Fístula arterio em pacientes com doença renal crônica

Documentos relacionados
CONHECIMENTO DE IDOSOS SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE QUANTO AOS CUIDADOS COM A FÍSTULA ARTERIOVENOSA

CENSO DE DIÁLISE SBN 2013

PROGRAMA DE DISCIPLINA VERSÃO CURRICULAR: 2014/2 PERÍODO: DEPARTAMENTO: ENB

ANEXO I Procedimentos incluídos na Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS para o tratamento da Doença Renal Crônica

FÍSTULAS ARTERIOVENOSAS NÃO PRIMÁRIAS PARA HEMODIÁLISE RELATO DE SÉRIE DE CASOS

Hemodiálise. Remove as substâncias tóxicas e o excesso de líquido acumulado no sangue e tecidos do corpo em conseqüência da falência renal.

O DOENTE RENAL CRÔNICO NO CUIDADO COM A FÍSTULA ARTERIOVENOSA1. REINAS, Camila Aoki 2 MATTOS, Magda de 3

Fístula e Enxerto Arteriovenoso Orientações para pacientes e familiares

RECIRCULAÇÃO NO ACESSO VASCULAR DE PACIENTES EM HEMODIÁLISE RECIRCULATION IN VASCULAR ACCESS IN HEMODIALYSIS PATIENTS

T E R M O D E C O N S E N T I M E N T O E S C L A R E C I D O

FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNIA EM TRATAMENTO DE HEMODIÁLISE NO INSTITUTO PRÓ VIDA RENAL, LONDRINA-PR

CONHECIMENTO SOBRE DOENÇA RENAL CRÔNICA E A HEMODIÁLISE EM UM GRUPO DE IDOSOS

T E R M O D E C O N S E N T I M E N T O E S C L A R E C I D O HEMODIÁLISE E DIÁLISE PERITONEAL

CENSO DE DIÁLISE SBN 2011

TÍTULO: PACIENTES EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO COM FÍSTULA ARTERIOVENOSA: SUBSÍDIOS PARA OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Perfil Epidemiológico de Pacientes Portadores de Doença Renal Crônica Terminal em Programa de Hemodiálise em Clínica de Santa Cruz do Sul - RS

RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO

DIA MUNDIAL DO RIM 13 DE MARÇO DE 2014-FORTALEZA, CE 1 EM 10. O RIM ENVELHECE, ASSIM COMO NÓS

Cuidados com a Fístula Arteriovenosa (FAV) orientações para pacientes e cuidadores

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANSMISSIVEIS. Doenças Renais Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

ANÁLISE DO MONITORAMENTO DA GLICEMIA CAPILAR EM INSULINODEPENDENTES PARA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES RELACIONADAS AO DIABETES MELLITUS

ADEQUAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES FARMACÊUTICAS PARA O USO CORRETO DE MEDICAMENTOS AO PERFIL DOS PACIENTES ASSISTIDOS EM CLÍNICA DE HEMODIÁLISE

Insuficiência renal aguda em hospital ensino Acute renal failure in teaching hospital

TRATAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA

O que preciso saber sobre meu acesso vascular? Fistula/Enxerto

CONSULTA DE ACESSOS VASCULARES. LUIS FREITAS Serviço de Nefrologia Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Centro de Acessos Vasculares - Sanfil

RESUMOS APROVADOS. Os trabalhos serão expostos no dia 23/11/2011, no período das 17h às 19h;

INDICADORES BIOQUÍMICOS DA FUNÇÃO RENAL EM IDOSOS

THE NURSE'S ACTIVITIES IN CARE FOR PATIENTS WITH ARTERIOVENOSA FISTULA ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NOS CUIDADOS A PACIENTES COM FÍSTULA ARTERIOVENOSA

EEAN.edu.br. Pacientes em hemodiálise com fístula arteriovenosa: conhecimento, atitude e prática

ARTIGO ORIGINAL. Complicações durante a hemodiálise e a assistência de enfermagem. Complications during hemodialysis and nursing care

Assistência de Enfermagem a fístulas Arteriovenosas: Revisão de Literatura

Diálise Informações Gerais UNINEFRO CLINICAS DE DIALISE

CATETERISMO CARDÍACO. Prof. Claudia Witzel

FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES: COMPARAÇÃO ENTRE OS SEXOS EM PACIENTES TRANSPLANTADOS RENAIS 1

Insuficiência Renal Crônica Claudia Witzel

Introdução RESUMO. 92 N. 2, Novembro/2011 CCIH, 2 UTI, 3 CTI

O que preciso saber sobre meu acesso vascular? Cateter

TÍTULO: O ACOLHIMENTO DO ENFERMEIRO DO SERVIÇO DE PROCURA DE ÓRGÃOS E TECIDOS AOS FAMILIARES DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS.

DESAFIOS DA TRS NO BRASIL OU DOENÇA RENAL CRÔNICA : É MELHOR PREVENIR

CARACTERIZAÇÃO DOS PACIENTES COM IRC EM TRATAMENTO HEMODIÁLÍTICO EM UMA CLÍNICA PRIVADA EM NATAL/RN

AVALIAÇÃO DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR EM CÃES OBESOS RESUMO

Avaliação da glicemia e pressão arterial dos idosos da UNATI da UEG-GO

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Análise da demanda de assistência de enfermagem aos pacientes internados em uma unidade de Clinica Médica

TÍTULO: TRATAMENTO DE ÚLCERA VENOSA: A APLICAÇÃO DA DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL COMO TERAPIA COMPLEMENTAR

Transplante de pâncreas

TÍTULO: AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE GLICOSE EM INDIVÍDUOS COM DIABETES MELLITUS E CREATININA E UREIA EM INDIVÍDUOS NEFROPATAS.

TÍTULO: FISIOTERAPIA NA ATUAÇÃO E PREVENÇÃO DE DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS

AVALIAÇÃO DO TEMPO DE MATURAÇÃO DAS FÍSTULAS RÁDIO-CEFÁLICAS PARA HEMODIÁLISE

Por que um curso para a área de Nefrologia? Doença Renal Crônica. Frequente e grave, mas também prevenível e tratável...

IDENTIFICAÇÃO DA FÍSTULA ARTERIOVENOSA E SUAS COMPLICAÇÕES PELOS ENFERMEIROS DOS SERVIÇOS DE ENTRADA DE CÁCERES MT

Custo-efetividade do Tratamento da Anemia em Pacientes Renais em Terapia Renal Substitutiva no Brasil.

Prevenção Secundária da Doença Renal Crônica Modelo Público

Terapia Renal Substitutiva em Minas Gerais

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / HORARIO Tarde - 17:00 às 21:00 INVESTIMENTO

Ações de prevenção e controle da doença renal crônica no Estado de Mato Grosso

J. Health Biol Sci. 2016; 4(2):82-87 doi: / jhbs.v4i2.659.p

A avaliação na ponta dos dedos

EM QUE CONSISTE A HEMODIALISE???

HEMODIÁLISE AMBULATORIAL EXPERIÊNCIA EM CRIANÇA DE BAIXO PESO

HEMODÍALISE: CUIDADOS DE ENFERMAGEM A PESSOAS COM FÍSTULA ARTERIOVENOSA

ENFERMAGEM HEMODÍALISE: CUIDADOS DE ENFERMAGEM A PESSOAS COM FÍSTULA ARTERIOVENOSA HEMODIALYSIS: NURSING CARE TO PEOPLE WITH ARTERIOVENOUS FISTULA

TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA, A REALIDADE DO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS BAHIA NO ANO DE 2009.

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR ENTRE HIPERTENSOS E DIABÉTICOS DE UMA UNIDADE DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA.

RASTREAMENTO DE PRESSÃO ARTERIAL E GLICEMIA

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: O IMPACTO DA HEMODIÁLISE NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

Acessos Vasculares Definitivos para Hemodiálise : *Abordagem Multidisciplinar*

Departamento de Nefrologia do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) RESUMO

Hospital São Paulo SPDM Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina Hospital Universitário da UNIFESP

O auto cuidado com a fístula arteriovenosa realizado pelos doentes renais crônicos da região sul de Mato Grosso.

PREVALÊNCIA DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM PACIENTES DIABETICOS EM UM LABORATORIO CLÍNICO EM CAMPINA GRANDE

Tudo o que você precisa saber sobre Cateterismo

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO NEFROLOGIA PEDIÁTRICA

Relatório do censo brasileiro de diálise de 2010

CNC-CENTRO DE NEFROLOGIA DE CANINDÉ

ATENDIMENTO E ANÁLISE DO PREFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA EM PONTA GROSSA NO SETOR DE ANGILOGIA E CIRURGIA VASCULAR

CARTILHA DO PACIENTE SAIBA MAIS SOBRE A HEMODIÁLISE

Mariângela Leal Cherchiglia. Juliana Alvares Alessandra Almeida Maciel Francisco de Assis Acúrcio Eli Iola Gurgel Andrade

TÍTULO: CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES COM PICC INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

BIBLIOGRAFIA ENFERMAGEM APERFEIÇOAMENTO: ASPERHEM, M.V. - Farmacologia para Enfermagem. 11ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 2010.

Necessidades de aprendizagem de profissionais de enfermagem na assistência aos pacientes com fístula arteriovenosa

TÍTULO: HIPERTRIGLICERIDEMIA PÓS-PRANDIAL EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 E O RISCO CARDIOVASCULAR

CURSO DE ENFERMAGEM. Gustavo Haas Lermen FÍSTULA ARTERIOVENOSA: CUIDADOS DISPENSADOS PELOS INDIVÍDUOS COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

Assistência de Enfermagem a fístulas Arteriovenosas: Revisão de Literatura

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica 2016

DOENÇA RENAL CRÔNICA E HEMODIÁLISE NA TERCEIRA IDADE: ESTUDO DE CASO À LUZ DA TEORIA DO AUTOCUIDADO DE OREM.

AVALIAÇÃO DA TÉCNICA DE PUNÇÃO VENOSA NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM ADULTOS

Doença com grande impacto no sistema de saúde

IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA

QUALIDADE DE VIDA DA DIÁLISE PERITONEAL VERSUS HEMODIÁLISE 1 QUALITY OF LIFE PERITONIAL DIALYSIS VERSUS HEMODIALYSIS

COMORBIDADES DE PACIENTES RENAIS CRÔNICOS E COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO TRATAMENTO HEMODIALÍTICO

ESTUDO DA INFLAMAÇÃO ATRAVÉS DA VIA DE EXPRESSÃO GÊNICA DA GLUTATIONA PEROXIDASE EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS

EFEITOS DA TOXINA DA CARAMBOLA EM INDIVÍDUOS COM DOENÇA RENAL E EM TRATAMENTO DIALITICO

Censo Brasileiro de Diálise, 2009

Rua Machado Bittencourt, Conj. 53 Vila Clementino São Paulo - SP Fones: (11) / Fax: (11)

Motivo de escolha de diálise peritoneal: exaustão de acesso vascular para hemodiálise?

Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Fístula arterio teriovenosa: enosa: autocuidado em pacientes com doença renal crônica Arteriovenous fistula: Self-care in patients with chronic renal disease Etiene Fátima Silva Fernandes 1, William Soares 1, Thalita C. Santos 1, Tokico Murakawa Moriya 2, César Augusto Sangaletti Terçariol 3, Viviane Ferreira 4 RESUMO Introdução: o acesso mais indicado para a hemodiálise (HD) a longo prazo é a fístula arteriovenosa (FAV) e o autocuidado é um dos passos mais importantes para a sua maturação e durabilidade. Objetivo: identificar o autocuidado com a FAV em pacientes com doença renal crônica. Métodos: estudo descritivo, exploratório e quantitativo. Resultados: foram avaliados 60 pacientes com idades entre 18 e 83 anos, 57% do gênero masculino. O tempo de uso da FAV variou entre 2 a 18 anos, sendo que 42% tiveram tentativas anteriores de confecção. Quanto ao autocuidado foram registrados, ao todo, 16 tipos. Observou-se que 46,6% realizavam os exercícios diários para FAV, 41,6%, em casos de sangramento da FAV realizavam compressão local, 81,6% lavavam a FAV antes da HD e 30% retiravam o curativo da FAV 4 horas após o término da HD. Conclusão: verificou-se que a maior parte dos pacientes é conhecedora da necessidade de desenvolver ações de autocuidado, visando manter a FAV funcionante. Palavras-chave: Hemodiálise. Autocuidado. Fístula Arteriovenosa. Insuficiência Renal Crônica.. Introdução A doença renal crônica (DRC) não é um processo estável, mas sim, dinâmico, em que o paciente apresenta uma afecção renal ou sistêmica que acomete os rins e desenvolve uma perda progressiva e irreversível das funções renais ao longo dos anos. 1 Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2002), as doenças mais frequentes, que levam à perda de função renal são: a hipertensão arterial sistêmica (HAS), a diabetes mellitus (DM), as glomerulopatias, os rins policísticos e a nefrite intersticial. 2 Os tratamentos indicados para DRC são: o tratamento conservador, as terapias renais substitutivas (TRS) como hemodiálise (HD), diálise peritoneal e o transplante renal. 1 A HD é um procedimento dialítico, que remove os solutos acumulados, o excesso de água e restabe- 1. Aluno do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá. 2. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá; Profª Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto -USP. 3. Docente do Centro Universitário Barão de Mauá. 4. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá e do Curso de Medicina do Centro Universitário de Araraquara. Correspondência: Viviane Ferreira Avenida Paris, nº 707, Bloco A5, Apto.12, Cep: 14076-110 - Ribeirão Preto - SP / Jardim Independência ferreiravi@hotmail.com Artigo recebido em 23/07/2013 Aprovado para publicação em 28/11/2013

Fernandes EFS, Soares W, Santos TC, Moriya TM, Terçariol CAS, Ferreira V. lece a homeostase eletrolítica e ácido-básico do organismo, mediante o uso de uma máquina, na qual a filtração do sangue é feita por um rim artificial (dialisador ou capilar), fora do organismo. Normalmente, são realizadas três sessões por semana, com duração de quatro horas cada. 1,3,4 Para a realização da HD é necessário um acesso vascular, que pode ser temporário ou permanente. Uma forma de acesso permanente, não muito utilizado pelo alto risco de desconexão e hemorragia, que é feito por meio de um dispositivo denominado shunt que faz uma conexão externa entre a artéria e a veia por meio de um conector de teflon ou silicone. 1,3,4 Os acessos permanentes podem ser: a fístula arteriovenosa (FAV), que é a anastomose entre uma artéria e uma veia e o enxerto, interligação da artéria com a veia por meio de um enxerto autólogo (veia safena), o enxerto artificial (PTFE), heterólogo (bovino) e o cateter temporário duplo lúmen permanente. O acesso temporário, mais utilizado, é o cateter temporário de duplo lúmen (CTDL), usado em pacientes com lesão renal aguda (LRA), DRC sem acesso disponível para confecção da FAV, nas hemodiálises urgentes, e quando se perde o acesso definitivo (FAV) ou se aguarda a maturação do mesmo. 1,4 Após a confecção da FAV é necessário aguardar um período geralmente de 4 a 6 semanas para iniciar as punções para que ocorra uma dilatação venosa suficiente, com o objetivo de permitir o fluxo adequado de sangue para o dialisador. Durante este período deve ser utilizado um acesso temporário. A FAV é o acesso mais indicado para pacientes que realizam a hemodiálise a longo prazo. Após a confecção cirúrgica, tanto a equipe de saúde quanto o paciente devem tomar alguns cuidados específicos com a FAV como: realizar antissepsia da FAV com solução antisséptica antes da HD, alternar os pontos de punção da FAV, manter a distância adequada para as punções arterial (3 cm da anastomose) e venosa (5 cm da anastomose), fixar adequadamente as agulhas, realizar curativos compressivos após a retirada das agulhas de punção, monitorar a pressão arterial. Os pacientes devem lavar o membro da FAV antes da diálise, evitar compressões no mesmo como: carregar peso, dormir sobre o braço, não permitir a verificação da pressão arterial no membro, não permitir coleta de sangue, não realizar tricotomia no (retirada de pelos), não remover crostas formadas pelas punções na região. É necessário fazer exercícios diários no membro em que foi feita a FAV, e em caso de sangramento, comprimir o local usando material limpo e procurar a unidade de diálise se o sangramento for intenso. Verificar a presença de frêmito na FAV, diariamente, observar se houver qualquer alteração como calor, edema, rubor e dor, comunicar a equipe de saúde imediatamente e permitir o manuseio da FAV somente por profissionais habilitados. 3,5 Diante do exposto, o objetivo deste estudo é identificar o autocuidado com a FAV em pacientes com doença renal crônica. O diagnóstico do autocuidado com a FAV nos pacientes portadores de DRC obtidos através desse estudo poderá servir de subsídios para o planejamento de um programa de educação aos pacientes com o objetivo de incentivar e motivar a realização do autocuidado. Métodos Trata-se de um estudo descritivo, exploratório e quantitativo. Foi realizado em uma Clínica privada do interior do Estado de São Paulo, que realiza TRS (hemodiálise) e atende pelo SUS e alguns convênios. Fizeram parte do estudo portadores de DRC que realizavam HD na referida Clínica, nos três turnos (segundas, quartas e sextas-feiras e, terças, quintas feiras e sábados). Entre 230 pacientes, foram selecionados 60 através da amostragem probabilística casual estratificada por turnos, com partilha proporcional, correspondente a 25% por estrato. A coleta de dados foi realizada junto aos pacientes, que concordaram em participar do estudo, após informação detalhada dos objetivos, justificativa e procedimentos a serem realizados. Depois dos esclarecimentos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os dados foram coletados por meio de entrevista estruturada, tendo o auxílio de um roteiro composto de três itens: dados de identificação, diagnóstico médico e cuidados com a FAV. Este instrumento foi validado por cinco especialistas da área de Nefrologia, sendo três enfermeiras e dois médicos, com o mínimo de 10 anos de experiência na área. A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa para seres humanos e aprovado conforme protocolo nº 455/2010. 425

Fernandes EFS, Soares W, Santos TC, Moriya TM, Terçariol CAS, Ferreira V. Resultados Participaram do estudo 60 pacientes. Dentre eles 35 (57%) eram do sexo masculino e 25 (43%) do feminino. A idade variou entre 18 a 83 anos, com média de 52,5, mediana de 55 e desvio padrão de 15,6. A faixa etária predominante foi entre 49 a 63 anos (40% dos pacientes), seguidos de 34 a 48 anos (23,3%) e 64 a 83 anos (23,3%). Verificou-se que 30 (50%) pacientes apresentavam como etiologia da DRC, aquelas mencionadas pelo Ministério da Saúde do Brasil (2002), como sendo as mais frequentes HAS e DM, e os outros 30 (50%) apresentavam outras etiologias como nefrite, doença de Berger e uropatia obstrutiva crônica. A maioria das FAV em 37 (61,3%) pacientes foi feita no membro superior direito e as demais em 23 (38,3%) deles no membro superior esquerdo. Verificou-se que 35 (58,4%) pacientes submeteram-se apenas à realização de uma FAV, enquanto que 25 (41,6%) submeteram-se a duas ou mais. Averiguou-se que 48 (80%) pacientes possuíam a FAV há seis anos ou mais. A seguir, na tabela 1, encontram-se os cuidados que os pacientes portadores de DRC têm com sua FAV. Grande parte dos pacientes entrevistados realizava a maioria dos diversos autocuidados relacionados à FAV. Observou-se que 28 (46,6%) deles faziam os exercícios diários para FAV e 14 (23,3%) praticavam atividade física. É importante destacar que dentre os sujeitos da pesquisa, 32 (53,3%) realizavam trabalhos domésticos. Tabela 1 Cuidados que os pacientes portadores de DRC têm com sua FAV. Sim Não Variável Nº % Nº % Realizam exercícios para FAV 28 46,6 32 53,3 Praticam exercícios físicos 14 23,3 46 76,6 Não realizam trabalhos domésticos 28 46,6 32 53,3 Usam Hirudoid (Mucopolissacaridio+polissulfurico) 43 71,6 17 28,3 Lavam a FAV antes da hemodiálise 49 81,6 11 18,3 Verificam diariamente a FAV quanto ao frêmito 51 85,0 9 15,0 Verificam diariamente a FAV quanto à inflamação 47 78,3 13 21,3 Verificam diariamente a FAV quanto a outras alterações 1 1,6 59 98,3 Não dormem do lado da FAV 42 70,0 18 30,0 Não carregam peso do lado da FAV 52 86,6 8 13,3 Não permitem a verificação da PA no membro da FAV 59 98,3 1 1,6 Não permitem coletar sangue no membro da FAV 59 98,3 1 1,6 Não permitem administrar medicamentos por via IM e EV no membro da FAV 59 98,3 1 1,6 Não realizam tricotomia no local da FAV 55 88,3 5 11,6 Não retiram crostas da FAV 55 88,3 5 11,6 Realizam compressão na FAV em caso de sangramento 25 41,6 35 58,4 426

Fernandes EFS, Soares W, Santos TC, Moriya TM, Terçariol CAS, Ferreira V. Em relação à higienização da FAV antes da HD, 43 (71,6) pacientes executavam este procedimento. Quanto ao tempo de retirada do curativo após HD, 18 (30%) dos pacientes retiravam após quatro horas, 14 (23,3%) após 12 horas, 9 (15%) após seis horas, e vários outros em diferentes horas. Em relação ao autocuidado com a FAV, 58 (96,7%) pacientes responderam que foram orientados e dois (3,3%) que não. Dessa forma, 24 (40%) pacientes foram orientados por médicos e enfermeiros, 23 (38,3%) somente por enfermeiros e 10 (16,7%) somente por médicos e um (1,7%) por psicólogos. Discussão A literatura nacional e internacional menciona que há predominância de DRC em indivíduos do sexo masculino. O inquérito epidemiológico brasileiro também evidenciou que 57% das pessoas com DRC eram do sexo masculino, dados semelhantes aos deste estudo. 6-12 No estudo de Maniva e Freitas (2010), cujo objetivo foi conhecer o autocuidado com a FAV em pacientes em tratamento hemodialítico, a faixa etária variou entre 21 a 66 anos, com idade média de 44 anos. 13 Quanto aos resultados da FAV, de acordo com Fermi (2010), a fístula geralmente é confeccionada no braço não dominante para não limitar as atividades do paciente. 14 A maioria dos pacientes 48 (80%) possuía a FAV por seis anos ou mais. Furtado e Lima (2006) destacam que o tempo médio de uso da FAV é de três anos em pacientes com DRC. Ressaltam também que pode ocorrer uma imprevisibilidade da duração do acesso venoso. 15 Em relação ao autocuidado com a FAV, Fermi (2010) estabelece que o paciente deve evitar compressões e cargas no membro em que se encontra a FAV. Por isso, não devem carregar peso, dormir sobre o braço e não permitir a verificação de pressão arterial nesse membro. Confirma-se que a maior parte dos pacientes do estudo seguem esses cuidados. 14 Na unidade de diálise, antes da punção, é mister que os pacientes lavem o membro em que está a FAV com água e sabão ou outra solução antisséptica, para evitar a infecção local 16, 43 (71,6%) destes executam este procedimento. Em casos de sangramento da FAV fora da unidade de diálise, o paciente deve comprimir o local com material limpo (algodão e/ou gases) e elevar o membro em que a FAV se encontra. Se o sangramento for intenso, o paciente deve dirigir-se imediatamente ao hospital ou à clínica de diálise de sua referência. 14 O funcionamento da FAV deve ser verificado diariamente, examinando a presença do frêmito (vibração perceptiva), que se deve ao turbilhonamento do sangue ao passar pela anastomose. 14 Qualquer alteração no local da FAV, como calor, dor, eritema, edema ou ausência de frêmito, deve ser comunicado imediatamente às equipes médicas e de enfermagem. Observou-se que 32 (53,3%) dos pacientes da pesquisa não realizam os exercícios diários, importantes para a FAV, sendo necessária uma reorientação quanto a esse cuidado e seu grande valor. O exercício diário de compressão com bola de borracha ajuda a manter a FAV em funcionamento. 14 É necessário destacar que 32 (53,3%) pacientes realizavam trabalhos domésticos e é imprescindível verificar que estes não incluem um forte esforço como, por exemplo, o carregamento de peso. De acordo com Furtado e Lima (2006), em estudo que objetivou identificar os cuidados com a FAV executados pelos pacientes, estes, para não possuírem a sensação de anormalidade que a FAV lhes trazia, acabavam não realizando tais cuidados, mesmo conhecendo-os. 15 Essas autoras, ainda, enfatizam o papel da família como reforço na sensação de anormalidade em pacientes com DRC, desencadeando a não realização do autocuidado pelos mesmos. Dessa maneira, o cuidado familiar não deve ser excessivo, pois fortalece a sensação de anormalidade no indivíduo e dificulta na realização de atividades cotidianas. 15 A família, assim, ao invés de privar a pessoa de funções em sua residência, pode estabelecer atividades para serem desenvolvidas pelo paciente, não exigindo, é claro, elevado esforço físico. Após a remoção das agulhas da FAV, no término da hemodiálise deve-se exercer compressão até que ocorra total hemostasia. Um sangramento por mais de 20 minutos deve merecer avaliação das dosagens de anticoagulante e anti-hipertensivo, além de revisão dos locais de punção. Só após a hemostasia é realizado o curativo, o qual não deve ser circular, evitando, assim, a trombose do acesso vascular. Os curativos só devem ser retirados após 6 horas do término da sessão de hemodiálise, com cuidado para que sejam mantidos secos e limpos. 15 Os curativos da FAV foram retirados após quatro horas, por 18 (30%) dos 427

Fernandes EFS, Soares W, Santos TC, Moriya TM, Terçariol CAS, Ferreira V. pacientes que devem ser reorientados para este cuidado. É oportuno mencionar que o acesso vascular é prioritário no tratamento hemodialítico, considerandose FAV como um recurso permanente. Diante disso, é recomendada e amplamente enfatizada a confecção da FAV de maneira a garantir o seu funcionamento em tempo compatível à necessidade de hemodiálise, evitando o uso do cateter temporário de duplo lúmen. Assim, esforços devem ser destinados no sentido de minimizar o encaminhamento tardio ao nefrologista, bem como no investimento na qualidade da assistência oferecida aos pacientes com DRC. 12,16 Conclusões Os resultados da pesquisa foram considerados satisfatórios no que tange ao autocuidado dos pacientes com a FAV. A maior parte destes sabe da necessidade de desenvolver ações de autocuidado, visando manter a FAV funcionante. A pesquisa mostrou que os pacientes têm uma assistência de qualidade, com orientações adequadas sobre sua doença e o autocuidado, porém, necessitam de informações permanentes para que cuidem adequadamente de sua FAV e a mantenham sem anormalidades. Com este estudo espera-se colaborar e estimular novas pesquisas relacionadas ao tema. ABSTRACT Introduction: the most indicated long-term access to haemodialysis (HD) is the arteriovenous fistula (AVF) and self-care is one of the most important steps for its maturity and durability. Objective: to identify self-care with AVF in patients with chronic renal disease. Methods: descriptive, exploratory, and quantitative study. Results: We evaluated 60 patients aging from 18 to 83 years, being 57% of the male gender. FAV time ranged from 2 to 18 years, and 42% had previous attempts at AVF making. About self-care, 16 types were recorded in all. We observed that 46.6% did the daily exercises for AVF; 41.6% did local compression in cases of AVF bleeding; 81.6% washed the AVF before the HD; and 30% withdrew their AVF dressing 4 hours after completion of HD. Conclusion: We found that most of the patients know the need to develop self-care actions, in order to maintain the functioning AVF. Key words: Hemodialysis. Self Care. Arteriovenous Fistula. Renal Insufficiency, Chronic. Referências 1. Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos: Insuficiência Renal Crônica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 2. Ministério da Saúde do Brasil. Secretaria de Assistência à Saúde Estudo epidemiológico brasileiro sobre terapia renal substitutiva. Brasília (DF); 2002. 3. Fermi MRV. Manual de diálise para enfermagem. Belo Horizonte: Medsi; 2003. 4. Diepenbrock NH. Cuidados Intensivos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 5. Dias TS, Moysés Neto M, da Costa JAC. Arteriovenous fistula puncture: an essential factor for hemodialysis efficiency. Renal Fail. 2008; 30: 870-6. 6. Sesso RCC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR, Burdmann EA. Censo Brasileiro de Diálise. 2009; J Bras Nefrol. 2010; 32: 380-4. 7. Iwamoto HH. O paciente renal crônico: retrato de uma realidade. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo -Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 1998. 8. Barros E, Thomé FS, Karohl C. Fisiologia renal aplicada. In: Barros E, Manfro R, Thomé F, Gonçalves LF. (Org.). Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. 2a ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999. p. 25-46. 9. De Lima JJG, Fonseca JA, Godoy AD. Diálisis, time and dealth: comparisions of two consecutive decades among patients treated at the same Brazilian dialysis center. Braz J Med Biol Res.1999; 32: 289-95. 10. Chaves LDP. Estudo da sobrevida e estimativa de gastos de pacientes submetidos à hemodiálise no município de Ribeirão Preto. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo -Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, 2001. 11. Reis EMK, Malvaso GO, Ferraz AEP, Rossi LA. Percentual de recirculação sanguínea em diferentes formas de inserções das agulhas nas fistulas artério-venosa, de pacientes em tratamento hemodialítico. Rev Esc Enferm USP. 2002; 35:41-5. 12. Di Lorio BR, Bellizzi V, Cillo N, Cirillo M, Avella F, Andreucci VE, De Santo NG. Vascular access for hemodialysis: the impact on morbiditiy and mortality. J Nephrol. 2004; 17:19-25. 12. Maniva JCF, Freitas CHA. O paciente em hemodiálise: Autocuidado com a fistula arteriovenosa. Rev Rene. Fortaleza. 2010; 11: 152-60. 13. Fermi MRV. Manual de Diálise para Enfermagem. Rio de Janeiro: Medsi; 2010. 14. Furtado AM, Lima FET. Autocuidado dos pacientes portadores de insuficiência renal crônica com a fístula artério-venosa. Rev Gaúch Enferm. 2006; 27:532-8. 15. Desmeules S, Canaud B. Venous access for chronic hemodialysis: undesirable yet unavoidable. Int Center Artificial Organs Transplant. 2004; 28:611-6. 428