Hematuria. Margarida Abranches

Documentos relacionados
Hematúria 1. DEFINIÇÕES 2. ETIOLOGIA. Revisão. Aprovação. Elaboração Joana Campos Dina Cirino Clara Gomes A Jorge Correia Data: Maio 2007

Diagnóstico Diferencial das Síndromes Glomerulares. Dra. Roberta M. Lima Sobral

Prof. Ms. Elton Pallone de Oliveira. Exames laboratoriais: definição, tipos, indicação, cuidados pré e pós exame. Urinálise

Avaliação e Distúrbios Renais e Urinários

Avaliação e Distúrbios Renais e Urinários

Etiologia: Etiologia:

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Glomerulonefrite pós infecciosa

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor pelo autor

HEMATÚRIA HEMATÚRIA, HEMATÚRIA MACROSCÓPICA, HEMATÚRIA MICROSCÓPICA.

INTRODUÇÃO À BASES DIAGNÓSTICAS. Profa Sandra Zeitoun Aula 1

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL

Proteinúrias Hereditárias: Nefropatia Finlandesa e. Esclerose Mesangial Difusa

3/6/ 2014 Manuela Cerqueira

Vai estudar doenças glomerulares? Não se esqueça do elefantinho!

GLOMERULOPATIAS. 5º ano médico. André Balbi

Hematúria Recorrente Como Conduzir

11º Imagem da Semana: Ultrassonografia dos rins e vias urinárias

Clique para editar o título mestre

Exames complementares em nefrologia pediátrica: Interpretação e conduta

Métodos de avaliação da função renal

Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Síndromes Nefrológicas. Síndrome infecciosa: Infecciosa

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

Seminário de Biopatologia. Glomerulonefrites. Leccionada por: Prof. Clara Sambade Desgravada por: Pedro Carvalho e Petra Gouveia

Síndrome Renal Hematúrico/Proteinúrica Idiopática Primária. (Nefropatia por IgA [Doença de Berger])

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor.

Exames Físicos da Urina. Professora Melissa Kayser

Glomerulonefrites Secundárias

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

RESIDENCIA MÉDICA UFRJ

Material para Colheita

QUESTÕES COMENTADAS INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA

Transtornos de importância clínica no sistema urinário dos ruminantes

Consensus Statement on Management of Steroid Sensitive Nephrotic Syndrome

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria

Úlceras de Perna. Definição Epidemiologia Etiologia Manifestações Clínicas Diagnóstico Diferencial Tratamento 2015 ENF.

Insuficiência Renal Aguda no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Edna Solange Assis João Paulo Coelho Simone Chinwa Lo

ENFERMAGEM PROCESSO DE ENFERMAGEM E SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM. EXAME FÍSICO Aula 10 Profª. Tatiane da Silva Campos

PRINCIPAIS SÍNDROMES EM NEFROLOGIA

D I S C I P L I N A D E S E M I O L O G I A U N I V E R S I D A D E D E M O G I D A S C R U Z E S FA C U L D A D E D E M E D I C I N A

ANEXO II CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EDITAL Nº. 17 DE 24 DE AGOSTO DE 2017

UrináliseSedimentoscopia

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Introdução. *Susceptibilidade. * Unidade funcional e morfológica: néfron - glomérulo ( parte vascular) - túbulo ( parte epitelial) TÚBULO PROXIMAL

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor.

Questionário - Proficiência Clínica

Caso Clínico #2 Data da primeira consulta: 24/07/2015

AB0 HLA-A HLA-B HLA-DR Paciente A 1,11 8,35 3,11 Pai O 1,2 8,44 3,15 Irmão 1 B 1,11 8,35 3,11 Irmão 2 O 2,24 44,51 8,15

AVC EM IDADE PEDIÁTRICA. Fernando Alves Silva

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA EM GATOS

Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulonefrites Bacterianas

REUNIÃO CLÍNICA REUMAT REUMA OLOGIA T MARIANA B ITTA BITT R AR LOPES LOPES R3 REUMATOLOGIA PUCC

Identificação:SBR, 48 anos, feminino, parda, casada, funcionária administrativa, natural de Campos dos Goytacazes.

BELISSA FERNANDES PERES HEMATÚRIA: TIPOS, ANÁLISE, VALOR DIAGNÓSTICO

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO NEFROLOGIA PEDIÁTRICA

URI: / DOI: / _34

HEMOGRAMA JOELMO CORREA RODRIGUES HAILTON BOING JR.

Caso Clínico 5. Inês Burmester Interna 1º ano Medicina Interna Hospital de Braga

Prochnow & Gonçalves. Hematúria

Vasculite sistémica primária juvenil rara

Bárbara Ximenes Braz

TALASSEMIAS ALFA NA POPULAÇÃO EM DEMANDA DO LABORATÓRIO MONTE AZUL NA CIDADE DE MONTE AZUL-SP

Módulo 1 ABORDAGEM E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NO DOENTE COM LITÍASE RENAL AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA CÓLICA RENAL 3 OBSERVAÇÃO 4 OPÇÕES TERAPÊUTICAS

Utilidade do Exame de Urina como ferramenta diagnóstica

Edema OBJECTIVOS. Definir edema. Compreender os principais mecanismos de formação do edema. Compreender a abordagem clínica do edema

- Escreva o seu primeiro e último nome com letras maiúsculas na primeira folha.

OSTEOMIELITE CRÓNICA EM LACTENTE

CURSO DE INVERNO NEFROLOGIA. Secção de Nefrologia da SPP

QUESTÕES NEFROLOGIA 2ª UNIDADE Assinale a alternativa correta em relação ao transplante renal.

EXAME 2018 PRÉ-REQUISITO: NEFROLOGIA. Instruções

HEMOGRAMA HERMES ARTUR KLANN PAULO ROBERTO WEBSTER

Caso Clínico #3. Identificação: JHM, 18 anos, sexo masculino, estudante, natural e procedente de São Paulo/SP

Hematoma intramural não traumático do trato gastrointestinal

Dia Mundial do Rim 2019

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

Aulas e discussão dos casos.

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA ENTRE HOMENS E MULHERES NO MUNICÍPIO DE AGUAÍ EM PACIENTES QUE UTILIZAM O SUS

HOSPITAL PEDIÁTRICO DAVID BERNARDINO

Lúpus Eritematoso Sistêmico - sinais e sintomas

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor.

GESF no Transplante. Introdução

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANSMISSIVEIS. Doenças Renais Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Citologia Clínica. Exame qualitativo da urina. Exame de urina de rotina. Profa. MsC Priscila P. S. dos Santos

PRÉ-REQUISITO R3 TRANSPLANTE RENAL / NEFRO (309)

A ÉDIC A M IC LOGIA CLÍN CSI NEFRO

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

Artrite Idiopática Juvenil

parte 1 estratégia básica e introdução à patologia... 27

Seminário Grandes Síndromes ICTERÍCIA

Hematúria microscópica: abordagem no âmbito dos cuidados de saúde primários

1/100 RP Universidade de São Paulo 1/1 INSTRUÇÕES PROCESSO SELETIVO PARA INÍCIO EM ª FASE: GRUPO 5: VETERINÁRIA

Registo Nacional de crianças com IRC em tratamento conservador. Secção de Nefrologia Pediátrica da S.P.P Helena Pinto

PREVALÊNCIA DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM PACIENTES DIABETICOS EM UM LABORATORIO CLÍNICO EM CAMPINA GRANDE

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

Glomerulonefrite Crescêntica

HEMOGRAMA JEANI LANA FERNANDO ALVES SCHLUP

Transcrição:

Curso inverno 2012

Hematuria Margarida Abranches

Introdução Definição Presença de >5 GV por campo em 3 de 3 amostras consecutivas de urina centrifugada, com intervalo de uma semana Classificação Macroscópica / Microscópica Sintomática / Assintomática Persistente / Transitória Isolada/ Associada outros elementos Proteinúria Alts da urina: coágulos,turvação, areias Alts aparelho urinário: cálculos, hidronefose Dça sistémica: rash, artrite

Hematuria Confirmar a presença de Hematuria Identificar possiveis etiologias Seleccionar situações para investigação

Dipstick + para sangue Drogas e tóxicos 1 2 3 Hemoglobinuria Monoxido de carbono Naftalina Sulfamidas Chumbo Meticilina Ticlopidina Mioglobinuria Hematuria Amitriptilina Anticoagulantes Aspirina Clorpromazina Ciclofosfamida Ritonavir, indinovir Mioglobinuria

Dipstick + para sangue Drogas e tóxicos 1 2 3 Hematuria Amitriptilina Anticoagulantes Aspirina Clorpromazina Ciclofosfamida Ritonavir, indinovir Hemoglobinuria Monoxido de carbono Naftalina Sulfamidas Chumbo Meticilina Ticlopidina Mioglobinuria

Dipstick + para sangue Drogas e tóxicos 1 2 3 1 2 3

Fisiopatologia Patologia glomerular Alteração da integridade da membrana basal glomerular por processo inflamatório ou imunológico Quimicos Alteração da integridade tubular renal por processos tóxicos Cálculos Alteração da integridade da mucosa do trato urinário por processo de erosão mecânica

Epidemiologia H. microscópica 3-6% (10x mais frequente) Transitória (avaliações repetidas prevalência baixa para 0,5%) H. macroscópica 0,13% 56% causa identificável 20-25% cistite Hematuria + proteinuria 0,06% Potencial dça renal significativa

Epidemiologia Morbilidade e mortalidade Depende patologia de base Raça Raça branca (hipercalciuria idiopática) Raça negra (drepanocitose) Sexo Sexo feminino (LES) Sexo masculino (Dça Alport) Idade Idade pré-escolar (T. Wilms) Idade escolar (GN pós infecciosa)

Anamnese H. familiar: dça Alport, dça colagéneo, dça renal poliquistica, litiase Aspecto da urina: cor, turvação, espuma, coágulos Dor indica causa não glomerular. Febre e queixas urinárias indicam ITU Edema palpebral, oliguria, urina cor de chá, indolor, precedidos de inf resp ou cutânea indicam causa glomerular. Rash cutâneo e artrite indicam vasculite Não esquecer: actividade fisica, menstruação, algaliação, ingesta de drogas ou tóxicos.

Exame fisico Avaliar tensão arterial Edema (palpebral, tibial)

Exame fisico Pele: purpura HS, LES Abdomen: T. Wilms, hidronefrose Observação genitais externos: vulvovaginite, lesão meato.

Hematuria glomerular Factor Glomerular Não Glomerular Cor Turva, chá, cocacola, vinho porto Vermelha, rosa Morfologia GV Dismórficos >30% Normais Cilindros Eritrocitos, leuc Não Coágulos Não Sim Proteinuria 2+ <2+

Hematuria glomerular Acantocitos > 5%

Hematuria não glomerular Agentes Endógenos Alimentos Drogas Bilirrubina Amoras Clorpromazina Hemoglobina Beterraba Cloroquina Mioglobina Corantes alimentares Fenitoina Porfirina Favas Fenolftaleina Mirtilos Paprika Ruibarbo Desferoxamina Metildopa Metronidazol Nitrofurantoina Rifampicina Sulfamidas

Hematuria não glomerular Cor da urina Amarelo escuro ou laranja Urina concentrada Rifampicina Castanho escuro ou azul Metehemeglobinuria Pigmentos biliares Alcaptonuria Amarela esverdeada Espargos Encarnada ou rosada Gvs, Hb livre, mioglobina, porfirina Benzeno cloroquina, fenolftaleina Beterraba, mirtilos, corantes alimentares Uratos Castanho avermelhado Ruibarbo

Hematuria Avaliação Hematuria emedecine 2010

Hematuria glomerular Avaliação Hematuria emedecine 2010

Hematuria não glomerular Avaliação Hematuria emedecine 2010

Hematuria microscópica Mais frequente que hematuria macroscópica Achado acidental 1. H. mic. assintomática isolada 2. H. mic. assintomática com proteinuria 3. H. mic. sintomática

H. Microscópica assintomática isolada Transitória, sem significado clinico Persistente (ansiedade pais e pediatra) Urinocultura Hipercalciuria: Ca/creat > 0,2 x 3 amostras Avaliação pais e irmãos VIGIAR Hematuria macroscópica Hipertensão arterial Proteinuria Ca 24h>4 mg/kg

H. Microscópica assintomática isolada e persistente Nefropatia IgA Dça membrana fina S. Alport Hipercalciúria ITU S. Nutcracker

H. Microscópica assintomática com proteinúria H. microscópica assintomática com proteinuria Prot > 4mg/m 2 /h Prot/creat (mg/mg) >0,2 se idade>2 anos Prot/creat (mg/mg) >0,5 se idade<2anos Nefrologia Pediátrica

H. Microscópica sintomática Avaliação de acordo com sintomas e exame fisico Inespecificos: febre, mal estar, perda de peso. Extra-renais: rash, purpura, artrite Renais: edema, hipertensão, oliguria,disuria Trauma Hematologia: anemia células falciformes

Caso clinico Rapaz, 10 anos, proveniente PALOP, enviado por hematuria microscopica e proteinuria. Episodios de hematuria maroscópica, vermelha, com disuria. Episodios, mal esclarecidos, de edema da face, não relacionados com hematuria, de resolução espontanea. A. familiares irrelevantes. EO irrelevante incluindo genitais externos. U tipo II cor amarela, d 1015, ph5,5, alguns GVs, raros Leuc, prot 150mg/dL. Prot 12h 30 mg/m2/h Sem eritrocitos dismorficos Sem cilindros

Caso clinico cont. Pesquisa schistosoma IMT neg Cistoscopia: schistosoma positivo Lab HDE pesquisa schistosoma 3 amostras positivas Rx praziquantel Biopsia renal 10 glomérulos MO normal IMF normal ME alts podocitos: LM??? Vigilancia 12 meses sem proteinuria.

Caso clinico Diagnósticos Hematuria macroscópica recorrente não glomerular Causa urológica Schistosomiase Hematuria microscopica recorrente com proteinuria significativa SN lesão mínima??? Resolução espontânea?

Conclusão Ansiedade criança, familia e pediatra. Importante sinal de lesão renal Raramente causa anemia Não esquecer investigar etiologias graves Acalmar familia Evitar investigações desnecessárias Fornecer orientação futura (nefrologia)

Obrigada