suas condições naturais do relevo, já apresenta transbordamento dos rios em épocas de chuva no Rio de Janeiro, tem o problema agravado pelas ocupações irregulares, de diferentes classes sociais, ocasionando prejuízos, também a essa parcela da população que ali reside, sendo sentido, em sua maioria nas classes mais baixas devido à precariedade das condições sanitárias. Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de apresentar os principais fatores condicionantes que configuram a paisagem local, através das ocupações irregulares e ausência de infra-estrutura urbana, além das condições naturais existentes, que se traduzem em problemas ambientais à população residente. INTRODUÇÃO Sabe-se que o processo de urbanização no mundo, em especial nos países periféricos e semi-periféricos, vem provocando o inchaço das cidades ou crescimento sem planejamento das áreas adjacentes chamadas de peri-urbanas, com carência de infra-estrutura para atender a essa 1

população que vem crescendo nas cidades. No Brasil, a população urbana já supera os 80% (Ministério das Cidades, 2003). Os efeitos desse crescimento urbano materializam-se na paisagem observada nas grandes cidades brasileiras, entre elas a cidade do Rio de Janeiro. Há uma pressão pela ocupação de terrenos, muitas vezes com fragilidades na definição fundiária e do ponto de vista ambiental, são regiões de baixada, margens de rio e encostas. A região da Baixada de Jacarepaguá caracteriza-se como área de expansão da cidade do Rio de Janeiro e, embora tenha tido um planejamento inicial para ocupação, observa-se na atualidade uma lacuna no desenvolvimento de sua infra-estrutura urbana (CERQUEIRA, 2007). Isso tem levado à degradação ambiental, desmatamento, pressão nas áreas de proteção ambiental, problemas na qualidade das águas fluviais, prejuízos na qualidade ambiental das praias com impacto direto na qualidade de vida local, sobretudo nos assentamentos informais, habitado pela população de diferentes classes sociais. Porém, aqueles pertencentes às classes mais pobres acabam sendo mais atingidos pelas enchentes recorrentes, proliferação de roedores, lacunas no saneamento básico e precariedade da saúde ambiental (ARAÚJO, 2007). Na atualidade, esta região ganhou importância ainda maior, pois além de representar a área de expansão da cidade, onde se acredita que vários impactos sócio-ambientais que ocorreram no restante da cidade possam ser evitados, será o local que concentrará o aparelhamento esportivo para as Olimpíadas de 2016. A busca dos caminhos para melhoria dos processos de gestão e planejamento com vistas à melhoria da qualidade de vida, passa pelo reconhecimento da realidade local, tanto do ponto de vista físico, quanto do sócio-ambiental. Cabral (1979) apresentou um estudo sobre o mapeamento geológico e geotécnico da região da Baixada de Jacarepaguá, a fim de apresentar a composição geológica da região, analisando sua geomorfologia e seus efeitos com a ocupação da região, um dos pioneiros na caracterização daquele local. Segundo Cabral (1979), o plano Lúcio Costa de urbanização e desenvolvimento da Baixada de Jacarepaguá em 1969, foi um dos grandes responsáveis pela ocupação da região, através de obras de infra-estrutura urbana e abertura de estradas para maior acesso aos transportes públicos de seus moradores, gerando naturalmente, pressões sobre os recursos hídricos através das ocupações, e hoje em dia, da especulação imobiliária. 2

Para o presente trabalho, foi selecionada a bacia do rio Morto em Vargem Grande, como representativa das características físicas e sócio-ambientais da Baixada de Jacarepaguá como mostra a Figura 1. Ressalta-se ainda que a bacia de estudo encontra-se no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca, situado na zona Oeste do município do Rio de Janeiro, e considerado, desde 1988, Área de Proteção Ambiental (APA) do Estado, onde teoricamente não deveria haver moradias. 3

Figura 1 - Localização da bacia hidrográfica do Rio Morto na Baixada de Jacarepaguá, RJ. OBJETIVOS Os impactos ambientais existentes na bacia do rio Morto são provenientes de uma junção dos seguintes fatores: as condições naturais da bacia, incluindo-se relevo, clima e com este o regime de chuvas da região, e as condições sócio-ambientais com a carência de infra-estrutura urbana para atender a população residente e as ocupações irregulares na região. Juntos, estes fatores são responsáveis pela conjuntura ambiental da bacia do rio Morto. A área de estudo é conhecida pelo seu sistema de drenagem composto por pequenos rios de volume reduzido. Aliado a isto, a bacia possui um relevo bastante acidentado, o que influencia nos fatores climáticos e hidrológicos, onde a temperatura e a precipitação sofrem influência das altitudes da bacia e a velocidade de escoamento é altamente influenciada pela declividade do terreno e dos cursos d água. Por se tratar de um local de clima tropical úmido, típico do Hemisfério Sul, a maior ocorrência de chuvas se concentra em períodos de verão. Assim, verifica-se nesta época, a maior incidência de cheias e transbordamento dos rios da bacia, trazendo consigo doenças relacionadas à falta de uma rede de esgoto aos moradores, além de prejuízos aos recursos hídricos. Em relação às condições sócio-ambientais, pode-se destacar que a região atualmente sofre com um intenso processo de especulação imobiliária, mas também de uma ausência de políticas públicas voltadas para o crescimento planejado desta região. Esta carência de planejamento origina diversos problemas relacionados à infra-estrutura. Vale ressaltar que tal crescimento acontece tanto para o estabelecimento de ocupações irregulares de condomínio de classe média e alta, como também para o assentamento da população das classes mais baixas. Essas ocupações resultam em um processo crescente de degradação ambiental, com desmatamentos, e redução da qualidade das águas. Um dos resultados mais prejudiciais ao meio ambiente é o despejo de efluentes nas lagoas, rios e praias da região, produzido tanto pela população das classes mais altas, residentes de condomínios, quanto pela população das classes de baixa renda. Porém esta classe, devido à ausência de infra-estrutura urbana, acentua a 4

degradação ambiental e sua própria qualidade de vida ao se instalar em margens de rios, encostas, conhecidamente, áreas de riscos. METODOLOGIA Como metodologia, este trabalho utilizou a revisão bibliográfica sobre o tema dos impactos ambientais, especialmente aqueles que privilegiavam os recursos hídricos, a fim de buscar propostas para o seu planejamento e gestão. Além disso, foram realizadas coletas de informações cartográficas da zona Oeste do município do Rio de Janeiro, do bairro de Vargem Grande e por fim, da bacia hidrográfica do rio Morto e as ocupações no seu entorno. Outra fonte de dados para este estudo foi o CENSO 2000, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) onde foi possível obter dados relacionados aos domicílios da bacia do rio Morto. Observa-se ainda, que a área da bacia hidrográfica coincide praticamente com a área de dois setores censitários (Figura 2), permitindo a apropriação de dados sócio-econômicos e ambientais como: tipos de abastecimento de água, abastecimento por categoria, tipo de esgotamento sanitário, destino do lixo e nível de escolaridade. 5

Figura 2 - Setores censitários (em vermelha) e a Área de drenagem da bacia hidrográfica do rio Morto (em azul) Por fim, foram realizados trabalhos de campo no local onde se encontram estações fluviométricas e climatológicas do GRHIP, na qual foram obtidos dados de velocidade de escoamento dos rios da bacia de estudo e precipitação da região estudada. RESULTADOS 6

Por se tratar de um trabalho ainda em andamento, os resultados apresentados neste trabalho são preliminares e se referem às condições das ocupações no entorno da bacia de estudo. Através de pesquisas realizadas com os dados do CENSO 2000 (IBGE), foram comparados nos aspectos pesquisados, que se relacionam com a temática dos recursos hídricos, os números obtidos na bacia do rio Morto, na Baixada de Jacarepaguá e no município do Rio de Janeiro. Na Tabela 1 são apresentados estes resultados. Entre os serviços de infra-estrutura urbana, observa-se que os percentuais de atendimento à bacia do rio Morto são sempre menores que para a região da Baixada de Jacarepaguá, que por sua vez é menor do que o município. Acumulando-se todas as formas de abastecimento de água por rede e por poços, observa-se para bacia do rio Morto que o uso de poços representa 41.4% dos domicílios, enquanto as taxas para Jacarepaguá e do município são iguais a 3.4% e 1.1 %, respectivamente. Com relação ao esgotamento sanitário na bacia do rio Morto, apenas 14% dos domicílios são atendidos pela rede, contra 67.8% e 77.9% para Jacarepaguá e município, respectivamente. Chama atenção para a questão do uso dos canais em região de baixada como destino do esgoto. Outra combinação perigosa, se considerada a suscetibilidade às enchentes dessas regiões. No caso do lixo, a situação apresenta-se um pouco mais equilibrada, com 78.4%, 86.2% e 88.8% com atendimento de limpeza urbana para a bacia do rio Morto, Jacarepaguá e município do Rio de Janeiro, respectivamente. A menor urbanização, comparada a outras regiões do município do Rio de Janeiro, faz com que parte do lixo seja queimada, pela ausência de serviços de limpeza em determinados locais na bacia de estudo. Observa-se também na região o uso de caçambas de lixo. Com isto, pode-se verificar que a oferta de serviços de infra-estrutura urbana, abastecimento de água, destinação de efluentes e coleta de lixo é mais precária na bacia, comparando-se com a Baixada de Jacarepaguá e o município do Rio de Janeiro. Sendo a situação do esgoto a pior, e a do lixo a melhor em termos relativos. 7

Outro fato a ser destacado é que os dados utilizados pela pesquisa, do CENSO 2000 (IBGE) em cruzamento com os dados obtidos através dos trabalhos de campo, se mostraram os mais pertinentes com a realidade local verificada. Tabela 1. Dados do CENSO 2000 (IBGE) relacionados ao meio ambiente: Bacia Hidrográfica do Rio Morto, Baixada de Jacarepaguá e município do Rio de Janeiro REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. E. T. de. Urbanização da Baixada de Jacarepaguá, Degradação dos Corpos Hídricos e Saúde Pública: Os casos de Hepatite A, da Leptospirose e da Esquistossomose, 8

171p. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense. 2007. CABRAL, S. Mapeamento Geológico-Geotécnico da Baixada de Jacarepaguá e Maciços Circunvizinhos. Dissertação de Mestrado Instituto de Geociências UFRJ, RJ, 1979. CERQUEIRA, L. F. F. Os Impactos dos Assentamentos Informais de Baixa Renda nos Recursos Hídricos e na Saúde Coletiva: O Caso da Bacia Hidrográfica da Baixada de Jacarepaguá. 120p. Dissertação de Mestrado. PEAMB/UERJ, Rio de Janeiro, 2006. CONSÓRCIO ECOLOGUS-AGRAR. Plano Diretor de Recursos Hídricos da Baía de Guanabara, RJ. Relatório Final, Síntese, 2005. IBGE. CENSO 2000 in Página eletrônica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/censo> Acesso em: 30 de abril de 2010. MINISTÉRIO DAS CIDADES - Assessoria de Comunicação. (2003). Cidades em Rede in Boletim eletrônico nº 01. Disponível em <http://www.cidades.gov.br>, Acesso em: 08 de setembro de 2009. PORTO-GONÇALVES, C. W. O desafio ambiental: Os porquês da desordem ambiental. Org: Emir Sader. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. 9