Brasil como maior exportador mundial de carne bovina: a contribuição do melhoramento genético

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Transcrição:

Brasil como maior exportador mundial de carne bovina: a contribuição do melhoramento genético Fabiano Rodrigues da Cunha Araujo 1 e Roberto Daniel Sainz 2 1 AVAL Serviços Tecnológicos S/S. Uberaba- MG. www.aval-online.com.br. email:faraujo@aval-online.com.br 2 Professor Titular, University of California, Davis-USA. e-mail: rdsainz@ucdavis.edu Resumo O Brasil conquistou a posição de maior exportador de carne bovina do mundo através de avanços na genética e do manejo, aproveitando revezes nos maiores países concorrentes. A consolidação desse mercado e a conquista de novos mercados irá depender da abilidade da pecuária brasileira de aumentar a sua eficência produtiva, e de melhorar a qualidade do produto. O melhoramento genético deve portanto enfatizar as característcas de eficiência alimentar, precocidade sexual e qualidade de carcaça. Apresentamos alguns dados de campo com gado Nelore mostrando uma correlação positiva entre acabamento de gordura e precocidade sexual, e nenhuma correlação entre o consumo alimentar residual (uma medida de eficiência) e a qualidade da carcaça. Estes resultados, aliados às tecnologias atualmente disponíveis, indicam que o rebanho brasileiro irá apresentar uma evolução genética muito rápida nos próximos anos, contribuindo para manter o Brasil em uma posição de vanguarda no cenário mundial de carne vermelha. Palavras-chave: bovinos de corte, objetivos de seleção, eficiência, precocidade, carcaça Brazil as the biggest world beef exporter: the contribution of genetic improvement Abstract Brazil has conquered the position as the world s greatest beef exporter due to improvements in genetics and management, taking advantage of setbacks in competitor countries. Consolidation of these markets and gaining new markets will depend upon the ability of the Brazilian beef industry to improve its productive efficiency and product quality. Breeding programs should therefore focus on feed efficiency, sexual precocity and carcass quality traits. We present results of on-farm research with Nelore cattle showing a positive correlation between subcutaneous fat and sexual precocity, and no correlation between residual feed intake (a feed efficiency trait) and carcass traits. These results, along with currently available technologies, indicate that the Brazilian cattle herd will undergo rapid genetic progress in the next few years, contributing to keeping Brazil at the forefront of global beef trade. Keywords: beef cattle, breeding objectives, efficiency, precocity, carcass

Introdução A bovinocultura brasileira tem demostrado nos últimos anos o seu grau de evolução, mostrando o profissionalismo e a eficiência de produção, que trazem resultados que nos surpreendem a cada dia. A vocação pecuária com a rápida assimilação de novas tecnologias contribuiram para que o Brasil se tornasse o maior exportador mundial de carne bovina. O Brasil foi responsável pela exportação de 2.420 mil toleladas em equivalente carcaça em 2007, representando mais de 50% do volume mundial e resultando em 4.552 milhões de dólares que trouxeram ótimos resultados à nossa balança comercial. No período de 2000 a 2007 tivemos um crescimento de 579% nas exportações de carne bovina, com um crescimento de 126% do rebanho no mesmo período (CNPC, 2008). Alguns acontecimentos como a seca na Austrália, febre aftosa na Inglaterra e BSE nos Estados Unidos foram fatores que também contribuiram para este cenário. Neste período tivemos a modernização das nossas indústrias, redes de comercialização ampliadas, com mais de 200 países compradores de carne bovina brasileira (ABIEC, 2008). O maior gargalo na ampliação dos mercados de exportação estão relcionados à sanidade animal: ratreabilidade e controle de doenças como a febre aftosa. Além disto, atualmente a indústria brasileira vem sinalizando a necessidade de melhorarmos a qualidade dos animais abatidos e a uniformidade de nosso produto. O desenvolvimento e a transferência de tecnologias aplicadas ao produtor, podem trazer ao Brasil um cenário com maiores possibilidades de agregar valor ao nosso produto e alavancar ainda mais a nossa balança comercial. A chave do sucesso futuro da pecuária brasileira resume-se em uma palavra: eficiência. Eficiência de produção se consegue em logística, processamento, armazenamento e comercialização. É indiscutível a melhora do manejo de nossos rebanhos e dos recursos utilizados na nutrição animal. Sabemos desta contribuição, mas também da importância do componente genético na eficiência de produção e na excelência da qualidade da carne brasileira. Acreditamos na mudança do foco de nossa seleção, onde ainda temos uma valorização predominante do desempenho animal; para uma seleção objetivando a a melhoria das características de carcaça, a precocidade sexual, e a eficiência nutricional. A melhora da qualidade de nosso produto se obtém com a redução de idade ao abate e melhor acabamento. Progresso recente Hoje o criador conta com muitas ferramentas e informações para orientar uma seleção quantitativa. Estas incluem as DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie), seleção massal, modelos para simulação de acasalamentos, marcadores genéticos e etc.. Alguns projetos pecuários já adotam as características de precocidade sexual e características de carcaça como critérios de seleção e já começam a usufruir destes resultados. Durante os últimos anos, aplicando a avaliação por ultra-sonografia em tempo real, já tivemos a avaliação de carcaça de 12.402 animais que através da matriz de parentesco geraram informações genéticas (DEPs) para 764.474 animais das raças Nelore, Guzerá e Brahman (Lôbo et al., 2008). Neste mesmo período também tivemos a avaliação para Probabilidade de Prenhez Precoce (DEP 3P) para 10.742 animais, gerando avaliações genéticas para uma população de 768.484 animais da raça Nelore (Lobo et al., 2008).

O criador tem opções quanto às características a ser enfatizadas no processo de seleção. Com o uso da ultra-sonografia existem desde 2003 DEPs para área de olho de lombo (AOL,cm 2 ), espessura de gordura entre as 12 a -13 a costelas (EG, mm) e espessura de gordura na garupa (EGP8, mm). Desta maneira, é possível enfatizar o rendimento de carcaça e de carne (AOL) ou a acabamento da carcaça (EG, EGP8, ou a média (EGmédia). Visando a futura abertura de mercados mais valorizados (ex. EUA, Japão) alguns criadores já inciaram trabalhos de seleção para marmoreio e até maciez da carne. O conhecimento das interações entre características e sua expressão gênica é de grande importância, porque não é vantagoso selecionar para qualquer característica positiva se esta acarretar conseqüencias negativas. Com este objetivo apresentamos abaixo um estudo sobre as características de precocidade sexual e características de carcaca (musculosidade e acabamento). Neste trabalho foram avaliadas 316 novilhas com idade média de 520 dias. Estas novilhas, oriundas de 24 touros, pertenciam a 10 lotes de manejo que foram expostos a monta natural por 120 dias. Como pode ser constatado na Figura 1, apenas 24% desta novilhas apresentaram prenhez positiva ai final da estação de monta; as novilhas prenhes foram aquelas com maior espessura de gordura. Quando se estodou a relação entre a espessura de gordura e a probabilidade de prenhez precoce, constatou-se que houve um efeito linear entre estas variáveis (Figura 2). Vale a pena ressaltar que estes efeitos são apenas fenotípicos, porém são respaldados por resultados semelhantes já apresentados por Ribeiro (2006) em novilhas da raça nelore expostas ao desafio de precocidade sexual entre 14 e 16 meses de idade. 6.0 Espessura de Gordura Média, mm 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 5.43mm Novilhas Gestantes (85) 4.17mm Novilhas Negativas (270) Figura 1. Associação entre a prenhez aos 17 meses e a espessura de gordura.

100% 90% 80% Probabilidade de Prenhez, % 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 89% 77% 65% 53% 41% 29% 17% 5% 3 4 5 6 7 8 9 10 Espessura de Gordura, mm Figura 2. Associação entre a espessura de gordura e a probabilidade de prenhez aos 17 meses Finalmente, a eficiência nutricional reflete a quantidade de carne que pode ser produzida de uma determinada quantidade de alimento, seja no pasto ou no confinamento. O índice de conversão alimentar, isto é, a razão entre o ganho de peso e o consumo de alimento, não foi aplicado de forma geral para a seleção genética por causa da sua correlação indesejável com o peso adulto. Mais recentemente, a estimativa de consumo alimentar residual (CAR; a diferença entre o consumo observado e aquele esperado para um determinado peso e ganho de peso) tem sido mais aceito para as raças taurinas em países como a Austrália, Estados Unidos e Canadá, porque não possui esta desvantagem. Pela forma de calcular o CAR, valores mais altos estão associados a animais menos eficientes, e os mais baixos (negativos) são mais eficientes (Figura 3). Estudos no Brasil com bovinos da raça Nelore indicam que extiste grande variabilidade genética para esta característica, portanto existe uma oportunidade para melhorar a eficiência da produção desta maneira. Apesar do CAR ser consagrado como uma característica de eficiência, não se pode descuidar dos possíveis efeitos correlacionados. Com este intuito, foram comparados animais de alto e baixo CAR (menos e mais eficientes, respectivamente) quanto à qualidade das suas carcaças. Nesse trabalho, conduzido a campo na fazenda de um criador, os animais de CAR alto e baixo consumiram 11,1 e 8,7 kg/dia de matéria seca, com o mesmo peso e ganho de peso. Neste trabalho preliminar, não houve diferença entre estes grupos quanto ao rendimento de carcaça, AOL, EG ou marmoreio. Serão necessárias mais pesquisas para confirmar esta observação, e também para examinar possíveis efeitos correlacionados com outras características (ex. fertilidade, precocidade).

Figura 3. Relação entre o consumo de matéria seca observado e predito pelo peso e o ganho de peso. Conclusões Em se tratando de melhoramento genético atualmente o Brasil se encontra numa posição priveligiada com um rebanho que nos apresenta uma ótima variabilidade com possibilidades de uma grande pressão de seleção e com disponibilidade de ótimas ferramentas. Hoje o criador conta com muitas informações para orientar uma seleção quantitativa. O melhoramento animal atualmente dispõe de ferramentas, como modelos de predição de DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie), seleção massal, modelos para simulação de acasalamentos, marcadores genéticos e etc., que podem trazer grandes benefícios nos próximos anos. Com a difusão destas tecnologias temos uma expectativa de alcançar nos próximos anos ganhos genéticos muito além daqueles observados em anos anteriores. Acreditamos que nos próximos 12 anos os rebanho brasileiro irá apresentar uma evolução genética que não houve nos últimos 100 anos. O desafio agora não é mais como conduzir o melhoramento, mas sim quais características seriam as mais importantes. Existem fortes argumentos para priorizar a eficiência alimentar, a precocidade sexual, e a qualidade da carcaça. Juntamente com avanços na defesa sanitária, o uso correto das informações irá consolidar o Brasil em uma posição de vanguarda no cenário mundial de carne vermelha, e permitir a conquista de novos mercados de maior valor agregado.

Referências Bibliográficas ABIEC- Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, 2008. Estátisticas do Conselho Nacional da Pecuária de Corte. Disponível em http://www.abiec.com.br/estatisticas.asp. Acessado em: 20/04/2008 Barbosa, V., C. U. Magnabosco, C. U. Faria, R. D. Sainz, F. R. C. Arajo, and R. B. Lôbo. 2005. Implementação da amostragem de Gibbs no estudo da correlação genética entre as características espessura de gordura e perímetro escrotal em tourinhos da raça Nelore. Pages 01-05 in Proceedings 42th Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Goiânia, GO, Brazil. Lobo R.B., Bezerra L.A.F., Faria, C de U., Magnabosco, C. de U., Alburquerque, L.G., Bergmann, J.A.G., Sainz, R.D., Oliveira, H.N. 2008. Avaliação Genética de Touros e Matrizes da Raça Nelore. Ribeirão Preto - SP. 124p ilust.28. ISSN 1981-1705. Ribeiro, B. L. Utilização das informações (DEPs) no processo de Seleção. II Workshop de ultra-sonografia para avaliação de carcaça bovina.1 a 3 de fevereiro de 2006. Uberaba- MG