(6^_ê0â1R0) PODER JUDICIÁRIO RELATÓRIO Trata-se de reexame necessário de sentença em que o magistrado da 9ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, em ação de mandado de segurança, concedeu a ordem para assegurar aos representados da Impetrante o direito de atestarem a qualidade de pescador Artesanal e assegurarem a percepção do seguro-desemprego no período do defeso, a despeito da Resolução nº 566, do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador do Ministério do Trabalho e Emprego (CODEFAT),. Devidamente intimada para se manifestar sobre a sentença de fls. 145/147, a Advocacia da União manifesta-se pela ratificação da Nota Informativa de fls. 151/153 e requer a extinção do processo nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil, pois que houve a perda superveniente do interesse processual e a revogação da Resolução nº 566/2007. Sem recurso voluntário, subiram os autos a este Regional apenas por força do duplo grau de jurisdição obrigatório. A Procuradoria Regional da República, em face da ausência de interesse social ou individual, indisponível em causa, devolveu os autos sem manifestação de mérito. É o sucinto relatório. V O T O Da análise dos autos, reputo corretos os fundamentos consignados pelo magistrado de base, porquanto dirimiram de forma pertinente a lide. Deles, transcrevo os seguintes trechos: Ente sindical de segundo grau pretende obter sentença jurisdicional garantindo que todas entidades sindicais de primeiro grau da categoria profissional dos pescadores possam atestem a condição de pescador artesanal, para fins de percepção do seguro-desemprego durante o período de defeso. A Lei Federal nº 10.779/2003 regula a concessão do beneficio de segurodesemprego aos trabalhadores da categoria profissional dos pescadores durante o período de defeso. A Constituição Federal garante a concessão do seguro-desemprego quando se configura óbice ao trabalho. A Resolução CODEFAT nº. 566/2007 impõe a filiação a uma colônia de pescadores para obter o beneficio do seguro-desemprego, restringindo a competência para expedição do documento. A primeira vista, compromete o direito dos que estão eventualmente filiados a outras entidades impedindo-os de usufruir do beneficio. O Eg. Tribunal Federal da Quinta Região criou precedente cuja inteligência diz (...) Tal interpretação é a melhor que se compatibiliza com a fls.1/5
Constituição federal, que a um só tempo garante a concessão do segurodesemprego em época de impossibilidade involuntária de trabalho, como também a liberdade de associação, não podendo, deste modo, o exercício de um direito constitucionalmente assegurado ficar a depender da demonstração de uma situação que o próprio texto constitucional expressamente proíbe. (...) não deve ser exigido do pescador artesanal a filiação à Colônia de Pescadores ou qualquer outra entidade associativa profissional para o gozo do seguro-desemprego, podendo provar os requisitos legais, por qualquer meio licito de prova. Sendo este o contexto em que se insere a discussão, será prestigiada a pretensão do autor.. Saliento que o entendimento adotado na sentença se encontra amparado também pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, tendo, inclusive, julgado procedente a ADIN 3.464-2DF, da relatoria do Ministro Menezes Direito, para declarar a inconstitucionalidade do inciso IV do art. 2º, e respectivas alíneas, da Lei nº 10.779/03, conforme ementa abaixo transcrita: Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 2º, IV, a, b e c, da Lei nº 10.779/03. Filiação à colônia de pescadores para habilitação ao segurodesemprego. Princípios da liberdade de associação e da liberdade sindical (arts. 5º, XX, e 8º, V, da Constituição Federal). 1. Viola os princípios constitucionais da liberdade de associação (art. 5º, inciso XX) e da liberdade sindical (art. 8º, inciso V), ambos em sua dimensão negativa, a norma legal que condiciona, ainda que indiretamente, o recebimento do benefício do seguro-desemprego à filiação do interessado a colônia de pescadores de sua região. 2. Ação direta julgada procedente. Nesse mesmo sentido é a jurisprudência da 5ª Turma desta Corte, como se ver dos acórdãos que receberam as seguintes ementas: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. REQUERIMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO NO PERÍODO DE DEFESO DA ATIVIDADE PESQUEIRA, INSTITUÍDO PELA LEI Nº. 10.779/2003. ATESTADO EXPEDIDO POR SINDICATO OU ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES E NÃO POR COLÔNIA DE PESCADORES. POSSIBILIDADE. RAZOABILIDADE. PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. I - O seguro-desemprego, na espécie dos autos, destinado a prover a assistência temporária do pescador profissional artesanal, nas condições da Lei nº. 10.779/2003, bem assim da Resolução CODEFAT nº 566/2007, além de ser uma conquista social, assegurada constitucionalmente, representa um instrumento eficiente à preservação do meio ambiente, em harmonia às exigências constitucionais de uma ordem econômica justa, que há de observar, dentre outros princípios, a defesa do meio ambiente (CF, art. 170, VI) e a proteção da fauna e da flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (CF, art. 225, 1º, VII). II - Assim, visando preservar o meio ambiente, bem como à garantia do direito social do trabalhador, cabe à autoridade responsável verificar o preenchimento, pelo pescador artesanal, dos requisitos constantes na Lei nº. 10.779/2003, bem assim da Resolução CODEFAT nº 566/2007, fls.2/5
exigindo, inclusive, caso julgue necessário, outros documentos para a habilitação do benefício, sem, entretanto, apegar-se à literalidade da lei, na aceitação de documento facilmente substituído por outro, também revestido de idoneidade, salvo comprovação em contrário, vale dizer, atestado emitido por sindicato ou associação dos pescadores profissionais artesanais da região, e, não, por colônia de pescadores, inexistente na localidade, sob pena de inviabilizar, além do exercício do direito constitucional do trabalhador aos meios de sobrevivência, o alcance de seu objeto mais abrangente, qual seja, a preservação das espécies aquáticas durante o período de reprodução e de defeso. III - Remessa oficial desprovida. Sentença confirmada. (0006737-58.2008.4.01.3400 REOMS 2008.34.00.006780-7/DF; REMESSA EX OFFICIO EM MANDADO DE SEGURANÇA Relator DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE Órgão QUINTA TURMA Publicação 12/08/2013 e-djf1 P. 281 Data Decisão 31/07/2013) ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SEGURO- DESEMPREGO NO PERÍODO DE DEFESO DA ATIVIDADE PESQUEIRA. LEI Nº. 10.779/2003. LIBERAÇÃO DOS FORMULÁRIOS DE REQUERIMENTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. AUTORIDADE ESTADUAL, MAS ATO PRATICADO NO ÂMBITO DO SERVIÇO NACIONAL DO EMPREGO. DELEGAÇÃO DA UNIÃO - MINISTÉRIO DO TRABALHO, POR MEIO DE CONVÊNIO. DIREITO DE PETIÇÃO ASSEGURADO AOS PESCADORES. 1. Os impetrantes objetivam apenas a liberação de formulários de segurodesemprego para preenchê-los e enviá-los ao Ministério do Trabalho, o que foi deferido pela sentença. 2. Rejeição da preliminar de incompetência da Justiça Federal, levantada pelo Ministério Público Federal, pois, embora a autoridade originariamente impetrada seja estadual, praticou ato no âmbito do Sistema Nacional do Emprego, por delegação da União, mediante convênio mantido com o Ministério do Trabalho. 3. "O benefício do Seguro-Desemprego será requerido pelo pescador profissional na categoria artesanal, na Delegacia Regional do Trabalho - DRT, ou no Sistema Nacional de Emprego - SINE, ou ainda, nas entidades credenciadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE" (art. 3º da Resolução nº. 468, de 21/12/2005, do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - CODEFAT, que estabelece e consolida critérios para a concessão do Seguro-Desemprego aos pescadores artesanais durante os períodos de defeso, instituído pela Lei nº. 10.779/2003). 4. Mas "o processamento do Seguro-Desemprego para fins de habilitação, concessão e emissão da relação de pagamento será efetuado pela Secretaria de Políticas Públicas de Emprego - SPPE do MTE, ficando a cargo dos bancos oficiais federais o respectivo pagamento" (art. 9º da Resolução nº. 468, de 21/12/2005, do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - CODEFAT). 5. No caso, segundo as regras acima citadas, o Sistema Nacional de Emprego, ou mesmo qualquer outro órgão credenciado junto ao Ministério Público do Trabalho, apenas encaminham os formulários de requerimento preenchidos ao órgão competente, não lhes cabendo examinar a fls.3/5
existência do direito ao seguro. Por isso, o direito constitucional de petição exige a entrega dos respectivos formulários de requerimento aos interessados, que é o único pedido formulado pelos impetrantes na ação mandamental e deferido pela sentença. 6. Apelação e remessa oficial a que se nega provimento. (0000332-20.2006.4.01.4000 REOMS 2006.40.00.000332-3/PI; REMESSA EX OFFICIO EM MANDADO DE SEGURANÇA Relator DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA Órgão QUINTA TURMA Publicação 05/06/2013 e-djf1 P. 259 Data Decisão 20/05/2013) Dispositivo CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL. PERÍODO DE DEFESO. SEGURO-DESEMPREGO. LEI 10.779/03. RESOLUÇÃO CODEFAT 394/2004. INEXISTÊNCIA DE COLÔNIA DE PESCADORES NA LOCALIDADE. EXPEDIÇÃO DE ATESTADO DE FILIAÇÃO POR ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES. ADMISSÃO. RAZOABILIDADE. ADAPTAÇÃO DA LEI AOS FINS SOCIAIS E ÀS EXIGÊNCIAS DO BEM COMUM. LEI 12.376/2010. 1. Ao aplicar a lei, o julgador não se restringe à subsunção do fato à norma, devendo "atentar para princípios maiores que regem o ordenamento jurídico e aos fins sociais a que a lei se destina (art. 5º, da Lei de Introdução ao Código Civil)" (REsp 848.637/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, DJ de 27/11/2006). 2. Em caso idêntico, assim julgou esta Corte: "visando preservar o meio ambiente, bem como a garantia do direito social do trabalhador, cabe à autoridade, apontada como coatora, verificar o preenchimento, pelo pescador artesanal, dos requisitos constantes na Lei nº. 10.779/2003, exigindo, inclusive, caso julgue necessário, outros documentos para a habilitação do benefício, sem, entretanto, apegar-se à literalidade da lei, na aceitação de documento facilmente substituído por outro, também revestido de idoneidade, salvo comprovação em contrário, vale dizer, atestado emitido por associação dos pescadores profissionais artesanais da região, e, não, por colônia de pescadores, inexistente na localidade, sob pena de inviabilizar, além do exercício do direito constitucional do trabalhador aos meios de sobrevivência, o alcance de seu objeto mais abrangente, qual seja, a preservação das espécies aquáticas durante o período de reprodução e de defeso" (REOMS 200532000011964, Rel. Desembargador Federal Souza Prudente, Sexta Turma, DJ de 13/08/2007). 3. Apelação e remessa oficial a que se nega provimento. (0000504-68.2005.4.01.3200 AC 2005.32.00.000504-9/AM; APELAÇÃO CIVEL Relator DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA Órgão QUINTA TURMA Publicação 23/03/2012 e-djf1 P. 869 Data Decisão 12/03/2012) Em face do exposto, nego provimento à remessa oficial. É como voto. fls.4/5
Desembargador Federal KASSIO MARQUES Relator fls.5/5