AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO. DISCUSSÃO DO NEGÓCIO SUBJACENTE. DESNECESSIDADE. O cheque prescrito, como prova documental autorizativa da via injuncional, é suficiente como fato constitutivo do direito do autor, razão por que não precisa declinar o negócio subjacente, consoante orientação do egrégio STJ. A desconstituição do cheque, de outro lado, é ônus que cumpre ao réu, nos termos do inciso II do art. 333 do CPC. Apelo improvido. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE FELIZ JOSE CELSO ASSMANN DBM FACTORING LTDA APELANTE APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Magistrados integrantes da Décima Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em improver o apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. MÁRIO JOSÉ GOMES PEREIRA E DR. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL. Porto Alegre, 01 de novembro de 2005. DES. GUINTHER SPODE, Relator. 1
DES. GUINTHER SPODE (RELATOR) RELATÓRIO JORGE CELSO ASSMANN recorreu da sentença que julgou procedente a ação monitória que lhe intenta DBM FACTORING LTDA. Alega em suas razões que na petição inicial a recorrida não declinou a causa debendi, prejudicando a defesa do apelante. O débito inexiste e não é reconhecido pelo devedor/recorrente. O apelante nada deve ao recorrido, pois, os cheques cobrados foram emitidos apenas em razão de garantia de juros agiotados. O recorrido deveria ter declinado a causa do débito na exordial, porém não disse que derivou da prática de agiotagem, com juros abusivos. A inicial é inepta eis que não informada a prática de agiotagem. O recorrido usou de má-fé ao silenciar sobre a origem dos cheques. Discorda do entendimento de que não necessitaria ter declarada a origem de um cheque prescrito na ação monitória, pois significaria igualar esta demanda com o processo executivo. A exibição da prova documental pelo credor não o dispensa de provar o fato constitutivo de seu direito. Cita jurisprudência sobre a sua tese. Sustenta a necessidade de declinação do negócio subjacente como medida imprescindível para ter reconhecido o seu crédito. Requer o provimento do recurso que foi preparado. A recorrida ofereceu contra-razões dizendo que a causa debendi, como quer o recorrente, é uma obrigação inexistente. Refere que possui prova escrita da obrigação que pretende cobrar, como exige a lei. A prova deve ser documental, constituindo-se título executivo a partir da demonstração escrita da obrigação, de acordo com o art. 1.102, a do CPC. Salienta que os cheques acostados com a inicial perderam a força executiva, porém a ação proposta está adequada ao prazo previsto pelo art. 61 da Lei do cheque. Diz que o recorrente não se desincumbiu da obrigação face ao art. 333, II do CPC, ou seja, não provou a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. A recorrida salienta ainda que o recorrente levanta em recurso 2
matéria preclusa, vez que não foi alvo de discussão em sede de embargos. Requer o improvimento do recurso. É o relatório. DES. GUINTHER SPODE (RELATOR) VOTOS Improcede o recurso manejado pelo apelante. Com efeito, antes de ingressar na matéria de fundo, cumpre aduzir, por primeiro, que se está em sede de ação monitória, o qual foi introduzido no processo civil brasileiro com o objetivo de abreviar a formação de título executivo. Assim, o procedimento injuntivo tem a finalidade de agilizar a prestação jurisdicional, cujo credor pode utilizar tal remédio processual caso possua prova escrita do débito, sem força de título executivo, nos termos do artigo 1.102a, do CPC. No caso em mesa de julgamento, a presente monitória vem lastreada em cheques prescritos, cujo autor, frente ao documento que possui, não precisa declinar o negócio subjacente. E não precisa porque cumpre à outra parte, como lhe imputa o inciso II do art. 333 do CPC, o ônus probatório de alegar o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, até mesmo porque, como resulta indiscutível dos autos, os cheques foram emitidos pela réu/apelante. Logo, o ônus da prova cumpria, na íntegra, à parte demandada, a qual nada trouxe que possa desautorizar o reconhecimento do crédito da empresa/demandante. 3
STJ: A respeito desta temática é uniforme a jurisprudência do egrégio AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO. Apresentado pelo autor o cheque, o ônus da prova da inexistência do débito cabe ao réu. A prova inicial, municiada pelo cheque, é o bastante para a comprovação do direito do autor ao crédito reclamado, cabendo ao lado adverso demonstrar, eficazmente o contrário. (STJ 4ª Turma, REsp 285.223-MG, rel. Min. Aldir Passarinho Jr., j. 26.6.01). A ação monitória instruída com cheques dispensa a demonstração da causa de sua emissão, de acordo com a jurisprudência mais recente. ( STJ 3ª Turma, REsp 337.639 MG, rel. Min. Menezes Direito, j. 18.6.02). AÇÃO MONITÓRIA. TÍTULO DE CRÉDITO. CHEQUE. PRESCRIÇÃO. 1. Sendo documento escrito comprobatório do débito, o cheque prescrito dá sustentação á ação monitória, pouco importando a causa de sua emissão. 2. Recurso Especial conhecido, mas desprovido. (RESP 262657/MG, Terceira Turma, Rel. p/acórdão Min. Carlos Alberto Menezes, j. 07.12.2000). Por isso, e na esteira do egrégio STJ, nenhuma censura merece a respeitável sentença guerreada. Isso posto, nego provimento ao apelo. É como voto. 4
GOS DES. MÁRIO JOSÉ GOMES PEREIRA (REVISOR) - De acordo. DR. LUIZ ROBERTO IMPERATORE DE ASSIS BRASIL - De acordo. DES. GUINTHER SPODE - Presidente - Apelação Cível nº 70012932059, Comarca de Feliz: "NEGARAM PROVIMENTO, UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: MARISA GATELLI 5