PRAZOS PRESCRICIONAIS NAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO



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Transcrição:

PRAZOS PRESCRICIONAIS NAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO PELO SEGURADOR. CÓDIGO DO CONSUMIDOR SUB-ROGAÇÃO NOS DIREITOS DO SEGURADO QUANTO A PRAZOS PRESCRICIONAIS E RESPONSABILIDADES OBJETIVA E SOLIDÁRIA DO CAUSADOR. PRESCRIÇÃO DA AÇÃO PARA COBRANÇA DO PRÊMIO RICARDO BECHARA SANTOS Dando conta de consultas versando o tema em referência, pelas quais costuma-se indagar sobre as diversas implicações que podem tanger com os prazos de prescrição que devem prevalecer para a seguradora promover a ação de ressarcimento contra o terceiro causador do dano, uma vez paga a indenização coberta pelo seguro de dano contratado, como também contra o segurado recalcitrante com o prêmio, procurei desatá-las como segue. Não resta dúvida de que, em regra, correto é o entendimento manifestado na jurisprudência copiosa do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual prescreve em vinte anos a ação da seguradora sub-rogada nos direitos do seu segurado indenizado, contra o terceiro causador do dano. Como corretíssima também é aquela outra jurisprudência da mesma Corte, recentemente proclamada pela sua 4ª Turma, consagrando a prevalência do prazo prescricional ânuo estabelecido no artigo 178, 6º, II do Código Civil, sobre o prazo de cinco anos previsto no artigo 27 do Código do Consumidor, para a ação do segurado contra o segurador visando o recebimento da indenização coberta pelo contrato de seguro. Com efeito, o prazo prescricional de cinco anos previsto no artigo 27 do código consumerista diz respeito, exclusivamente, às ações do consumidor contra o fornecedor de produtos ou serviços, porém nas hipóteses em que restem configurados danos provenientes de acidente de consumo, como por exemplo a ação de um adquirente de uma máquina de lavar roupas que lhe haja causado danos em decorrência de um defeito de fabricação, ou, também à guisa de exemplo, danos decorrentes de um acidente com veículo desde que causados, digamos, por alguma falha de montagem, emanados, portanto, de uma relação de consumo. Nota-se, portanto, que a configuração do prazo qüinqüenal a que alude o CPDC pressupõe, antes que tudo, a existência de uma relação de consumo,

2 nos moldes dos artigos 2º e 3º do mesmo Código, relação de consumo essa muita vez inocorrente entre o terceiro e o segurado, jamais entre o terceiro e o segurador, contra este descabendo, inclusive, ação direta daquele em caso de seguro de Responsabilidade Civil Facultativo, como cediço. Assim é que, imaginando-se como exemplo ilustrativo um seguro de automóveis, em relação ao qual a seguradora haja indenizado o segurado por dano no casco causado por culpa de um terceiro, a ação que o segurado teria contra este circunscreve-se no âmbito da responsabilidade civil comum decorrente de um acidente de trânsito, onde, evidentemente, inexistiria qualquer relação de consumo que pudesse justificar a adoção do prazo prescricional qüinqüenal do artigo 27 do CPDC. Por essa razão, se ao segurado, vítima do dano que lhe causara o terceiro, assistiria o direito de promover ação de reparação contra o seu ofensor dentro do prazo de vinte anos, no caso acima exemplificado, por força do artigo 177 do Código Civil, tal direito, nele incluído o do prazo prescricional vintenário, transfere-se, por via do direito sub-rogatório, ao segurador que haja indenizado o prejuízo (súmula 188 do STF). È como se o segurador substituísse a vítima do dano, no caso o segurado por ele indenizado, com todos os consectários pertinentes, para agir contra o causador. Di-lo o próprio artigo 988 do Código Civil quanto a abrangência da transferência de direitos que ela produz, verbis: "A subrogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantia do primitivo, em relação à dívida contra o devedor principal e fiadores". Sub-rogação e instituição do seguro são co-irmãs de uma mesma placenta, pois têm a transferência como célula comum. Enquanto no seguro o segurado transfere para o segurador os efeitos econômicos do risco temido, na sub-rogação o segurado transfere para o segurador todo direito e ação contra aquele, denominado terceiro, que causara o evento, ou seja, que transformara o risco temido em realidade concreta, materializada em sinistro, indenizado pelo segurador. Só que no seguro, diferentemente do que ocorre na sub-rogação, não se opera a substituição nem de pessoas nem de coisas. Enquanto na subrogação o segurador substitui o segurado satisfeito com a indenização do sinistro de que fora vítima, assumindo o seu posto para agir contra o terceiro causador do dano, no seguro o segurador, ao aceitar o risco não está, a rigor, substituindo o segurado, mas apenas garantindo a ele uma indenização futura e incerta, pois o risco é e sempre será do próprio segurado (in Direito de Seguro no Cotidiano, Editora Forense, p. 530, de autoria do signatário). Outrotanto, hipóteses podem perfeitamente existir de indenizações pagas pelo segurador aos seus segurados por danos causados ao bem objeto do

3 seguro contratado, decorrentes de relação de consumo entre o segurado consumidor do bem e o fornecedor do mesmo bem ou produto objeto do seguro. Basta tratar-se de qualquer modalidade de seguro de bem com cobertura para dano, por exemplo, decorrente de defeito de fabricação e que esse dano emane de tal defeito, como seria o exemplo, alhures citado, de um veículo indenizado pelo segurador em face da cobertura do casco, cujo sinistro decorrera, não de uma colisão com outro veículo, mas de um capotamento causado por falha do fabricante do sistema de freios, dos pneus, das rodas, da suspensão, ou de qualquer componente do veículo, hipótese em que o segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, poderia, pelo sistema de solidariedade estabelecido no Código do Consumidor, e até dispensado de provar a culpa em face da responsabilidade objetiva, escolher quem da cadeia de fornecedores acionar, desde o fabricante do próprio veículo, o fabricante do sistema de freios, ou até mesmo a concessionária vendedora do bem. Para ilustrar esse quadro, vale lembrar a responsabilidade que está sendo atribuída à Firestone, conforme amplamente divulgado na imprensa, pelos danos causados aos consumidores por defeitos em determinada série de pneus utilizados na montagem de muitos veículos. Ora bem, nesses casos, se a ação que o segurado teria contra o fornecedor do bem ou contra qualquer outro integrante da cadeia de responsáveis solidários estabelecida pelo Código de Defesa do Consumidor, se relacionasse a um acidente de consumo, aí sim, o segurador sub-rogado teria que submeter-se ao prazo prescricional de cinco anos a que alude o artigo 27 do CPDC, até porque, indo ainda mais longe, estaria ele beneficiando-se de vantagens que o CPDC confere ao consumidor sub-rogante (segurado), porque não também, repita-se, das vantagens da responsabilidade objetiva e da faculdade de escolher o demandado dentro da cadeia de responsáveis solidários, dentre os mais solventes, considerando a transferência de direitos, ações e privilégios, operada pela sub-rogação. Não seria demasiado lembrar, a propósito do tema aqui tratado, a existência de outros prazos específicos que norteiam a ação sub-rogatória do segurador, como no caso dos seguros de transporte, em que preside o prazo prescricional de um ano para as ações contra o transportador, seja ele marítimo, rodoviário ou ferroviário, por força de legislação específica, salvante no transporte aéreo em que o prazo, no caso decadencial, é de dois anos consoante a Convenção de Varsóvia. Note-se que, sendo de decadência o prazo torna-se insuscetível de suspensão ou interrupção, ao contrário do que sucede com o

4 prazo de prescrição, este sim passível de suspensão ou interrupção mediante protesto judicial Não sem mencionar a tese da prescrição vintenária das ações do segurador sub-rogado nos direitos do consignatário da carga indenizado, quando identificado um terceiro, que não o próprio transportador, como causador final do dano, por exemplo o dano a carga decorrente de uma colisão com outro veículo. Caso em que tratar-se-ia de ação de reparação de dano, não pelo fato do transporte (responsabilidade contratual), mas em face da responsabilidade civil aquiliana. A propósito do tema, permito-me reportar a artigo de minha lavra publicado às páginas 30/37 da Revista Cadernos de seguros da FUNENSG nº 101, de maio/junho de 2000, onde abordo os distintos prazos prescricionais tratados no Código Civil e no CPDC que, embora referentes à ação do segurado contra o segurador e não do segurador sub-rogado, imagino possa-se dali também tirar algumas ilações a serem emprestadas, no que couber, às situações específicas deste trabalho, como também, concessa venia, a alguns capítulos de nosso livro Direito de Seguro no Cotidiano, Editora Forense, referentes a prescrição e a sub-rogação. PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE COBRANÇA DE PRÊMIO NÃO PAGO Nesse tópico, vale também refletir sobre o prazo prescricional, já que, não raro, se promove ações de cobrança de prêmio devido e não pago pelo segurado. Como de sabença, o artigo 178 do Código Civil estabelece que é de um ano o prazo da prescrição extintiva do direito de ação do segurado contra a seguradora, e vice-versa. Sendo dito dispositivo a matriz da prescrição das ações de seguro terrestre (no seguro marítimo a prescrição estaria regida pelo Código Comercial ), inexistindo outros prazos específicos para reger a prescrição em casos como que tais, há de se entender que, decorrido o lapso de um ano sem que a seguradora haja manifestado qualquer esboço de interrupção ou suspensão de tal prazo (art. 172 do CC), quedando-se inerte mesmo diante do inequívoco conhecimento da inadimplência do prêmio e da data de seu vencimento, irremediavelmente extinto estará o seu direito de ação contra o segurado. Mormente se não há sinistros a pagar, pois se houvesse, decerto que a seguradora poderia, com base no artigo 1.092 do CC, condicionar o pagamento da indenização ao pagamento do prêmio.

5 É que, no contrato de seguro, a principal obrigação do segurador é o pagamento da indenização no caso de sinistro, enquanto que a principal obrigação do segurado é o pagamento do prêmio, função que é do risco. Por isso que, inadimplindo o segurador sua obrigação indenizatória, dará margem à ação de cobrança do segurado, a ser exercida dentro de um ano, enquanto que, inadimplindo o segurado sua obrigação para com o pagamento do prêmio, igualmente dará azo à ação de cobrança do segurador, no mesmo prazo ânuo. Até porque, não seria justo, nem equivalente, conferir ao segurador prazo mais dilatado do que o conferido ao segurado, para dele exigir judicialmente o cumprimento de sua obrigação. Enfim, que outra ação do segurador contra o segurado poderia, com maior adequação, hospedar-se na expressão "vice-versa" a que alude o art. 178 do Código Civil? Dormientibus non sucurit jus, que vale tanto para o segurado quanto para o segurador. Nada obstante, há quem tente exercer a ação de cobrança do prêmio mesmo a despeito do decurso do prazo ânuo, contando com o descuido ou desconhecimento mesmo do demandado e de interpretes menos avisados, não digo do juiz porque ele não poderia proclamar a prescrição ex oficio. Se me fosse dado construir uma tese não como jurista mas como advogado, diante de uma situação já consumada para albergar o prazo geral vintenário da prescrição da ação do segurador para cobrança do prêmio, me basearia no princípio de que o art. 178, 6º, II do Código Civil apenas se aplicaria nas hipóteses relacionadas a sinistro, na medida em que o legislador, ao escrever o referido dispositivo, faz ali expressa menção à ocorrência de um fato, e de seu conhecimento pelo interessado, fato esse compatível mais com a ocorrência de um sinistro do que com a existência de um débito do prêmio, como que a confundir fato com sinistro. E como a prescrição costuma ser interpretada de forma estrita, quem sabe algum espaço restaria para o entendimento de se conferir ao segurador, como gestor de um mutualismo do qual faz parte cada segurado, um prazo maior, justo em razão de ser o prêmio um elemento essencial do contrato de seguro, sem o qual restaria em perigoso desequilíbrio a mutualidade, a dano dos demais integrantes do fundo chamado seguro. Todavia, no meu entender particular, reitero que a intenção do legislador teria sido mesmo a de que a prescrição ânua regesse toda e qualquer ação fundada no contrato de seguro, ou seja, todas as ações tangentes com os

6 artigos 1.432 até 1.476 do Código Civil. Logo, também a ação que verse sobre seus elementos, dentre eles e principalmente o prêmio. FINALIZANDO Fechado o parêntesis acima sobre a prescrição da ação de cobrança de prêmio, que é de um ano, recomendaria, de toda sorte, que a seguradora procurasse sempre promover suas ações de ressarcimento contra o terceiro causador do dano dentro pelo menos do prazo de cinco anos nas situações de responsabilidade civil aquiliana, não em face do artigo 27 do CPDC, mas por força de algumas interpretações, embora desavisadas, em torno do artigo 178, inciso IX, do Código Civil. Mesmo porque, nada justifica que a seguradora espere tanto tempo para reivindicar o ressarcimento a que tem direito, sob pena de estar, com tal retardamento, submetendo-se a prejuízo financeiro pelo só fato da demora da qual decorre o natural aviltamento do dinheiro. Por outro lado, para também já ir se acostumando com a idéia de virem a ser considerados prazos mais curtos de prescrição, por isso que, a propósito, como noticiado pela imprensa, acaba de ser aprovado na Câmara dos Deputados em Brasília, projeto de lei que encurta para seis meses prazo para ação de ressarcimento do segurador sub-rogado contra o causador do dano. Tal projeto, entretanto, peca por conspirar contra o próprio consumidor de seguro, na medida em que, restringindo a ação sub-rogatória do segurador, privilegia o autor do ato ilícito, vale dizer, do dano causado ao segurado previdente que realizou o seguro, quando o terceiro, imprevidente, não poderia beneficiar-se de uma impunidade, à custa daquele que realizou seguro de seu bem despendendo o numerário do prêmio. Sabido mais que toda e qualquer restrição à ação sub-rogatória do segurador onera o custo do seguro, posto que a sub-rogação é levada em conta no cálculo do prêmio. Reduzir, assim, para seis meses, o prazo máximo de vinte anos de que o segurador sub-rogado hoje dispõe para acionar o causador do dano onera, sobremaneira, o salutar direito subrogatório, eis que, com prazo tão curto terá o segurador, no mínimo, que promover como rotina os dispendiosos protestos judiciais de interrupção de prazos prescricionais e que será levado à custo atuarial do prêmio, porque não o fazendo restará premiado o autor do ato ilícito, no caso o terceiro causador do dano, que não se confunde com o segurado.

7 Peca também o projeto, a julgar por suas confusas justificativas, quando confunde prazo de prescrição do segurado contra o segurador e viceversa, com prazo prescricional da ação contra o causador do dano, sem falar que, sendo esse prazo de um ano, falta coerência no projeto ao estabelecer o prazo menor de seis meses para o segurador sub-rogado, que na pior das hipótese deveria ser de um ano, quando muito de cinco anos, que seria um prazo médio mais razoável que os exíguos seis meses, levando à conta dessa média o prazo de cinco anos previsto no artigo 27 do CPDC. Em suma, extraio de nosso livro DIREITO DE SEGURO NO COTIDIANO, p. 227, as seguintes ilações, aplicáveis ao tema presente, verbis: "O fundamento da sub-rogação legal para o contrato de seguro se planta, radicalmente, na utilidade prática mesmo da instituição, beneficiando, de certo modo, até mesmo o devedor, que pode ver substituído seu credor por outro, até mais tolerante e suscetível a acordo. Em síntese, a sub-rogação legal representa uma atividade econômica benéfica e até solidária, por isso que a lei deve estimulá-la, já que resulta indubitável sua utilidade, inclusive do ponto de vista social, porquanto facilita o cumprimento das obrigações. A sub-rogação legal, ademais, quando plasmada no contrato de seguro, propicia a redução do prêmio, tornando-o mais acessível ao consumidor, considerando que a ação do segurador contra o causador do dano atende: a) a tutela do princípio indenizatório; b) a impedir que o terceiro responsável fique exonerado da responsabilidade; c) observando-se, assim, uma norma técnica securitária ligada ao princípio da repetição mutualista do risco, diminuindo o custo de gestão do seguro, em benefício da massa de segurados" É esse o resumo de meu entendimento sobre o tema que submeto à reflexão do caro leitor