SELEÇÃO DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS AUTÓCTONES DE VINHOS DA SERRA GAÚCHA

Documentos relacionados
INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE AERAÇÃO DO PRÉ- INÓCULO UTILIZADO NO CULTIVO DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) EM MEIO LÍQUIDO

CARACTERÍSTICAS ANALÍTICAS DE VINHOS BRANCOS DAS VARIEDADES ARINTO E FERNÃO PIRES ELABORADOS NO NORDESTE BRASILEIRO

Bolsista, Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, 2

acompanhamento científico

ANTAGONISMO IN VITRO DE BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS CONTRA FUNGOS ASSOCIADOS À DOENÇAS DE TRONCO DE VIDEIRA

DO BRASIL. CATÁLOGO DE PRODUTOS vinhos & espumantes

Porque deve efetuar análises ao seu vinho?

CAPÍTULO III EVOLUÇÃO DA VITICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL: 1996 A 2015

Módulo 8 Enografia Nacional

POTENCIAL PROBIÓTICO IN VITRO DE BACTÉRIAS E LEVEDURAS ISOLADAS DE BEBIDA ÁLCOOL-ÁCIDA DE MURICI FERMENTADA COM GRÃOS KEFIR

Ciência para Vida - Curso de Degustação Embrapa

PODA ANTECIPADA DA VIDEIRA ENG. AGRÔNOMO E TECNÓLOGO EM VITICULTURA E ENOLOGIA: PAULO ADOLFO TESSER

EFEITO DA TEMPERATURA E DO FOTOPERÍODO NA GERMINAÇÃO in vitro DE CONÍDIOS DE Aspergillus niger, AGENTE ETIOLÓGICO DO MOFO PRETO DA CEBOLA

Caracterização Físico-Química de Vinhos Brancos Elaborados na Região do Submédio do Vale do São Francisco, Brasil

OCORRÊNCIA DE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS EM MUDAS DE VIDEIRAS DA SERRA GAÚCHA

ESTUDOS ENOLÓGICOS Adega Experimental da EVAG 2006 António Luís Cerdeira / Maria José Pereira

DENOMINAÇÃO DE ORIGEM VALE DOS VINHEDOS. André Larentis Diretor Técnico

Comunicado Nº51 Técnico

CARACTERIZAÇÃO DAS BACTÉRIAS ÁCIDO LÁCTICAS ISOLADAS DE QUEIJO COALHO ARTESANAL DA PARAIBA, NORDESTE, BRASIL.

Vanessa de Souza OLIVEIRA (1); Adonilde Marta MARTINS (1); Bruna Carla Reis DINIZ (1); Alexandre Ferreira dos SANTOS (2)

Comparação Físico-Química de Vinhos da Variedade Syrah (Vitis vinifera L.) Elaborados em Dois Ciclos no Mesmo Ano, em Região Semiarida Tropical

TÉCNICAS DE SEMEADURA E ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS

DIVERSIDADE DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS DE QUEIJO DE COALHO ARTESANAL DA REGIÃO DO JAGUARIBE, CE


Tipos de Vinho e Métodos de Vinificação

ENSAIOS PRELIMINARES PARA ELABORAÇÃO DE VINAGRE TIPO BALSÂMICO DE CAQUI (Diospyros kaki L)

Herdade da Figueirinha

LEVEDURAS CHALLENGE. São 3 as características que distinguem a gama de leveduras Challenge:

Perspectivas em vitivinicultura

A C I D E Z V O L Á T I L EM V I N H O S O PROBLEMA

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

Palavras-chave: Vitivinicultura; Desenvolvimento Econômico; Vinhos de qualidade.

CAPÍTULO III EVOLUÇÃO DA VITICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL: 1995 A 2012

ATIVIDADE ANTAGONISTA DE BACTÉRIAS LÁCTICAS DE LEITES FERMENTADOS COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA, MG

ELABORAÇÃO DE VINHOS

QUALIDADE RECONHECIDA

TÍTULO: APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE MICROBIOLOGIA PREDITIVA EM PATÊ DE PEITO DE PERU PARA BACTÉRIAS LÁTICAS

EFEITO COMBINADO DE CONDIÇÕES ALTERADAS DURANTE A FERMENTAÇÃO SOBRE A ATIVIDADE DE INVERTASE DE LEVEDURA ENOLÓGICA COMERCIAL

Comunicado 76 Técnico

LEVANTAMENTO DA CURVA DE CRESCIMENTO DA BACTÉRIA M. PHLEI PARA OBTENÇÃO DE BIOMASSA EM ENSAIOS DE SEPARAÇÃO SÓLIDO-LÍQUIDO

Resumo. 303 Produção e Características Físico-Químicas de Uvas sem Sementes...

Palavras-chave: Vitis vinifera L, Vinhos tropicais, Maceração.

ELABORAÇÃO DE TALHARIM A BASE DE FARINHA DE FEIJÃO COMO FONTE ALTERNATIVA DE FERRO

ENSAIOS 2007 Adega Experimental da EVAG. António Luís Cerdeira Maria José Pereira

EFEITO DE DIFERENTES FORMAS DE PREPARO DO INÓCULO E DE CONCENTRAÇÕES DOS NUTRIENTES NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae UFPEDA 1238

Sparkling 750ml BRASIL MEIAS GARRAFAS E BABYS IMPORTADOS. Salton Brut R$ 49,00

VARIABILIDADE ANALÍTICA DA EXTRAÇÃO DE POTÁSSIO POR MEHLICH 1 DOS SOLOS 1

CAPÍTULO I DADOS CADASTRAIS DA VITICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL: 2013 A 2015

Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Prof Luís Roberto Batista - UFLA

Variedades e sistemas de produção da viticultura para vinho da região do Vale do Submédio São Francisco

A Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos. Rogério Carlos Valduga Presidente Aprovale - Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos

GEORREFERENCIAMENTO DA ÁREA DE REFERÊNCIA DA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA REGIÃO DE MONTE BELO

Mauro Zanus e Giuliano Pereira Pesquisador Enologia Embrapa Uva e Vinho e

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLOGICA DE BENTO GONÇALVES

Comunicado137. Técnico. Vitivinicultura Brasileira: Panorama Loiva Maria Ribeiro de Mello 1. Introdução. Produção de uvas

Palavras-Chave: Moscatel; Vitivinicultura; Comercialização; Mercado vitivinícola.

Caracterização física e físico-química da uva Merlot

VINHOS DECIMA A PAIXÃO PELA ENOLOGIA

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO SUCO DE UVA DA CULTIVAR ISABEL NA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO PARA AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE COMERCIALIZAÇÃO

tel: fax:

PESQUISA EM: ANDAMENTO

Tecnologia de Bebidas Fermentadas. Thiago Rocha dos Santos Mathias

PQ04 Página 1/12 Plano de Realização de Ensaios

Influência do sistema de condução e porta enxerto sob a qualidade do vinho Syrah produzidos no Submédio do Vale do São Francisco na 1º safra do ano.

Introdução. O vinho, talvez tenha sido descoberto por acaso...

INVESTIGAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INICIAL DE INÓCULO NO CRESCIMENTO CELULAR DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE PÊSSEGO EM FUNÇÃO DO SISTEMA DE CONDUÇÃO E DOSES DE FERTILIZANTES VIA FERTIRRIGAÇÃO NA SERRA GAÚCHA

CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA GEOMORFOLOGIA DA VITICULTURA NA ÁREA GEOGRÁFICA DELIMITADA DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA PINTO BANDEIRA

Influência do uso de chips de carvalho no conteúdo de compostos fenólicos e coloração do vinho tropical cv. Syrah

LINHA - HABITAT. Comercializado em caixas de 6 unidades. Comercializado em caixas de 6 unidades.

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE MICRORGANISMOS EM DERIVADOS LÁCTEOS PROBIÓTICOS COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE CURRAIS NOVOS/RN

77 mil hectares hemisfério sul desde latitude 30 o até latitude 5 º Regiões Temperadas (repouso hibernal) Regiões Subtropicais (dois ciclos anuais)

Panorama vitivinícola do Brasil. Eng. Agr. Mauro Zanus Chefe-Geral Embrapa Uva e Vinho

NOTA TÉCNICA ACIDEZ VOLÁTIL VINHOS DOP PORTO 2013 / 2018

Plano de Intervenção

Avaliação de vinhos da cultivar Cabernet Sauvignon clone 15 em função de dois porta-enxertos no Nordeste do Brasil

CABEÇO DA PEDRA VINHO TINTO 2007

ENCOSTA DO SOBRAL VINHO BRANCO

Tecnologia de Alimentos Fermentados. Mestrado em Engenharia Alimentar

Andrielen Tamiris Canossa 1, Juliana Reinehr 2, Betina Pereira de Bem 3, Ricardo Allenbandt 4, Douglas André Wurz 5, Aike Anneliese Kretzchmar 6

QUANTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS EM AMOSTRAS DE QUEIJOS COLONIAIS PRODUZIDOS PELA AGOINDUSTRIA FAMILIAR DA REGIÃO DE TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

TRANSFORMAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE ENERGIA PELOS SERES VIVOS

Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul Lei nº /2012 de 03 de julho de 2012.

VALIDADE. Se armazenado conforme recomendações, o produto tem uma validade de 24 meses.

INFLUÊNCIA DO PORTA-ENXERTO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE VINHOS TINTOS TROPICAIS CV. ALICANTE BOUSCHET

Aula Prática. - Preparo de meio de cultivo. - Influência da temperatura no crescimento de microrganismos

DERIVADOS DA UVA Período: janeiro a dezembro de 2013

INTRODUÇÃO. Leites Fermentados LEITES FERMENTADOS. Leites Fermentados. Leites Fermentados 30/07/2014

VALIDADE. Se armazenado conforme recomendações, o produto tem uma validade de 24 meses.

PROSPECÇÃO DE BACTÉRIAS E LEVEDURAS LIPOLÍTICAS DO ESTADO DO TOCANTINS PROMISSORAS EM APLICAÇÕES INDUSTRIAIS

Evolução das características físico-químicas de vinhos Syrah no Submédio do Vale

INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE VINHAÇA NA POPULAÇÃO MICROBIANA DO SOLO

Incentivos e restrições ao empreendedorismo no turismo rural: uma análise institucional

OS FATORES NATURAIS E A VITIVINICULTURA

Efeito do ácido tartárico nos valores de potássio, acidez titulável e ph durante a vinificação de uvas Cabernet Sauvignon

Transcrição:

SELEÇÃO DE BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS AUTÓCTONES DE VINHOS DA SERRA GAÚCHA FENSTERSEIFER, L.C. 1 ; MIOTTO, S.P.S. 2 ; ROSSATO, S.B. 3 ; VALDUGA, E. 4 ; CANSIAN, R.L. 5.; FICAGNA, E 6. RESUMO Para a produção de vinhos tintos, além da fermentação alcoólica também é realizada a fermentação malolática, uma descarboxilação que permite reduzir a acidez e elevar a qualidade sensorial. No Brasil, as vinícolas de grande porte realizam a mesma com o uso de bactérias selecionadas, isoladas principalmente na Itália e França. Diante disto, decidiu-se investigar quais bactérias autóctones do Brasil participam deste processo e quais delas possam estar melhor adaptadas a ele. Foi realizado o isolamento das mesmas a partir de vinhos tintos e após isto testou-se seu potencial fermentativo. Dos 13 isolados obtidos de 6 amostras de vinhos, 11 apresentaram características de potencial enológico. Os métodos aplicados neste estudo permitiram isolar e testar o potencial fermentativo de bactérias ácido láticas autóctones. PALAVRAS-CHAVE: Fermentação malolática, adaptação ecológica, bactérias láticas, vinhos tintos. 1 INTRODUÇÃO A produção de uvas no Brasil encontra-se principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (PROTAS et al., 2002). O RS é responsável por uma produção de 791.845 toneladas, correspondente a 57% da produção nacional (IBGE, 2011). Apesar desse grande 1 Estudante, Curso Tecnologia em Viticultura e Enologia, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-206, Bento Gonçalves, RS, leticia.fens@gmail.com 2 Bióloga, Mestre, Técnica Laboratório, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-206, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200, paula.miotto@bento.ifrs.edu.br 3 Farmacêutica, Profª Doutora, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-206, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200, simone.rossato@bento.ifrs.edu.br 4 Eng. Química, Profª Doutora, URI campus Erechim, Av. 7 de setembro, 1621, CEP 99709-710, Erechim, RS. Fone (54) 3520-9000, veunice@uricer.edu.br 5 Eng.º Agrônomo, Prof. Doutor, URI campus Erechim, Av. 7 de setembro, 1621, CEP 99709-710, Erechim, RS. Fone (54) 3520-9000, cansian@uricer.edu.br 5 Orientador, Eng.º Agrônomo, Prof. Doutor, IFRS Campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-206, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200, evandro.ficagna@bento.ifrs.edu.br

volume de uvas, a produção de vinhos finos é relativamente recente no Brasil, entretanto, o interesse por essa atividade tem se intensificado nos últimos anos (BINATI, 2015). Dentro deste contexto, a região que mais se destaca no país é a Serra Gaúcha, pois apresenta sazonalidade adequada para a produção de uvas viníferas. Após a obtenção do mosto, são adicionadas leveduras comerciais dando início a fermentação alcoólica (FA). Ao final desta, geralmente os vinhos tintos são conduzidos a Fermentação Malolática (FML) realizada por bactérias ácido láticas (BAL), principalmente dos gêneros Oenococcus e Lactobacillus, que atuam na descarboxilação do ácido málico em ácido lático, culminando na redução na acidez total do vinho, aumento do ph, estabilização microbiológica e produção de compostos relacionados ao aroma e sabor do produto final (BINATI, 2015). As pequenas vinícolas da região costumam deixar que o processo de FML inicie espontaneamente após a FA, o que não permite que haja controle do processo. As bactérias utilizadas nas grandes vinícolas são importadas da Itália e da França, possuindo custo elevado. Assim, o objetivo deste trabalho foi isolar BAL de amostras de vinhos e estudar seu potencial para utilização como culturas iniciadoras a fim de promover a fermentação malolática em vinhos finos tintos. 2 MATERIAL E MÉTODOS Foram obtidas amostras de vinhos tintos após FA de vinícolas da região da Serra Gaúcha das variedades Merlot e Cabernet Sauvignon, safra 2015, e Pinot Noir, safra 2016. Os volumes (500 ml). Após, as amostras foram levadas ao Laboratório de Microbiologia do IFRS para realização dos ensaios. Foram realizadas as análises físico-químicas de acordo com protocolo da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV, 2016) ph, grau alcoólico, acidez total e acidez volátil. Procedeu-se o isolamento transferindo-se 100 ml das amostras para erlenmeyers estéreis, que foram incubados a 18ºC durante 48 horas para adensar a microbiota existente. Na sequência, foi realizada semeadura em superfície em ágar Man Rogosa Sharpe (MRS), com o auxílio de Alça de Drigalski, para crescimento e seleção das colônias típicas de BAL. As colônias com características desejáveis foram repicadas com alça de platina para ágar MRS e, após crescimento, uma alçada foi cultivada em tubos contendo 10 ml de Vinho Sintético (VS) (4g L -1 extrato levedura; 2g L -1 glicerol; 6g L -1 D-L ácido málico; 10% etanol absoluto

v/v) com ph inicial de 3,5 conforme Solieri et al. (2009). A análise foi feita em triplicata. As amostras foram acondicionadas em agitador orbital com 20 rpm e temperatura de 18ºC durante 48 horas, quando verificou-se a turvação do meio. O crescimento de biomassa foi avaliado com leitura em espectrofotômetro UV-VIS a 660 nm após sete dias da incubação. Para confirmação do isolamento das BAL, as seguintes características foram analisadas: tamanho, cor, forma, bordas, elevação, superfície, consistência, transparência e brilho. Normalmente espera-se que, sob as mesmas condições de temperatura, ph e composição do meio de cultivo, as bactérias formem colônias de aspecto constante e que possam fornecer informações adicionais para sua identificação (BINATI, 2015). Além disso, os isolados foram submetidos à coloração diferencial de Gram, utilizando-se para isso culturas novas crescidas em placas com meio MRS. O protocolo para a coloração foi seguido de acordo com o descrito por Solieri et al. (2009). Os resultados foram avaliados por análise de variância (ANOVA) ao nível de 1% de probabilidade seguida de teste de Tukey (p<0,05) por meio do software Assistat (SILVA, 2014). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Das seis amostras iniciais dos vinhos, foi possível o isolamento de 13 colônias puras, sendo que 11 delas apresentaram características morfológicas compatíveis com as esperadas para BAL: cor branca, forma circular puntiforme, bordas e superfícies lisas, consistência cremosa e aparência brilhante, resultados similares aos encontrados por Binati (2015) e Solieri et al. (2009). Entretanto, a amostra de C. sauvignon proveniente do distrito de Tuiuty apresentou também um grupo de leveduras. Isto pode ser explicado pelo fato de que a amostra foi coletada em final de FA, ou seja, existe a possibilidade de que algumas leveduras remanescentes ainda estivessem vivas. Já na amostra de Pinot noir (Vale dos Vinhedos), foi possível identificar dois grupos de colônia com cores distintas, sendo um de cor branca e outro de cor levemente amarelada. Quando realizada a microscopia óptica e o teste para coloração de Gram, todos os isolados se comportaram como bactérias Gram positivas, apresentando formato de pequenos cocos arranjados em cadeia, o que, segundo Binati (2015), é esperado para BAL do gênero Oenococcus. Os isolados selecionados tiveram seu desempenho avaliado em meio líquido (VS). Na Figura 2, onde são apresentados os resultados referentes ao crescimento, é possível perceber

que todos os isolados conseguiram desenvolver a biomassa, sendo que os que apresentaram os menores desempenhos foram CStuiuty3-15 (levedura) e PNvale1-16 (colônia amarela), e o melhor desempenho foi observado no MEtuity2-15. Os demais isolados comportaram-se de maneira similar. 4 CONCLUSÕES As técnicas empregadas permitiram o crescimento e isolamento de BAL de vinhos da serra gaúcha na FML espontânea em vinho sintético, podendo inferir-se que as mesmas possuem potencial para aplicação enológica. 6 REFERÊNCIAS BINATI, R.L. Avaliação da fermentação maloláctica em vinhos de altitude com bactérias ácido-lácticas autóctones selecionadas. 2015, 111 p. Dissertação UFSC, Florianópolis. IBGE, 2011. Sistema de recuperação automática. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/agric/default.asp. Acesso: 5 mai. 2016. INTERNARIONAL ORGANIZATION OF VINE AND WINE, 2016. Compendium of International Methods of Analysis of Wines and Musts. Edition 2016. Disponível em: http://www.oiv.int/en/technical-standards-and-documents/methods-analysis/compendiuminternational-methods-analysis-wines-and-musts-2-vol. Acesso em 20 de agosto de 2016. PAN, C.S.; LEE, T. H.; FLEET, G. H. A comparison of five media for the isolation of lactic acid bacteria from wines. Australian Grapegrower and Winemaker, 1982, v. 220. PROTAS, J.F., CAMARGO, U.A., MELLO, L.M.R., 2002. A Vitivinicultura Brasileira: Realidade E Perspectivas. Em: Simpósio Mineiro de Viticultura E Enologia, Andradas. SILVA, F.A.S. ASSISTAT: Versão 7.7 beta. DEAG-CTRN-UFGG. Disponível em http://www.assistat.com/. Acessado em: 15 de agosto de 2016. SOLIERI, L., GENOVA, F., DE PAOLA, M., GIUDUCI, P., 2009. Characterization and technological properties of Oenococcus oeni strains from wine spontaneous malolactic fermentations: a framework for selection of new starter cultures. Journal of applied microbiology, v. 108, p. 285 298.

WIBOWO, D.; ESCHENBRUNCH, R.; DAVIS, C.; FLEET, G., LEE, T. Occurrence and growth of lactic acid bacteria in wine: Review. American Journal of Enology and Viticulture, v. 36, 1985.