Capítulo 6. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Introdução Sumário e conclusões

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Transcrição:

Capítulo 6 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 6.1- Introdução... 6.2 6.2- Sumário e conclusões... 6.2 6.3- Perspectivas de desenvolvimentos futuros... 6.4

Capítulo 6 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 6.2 6.1- Introdução Este trabalho apresentou com detalhe os aspectos da análise estrutural de estruturas em aço sujeitas à acção do fogo. Foi estudado um modo de instabilidade que pode ocorrer em vigas sem constrangimentos laterais, a encurvadura lateral torsional. O cálculo estrutural ao fogo, segundo o método simplificado do Eurocódigo 3 Parte 1.2, pode ser efectuado segundo três domínios. Mostrou-se que, para o modo de instabilidade estudado e no domínio da temperatura, a temperatura crítica não pode ser calculada directamente pela relação existente com o grau de utiliação, obrigando à utiliação de um procedimento iterativo. O estudo compreendeu a caracteriação mecânica do material dos perfis IPE100, quanto à sua resistência e comportamento a temperaturas elevadas. Tradicionalmente, a resistência ao fogo é obtida por ensaios realiados em fornalhas, em que o elemento é sujeito a um carregamento e a temperaturas elevadas. Nos ensaios efectuados o processo de aquecimento recorreu a um sistema de aquecimento electro resistivo de elevada potência, mantendo-se a carga mecânica constante. Foram executados ensaios experimentais, à escala real, em vigas de diferentes comprimentos, verificando-se que o modo de colapso, em todos os ensaios, se deveu à instabilidade por encurvadura lateral torsional, nos quais foram obtidas as respectivas temperaturas críticas. Um vasto conjunto de análises numéricas foi executado, envolvendo um estudo paramétrico dos factores que influenciam a temperatura crítica em vigas sujeitas à encurvadura lateral. Exemplos destes factores são as imperfeições, geométricas e materiais, existentes no elemento estrutural, o diagrama de momentos e o valor do grau de utiliação. 6.2- Sumário e conclusões Devido à elevada variabilidade das propriedades do aço com a temperatura, foram apresentados ensaios de caracteriação das mesmas quando sujeito a diferentes níveis de temperatura, assim como a influência do arrefecimento. Variando estes factores foi

Capítulo 6 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 6.3 medido o valor da resistência, da durea, efectuada a análise metalográfica e a medição das tensões residuais. O aço quando sujeito a temperaturas elevadas, superiores à temperatura de transformação alotrópica, sendo submetido a um arrefecimento forçado em água, tende a ter um comportamento frágil, perdendo as suas características de ductilidade. Para temperaturas entre 500-625 [ºC], com arrefecimento forçado ou natural, existe um alívio das tensões residuais instaladas. O arrefecimento de uma estrutura sujeita a um incêndio afecta a sua integridade estrutural, influenciando a sua possível reabilitação. O estudo experimental da encurvadura lateral foi conduido em comprimentos compreendidos entre 1,5 [m] e 4,5 [m] de perfil IPE100, com três ensaios por comprimento. Foi efectuada a caracteriação do material, através de ensaios de tracção, obtendo-se a sua tensão de cedência e módulo de elasticidade. A imperfeição geométrica dos perfis ensaiados foi medida através de um feixe laser, verificando-se a existência de valores relativamente baixos. Os ensaios foram realiados com a aplicação de um carregamento mecânico seguido da acção térmica, simulando de uma forma mais real a situação de incêndio. O carregamento mecânico é composto por uma carga concentrada a meio vão de valor constante e por um carregamento distribuído, de baixa intensidade, relativo ao peso das resistências eléctricas e à manta de isolamento. Para garantir a aplicação da carga concentrada na direcção vertical, foi construído um sistema de balancé, colocando-se a carga de uma forma suspensa. A temperatura na viga segue uma taxa de aquecimento de 800 [ºC/h]. Os valores da temperatura crítica obtidos pelos ensaios são superiores aos preconiados pelo Eurocódigo 3 Parte 1.2. A diferença nos valores deve-se essencialmente a uma distribuição não uniforme da temperatura e aos constrangimentos introduidos pelos apoios, originando um aumento da resistência à encurvadura lateral. A variabilidade dos três ensaios para cada comprimento é aceitável, de valor máximo igual a 4% relativamente ao valor médio, à excepção das vigas de comprimento de encurvadura de 2,0 [m], em que a variação é de 13%. O estudo numérico foi desenvolvido com dois programas de elementos finitos, Anss e SAFIR. A malha de elementos finitos utiliada em ambos os programas foi obtida através de um programa desenvolvido em Fortran que gera a discretiação baseada nas imperfeições geométricas desejadas. Ambos os modelos utiliam as propriedades do aço a temperaturas elevadas definidas no Eurocódigo 3 Parte 1.2. As

Capítulo 6 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 6.4 condições de apoio foram modeladas através de apoios de forquilha em ambas as extremidades e a evolução da temperatura, definida nos elementos, é constante na espessura seguindo uma taxa de aquecimento de 800 [ºC/h]. Nos casos analisados, a consideração de tensões residuais origina uma diminuição da temperatura crítica com o comprimento da viga. Um aumento na amplitude das tensões residuais produ uma diminuição mais elevada da temperatura crítica em vigas de maior comprimento. A temperatura crítica diminui com o aumento do grau de utiliação, sendo aproximadamente constante, para qualquer comprimento de viga, para valores elevados do grau de utiliação. Os distintos diagramas de momentos analisados permitem concluir que, quanto maior for a extensão da viga sujeita ao momento flector máximo, menor é a temperatura crítica. Para o carregamento menos conservativo, flexão uniforme, foram obtidas temperaturas críticas inferiores às preconiadas pelo Eurocódigo 3 Parte 1.2. Análises efectuadas em valores do grau de utiliação entre 10 e 90%, mostram que para vigas com 1,5 [m] de comprimento sujeitas a flexão uniforme, a temperatura crítica é sempre inferior ao valor obtido pelo Eurocódigo 3 Parte 1.2. Os resultados numéricos, da solicitação correspondente ao carregamento experimental, são superiores aos do Eurocódigo 3 Parte 1.2, mas inferiores aos obtidos experimentalmente. O conhecimento do comportamento estrutural de estruturas sujeitas ao fogo, permite a obtenção da temperatura crítica de um elemento sujeita a um carregamento conhecido. A correcta utiliação dos modelos de cálculo permitem constatar a necessidade da protecção ao fogo desses mesmos elementos, de forma a garantir a resistência ao fogo determinada regulamentarmente. 6.3- Perspectivas de desenvolvimentos futuros Embora nos últimos anos tenha existido um grande desenvolvimento no domínio do comportamento estrutural ao fogo, não obstante dos assuntos tratados neste trabalho, ainda é necessário explorar alguns aspectos. Devido à elevada complexidade dos vários parâmetros que influenciam a resistência à encurvadura lateral a temperaturas elevadas, a melhor forma de se obter

Capítulo 6 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 6.5 uma melhor descrição do seu comportamento é a execução de ensaios experimentais à escala real, sendo fundamental a investigação dos seguintes pontos. É necessário o estudo do efeito de diferentes cargas de incêndio presentes nos compartimentos dos edifícios, mais ou menos energéticas, podendo ser analisadas através de diferentes taxas de aquecimento. Influência do efeito da acção do fogo de solicitação parcial no comprimento da viga, assim como o efeito da existência de gradientes térmicos na secção transversal, no valor da temperatura crítica. Os resultados obtidos evidenciam a existência de uma relação entre o comprimento de viga sujeito ao momento máximo e a temperatura crítica, pelo que é essencial realiarem-se mais ensaios com outros carregamentos mecânicos. M M /4 /2 Figura 6.1 - Carregamentos a ensaiar. Dada a importância dos constrangimentos axiais e de rotação nos apoios é relevante a execução de ensaios com outras condições de apoio. É conveniente o estudo de mais perfis, outros aços (S275, S355, S400). Devido à utiliação emergente de aços de alta resistência ao fogo, mostram-se fundamentais ensaios experimentais efectuados para este tipo de aços.