Unidade III. Com base no roteiro elaborado pelo professor José J. Queiroz, 1 apresentaremos alguns passos para a construção de um projeto de pesquisa:

Documentos relacionados
Unidade III METODOLOGIA CIENTÍFICA. Prof. Aparecido Carlos Duarte

Introdução. Métodos Científicos. Fabio Queda Bueno da Silva, 2010.

CURSO: MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA: METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE. O que é Ciência?

Metodologia Científica e Tecnológica

O MÉTODO CIENTÍFICO. Dto. Luiz Antonio de OLIVEIRA

Departamento de Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. Iniciação à Pesquisa em Geografia I

I ENCONTRO DE PESQUISADORES FAZENDÁRIOS METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA CIENTÍFICA: ORIENTAÇÕES INICIAIS UNIDADE II O MÉTODO CIENTÍFICO

NO PROJETO DEFINE-SE:

CURSO DE METODOLOGIA CIENTÍFICA

QUESTÕES P/ REFLEXÃO MÉTODO CIENTÍFICO

Revisão de Metodologia Científica

A IMPORTÂNCIA DOS OBJETIVOS NA PESQUISA CIENTÍFICA Prof a. Sonia M.M. Gomes Bertolini. Antes da elaboração dos objetivos de uma pesquisa científica é

Método e Metodologia Conceitos de método e seus princípios

Aula 6 Projetos de Pesquisa

METODOLOGIA CIENTÍFICA

OFICINA DE PESQUISA. Simone Côrte Real Barbieri

Como elaborar um projeto de pesquisa?

Metodologia da Pesquisa Científico. Profa. Ms. Daniela Cartoni

METODOLOGIA CIENTÍFICA Fases do Processo Metodológico

NOME(S) DO(S) PESQUISADOR(ES) (PESQUISADOR 1) NOME(S) DO(S) PESQUISADOR(ES) (PESQUISADOR 2)

Sumário. Nota das autoras, xvii. Prefácio da 8 a edição, xix

Projeto de Pesquisa Algumas considerações sobre os elementos que o constitui, de acordo com a NBR 15287:2006.

UNIVAG CENTRO UNIVERSITÁRIO GRUPO DE PRODUÇÃO ACADÊMICA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NOME DO DISCENTE

Etapas da Pesquisa. 1 Etapas da Pesquisa. Especialização em Engenharia de Soldagem

Definindo o Trabalho. Ricardo de Almeida Falbo. Metodologia de Pesquisa Departamento de Informática Universidade Federal do Espírito Santo 2010/1

Unidade II: Métodos Científicos

Metodologia Científica

Pesquisa, metodologia e métodos (O qué que eu faço...?)

METODOLOGIA DE PESQUISA CIENTÍFICA. Prof. Renato Fernandes Universidade Regional do Cariri URCA Curso de Tecnologia da Construção Civil

NOTAS DE AULA CONSTRUÇÃO DO MARCO TEÓRICO CONCEITUAL 1

P/ REFLEXÃO MÉTODO CIENTÍFICO / PESQUISA CIENTÍFICA

MÉTODO CIENTÍFICO. Patrícia Ruiz Spyere

Etapas de uma Pesquisa

Como elaborar um plano de aula

Elaboração de Objetivos Síntese (07 de junho, 2019)

Sobre Metodologia Científica

Mediador: Rui Rossi dos Santos Slide 1

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO AULA 3. Definindo o problema de pesquisa e o planejamento de projeto

AS ETAPAS DA PESQUISA AS ETAPAS DA PESQUISA

2. Revisão de literatura e Referencial teórico

Universidade Estadual de Roraima Mestrado Profissional em Ensino de Ciência

Trabalhos Acadêmicos MEMORIAL RESUMO RESENHA ARTIGO PROJETO

GUIA PARA ELABORAÇÃO DE PROJETO DE MONOGRAFIA SUMÁRIO

ETAPAS DA PESQUISA CIENTÍFICA (1)

AULA 01 Diretrizes para a leitura, análise e interpretação de textos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

TÍTULO DO FUTURO TCC: subtítulo, se houver.

MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA 1

Método Científico. Prof. a Dra. Carolina Davanzzo Gomes dos Santos. Disciplina: Metodologia do Trabalho Academico

HILDEGARD GOUVEA DIEHL MÍRIAM SOARES DOTI

PESQUISA TEÓRICA APLICADA. - Verificar a teoria; - Integrar a teoria já existente; - Desenvolver um conceito.

ETAPAS DE ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA ME. ERICK RODRIGO SANTOS ALMEIDA

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ANDRADINA NOME DO(S) AUTOR(ES) EM ORDEM ALFABÉTICA TÍTULO DO TRABALHO: SUBTÍTULO DO TRABALHO, SE HOUVER

MÉTODOS EM PESQUISA 01/07/ INTRODUÇÃO TÓPICOS A SEREM ABORDADOS 1.1 CONCEITO DE MÉTODO. 1. Introdução. 2. Método Indutivo

Miguel Dias. Como elaborar um projeto de pesquisa para TCC.

Elaboração de um Projeto de Pesquisa. Antonio Pedro Carvalho

MÉTODO CIENTÍFICO. Profº M.Sc. Alexandre Nojoza Amorim

FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITOS FUNDAMENTAIS E DEMOCRACIA NOME DO MESTRANDO

Realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas das metodologias consagradas pela ciência.

INSTITUTO CAMARGO DE EDUCAÇÃO - ICE

CEA427 - METODOLOGIA DE PESQUISA APLICADA À COMPUTAÇÃO

Seminário acadêmico. Introdução. O que é um seminário

Orientadores. São Paulo, de de.

1 ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

O PROCESSO DE ORIENTAÇÃO DE UMA MONOGRAFIA GUIA PARA OS ORIENTADORES DE TCC DO CIS

Ciência, Conhecimento, Tecnologia e Sociedade

NATUREZA DO CONHECIMENTO

Elementos fundamentais na construção da monografia

Metodologia da Pesquisa. Metodologia Tecnológica

Método Científico. Disciplina: Metodologia Científica. Professor: Thiago Silva Prates

METODOLOGIA II 04/04/2018 OBJETIVO DA AULA PROJETO PROJETO PROJETO. Componentes do Projeto. PROJETO aula 01

PROF. FÁBIO CAMPOS ARTIGO CIENTÍFICO

PESQUISA CIENTÍFICA -Aula 4-

Iniciação Científica

II - Métodos das Ciências. Métodos das Ciências. Métodos das Ciências. 2.1 Métodos que proporcionam as bases lógicas da investigação

FMU ESCOLA DE DIREITO ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA

Métodos de Estudo & Investigação Científica. Elaborando um projeto de pesquisa

AULA 06 Diretrizes para a leitura, análise e interpretação de textos

A PESQUISA CIENTÍFICA

Metodologia da Pesquisa

Curso: Ciência da Computação Faculdade Anglo-Americano

UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DOM BOSCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO PROJETO DE MONOGRAFIA 1. [TÍTULO DO PROJETO] [Subtítulo (se houver)] 2

UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE FACULDADE BARÃO DO RIO BRANCO FACULDADE DO ACRE INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO ACRE PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA- PIC

1 PROJETO DE PESQUISA 1.1 TÍTULO DO PROJETO: 1.2 NOME DO AUTOR(A): 1.3 NOME DO ORIENTADOR(A): 1.4 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: 1.5 LINHA DE PESQUISA:

UNIVERSALIDADE, INTEGRALIDADE E EQUIDADE NAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM NO ESTADO DE MATO GROSSO.

Inserir sites e/ou vídeos youtube ou outro servidor. Prever o uso de materiais pedagógicos concretos.

ETAPAS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PRÉ-PROJETO DE PESQUISA. Estrutura de um projeto de pesquisa:

Classificação das Ciências. Tipos de conhecimento. Conhecimento Popular. Conhecimento Religioso. Conhecimento Filosófico. Metodologia Científica

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

APRENDIZAGEM, COGNIÇÃO E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR. Profa. Dra. Cassia Ferri Vice-Reitora de Graduação UNIVALI

Universidade Estadual de Roraima Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciência

Definindo a introdução de um projeto / relatório / artigo

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE GESTÃO E NEGÓCIOS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS NOME. TÍTULO: subtítulo (se houver)

Técnicas de pesquisa

FACULDADE SANTA FÉ/ IDESP MODELO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA

MANUAL DO PROJETO INTEGRADO DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Transcrição:

METODOLOGIA CIENTÍFICA Unidade III 16 PROJETO DE PESQUISA Segundo Booth (00, p.19), Pesquisar é reunir informações necessárias para encontrar uma resposta a uma pergunta e assim chegar à solução de um problema. Para elaborarmos um projeto de pesquisa, precisamos escolher um assunto, ler o que outras pessoas escreveram sobre ele, coletar dados e, a partir daí, formular uma pergunta (problematização). Toda pesquisa tem como objetivo dar a resposta a essa pergunta seja pela refutação ou pelo reforço das hipóteses. Com base no roteiro elaborado pelo professor José J. Queiroz, 1 apresentaremos alguns passos para a construção de um projeto de pesquisa: 1º passo: o tema 1 Primeiramente, o tema deve nascer de um interesse do aluno. Algum assunto no qual ele gostaria de trabalhar por dois anos discutindo e estudando. A empatia pelo objeto de estudo é fundamental. A melhor maneira de descobri-lo é olhar para dentro de si mesmo e entender a natureza dos seus interesses. Quais aulas mais despertam sua curiosidade e simpatia? Qual tema acadêmico o faz sentir motivado e livre para defendê-lo? Uma boa forma de escolher o tema é delimitá-lo e fazer uma pesquisa ampla sobre o assunto, como já salientamos. 1 Disponível em <http://www4.uninove.br/mkt//downloads/decalogo_ da_pesquisa.pdf>. Acesso em: maio 09. 43

Unidade III É também interessante pesquisar sites de pós-graduação e conferir as linhas de pesquisas de cada professor, especialmente os que defendem o tema de seu interesse. Investigue as linhas de pesquisa existentes nas instituições. Você necessitará de um orientador. Tomadas essas medidas, o seu processo seletivo estará facilitado. Outro cuidado importante é observar a relevância do tema na atualidade. Você precisará justificar a funcionalidade e a importância do tema escolhido. Qual é a relevância do assunto e como ele pode contribuir para a sociedade? Quais os problemas que poderá resolver? Qual a sua significância? Por que ele é importante para a coletividade? O projeto nasce de uma paixão individual, mas ele deve atender o coletivo e responder às demandas da sociedade. 1 Quando você iniciar a pesquisa geral, perceberá se o tema escolhido pode ou não ser estudado, se há dados e referências a serem analisadas e se o tempo de dois anos é suficiente para a pesquisa. Por isso é necessário delimitar o tema. Evitar temas panorâmicos. O título do trabalho/tema muda conforme o projeto, mas é bom desde o início dar nome aos bois. Para organizar sugerimos dividir o enunciado: 2 Título geral: deve ser amplo e chamativo. Subtítulo (específico ou técnico): a delimitação do objeto de estudo. O subtítulo deve enunciar com clareza o objeto e seus limites (passo 3). 2º passo: apresentação do tema É a ideia inicial. Ela deve ter um texto claro e sucinto explicando a importância do tema e a motivação do autor. É 44

METODOLOGIA CIENTÍFICA recomendado observar qual modelo de projeto será pedido na instituição escolhida. Por vezes, alguns desses passos não constam no projeto. 3º passo: delimitação do tema e do objeto Ressaltamos que objeto é diferente de objetivo. Objeto é aquilo que você irá estudar. É seu objeto de estudo. Objetivo é o que você pretende com a análise daquele objeto. Ele deve ser enunciado com clareza, e seus limites devem ser estabelecidos com precisão. Como delimitar um tema? Existem alguns critérios que facilitam a delimitação. São eles: Onde? Quando? Quem e como? 1 Onde. Espacialidade: local onde o objeto está localizado. Por exemplo: a cidade, bairro, instituição ou marca que será analisada. Ou, no caso de uma análise audiovisual, onde o produto foi filmado. Quando. Temporalização: período ou época em que o objeto será estudado. Período ou época no qual a obra analisada foi feita (contextualização). Quem. Pessoas ou segmentos sociais que serão analisados (público-alvo). 2 Como. Ponto de vista: prisma ou enfoque da abordagem. Como observamos anteriormente, existem inúmeras vertentes cientificas e métodos é necessário defini-los. Para definirmos esse item, é necessário também definir os autores que sustentarão nossas proposições científicas. 4

Unidade III Outra sugestão interessante é responder às seguintes perguntas: Passo A Especificação do tópico: Estou aprendendo sobre/ trabalhando em/ estudando. Passo B Sugira uma pergunta: Estou estudando X porque quero descobrir quem/ onde/ quando/ se/ por que/ como. A partir dessa pergunta, podemos partir para o problema. 4º passo: problematização 1 A problematização é o conjunto de dúvidas ou questões que se quer resolver ou descobrir dentro de um tema. Ela surge a partir do contato com a bibliografia existente ou dados coletados sobre o tema. As dúvidas expressas no problema da pesquisa comandam todo o trabalho de investigação: da busca de teorias e conceitos relevantes à observação da realidade (coleta de dados), ao tratamento desses dados e às conclusões e conhecimento desenvolvido a partir do problema que nos moveu a investigar. 2 Problema de pesquisa O que será que...? Como tal coisa se caracteriza? Que sentido tem? Por que tal processo acontece? Que diferenças existem entre...? Quais as formas diversificadas e variações de tal processo comunicacional? 46

METODOLOGIA CIENTÍFICA O que não é problema de pesquisa 1 a. Aqueles que, para serem supridos, basta uma ida à biblioteca. Essas dúvidas não levam à pesquisa, mas ao estudo. Na pesquisa, essas dúvidas também aparecem, mas serão logo supridas na biblioteca ou consultando especialistas. Elas não são o eixo da sua pesquisa. b. Questões que decorrem de falta de prática. Se você não sabe como redigir uma peça publicitária, você resolve essa curiosidade, praticando, e não pesquisando para aprofundar o conhecimento das regras. Como obter uma solução para organizar a melhor comunicação em nosso ambiente de trabalho? é um problema prático, concreto, empírico, e não teórico. É relevante para a comunicação conhecer quais cores atingem melhor determinas pessoas? Ou os efeitos sociais da violência ficcional televisiva? Porém, não é possível coletar dados tão complexos com validade em tão poucos anos. Isso pode gerar um ensaio com boas sacações, mas não uma pesquisa. Problemas de conhecimento Problemas práticos pedem uma solução geralmente desenvolvida por meio de interferência no ambiente. Até mesmo os tipicamente profissionais (O que fazer para que...? Como obter mais qualidade em tal processo? Como evitar equívocos de tal tipo? Como resolver com mais eficiência tal processo?). 2 30 O que é preciso saber sobre tal situação? O que devermos descobrir sobre ela para que nosso conhecimento da realidade em foco seja ampliada? Um problema de pesquisa pode ser derivado de um problema prático. Se o problema prático é suficientemente complexo, torna-se necessário o aprofundamento do conhecimento sobre a situação, antes mesmo de buscarmos as soluções práticas. 47

Unidade III A pesquisa acadêmica é o trabalho que prioriza o conhecimento em suas bases mais profundas. O mestrado é uma delas, e tem como instrumento a dissertação. Expressando um problema de pesquisa a. Não há regras. Inicia-se com aquele documento preparatório respondido anteriormente. b. Comece a escrever perguntas, tudo o que você consiga perguntar (brainstorming). O prêmio aqui não é para as boas perguntas, mas para a maior diversidade possível. 1 2 30 c. Crítica às perguntas. Distinga as perguntas que expressam apenas falta de informação e de maiores estudos (é aquele conhecimento que você desconfia que já existe em algum lugar, mas que precisará dele mais tarde). d. Descarte as perguntas práticas que pedem soluções concretas, ações, propostas diretas sobre o que fazer para... Verifique se não é possível derivar delas problemas de conhecimento. e. Separe as questões amplas demais ou muito genéricas. Exemplo: Como a comunicação modifica os processos de aprendizagem tradicionalmente ancorados no livro?. Pode ser feito um ensaio sobre eles em dois meses de trabalho... Mas uma pesquisa, nem mesmo em dez anos. f. Perguntas que requerem respostas binárias (sim/não). Procure derivar delas perguntas mais sutis ou complexas, do tipo Como? Quais?. Exemplo: Há diferenças internas na situação dada como monolítica? (sim ou não). Mudando: Que diferenças podem ser percebidas (em alguma coisa que parece em geral monolítica)? ou Que semelhanças podemos encontrar (em coisas que 48

METODOLOGIA CIENTÍFICA parecem diferentes ou isoladas entre si)?. Essas perguntas estão abertas à descoberta! Tente uma segunda rodada de geração de perguntas. Sistematizando as perguntas 1 O melhor é que sejam poucas perguntas na construção de um problema no projeto de pesquisa. O importante é a consistência do conjunto, sua relevância e sua possibilidade de demarcar um território sobre o assunto. Organize as perguntas mais relevantes e as secundárias. Mais amplas e mais específicas. Independentes entre si ou relacionadas; relacionadas em paralelo ou por subordinação. Mais teóricas ou mais voltadas à busca de dados... etc. O objetivo é buscar um conjunto integrado, internamente relacionado de perguntas. Não fique satisfeito cedo demais. Brinque com as possibilidades como se fosse um jogo de armar. Durante esse processo, é comum reformular perguntas, criar outras, substituir... º passo: hipóteses As possíveis soluções do problema. É uma opção do autor frente ao(s) problema(s) levantado(s). Constitui a ideia central do trabalho e será objeto de demonstração. Uma pesquisa é um trabalho de investigação para confirmar ou informar uma hipótese. Mas... 2 a. Hipóteses relevantes aparecem em estágios avançados de reflexão. b. As hipóteses avançadas derivam de problemas de pesquisa longamente elaborados. 49

Unidade III O que não é hipótese Proposições, premissas = ideias, impressões, propostas que temos simplesmente por nos envolvermos continuadamente com um tema, por experiência prática ou leituras. Hipóteses de solução de um problema, não são hipóteses de pesquisa. Por exemplo, propor táticas de comunicação comunitária para produzir uma TV educativa. A proposta não é hipótese de pesquisa (ponto final pretendido da pesquisa), e sim uma ação prática (ou ponto de partida, ou meta posterior à pesquisa) para só então gerar conhecimento. Sacação, lampejo: trabalhamos com um assunto qualquer, observamos o que as pessoas fazem e dizem, lemos a respeito, de repente percebemos perspectivas que aparentemente ninguém parece ter é a nossa intuição. 1 Porém, tudo isso nem sempre são hipóteses de pesquisa, mas um ponto de partida. Jamais provaríamos aquelas hipóteses como não verdadeiras porque estaríamos dirigidos a provar o que pensamos ser verdadeiro, gerando uma cegueira involuntária. Mas normalmente uma ideia gerada por forte envolvimento com a coisa é mesmo verdadeira (válida para o espaço e contexto em que foi proposta) e se sustenta pela constatação ao vivo, sem precisar de pesquisa para demonstrá-lo. Não é necessário jogar fora a ideia brilhante. Elas serão usadas mais tarde. 2 O que é relevante: evite achar que ideias ou premissas são hipóteses de pesquisa. Considere-a como um pressuposto. 2 30 Mas isso não é uma hipótese de pesquisa que vá gerar investigação para confirmar ou infirmar a afirmação. Isso é uma hipótese de trabalho, usada como base para organizar a observação: se essa hipótese é verdadeira, o que poderia descobrir sobre esses processos, já que possuo essas afirmações? 2 Hipo-tese = menos que tese (uma afirmação sobre a qual não estamos muito convictos). 0

METODOLOGIA CIENTÍFICA Não vamos estudar as hipóteses, mas tomá-las como verdadeira e usá-las como modo ou instrumento para direcionar as observações. As hipóteses de pesquisa não são as ideias dos passos iniciais com os quais damos encaminhamento à investigação, mas a prefiguração do ponto de chegada. Portanto, é melhor pensar na formulação do problema primeiro. 6º passo: objetivos do trabalho Importante: objeto é diferente de objetivo!!! Objeto: é o núcleo central do trabalho, seu alvo exatamente demarcado. Objetivos: são os resultados que o autor pretende alcançar com o projeto. Vamos inserir mais uma pergunta a ser respondida aqui. Motive sua pergunta: a fim de entender como, por que ou se. 1 Estou estudando porque estou tentando descobrir (como/ porque/se/onde a fim de entender. Seu objetivo final é explicar: o que você está escrevendo seu tópico; o que você não sabe sobre ele sua pergunta; por que você quer saber sobre ele seu fundamento lógico. 1

Unidade III Objetivo geral É o objetivo maior e o mais amplo de sua pesquisa. Inclui as variáveis a serem pesquisadas. Começa com um verbo de ação: identificar, analisar, descrever, etc. Objetivos específicos Definem ou descrevem as etapas a serem cumpridas para alcançar o objetivo geral. Começam com um verbo (ação). Cada objetivo, além de ser claro, expressa apenas uma ideia ou ação. 1 Verbos de ação Conhecer Apontar Enumerar Identificar Relacionar Descrever Definir Ordenar Classificar Distinguir Demonstrar Revisar Analisar Analisar 2

METODOLOGIA CIENTÍFICA Comparar Calcular Relacionar Distinguir 1 Aplicar Propor Esquematizar Construir Selecionar Empregar Organizar Interpretar Traçar Estruturar Criar Desenvolver 7º passo: referencial teórico Constrói um conjunto de princípios sistemáticos, lógicos e coerentes. O referencial teórico não é citação de obras; é extremamente importante que o aluno comece a separar esse material desde a primeira pesquisa bibliográfica. Como fazer? Devemos anotar aqueles autores que consideramos importantes para nos dar a base da teoria. A escolha desses autores determina todo o caminho teórico que o pesquisador irá traçar. 2 Concluímos que os referenciais teóricos são categorias de análise pelas quais o autor opta. Tem o objetivo de clarear os 3

Unidade III conceitos fundamentais, fundamentar e desenvolver hipóteses, iluminar o objeto e sustentar o trabalho. Esse quadro teórico não deve ser sincrético; a mistura de diversos dados empíricos e teorias podem confundir o objeto. Isso não quer dizer que sincretismo seja proibido, apenas devemos ter muito cuidado para não sermos contraditórios. Podemos desenvolver um capítulo inteiro falando apenas da teoria ou podemos diluí-la ao longo das análises (principalmente no capítulo reservado às hipóteses). 1 É interessante que a escolha do estudante a respeito dos autores que compõem o quadro teórico do projeto seja semelhante aos autores adotados pelo orientador. Por isso a importância de conhecermos as linhas de pesquisa e trabalhos desenvolvidos pelos professores da pós-graduação que escolhermos. Assim será mais fácil encontrar um orientador que fale a mesma língua do estudante. 8º passo: procedimentos metodológicos Segundo Lakatos e Marconi (08, p. 83): (...) o método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. 2 Ele é o processo geral do raciocínio. Seu objetivo é enunciar os caminhos probatórios, as ferramentas de coleta do material para trabalhar o objeto e provar as hipóteses. Concluímos que o método científico é a teoria da investigação. E necessitamos cumprir as seguintes etapas: 4

METODOLOGIA CIENTÍFICA a. descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se o estiver, passase à subsequente; b. colocação precisa do problema, ou ainda recolocação de um velho problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos); c. procura de conhecimentos instrumentos relevantes ao problema (por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de medição, técnicas de calculo ou de mediação). Ou seja, exame do conhecimento para tentar resolver o problema; d. tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário, à subsequente; 1 2 30 e. invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de novos dados empíricos que prometam resolver o problema; f. obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível; g. investigação das consequências da solução obtida. Em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das consequências que possam ter as teorias relevantes; h. prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrario, passa-se para a etapa seguinte;

Unidade III i. correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta. Esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação. 3 Resumindo... O método científico, segundo Bunge, é cíclico e recursivo. Divide-se em: descobrimento do problema; colocação precisa do problema; procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes do problema; tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados; 1 invenção de novas ideias (hipóteses) ou produção de novos dados empíricos que resolvam o problema; obtenção de uma solução; investigação das consequências da solução obtida; prova (comprovação) da solução; correção das hipóteses (feedback) = início de novo ciclo. Na Unidade I, falamos da existência de diversos métodos; vamos nos aprofundar em alguns deles: Método indutivo: (...) é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal. 4 3 Bunge, 1980, p. 2. 4 Lakatos; Marconi, 08, p. 86. 6

METODOLOGIA CIENTÍFICA Exemplo: O corvo 1 é negro. O corvo 2 é negro. O corvo 3 é negro. Então todo corvo é negro. Esse método (...) vai do especial ao mais geral, dos indivíduos as espécies, das espécies aos gêneros, dos fatos às leis ou das leis especiais as leis mais gerais. Fases do processo indutivo: a. observação dos fenômenos; b. descoberta da relação entre eles; c. generalização da relação. Método dedutivo 1 Iremos exemplificar o método dedutivo, comparando-o com o indutivo. Dedutivo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm coração. Indutivo: Todos os cães que foram observados tinham um coração. Ibid., p. 86. 7

Unidade III Logo, todos os cães têm um coração. Segundo Salmon (1978), 6 existem duas características básicas que distinguem os argumentos indutivos e dedutivos: 7 Indutivo Dedutivo I - Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, mas não necessariamente verdadeira. II A conclusão encerra informação que não estava, nem implicitamente, nas premissas. I Se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira. II Toda a informação ou conteúdo fatual da conclusão já estava pelo menos implicitamente, nas premissas. Método hipotético dedutivo Cria-se uma solução provisória, uma tentativa de teoria, a qual passa a ser criticada, pelo próprio autor, com vistas a eliminar o erro. Expectativa ou conhecimento prévio Nova teoria Problema Conjeturas (solução provisória) Falseamento Definição desses momentos no processo investigatório, segundo Poper (197, p. 9): I. Problema: surge, em geral, de conflitos ante expectativas e teorias existentes. 6 Salmon, 1978, p. 30. 7 Lakatos; Marconi, 08, p. 92. 8

METODOLOGIA CIENTÍFICA II. Solução: proposta consistindo numa conjectura (nova teoria); dedução de consequências na forma de proposições passíveis de teste. III. Falseamento: testes, tentativas de refutação, entre outros meios, pela observação e experimentação. Para Bunge 8 as etapas desse método são: 1. Colocação do problema: (a) reconhecimentos dos fatos; (b) descoberta do problema; (c) formulação do problema. 2. Construção de um modelo teórico: (a) seleção dos fatores pertinentes; (b) invenção das hipóteses centrais e das suposições auxiliares. 3. Dedução de consequências particulares: (a) procura de suportes racionais; (b) procura de suportes empíricos. 1 4. Teste das hipóteses: (a) esboço de prova; (b) execução da prova; (c) elaboração de dados; (d) inferência da conclusão.. Adição ou introdução das conclusões na teoria: (a) comparação das conclusões com as predições e retrodições; (b) reajuste do modelo; (c) sugestões para trabalhos posteriores. Método dialético Segundo Lakatos e Marconi, 9 existem quatro leis fundamentais da dialética; são elas: 1. Tudo se relaciona. Ação recíproca, unidade polar. 2 2. Tudo se transforma. Mudança dialética, negação da negação. 8 1974, p. 70. 9 Lakatos; Marconi, 08, p. 0. 9

Unidade III 3. Mudança qualitativa. Passagem da quantidade à qualidade. 4. Contradição. Interpelação dos contrários, ou luta dos contrários. Tese Antítese Síntese O método dialético é o desenvolvimento pela oposição dos contrários e contém três etapas: tese: uma afirmação; antítese: uma oposição a tese. Desse conflito, nasce a: síntese: que é uma nova tese. E assim sucessivamente. Existem outros métodos citados na Unidade I; são eles: 1. histórico; 2. comparativo; 3. monográfico; 1 4. estatístico;. tipológico; 6. funcionalista; 7. estruturalista; 8. etnográfico; 9. clínico. 60

METODOLOGIA CIENTÍFICA Mas não é nosso interesse desenvolvê-los nesse momento. Procedimentos técnicos O procedimento técnico é constituído pelos instrumentos a serem utilizados para colher dados do campo empírico. São eles: 1. observação de campo; 2. pesquisa participante; 3. entrevistas (abertas, em profundidade ou fechadas); 4. questionários (quais, quantos e com quais questões;. coleta de documentos; 6. consulta de arquivos (quais, onde e como), etc. 1 9º passo: plano e cronograma Plano provisório É um roteiro preliminar do trabalho, um esqueleto, em que iremos dividir os capítulos e colunas do trabalho. Uma boa dica é selecionar as bases-mestras da dissertação, as palavras-chave e, a partir delas, construir capítulos. Dentro de cada capítulo devemos separar as etapas necessárias para a conclusão. É importante que cada capítulo tenha começo, meio e fim. O enunciado de cada capítulo deve ter como maior preocupação responder às indagações do autor e provar as hipóteses. Esse plano pode ser alterado no decorrer do trabalho. Cronograma É onde você vai programar o tempo de cada parte do seu estudo. 61

Unidade III Num programa stricto sensu (mestrado), normalmente os alunos cumprem os créditos relativos às disciplinas. Já o terceiro semestre é dedicado à qualificação do projeto, ou seja, o foco é escrever. No quarto semestre, precisamos terminar o projeto e fazer as devidas alterações, preparando a defesa. Genericamente, os prazos gerais para a conclusão do mestrado ou doutorado, segundo a CAPES, são dois anos. Um tempo curto que deve estar bem organizado, para evitar problemas. 1 O cronograma também pode ser baseado nas tarefas que devemos cumprir para elaborar a dissertação. Por exemplo: três meses para leitura geral e procura das referências bibliográficas, três meses para transformar o pré-projeto num projeto alinhado ao do orientador, seis meses para fazer a pesquisa de campo e coleta definitiva do material teórico, nove meses para fazer a redação definitiva do texto e três meses para revisão. Total: 24 meses. º passo: bibliografia Aprender como citar toda a bibliografia utilizada, seja ela de obras, artigos, documentos publicados ou inéditos, reportagens, filmes, vídeos, Internet, aulas, congressos, etc. 62