ESPECIAL SEGUROS. Mercado prepara-se para o Solvência II. José Almaça presidente do Instituto de Seguros de Portugal



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Transcrição:

EM PARCERIA COM ESPECIAL SEGUROS este suplemento faz parte integrante do Diário Económico nº 5915 de 05 de Maio de 2014 e não pode ser vendido separadamente Mercado prepara-se para o Solvência II A partir de Janeiro de 2016, o mercado segurador europeu passa a operar ao abrigo de uma nova regulamentação. O Solvência II traz consigo regras mais exigentes no que respeita à análise de risco e ao cálculo de solvência e prevê uma supervisão mais activa por parte dos reguladores. As seguradoras nacionais já começaram a implementar as alterações e vão ser sujeitas a testes de stress. TRÊS PILARES DO SOLVÊNCIA II As alterações a implementar até 2016 ENTREVISTAS Pedro Seixas Vale presidente da Associação Portuguesa de Seguros José Almaça presidente do Instituto de Seguros de Portugal Peter Muller / Corbis / VMI

SOLVÊNCIA II ANÁLISE DE RISCO MAIS EXIGENTE PARA O MERCADO SEGURADOR Melhorar a avaliação de risco é um dos principais requisitos da nova regulamentação das seguradoras a nível europeu, em vigor a partir de Janeiro de 2016. O objectivo passa por reforçar a solidez financeira do sector. Samantha Mitchell / Corbis / VMI O Solvência II é a mudança regulamentar mais importante que o mercado de seguros enfrenta nos últimos 30 anos. À semelhança do que o Basileia II implica para a banca, o Solvência II vem introduzir critérios mais exigentes no cálculo dos rácios de solvência das companhias de seguros. Em causa está uma maior adequação do capital aos riscos assumidos, o que pode traduzir, em última instância, maiores exigências de capital. A nova regulamentação prevê que o Requisito de Capital de Solvência (SCR na sigla inglesa) seja correspondente ao valor em risco (Value-at-Risk VaR) dos fundos próprios de base, com um nível de confiança de 99,5%, para o horizonte temporal de um ano. Prevê também um limite mínimo absoluto para o Requisito Mínimo de Capital (MCR na sigla inglesa). Para além da utilização da fórmula-padrão definida a nível europeu, o requisito de capital de solvência passa a poder ser calculado com recurso a um modelo interno, desde que aprovado pelo supervisor. O Solvência II, que entra em vigor a partir de Janeiro de 2016, traz consigo desafios acrescidos para as seguradoras. Além de modelos quantitativos mais ponderados pelo risco, introduz também critérios qualitativos ao nível da governação e processo de supervisão, e requisitos de transparência na prestação de informação às autoridades de supervisão e demais stakeholders. Assim,eparaalémdeumeventualreforçodoscapitais próprios, as medidas de preparação para o Solvência II exigem uma reformulação dos processos e procedimentos das seguradoras, no sentido de darem resposta ao incremento da exigência ao nível da gestão de risco, controlo interno e prestação de informação ao mercado e às entidades de supervisão. O aumento dos requisitos de transparência trará importantes alterações à forma como é feita a recolha e tratamento de dados, e exige a adopção de sistemas de 2 Seguros Maio 2014

Os três pilares do Solvência II. Pilar 1: Aborda requisitos quantitativos, onde se incluem critérios harmonizados de cálculo de provisões técnicas e outros mecanismos de segurança, como o requisito de capital de solvência e o requisito de capital mínimo. Pilar 2: Contempla requisitos qualitativos, nomeadamente em termos de governação, controlo interno, gestão de risco e processo de supervisão. Pilar 3: Engloba os requisitos de transparência e de prestação de informação às autoridades de supervisão e aos restantes stakeholders. tecnologias de informação apropriados. A finalização do Solvência II ao nível regulatório representa apenas o início. A EY estima que a introdução de uma forma de cálculo de solvência mais suportada no risco traga ainda alterações à forma como as seguradoras conduzem os negócios, à sua organização interna, aos sistemas de pricing e canais de distribuição, devendo conduzir ao incremento da inovação ao nível do produto. Com uma legislação mais exigente, quer em termos quantitativos, quer qualitativos, espera-se que o Solvência II traga uma maior solidez financeira ao sector, permitindo também às companhias e supervisores detectar, antecipadamente, sinais de alarme e prevenir e corrigir eventuais problemas. Face ao novo enquadramento legislativo e à pequena dimensão do mercado, o sector português de seguros pode vir a assistir a movimentos de concentração. REGULAÇÃO HARMONIZADA ESUPERVISÃOMAISACTIVA O Solvência II introduz poderes de supervisão alargados e harmonizados à escala dos Estados- -membros e vem dar maior importância à supervisão de grupo, colocando-a ao mesmo nível da supervisão individual. Prevê também, pela primeira vez, a cooperação dos supervisores nacionais, através do envio de informação à European Insurance and Occupational Pensions Authority (EIOPA), uma das três autoridades europeias de supervisão do sistema financeiro. Os reguladores nacionais passam assim a ter um papel de supervisão mais activo, conduzindo a alterações na forma como as seguradoras se relacionam com o regulador. SEGURADORAS SUBMETIDAS A TESTES DE STRESS O Instituto de Seguros de Portugal (ISP) vai submeter as principais seguradoras que operam em Portugal a testes de stress à semelhança do sucedido no mercado europeu e realizar um estudo de impacto quantitativo junto de todas as 42 companhias que supervisiona, para aferir qual seria a sua margem de MERCADO SEGURADOR PORTUGUÊS EM NÚMEROS 60 mil milhões de euros de activos sob gestão 678 milhões de euros de lucro (mais 27,3% face a 2012) 220% de taxa de cobertura da margem de solvência 12,8 mil milhões de euros de produção de seguro directo (mais 20,7% face a 2012) 33,4% de crescimento do ramo vida (face a 2012) 4,4% de recuo no ramo não vida (face a 2012) Fonte: ISP; números relativos a 2013 solvência caso o Solvência II já estivesse em vigor. O objectivo passa por perceber até que ponto as seguradoras nacionais estão preparadas para diferentes cenários económico-financeiros e se existem necessidades de capital a colmatar. Apesar de a primeira directiva comunitária ter sido aprovada em 2009, a implementação da nova regulamentação europeia de seguros tem vindo a sofrer adiamentos sucessivos. A entrada em vigor do Solvência II está agora ultimada para Janeiro de 2016 e cada Estado-membro tem até ao final do ano para fazer a transposição das directivas comunitárias para a legislação nacional. Opinião CarlaSáPereira, head of Actuarial Services Advisory da EY Portugal On your marks, get set Omercado de seguros na Europa enfrenta um grande número de desafios. Enquanto implementam estruturas que se pretendem eficientes de entreprise risk management e equacionam as melhores formas de optimizar as estruturas de capital face aos futuros requisitos, muitas empresas de seguros pretendem investir em novas tecnologias e modelos analíticos para baixar custos, realizar alterações na distribuição e tipologia de produtos e acomodar as novas necessidades e expectativas dos clientes. O modelo regulamentar do sector está em profunda mudança. O estudo publicado pela EY, European Solvency II Survey 2014, realça um mercado português: abaixo da média relativamente à preparação para os requisitos do Pilar 1; pouco preparado para a implementação do processo ORSA, em particular, para integrar os resultados do ORSA no planeamento estratégico do negócio; e a necessitar de acelerar os seus projectos no Pilar 3 por forma a dar cumprimento à tarefa do reporte. Omomentoédeviragemeodesafioestáemconseguir implementar as alterações que, por um lado, dêem cumprimento às mudanças regulamentares, e que, por outro, possam servir para gerir o negócio de forma efectiva e mais eficiente. O mercado português enfrenta ainda as questões relacionadas com o desajustamento dos preços, em particular nos acidentes de trabalho, mas também no seguro automóvel, e com o aumento esperado da frequência de eventos climáticos extremos. São ainda expectáveis alterações nas estruturas accionistas de algumas empresas de seguros nacionais, quer pela pressão existente nos rácios de solvabilidade do sector bancário, quer pelo interesse crescente de grupos internacionais no mercado nacional, que, aproveitando as ligações históricas a mercados como o do Brasil e de África, podem procurar crescer em mercados emergentes. No 2014 EY European insurance Outlook, a EY identifica que as empresas de seguros de sucesso na Europa em 2014 irão: reestruturar e simplificar a sua organização; acompanhar as evoluções regulamentares; captar clientes de segmentos-chave com produtos inovadores e rentáveis; reformular a sua estratégia de investimentos; desenvolver plataformas digitais para alcançar os consumidores internautas; apostar na qualidade dos dados e em modelos analíticos avançados; e corresponder às mudanças regulamentares no âmbito da distribuição. Na EY, estamos empenhados em apoiar os nossos clientes a atingir o sucesso. go! Maio 2014 Seguros 3

IMPLEMENTAÇÃO DO SOLVÊNCIA II NO BOM CAMINHO O cronograma de implementação da tão aguardada Solvência II está em curso, mas as seguradoras europeias enfrentam ainda importantes desafios antes da sua entrada em vigor. O inquérito conduzido pela EY revela quais. Reuters / Yannis Behrakis 4 Seguros Maio 2014

De um modo geral, o sector segurador europeu está no caminho certo para a implementação do Solvência II, até à sua entrada em vigor, prevista para Janeiro de 2016, apesar de todo o trabalho que tem ainda pela frente nos três pilares da nova regulamentação. Segundo o European Solvency II Survey 2014, conduzido pela EY em 2013, cerca de 80% das empresas de seguros europeias prevê cumprir a maioria dos requisitos do Solvência II até ao arranque de 2016. O nível de prontidão varia de país para país: enquanto as seguradoras holandesas, inglesas e nórdicas se mostram mais confiantes em atender aos requisitos da nova regulamentação, as francesas, alemãs, gregas e da Europa de Leste estão menos esperançadas nesse sentido. As seguradoras holandesas lideram em termos de preparação: perto de 18% espera conseguir implementar todos os requisitos do Solvência II durante 2014, e as restantes acreditam concluir o processo até ao final de 2015. Já no caso português, embora seja maior a percentagem das que esperam implementar todos os requisitos da nova regulamentação até ao final deste ano (cerca de 30%), metade das seguradoras aponta a conclusão do processo apenas para o decorrer de 2015, e perto de 20% admite deixar trabalho para o decurso de 2016. Os resultados do inquérito demonstram que as seguradoras europeias estão a procurar melhorar a eficácia da sua gestão de risco em várias dimensões, desde a cultura interna, ao controlo, passando pelas pessoas e sistemas. As companhias de seguros estão também a investir esforços consideráveis para perceber como gerir o seu capital no âmbito do Solvência II, de forma a estarem devidamente preparadas para o novo regime. A automatização de muitas das actividades de gestão de risco, sobretudo a elaboração de relatórios, é ainda relativamente baixa, mas a EY antevê que seja dada cadavezmaisatençãoaestaárea,àmedidaqueas empresas desenvolvem os seus planos. Associada à elaboração dos relatórios surge a necessidade de dados robustos e de tecnologias de informação (TI) que permitam o seu rápido processamento, vertentes para as quais as seguradoras têm também de canalizar as suas energias. De acordo com o inquérito, conseguir a aprovação do modelo interno continua a ser um grande desafio, registando-se, em consequência, uma ligeira redução no número de empresas que pretende seguir este caminho. Apenas as principais seguradoras revelam estar, desde o início do novo regime de Solvência II, fortemente comprometidas com a aprovação do modelo interno, tendoalinhadooseuplanodetrabalhonessesentido. Pilar 1 CÁLCULO DE FUNDOS PRÓPRIOS REGISTA PROGRESSOS As companhias de seguros europeias mostram-se, de uma forma geral, bem preparadas para a implementação dos requisitos do Pilar 1 e continuam a fazer progressos nesta área. O maior progresso, relativamente ao inquérito anterior diz respeito ao cálculo de fundos próprios, que NÍVEL DE IMPLEMENTAÇÃO DO SOLVÊNCIA II NA EUROPA POR PILAR 3,3 no Pilar 1 2,9 no Pilar 2 1,9 no Pilar 3 Fonte: European Solvency II Survey 2014 da EY; escala de 0 a 3,5 representa agora a área em que as seguradoras registam maior nível de preparação dentro do Pilar 1, por oposição a outras onde permanece a incerteza, como é o caso da equivalência. As companhias francesas, holandesas e italianas parecem estar próximas da conformidade com todos os requisitos do Pilar 1 do Solvência II, enquanto as gregas, portuguesas e da Europa central e oriental revelam um baixo nível de prontidão, apontando os cálculos da margem de risco como a área menos desenvolvida dentro deste pilar. Portugal surge com um nível de preparação de 3,1 para implementação dos requisitos do Pilar 1, numa escala de zero a quatro, liderada pela Itália, com uma pontuação de 3,7. Pilar 2 MAIS EFICÁCIA NA GESTÃO DE RISCO Os resultados do inquérito demonstram que, no geral, as companhias de seguros europeias estão ainda longe de conseguir mostrar aos reguladores progressos significativos no que toca à eficácia da sua gestão de risco. Apenas 20% adoptaram um mecanismo formal de avaliação da eficácia do sistema de gestão de risco, em linha com as exigências do Pilar 2 do Solvência II. A EY considera que as companhias de seguros deviam procurar perceber melhor esta componente da gestão do negócio, de forma a melhorá-la, independentemente dasexigênciasregulatóriasnessesentido. Os Países Baixos, nórdicos e o Reino Unido consideram-se mais bem preparados neste pilar, enquanto a Grécia, Portugal e os países da Europa central e oriental admitem ter feito menos desenvolvimentos no mesmo. Um em cada quatro inquiridos prevê vir a dedicar muito mais tempo a medir o risco, ao governo da Maior inquérito ao sector. O European Solvency II Survey 2014, conduzido pela EY no Outono de 2013, é um dos maiores inquéritos à indústria de seguros pan-europeia alguma vez realizado, ao envolver 20 países e mais de 170 empresas de seguros. Os resultados revelam a opinião das participantes sobre temas relacionados com o Solvência II, bem como com o seu nível de preparação para a implementação dos Pilares 1, 2 e 3 da regulamentação europeia, que estará em vigor em todos estados-membros a partir de Janeiro de 2016. Ferramentas de dados e TI. Pertode79%dasempresasde seguros europeias admite não estar ainda alinhada com os requisitos necessários para documentar e controlar ferramentas informáticas destinadas ao utilizador final. Um longo caminho a percorrer nesta área para dar cumprimento ao Solvência II. Interacção com reguladores. A maior parte das companhias de seguros europeias admite não estar totalmente satisfeita com o apoio recebido dos seus reguladores e espera uma maior intervenção e fiscalização quando o Solvência II entrar em vigor. Esta lacuna deve-se, em parte, aos enormes desafios de mobilização de recursos que os próprios reguladores enfrentam. sociedade e a assegurar o cumprimento do quadro regulatório neste contexto. E aproximadamente um terço antecipa um maior esforço na avaliação do risco futuro e na elaboração de relatórios para os reguladores. Pilar 3 REPORTE DE INFORMAÇÃO EM ATRASO O inquérito revela que o Pilar 3 é o que está mais atrasado no que toca à preparação para implementação dosseusrequisitos,oquevaiexigiraatençãodas companhias de seguros ao longo deste ano, para dar cumprimentoaocalendáriolegal. Cerca de 76% dos entrevistados admite ter ainda por cumprir todos ou quase todos os requisitos do Pilar 3, relacionados com os relatórios de reporte de informação. Isto porque a maioria das companhias de seguros decidiu esperar por uma maior definição dosrequisitosdopilar3,antesdemobilizarrecursos consideráveis na definição e implementação de soluções de reporte de informação. A Alemanha, Holanda, Itália e os países da Europa central e oriental registaram os maiores progressos desde 2012, estando a Holanda na linha da frente, com 43% dos entrevistados a cumprirem já grande parte, ou mesmo todos, os requisitos do Pilar 3. O nível de prontidão da Holanda atinge os 2,7, numa escala de zero a cinco, na qual Portugal se posiciona poucoparaláde1,5pontos. Segundo a EY, o decurso de 2014 vai ser crucial para muitas empresas reiniciarem, ou acelerarem, os projectos relacionados com o Pilar 3. Atendendo ao nível de impreparação, a fase de transição do reporte de informação prevista para 2015 deverá assentar numa base mais manual, deixando para 2016 soluções mais automatizadas, robustas eintegradas. Maio 2014 Seguros 5

DR PEDRO SEIXAS VALE PARA O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SEGUROS (APS), as seguradoras a actuar no mercado nacional estão preparadas para a implementação da nova regulamentação. O Solvência II vem aumentar a exigência sobre o sector segurador. Como é que encara esse reforço de exigência? O Solvência II será um dos maiores desafios, senão o maior, do sector segurador europeu nas últimas décadas. Apesar de alguns dos impactos poderem vir a ser significativos, é consensualmente reconhecida a necessidade de modernização das rígidas normas de solvência em vigor para o sector e da introdução, nas análises de solvência, de dinamismos mais coincidentes com as realidades deste século. O Solvência II terá de ser ajustado, mais cedo ou mais tarde, mas tem o mérito de modernizar os mecanismos de análise da solvabilidade do sector e fomentar a discussão em torno de uma matéria nuclear à actividade seguradora: a gestão de riscos. Quaisasprincipaisalteraçõesqueanovaregulamentaçãovem introduzir na actividade das seguradoras? O Solvência II irá concentrar-se na qualidade da gestão de riscos por parte das seguradoras e em princípios e objectivos, em vez de adoptar regras estanques que não têm em conta os perfis específicos de risco de cada companhia. Tal será Sobre a APS Fundada em 1982, a Associação Portuguesa de Seguros (APS) tem sido uma presença constante na actividade seguradora portuguesa, enquanto entidade representativa das companhias de seguros e resseguros, defendendo os seus interesses a nível nacional e internacional, independentemente da sua natureza jurídica ou nacionalidade. Pedro Seixas Vale, de 66 anos, licenciado em Economia pela Universidade do Porto, preside a associação desde Abril de 2008, sendo o quarto presidente da APS. Esteve desde sempre ligado à APS, onde foi membro dos Conselhos Consultivo e de Direcção e presidente das Comissões Técnicas de Acidentes e Assuntos Financeiros e Fiscais. atingido através de mecanismos quantitativos os seguradores serão obrigados a deter mais capital para mitigar o risco global de insolvência e qualitativos, comooreforçodossistemasdegovernaçãoeacriação de ferramentas mais adequadas de monitorização de riscos e de intervenção para as autoridades de supervisão. O Solvência II ambiciona também incentivar o desenvolvimento das boas práticas de gestão de riscos e dá um grande ênfase ao papel dosórgãosdeadministraçãodasempresasdeseguros, responsabilizando-os pela implementação de sistemas eficazes de controlo interno e gestão de riscos. As companhias serão também obrigadas a identificar, mediregerirosriscossuportadoseaefectuaruma análise prospectiva dos mesmos. O Solvência II também ambiciona incentivar o desenvolvimento de uma análise supervisional de maior qualidade, com maior transparência e mais harmonizada. Uma vez finalizado este processo de revisão do regime prudencial do sector segurador, espera-se que seja implementado um regime ainda mais robusto e assim cumprir um dos principais objectivos do projecto Solvência II: aumentar a protecção dos consumidores de seguros. As seguradoras portuguesas estão preparadas para a mudança? De que forma se estão a adaptar às alterações? As seguradoras a actuar no mercado nacional sempre demonstraram encarar com grande empenho e rigor as exigências práticas do regime Solvência II. Por outro lado, a regulamentação sectorial nacional tem vindo a ser progressivamente adaptada de forma compatível com o novo regime. Esta conjugação indicia que o mercado segurador português deverá estar numa posição privilegiada de enfrentar o desafio da implementação do Solvência II, assumindo mesmo significativas vantagens competitivas face a outros mercados europeus. Como é que as principais seguradoras portuguesas vão enfrentar os testes de stress a que serão submetidas e as eventuais necessidades de reforço de capital? Que resultados antecipa? Em termos médios, espera-se uma redução dos níveis dos rácios de solvência, resultado do acréscimo significativo dos requisitos de capital em ambiente Solvência II, nomeadamente o Requisito Regulamentar de Capital de Solvência (SCR). No entanto, independentemente da perspectiva de análise, os dados do final do exercício de 2013 apontam para um rácio de solvência agregado do sector, calculado com base em regras Solvência I, na ordem dos 220%, o que significa que os capitais disponíveis para cobrir os requisitos de capital são mais de duas vezes os exigidos legalmente, colocando as seguradoras portuguesas numa posição muito confortável para fazer face às exigências adicionais do futuro regime de Solvência II. Quais as principais implicações do Solvência II nas seguradoras e no mercado nacional de seguros? Os custos iniciais de implementação do novo regime são elevados e poderão existir ajustamentos dos preços para alguns tipos de seguros que revelem acréscimos elevados de exigências de capital. Tudo conjugado poderá potenciar o efeito escala e reforçar a crescente tendência de concentração no sector, aumentando a pressão competitiva sobre os pequenos e médios seguradores de base local. 6 Seguros Maio 2014

Paulo Alexandre Coelho JOSÉ ALMAÇA Sobre o ISP O Instituto de Seguros de Portugal (ISP) é a autoridade responsável pela regulação e supervisão da actividade seguradora, resseguradora, dos fundos de pensões e respectivas entidades gestoras e de mediação de seguros. Tem como missão assegurar o bom funcionamento do mercado segurador e fundos de pensões, de forma a contribuir para a garantia de protecção dos tomadores de seguro, pessoas seguras, participantes e beneficiários. Nomeado em 2012 presidente do ISP, José Almaça é doutorado em Gestão e dedicou as últimas três décadas ao ensino, sendo autor de várias obras sobre o sector segurador. É professor catedrático de Gestão na Universidade Autónoma e foi membro do conselho Fiscal da Victoria Seguros. O PRESIDENTE DO INSTITUTO DE SEGUROS DE PORTUGAL (ISP) comenta oimpactodosolvênciaiinomercado segurador e explica como o ISP está a ajudar as companhias na transposição das novas regras. O Solvência II entra em vigor em Janeiro de 2016. Qual o papel do ISP neste contexto e qual o ponto de situação? A participação do ISP reflecte-se em vertentes diversas. Tem vindo a participar nos trabalhos de construção do novo regime desde o início. Adicionalmente, informou o mercado da intenção de dar cumprimento às orientações que foram divulgadas pela EIOPA, para preparar a aplicação daquele regime, no contexto da chamada Fase de Preparação. Uma preparação atempada é benéfica para todas as partes e o ISP tem procurado manter um diálogo com as empresas de seguros nacionais nesse sentido. Também foi apresentado ao Governo um projecto de transposição da directiva que define os princípios gerais do novo regime projecto entretanto alterado, resultado da aprovação da directiva Omnibus II, que introduz alterações importantes. Quaisosprincipaisdesafiosqueasseguradoras portuguesas enfrentam no sentido de se prepararem para cumprir o reforço de exigência que o Solvência II representa? O ISP tem consciência que o impacto em termos de recursos humanos, financeiros e tecnológicos é significativo e que a crise financeira trouxe outras preocupações que careceram de uma intervenção mais imediata. Também as várias derrapagens no calendário prejudicaram o momentum e o grau de empenho de uma primeira fase. Mas agora é fundamental que as empresas se dediquem à definição de um calendário rigoroso e abrangente para identificar e planear as actividades a concretizar até Janeiro de 2016. Em termos de desafios, destacaria a autoavaliação do risco e da solvência (o ORSA), cuja implementação tem sido identificada como uma das principais preocupações das empresas. Qual o ponto de situação das seguradoras portuguesas relativamente à preparação para cada um dos três pilares do Solvência II? No que diz respeito ao primeiro pilar, desde 2008 que o ISP exige às empresas de seguros o cálculo e reporte das provisões técnicas combaseemprincípioseconómicosemlinhacomonovo regime. Por outro lado, verificou-se uma participação massiva do mercado português quer nos estudos de impacto quantitativo realizados a nível europeu, quer nos realizados pelo ISP. Em relação ao segundo pilar, a grande maioria do trabalho já está feita, uma vez que as principais características do sistema de governação em ambiente Solvência II coincidem com os princípios aplicáveis aos sistemas de gestão de riscos e de controlo interno divulgados pelo ISP em 2004. No contexto do segundo pilar, surge também o ORSA, uma das principais novidades do novo regime, que irá ajudar a estabelecer a relação entre as decisões de gestão e o consumo de capital associado. O terceiro pilar exigirá um esforço mais intensivo, no imediato, em termos de recursos. Há que preparar os sistemas de informação para recolher a informação e reportá-la, sendo que o reporte será efectuadocomumformatonovo(xbrl),oquerepresentaum desafio adicional, e que o primeiro reporte deverá ocorrer já em 2015. Com as iniciativas planeadas para os próximos meses, acreditamos que a 1 de Janeiro de 2016 as empresas de seguros nacionais estarão preparadas para cumprir o Solvência II. Quais os benefícios, para seguradoras e clientes, do incremento de exigência que o Solvência II representa? O principal objectivo é a protecção dos tomadores de seguros e beneficiários. Para o concretizar, é preconizada a convergência de práticas entre supervisores e empresas, é promovida uma cultura de gestão de riscos que esteja presente nas várias funções da empresa e é requerida uma maior transparência e disciplina de mercado. Ao promover a convergência das práticas, facilita-se o mercado único de seguros e a supervisão de grupos de seguros com presença no Espaço Económico Europeu (EEE). O novo regime irá fomentar a competitividade e, consequentemente, a capacidade de inovação, o que é benéfico para todas as partes. Que implicações terá a implementação do novo regime nas seguradoras e no mercado segurador português? Que movimentações antecipa? Deverá assistir-se à disponibilização de novas tipologias de produtos de seguros e a alterações na composição das estruturas deprodutos,paraestabelecerumaligaçãomaisdirectaentreo risco assumido e o consumo de capital associado. Por outro lado, é natural que se verifiquem alguns movimentos de concentração no mercado, designadamente com o intuito de aproveitar eventuais sinergias. Que iniciativas estão previstas, por parte do ISP, para ajudar o sector a enfrentar os desafios que se apresentam? Nodia21deAbril,oISPlançouumnovoestudodeimpacto quantitativo de âmbito nacional, o QIS-2014, para testar e consolidar os processos de cálculo subjacentes ao regime Solvência II. Adicionalmente, os respectivos templates de reporte terão por base aqueles que foram preparados pela EIOPA no contexto da Fase de Preparação, o que irá permitir testá-los. Prevemos, ainda este ano, concretizar iniciativas como a autoavaliação prospectiva dos riscos, nome que foi atribuído ao ORSA na Fase de Preparação, ainda que a principal diferença seja o facto de, durante este período, ser proposta uma implementação faseada. O ISP está preparado para manter uma estreita ligação comasempresasdesegurosaolongodetodooprocessode preparação, bem como posteriormente. Maio 2014 Seguros 7

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