COMPLIANCE NA AMÉRICA LATINA

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Transcrição:

Ano 3 - Nº 9 Março/2015 COMPLIANCE NA AMÉRICA LATINA Uma visão geral dos avanços e desafios da área numa região onde, com frequência, negócios e relacionamentos caminham lado a lado E MAIS: Expectativas x realidade na carreira de compliance / Dá para calcular o impacto da corrupção no balanço? / Uma entrevista com o novo ministro da CGU

PLD GESTÃO Exposição de risco A atuação junto a setores não obrigados, mas expostos aos riscos da lavagem de dinheiro, deve levar mais empresas a enxergar as políticas de PLD com olhos mais atentos no médio e no longo prazo Uma tendência cada vez mais comum entre os órgãos de controle em todo o mundo é o de transferir uma responsabilidade que sempre foi dos Estados para a iniciativa privada: o poder de fiscalizar. E para garantir que essa fiscalização seja efetiva da parte das empresas, os governos em suas diferentes esferas - contam com um poder que é privativo deles: o de criar leis, normas e regulamentos que determinam a responsabilidade legal dos agentes privados de fazer o processo fiscalizatório. Caso a empresa não o faça, ou o faça de qualquer maneira, o Estado pode entender que ela também é responsável pelo crime. Em termos jurídicos, isso é chamado de responsabilidade penal por omissão. Você deixa de fazer alguma coisa que era esperada que você fizesse e por isso pode responder pelo mesmo crime, explica João Daniel Rassi, sócio do escritório Siqueira Castro, de São Paulo. A responsabilidade de fiscalizar certos aspectos dos negócios de parceiros, sejam eles fornecedores ou clientes, não é uma novidade para os profissionais de compliance. Empresas de grande porte já a assumiram há algum tempo e realizam análises e verificações amplas, due diligence e auditorias sob diversos aspectos, e muitas mantêm programas de qualificação. Além da obrigação legal, esses procedimentos ajudam as companhias a mitigar eventuais danos operacionais e reputacionais, caso um desses parceiros seja alvo de uma acusação de corrupção ou de crimes ambientais, por exemplo. No caso das políticas de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD), os bancos são os grandes parceiros dos governos na fiscalização. Por isso, instituições financeiras investem bilhões de dólares todos os anos para manter e ampliar os seus programas de prevenção, melhorando, principalmente, os processos de Know your Customer (Conheça o seu Cliente). Para os bancos, a responsabilidade pela fiscalização e por informar situações de risco envolvendo lavagem às autoridades está sob o império da lei e determinado que eles têm obrigação legal de fazê-lo. O mesmo vale para agentes de outros setores obrigados (pelo COAF, no caso do Brasil) como lojas de artigos de luxo, corretores de imóveis e concessionárias de automóveis que têm a obrigação de comunicar certos tipos de transações que podem ser consideradas suspeitas. Mas se existe algo que, nesse momento, parece ser tão certo quanto a morte é que no médio e no longo prazo a responsabilidade de fiscalizar e conter a lavagem de dinheiro se expanda para outros mercados, obrigando empresas de novos segmentos a olhar com mais atenção para os programas de PLD, principalmente para as políticas de Conheça o seu Cliente. Os reguladores estão olhando a cadeia com uma abordagem siga o dinheiro, disse Micah 46 LEC - LEGAL, ETHICS, COMPLIANCE Nº. 09 - Março / 2015

POSTO DE GASOLINA BANDEIRA BRANCA: no médio e longo prazo, é provável que os distribuidores tenham mais responsabilidade na prevenção à lavagem de dinheiro no setor. Willbrand, diretor global de produtos de PLD da Nice Actimize, em entrevista publicada no AML Compliance: 2015 Update, um estudo publicado pela revista norte-americana Compliance Week e pela consultoria KPMG. Para ele, como o sistema bancário tradicional fez um bom trabalho ao implementar os controles de PLD e mantém os sistemas e controles internos em ordem, os reguladores vão começar a olhar para os pontos mais fracos do sistema financeiro, que cada vez mais conta com a presença de empresas que em nada se parecem com um banco tradicional. Apple e Facebook, por exemplo, fazem transações em dinheiro. Grandes varejistas se converteram em operadores financeiros, recebendo depósitos e fazendo remessas de dinheiro para o exterior. Muitas empresas não financeiras operam seus próprios bancos, ou seja, existe uma miríade de novos negócios que já está sob o olhar mais próximo dos reguladores. Mas o impacto da tendência da responsabilidade penal por omissão não deve se restringir aos novos negócios que, de algum modo, se assemelham com certas atividades realizadas por instituições financeiras clássicas. Na verdade, ela pode alcançar setores da economia que hoje não fazem a menor ideia dos riscos relacionados com a lavagem de dinheiro nos seus negócios. Em setembro de 2014, mais de 1.000 autoridades policiais dos governos federal, estadual e municipal fizeram uma grande investida contra o Fashion District, em Los Angeles, nos Estados Unidos uma região da cidade que reúne milhares de varejistas e atacadistas independentes do ramo da moda - em uma área de cerca de 100 quarteirões. Guardadas as proporções, a região tem uma dinâmica parecida com a de bairros como o Bom Retiro e o Brás, na capital paulista. Ou seja, em nada se assemelham ao que pode ser considerado como varejo de artigos de luxo, por exemplo. Munidos de mandados de busca e apreensão, as autoridades foram para cima de empresas suspeitas de lavagem de dinheiro. Os investigadores encontraram evidências de que muitas empresas aceitaram rotineiramente grandes quantias de dinheiro provenientes de organizações de tráfico de drogas com base no México e na Colômbia. Los Angeles, que se tornou o epicentro para a lavagem do dinheiro da venda de narcóticos e do comércio atacadista de moda setor que negocia grandes volumes com o México -, tem sido utilizada para converter os lucros do crime organizado em mercadorias que podem ser exportadas para o México e vendidas em pesos. As investigações atingiram cerca de metade dos quatro mil estabelecimentos que operam no Fashion District. E nesse meio, é bem provável que parte substancial deles financiou a lavagem de dinheiro de drogas sem o menor conhecimento. NEGÓCIOS MAIS EXPOSTOS O caso de Los Angeles é apenas um exemplo de como o crime organizado está sempre renovando o seu arsenal de ações para branquear o dinheiro proveniente de atividades ilegais valendo-se, muitas vezes, de negócios legítimos operados por terceiros sem conexão ou conhecimento dos criminosos. Isso, somado à tendência dos governos de transferir as responsabilidades de fiscalização para a iniciativa privada, impõe a empresas que operam em diversos segmentos do mercado novos desafios. E aqui não estamos falando das instituições, empresas e profissionais já obrigados a reportar informações para o COAF, aqui no Brasil, ou para os órgãos equivalentes em outros países. Esses são setores, que de um jeito ou de outro, já estão sob a égide da lei e, por isso mesmo, estão conscientes da necessidade de estruturar as práticas de PLD. O que tende a acontecer daqui para frente é um movimento pelo qual as cadeias de negócios envolvidas em segmentos expostos mas ainda não obrigados - serão olhadas mais de perto. E www.lecnews.com.br LEC - LEGAL, ETHICS, COMPLIANCE 47

PLD GESTÃO Ao operar uma pequena rede informal de salões de beleza ou de lojinhas de bairro, ou usar como laranjas revendedoras de empresas de venda direta, organizações criminosas podem lavar um volume razoável de recursos sem chamar a atenção das autoridades. NICOLE, DA ACA COMPLIANCE: maior interesse das empresas para estar dentro da lei também gera atenção para os procedimentos de PLD. nesses casos a responsabilidade de fiscalizar pode cair sobre o elo mais forte da cadeia. Pequenos varejos e atacados de moda, salões de beleza, postos de gasolina, consultoras de venda direta, lavanderias, lava-jatos etc., em geral, são todos pequenos negócios quase sempre no setor de serviços cuja contabilidade pode ser manipulada de maneira mais fácil. São atividades difíceis de controlar, que ainda operam muito com pagamentos em dinheiro ou cheque, o que facilita essa contabilidade criativa. Os restaurantes, por exemplo, que já foram um negócio mais utilizado para lavagem, hoje estão menos expostos porque quase todos os pagamentos são feitos com cartões de débito e crédito, o que dificulta fraudar a contabilidade, diz Nicole Dyskant, sócia da ACA Compliance Group, no Brasil. Ao operar uma pequena rede informal de salões de beleza ou de lojinhas de bairro, ou usar como laranjas revendedoras de empresas de venda direta, organizações criminosas podem lavar um volume razoável de recursos sem chamar a atenção das autoridades. Nesses casos, quando o governo resolver fechar o cerco contra a lavagem de dinheiro nessas cadeias produtivas, é natural que ele vá para cima dos fornecedores desses pequenos negócios. E aí, a coisa muda de figura. Postos de gasolina recebem muito dinheiro em espécie, o que facilita a integração da receita ao negócio, já que, ao contrário das operações com cartões, a Receita Federal não tem como fazer os cruzamentos automaticamente. Dos 40 mil postos de gasolina em operação no Brasil, 40% deles são chamados de bandeira branca, ou seja, são independentes e não operam sob as bandeiras tradicionais do mercado, como Petrobras, Ipiranga ou Ale. Por serem independentes, eles compram combustível do fornecedor que melhor lhes convir. Segundo a ANP agência reguladora do setor de petróleo -, existem 205 distribuidores de combustíveis líquidos. Está claro quem é o elo mais forte para fiscalizar a cadeia? Sim, é muito mais fácil o governo exigir que 200 empresas em sua maioria de grande e médio porte - assumam a responsabilidade de realizar a avaliação dos seus clientes e instituir mecanismos preventivos para comunicar operações pagas em dinheiro vivo, checar se o volume e a frequência com que um determinado posto compra combustível encontram respaldo na realidade do mercado e da região onde este opera e até realizar eventuais diligências locais, que permitam uma verificação real das atividades do posto. Parece muita responsabilidade adicional para uma operação criada para distribuir combustível? E é mesmo. Atualmente, o ponto central será ver nos tribunais até onde vai a responsabilidade por omissão nesses casos. Mas, dado o histórico recente, é plausível que essa responsabilidade seja legalmente transferida para as empresas no médio e no longo prazo. Por isso, empresas que forneçam produtos para segmentos expostos precisam começar a pensar em mecanismos para prevenir que os seus negócios não sejam utilizados para fins escusos. E, caso isso aconteça, que se possa provar aos reguladores que você, ao menos, adotou os procedimentos necessários para tentar mitigá-los. Antes até do aspecto legal, essa precaução também é importante para a reputação da empresa. O segmento de salões de beleza, outro que pode ser enquadrado como exposto, é formado por grandes corporações globais, como a francesa L Oréal, a norte-americana P&G e a alemã Henkel, e também por pequenas indústrias locais. Para todas elas, a confiabilidade da marca é um valor fundamental. Sem nenhum meca- 48 LEC - LEGAL, ETHICS, COMPLIANCE Nº. 09 - Março / 2015

NOVOS RISCOS PARA O NEGÓCIO: empresas de serviço, como os salões de beleza, que movimentam uma boa parcela de negócios em dinheiro vivo, e por isso podem ter sua contabilidade mais facilmente alterada, oferecem novos riscos para as indústrias que vendem para esses negócios. nismo de prevenção, a empresa pode se ver de uma hora para outra como uma financiadora indireta do tráfico de drogas. Ter que dar explicações sobre isso, independentemente de não ter feito nada de errado, certamente não é uma boa publicidade para a marca. As empresas têm de se preocupar, portanto, com uma eventual acusação de conivência ou omissão. De volta aos aspectos legais, ainda que não haja uma lei expressa que exija que empresas operem em setores não obrigados pelo COAF, existem artigos na legislação pelos quais a companhia pode ser responsabilizada caso surjam indícios concretos de que o produto ou serviço vendido não seria utilizado para tal finalidade, mas sim como fachada. A empresa dificilmente vai ser acusada de lavagem de dinheiro, porque ela não tem essa obrigação legal. Porém, pode ser acusada de ter sido conivente, ressalta Nicole. Rassi, do Siqueira Castro, cita um exemplo de um negócio que não é obrigado, mas mesmo assim, está sendo levado a julgamento por omissão. Uma empresa de software de médio porte foi procurada por uma empresa de representação comercial do sul do país que queria que fosse desenvolvido um sistema comercial com recursos que permitissem a construção e a gestão de um caixa dois pelo sistema. Claro que o pedido não foi tão explícito, mas a empresa que vendeu o software tinha elementos para saber que aquilo era caixa dois. A lei não a obrigava a contar. No entanto, numa situação concreta, se ficar demonstrado que existiam elementos ou indícios de que um crime ia ser praticado, poderá haver a implicação. Em última instância, seria preciso ir até lá conferir, mas existe um limite. Essa é uma obrigação que nem o Estado faz. E se pedir informação fiscal, o cliente não tem a obrigação de passar. A empresa vai ter de se certificar de outras formas, olhar para os indícios, diante de certos indícios. Se a quantidade de produtos vendidos para um salão pequeno é a mesma que de um salão grande, isso é um indício que a empresa vai ter de checar. O número de indícios que geram red flags de PLD vai subir. Para a executiva, as empresas estão muito preocupadas com procedimentos de diligência em terceiros e também com corrupção. Porém, com relação à lavagem de dinheiro, ela percebe um interesse mais indireto. As companhias querem estar com os procedimentos redondos, para não serem envolvidas em nenhum tipo de escândalo, e aí entra também lavagem de dinheiro, complementa. A verdade é que cada negócio vai precisar encontrar seus próprios critérios. E ter clareza sobre eles será importante. Como lembra Micah Willbrand, os reguladores raramente multam por uma simples transação. Eles multam porque os processos não funcionam adequadamente ou porque você não tinha nenhum processo, conclui. www.lecnews.com.br LEC - LEGAL, ETHICS, COMPLIANCE 49