O ATENDIMENTO PEDAGÓGICO HOSPITALAR GARANTIDO COMO DIREITO DO ALUNO ENFERMO Elizandra Daneize dos Santos 1 RESUMO: Desde as colocações mais simples do senso comum até as mais elaboradas formulações (teóricas, filosóficas e políticas), quando se referem à escola, sempre a concebem como o lugar onde se aprende e se ensina algum tipo de saber, de conhecimento. Porém, nesse contexto, pode-se destacar que também é possível haver esse tipo de conhecimento escolar em hospitais, principalmente na ala das crianças, onde há as classes hospitalares. A ação pedagógica no contexto hospitalar ajuda proporcionar e oferecer todas as condições necessárias e possíveis para que o processo de aprendizagem não seja interrompido e possa se concretizar. Dessa forma, se faz necessária a elaboração e adequação de propostas curriculares diversificadas e apropriadas às necessidades individuais de cada aluno enfermo, considerando que cada um apresenta suas especificidades, constituindo-se em uma tarefa de suma importância ao profissional pedagogo. Para tanto, precisa-se levar em consideração toda a bagagem histórica que o aluno enfermo traz consigo, as informações adquiridas da escola de origem, o que ele precisa realmente aprender, como aprender, e as formas de organização que permitam o fazer e o aprender. PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem; humanização; atendimento educacional hospitalar. INTRODUÇÃO O desenvolvimento humano é influenciado por uma série de fatores, dentre os quais se encontram entrelaçados aspectos cognitivos, afetivos, motores e psicossociais, caracterizandose como um processo contínuo que acontece durante toda a vida, mas que tem um papel principal e fundamental na infância e adolescência. Portanto, mediar aprendizagens com o desenvolvimento motor faz com que o aluno adquira imagem e esquema corporal, lateralidade, estrutura, organização espacial e temporal, equilíbrio, postura e coordenação dinâmica manual. Repensando esses aspectos, percebe-se a importância de não privar a criança e o adolescente do atendimento educacional, que por motivos de doenças, acabam se afastando da escola e passam algum tempo dentro de hospitais. Alguns autores retratam que foi a partir desse pensamento, que o atendimento educacional começou a ser pensando como possibilidade de ser atuado dentro do hospital. 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Foz do Iguaçu. E-mail: elizandraa_schardosin@hotmail.com 1
O trabalho do Pedagogo é reconhecido não somente na escola, espaço de transmissão de conhecimentos e promoção da educação, mas também em diferentes contextos educacionais sociais, como empresas, fórum no âmbito da Justiça nas Varas de Infância e Juventude, assistência social na Vara de Família, dentre outros, destacando-se os hospitais e/ou instituições de saúde, assunto central. OBJETIVO GERAL Repensar a prática pedagógica nas classes hospitalares numa visão humanística, como direito de todos os alunos hospitalizados. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever como se dá o trabalho do pedagogo com crianças enfermas incluídas nas classes hospitalares; Identificar fatores positivos que o trabalho do pedagogo traz para a vida escolar da criança enferma. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A partir da leitura bibliográfica de obras específicas, foi possível posicionar-se para perceber vários modos de se encarar os muitos problemas, de argumentar e contra-argumentar em defesa ou contraposição de ideias e ações realizadas visando a melhoria das condições em que se encontram os hospitalizados Matos e Mugiatti (2008, p.71) comentam sobre o afastamento da criança e adolescente da escola e, portanto, da convivência social por motivos de doença, os quais passam a receber tratamento de saúde por algum período: A enfermidade é uma situação com a qual, muitas vezes, o ser humano convive ativa ou ativamente no seu cotidiano. Tal situação é responsável, em certos casos, por levar o aluno a se ausentar da escola por tempo prolongado, o que, indubitavelmente, acarreta prejuízos, por vezes irreparáveis, no curso normal de suas atividades escolares. No intuito de se evitar tais conseqüências ao sistema de ensino, cabe a iniciativa de se promoverem novas alternativas de procedimentos para a continuidade escolar da criança (ou adolescente) hospitalizada, em função da separação dita como necessária. 2
Dessa forma, faz-se essencialmente necessária a atuação do pedagogo e também dos profissionais de educação em ambiente hospitalar, no que diz respeito ao atendimento pedagógico educacional, do qual a criança e o adolescente foram afastados da escola por motivo de longo período de tratamento de saúde. Para sustentar essa ideia de que a aprendizagem não deve ser interrompida em ambiente hospitalar, Matos e Mugiatti (2008, p.68) ainda reforçam que: Este enfoque educativo e de aprendizagem deu origem à ação pedagógica em hospitais pediátricos, nascendo de uma convicção de que a criança e o adolescente hospitalizados, em idade escolar, que não devem interromper, na medida do possível, seu processo de aprendizagem, seu processo curricular educativo. Trata-se de estímulo e da continuidade de seus estudos, a fim de que não percam seu curso e não se convertam em repetentes, ou venham a interromper o ritmo de aprendizagem, assim dificultando, consequentemente, a recuperação da saúde. A necessidade de continuidade, exigida pelo processo de escolarização, é algo tão notório que salta á vista dos pais, professores e mesmo doas próprias crianças e adolescentes. Nesse sentido, cabe ao pedagogo e/ou profissionais de educação propiciar estímulos e apoios para que o processo educativo não seja interrompido, e sim que haja a continuação da escolarização desses alunos enfermos. Rodrigues (2012, p.27) fala que não é porque a criança está internada, recebendo atendimento de saúde, que ela deixa de ser criança, e que a presença de uma professora pode ajudar muito nesse momento: O tempo de hospitalização (internamento), seja ele de curto, médio ou longo prazo, para uma criança na fase de escolarização vem sendo a preocupação de médicos, pediatras e educadores, no sentido de como recuperar esse período de ausência da criança na escola. Suas condições de aprendizagem não podem ser relegadas, uma vez que, em sua vida fora do hospital, partilha de uma sala de aula, faz parte de um grupo definido e que, entre seus pares, suas trocas se constituem em atividades enriquecedoras de aprendizagens. Não só por estar interna, convalescendo de qualquer procedimento para restabelecimento de sua saúde, que os internos deixam de serem crianças e, como tal, a presença de uma professora carinhosamente chamada por eles de tia quebra a rotina hospitalar, fazendo-os esquecer por alguns momentos que estão em um hospital. Aquele local que causa medo, angústia, inseguranças às crianças e adolescentes, com paredes brancas, profissionais da saúde com uniformes brancos, pode se tornar um local menos conflituoso, um pouco mais colorido, quando um profissional de educação passa a atuar, trazendo novidades e, dessa forma, positividade para que o aluno enfermo possa se sentir bem. 3
Matos e Mugiatti (2008, p.67), nessa perspectiva, conceituam a Pedagogia Hospitalar como uma nova prática educacional a ser realizada em instituições hospitalares: Este novo papel com que se depara a Pedagogia Hospitalar compreende os procedimentos necessários à educação de crianças e adolescentes hospitalizados, de modo a desenvolver uma singular atenção pedagógica aos escolares que se encontram em atendimento hospitalar e ao próprio hospital na concretização de seus objetivos. Ressalta-se aqui a grande importância do esforço das instituições hospitalares ao abrirem este novo e valioso espaço para a ação educativa na realidade hospitalar. Uma vez verificada a já existência, nos hospitais, de uma práxis pedagógica, conclui-se pela necessidade de uma contribuição especializada, sempre objetivando o melhor auxílio à criança (ou adolescente) hospitalizada em idade escolar. A Pedagogia pode, e deve ser uma a prática de um profissional guiada por uma ética profissional e que confronta a cada dia com situações e desafios, que muitas vezes são sem fórmulas para resolução, pois cada ser humano, cada aluno especificamente é diferente um do outro, e apresenta diferentes formas de aquisição de conhecimentos. O profissional do ensino deve buscar a construção do seu próprio espaço pedagógico, em que só ele pode assumir e resolver conflitos cotidianos, apoiado na sua visão de mundo, de homem e sociedade. Atuando no hospital, é importante que esse profissional esteja ciente de todas essas questões, a fim de que possa realizar um trabalho realmente humanizador e inclusivo. RESULTADOS O estudo e os apontamentos construídos a partir da bibliografia consultada, transparecem para os autores evidenciados, que a Pedagogia Hospitalar é trabalho importante e que merece reconhecimento pelos resultados obtidos e satisfação das partes envolvidas, ou seja, para a criança e adolescente enfermos, família, escola e hospital. Há leis que amparam esse direito da criança em receber o atendimento hospitalar, um exemplo é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que explicita o direito à vida e à saúde no 11º artigo e inciso I: É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. Portanto, toda e qualquer criança e/ou adolescente terá atendimento médico em unidades de saúde, garantindo dessa forma a sua promoção, proteção e recuperação. Não se pode deixar de incluir também aqueles que são portadores de deficiência, que receberão atendimento especializado, 4
pois, na prática pedagógica, o profissional de educação também deverá dominar o conhecimento especializado, para poder atuar de forma diferenciada com esses alunos enfermos. CONCLUSÕES A classe hospitalar resgata a cidadania, contribui para uma aprendizagem efetiva, dando continuidade ao processo de desenvolvimento cognitivo e fazendo um trabalho de humanização, tanto na internação do paciente, quanto durante o processo de reintegração à escola de origem. Ela é um direito e um respeito à cidadania e, portanto, um exemplo de comprometimento e atenção às diferenças, à diversidade, sendo um modelo de inclusão. Constitui-se prioridade do Estado, e também da sociedade civil, combater os fatores que afastam as crianças, adolescentes, jovens e adultos do acesso à escolaridade, e também prevenir, para que não haja mais motivos das crianças estarem sem esse acesso. A efetivação de uma política publica pressupõe um estudo minucioso sobre o contexto da realidade, embasado no levantamento diagnóstico, indicando as necessidades existentes. A criança deve ser respeitada e ter seus direitos assegurados e respeitados também, privando sua integridade física, psíquica e moral, garantindo liberdade de prática de sua crença, onde muitas vezes, os familiares se apegam como consolo e encontram força, ânimo para enfrentar o processo da enfermidade. À equipe médica, cabe prestar auxílio e assistência de qualidade, dispondo de todos os recursos cabíveis e necessários para o pleno restabelecimento da saúde dessa criança, bem como, auxiliá-la na educação para a sua saúde. REFERÊNCIAS BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. MATOS, Elizete Lúcia Pereira. Escolarização Hospitalar: Educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. MATOS, Elizete Lúcia Pereira; MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospitalar: A Humanização Integrando Educação e Saúde. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Hospitalização Escolarizada: uma nova alternativa para o escolar doente. Dissertação de Mestrado. PUC/RGS, 1989. RODRIGUES, Janine Marta Coelho. Classes Hospitalares: O Espaço Pedagógico nas Unidades de Saúde. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2012. 5