OS DESAFIOS DO CONTROLE SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS Valdir Anhucci 1 Vera Lúcia Tieko Suguihiro INTRODUÇÃO: A experiência de democracia no Brasil é recente. As conquistas foram realizadas com muitas lutas. Porém, no tempo atual, o país enfrenta grandes dificuldades à medida que demonstra uma fragilidade no trato da coisa pública. A ferramenta da participação e do controle social, compreendido como condição da gestão pública, tem exigido tanto do Estado quanto da sociedade civil à adoção de um novo modelo de relação política. A ampliação do espaço público de participação social tem sua maior expressão na criação de conselhos de direitos, representando as diferentes dimensões da vida social. Para que o espaço do Conselho se consolide enquanto um espaço público de participação e controle social, tanto o conjunto das organizações representativas da sociedade civil, quanto os representantes do poder constituído, deverão contribuir no que se refere à administração pública. A partir de um processo de participação efetiva, podemos avançar nas práticas potencialmente democráticas, de modo a influenciar nas decisões políticas a favor dos interesses da população. Nesta forma renovada de organização social, é de extrema importância que a sociedade se aproxime dos espaços de poder, ocupando os espaços PÚBLICOS de modo legítimo, garantindo que os direitos DOS CIDADÃOS sejam consolidados. A LUTA EMPREENDIDA DEVE SER sempre EM DIREÇÃO DA busca Do interesse de todos, Do bem comum, contrapondo-se ao atendimento de interesses particulares de uma minoria que usufrui Da coisa pública, de forma patrimonialista, como se esta lhe pertencesse. 1 Mestrando em Política Social na Universidade Estadual de Londrina Rua Professor Antônio Graneiro Porta nº 568 Junqueirópolis SP CEP 17.890-000 Telefones: res. (0xx18) 3841-2381, com. (0xx18) 3841-2055, cel. 9101-2382 email: anhucci@yahoo.com.br
OBJETIVOS: O objetivo central deste artigo é a discussão sobre o exercício da participação e do controle social enquanto estratégias utilizadas pelos conselhos para o desenvolvimento de suas atribuições e funções, no âmbito da gestão das políticas públicas de atenção à criança e adolescente. Pretende-se ainda apontar as principais dificuldades e desafios enfrentados pelos gestores sociais, em estabelecer uma relação de autonomia e legitimidade entre o segmento que representa e o poder local, tendo em vista a defesa dos interesses legítimos de seus representados. Além disso, o estudo vai sinalizar as fragilidades na prática do controle social, haja vista, a construção de uma proposta de gestão participativa sobre uma base ainda conservadora, com forte carga burocrática, dificultando a efetiva participação da sociedade organizada. METODOLOGIA: A presente pesquisa adota como referencia metodológica a perspectiva da investigação-intervenção, fundamentada na convicção de que a prática singular dos conselhos é a própria fonte de conhecimento acumulado e espaço vivo de diálogo com a realidade, permitindo que a sua reconstrução seja cada vez mais rica de significados e explicações, mediante a vinculação do pensamento e a ação. O Fórum Regional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, espaço delimitado da realidade empírica investigada, integra 18 municípios da região norte do Paraná, privilegiando o princípio da regionalização. O Fórum constitui-se em um espaço plural e democrático em que favorece aos seus participantes conselhos de direitos e tutelares - a ampliação do horizonte de conhecimento e, ao mesmo tempo, permite o desenvolvimento de ações de natureza crítica de conseqüências sociais e políticas em favor da coletividade. A trajetória da investigação-intervenção foi motivada pela necessidade de desvelar, em que medida, após quinze anos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a participação e o controle social constituem-se mecanismos fundamentais no processo de democratização e mobilização das forças vivas da sociedade para a garantia do debate público das políticas locais. RESULTADOS: A partir deste estudo foi possível constatar que, embora o conselho atenda as exigências constitucionais garantindo a participação e controle social, isto não
tem lhe assegurado à condição para o exercício pleno de suas funções e atribuições. Pode-se destacar a ausência de uma cultura política que possibilitasse um processo efetivo de participação, permitindo influenciar nas tomadas de decisões do poder público, em nome do interesse coletivo. Embora o quadro atual que se desenha sobre o conselho é de um órgão com capacidade de estabelecer uma nova relação entre Estado e sociedade civil relação de compartilhar o poder -, ainda o conselho não conseguiu se desvencilhar das práticas autoritárias, por parte daqueles que detém o poder, colocandose numa relação de subordinação ao poder constituído. O que se depara no cotidiano dos conselhos são posturas extremamente autoritária, patrimonialista, clientelista, que impede o processo de democratização da coisa pública. É preciso, como diz Benevides, (2000) uma verdadeira educação para Democracia, possibilitando o cidadão a participar ativamente das decisões que são de seu interesse. Constatou-se, ainda, que a maioria dos conselhos está alheia aos processos de decisões políticas, privilegiando ações de caráter pontual e emergencial, em detrimento de atitudes propositiva, que alteraria o futuro do segmento que representa. É ainda estranho para a população o fato de deter o direito de estabelecer uma relação com o poder público, de modo a conduzir com ele a gestão da coisa pública. O que se percebe por traz deste estranhamento ou da não compreensão da real dimensão do significado da gestão pública, é a prevalência da relação vertical e hierarquizada entre o poder público e a sociedade, e a descrença na capacidade da população em tomar decisões sobre aquilo que é de seu interesse. CONCLUSÕES: São imensos os desafios que se têm em motivar e criar uma nova cultura capaz de conduzir a população brasileira a enxergar as possibilidades de mudança, na condução da coisa pública, através de sua participação e efetivo controle social. Benevides (2000), chama a atenção para a enorme necessidade daquilo que define como educação para a democracia, sendo esta, um movimento educacional no sentido político, que possa enfrentar o descrédito, o desinteresse, o egoísmo político e o desencanto com a própria idéia de democracia.
É preciso acreditar que o exercício de uma participação concreta e a efetivação do controle social sobre aquilo que é público, isto implicará em resgatar os valores éticos fundamentais como liberdade, respeito, dignidade, justiça, equidade, de modo a alavancar o sentimento e a esperança da população, hoje em estado de letargia, de enfrentar com indignação, com capacidade e com coragem, o desejo de lutar em prol dos interesses gerais da coletividade. Para Hannah Arendet, o poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para cria relações e novas realidade (Arendt, 1991: 212) O desafio está na capacidade dos conselheiros ampliar os horizontes do conhecimento político, ético, teórico, operativo, ou seja, sejam capazes de redimensionar as práticas coletivas, valorizando o cotidiano, descobrindo suas diferenças e os diferentes encontrando sua igualdade. O importante é que seja possível estabelecer uma verdadeira democracia, de modo a permitir a todos os cidadãos, a efetivação dos direitos que lhes são garantidos na Constituição Federal de 1988. REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS: ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. BENEVIDES, M. V. Entrevista realizada por Silvio Caccia Bava, diretor da ABONG, janeiro de 2000. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. Introdução e parte I, p. 1-66. CASTEL, Robert. A nova questão social. In:. Metamorfose da questão social. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. cap. 8, p. 495-559.
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