DOI: http://dx.doi.org/10.15528/2176-4158/rcpa.v17n2p129-141 Caracterização do consumidor de carne de frango em Júlio Borges-PI Aracele Prates de Oliveira 1, Maria Risalva Ferreira 2, Hermógenes Almeida de Santana Júnior 3, Maurílio Souza dos Santos 3, Johnny Martins de Brito 4, Fabrício Bacelar Lima Mendes 1 Resumo: Objetivou-se com esta pesquisa diagnosticar as características e o perfil do consumidor de carne de frango em Júlio Borges/PI. Foram realizadas 100 entrevistas através de questionários no mês de janeiro de 2015 com consumidores de carne de frango em mercearias e residências. O questionário era composto por perguntas relacionadas à caracterização e identificação do perfil do consumidor, bem como perguntas voltadas à identificação dos atributos considerados mais importantes pelos consumidores no momento da compra da carne de frango. Em relação ao perfil socioeconômico, 79% dos consumidores são do sexo feminino e 21% são do sexo masculino. Destes, 61% possuem hábito de consumir carne de frango semanalmente. Quanto à preferência, optaram em primeiro lugar pela carne de aves e em segundo lugar pela carne bovina. Quando se trata da preferência, 57% dos consumidores escolheram cortes de frango, em que o corte preferido foi o peito com 32%, e o modo de preparo mais utilizado pelos consumidores é assado (46%). A maioria dos consumidores 80% consideram a carne de peito de frango com menor nível de colesterol e acreditam que a carne suína apresenta maior risco de transmitir doenças. Itens como embalagem, validade e preço foram considerados os de maior importância no ato da compra. Quanto aos aspectos sensoriais, o aroma, a cor, e a textura da carne foram os mais citados. O município de Júlio Borges possui potencialidades para o mercado de carne de frango. Percebe- se uma tendência pela compra de produtos com qualidade e não apenas pelo preço. Os consumidores consideram a carne do peito do frango com menor nível de calorias e colesterol, passando a consumir mais este corte mediante a preocupação com a saúde. Palavras-chave: aspectos sensoriais, preferência, qualidade da carne Characteristics of chicken meat consumer in Julio Borges-PI Abstract: The objective of this research diagnoses the features and the chicken meat consumer profile in Julio Borges / IP. 100 interviews were conducted through questionnaires in January 2015 with chicken meat consumers in grocery stores and residences. The questionnaire consisted of questions related to the characterization and identification of the user profile as well as questions aimed at identifying the attributes considered important by consumers when buying chicken meat. Regarding the socio-economic profile, 79% of consumers are female and 21% are male. Of these, 61% have a habit of consuming chicken meat weekly. Regarding preferably chosen first by poultry and secondly the beef. When it comes to preferably 57% of the consumers chose chicken cuts, in which the preferred cutting the breast was 32% and the method of preparation most commonly used by consumers is baked (46%). Most consumers consider the 80% chicken 1 Pesquisador (a) DCR/FAPEPI/CNPq, Corrente, Piauí, Brasil. E-mail: araceleprates@hotmail.com 2 Zootecnista, Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Corrente, Piauí, Brasil 3 Professor Adjunto da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Corrente, Piauí, Brasil 4 Doutorando, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, Paraná, Brasil
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 breast meat with less cholesterol and believe that pork has a higher risk of transmitting disease. Items such as packaging, validity and price were considered the most important in the purchase. As for the sensory aspects, the aroma, color, and texture of meat were the most cited. The municipality of Julio Borges has potential for poultry meat market. It can be seen a tendency for the purchase of products with quality and not just the price. Consumers consider the meat of the chicken breast with lower calories and cholesterol, going to consume more this cut by concern for the health. Key words: meat quality, preference, sensory aspects Introdução A avicultura é uma das atividades agropecuárias mais desenvolvidas no Brasil, onde a carne de frango é a proteína de origem animal mais consumido no Brasil e a segunda mais consumida no mundo, apresentando uma importância econômica e social, para o país. O setor avícola brasileiro apresenta uma cadeia produtiva organizada com a utilização de um sistema de integração entre produtores e frigoríficos, agregada ao uso de novas tecnologias, como um sistema eficiente de nutrição, genética e manejo. O resultado é uma variedade de produtos de qualidade no mercado, com um preço acessível à maioria dos consumidores, devido o país ser um grande produtor de grãos, que representa a base da alimentação das aves. Para continuar nesse crescimento em um mercado competitivo, é necessária uma evolução constante, que enfoque não apenas nos aspectos econômicos e de produtividade, mas também aqueles relacionados à qualidade e atendimento das exigências dos consumidores (FERREIRA et al., 2015). A carne de frango tornou-se um hábito alimentar dos consumidores brasileiros onde dois terços da produção nacional são destinados ao consumo interno. Essa preferência está relacionada ao fato da carne de frango ser rica em nutrientes, apresentar fácil digestibilidade, além de ser economicamente acessível. 130 Os consumidores de carnes mudaram o seu perfil nas últimas décadas, devido à redução no tempo para preparar os alimentos, passando a buscar mais praticidade em produtos diferenciados como os cortes cárneos de frangos. Além disso, os consumidores vêm se preocupando mais em consumir produtos saudáveis, valorizando o aspecto nutricional, e os benefícios que o alimento pode trazer a sua saúde. Ferreira et al. (2015) afirmaram que com a preocupação dos consumidores com a saúde observa-se uma procura mais acentuada por alimentos saudáveis, com baixos níveis de gorduras, principalmente as saturadas e colesterol. Diante disso, através de questionamentos, é importante conhecer o comportamento dos consumidores, as suas exigências e a satisfação com o produto. Objetivou-se com esta pesquisa diagnosticar as características e o perfil do consumidor de carnes de frango em Júlio Borges/ PI. Material e Métodos Para conhecer o comportamento do consumidor de carne de frango, foi realizada uma pesquisa descritiva na zona urbana do município de Júlio Borges, localizado na região do extremo sul do estado do Piauí no mês de janeiro de 2015. De acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2010) o município de Júlio Borges possui uma área total de 1.297,11 Km²
com Latitude: 10 18' 52'' Sul Longitude: 44 14' 13'' Oeste e uma população de 5.373 habitantes. O questionário foi elaborado com 13 perguntas objetivas de fácil entendimento em que cada questão possuía em média seis opções de resposta. Os consumidores foram entrevistados em suas próprias residências e mercearias. Os consumidores responderam a seguintes questionamentos: sexo, idade, escolaridade, estado civil, renda familiar, preferência por tipos de carnes, forma de consumo, tipo de carne mais saudável e frequência do consumo de carne de frango. Quanto aos aspectos sensoriais foram observados o sabor, odor, textura e aparência e aos aspectos gerais foi observada a embalagem, marca, composição nutricional, preço, registro de inspeção federal, data de validade e teor de gordura, quanto à ordem de importância do consumidor, no momento da compra da carne de frango. Os resultados foram expressos em forma de Gráficos, Tabelas e Histogramas utilizando-se estatística descritiva e o programa Excel 2010. Resultados e Discussão A importância de conhecer o perfil do consumidor significa entender seu comportamento de tomada de decisão que envolve o momento da compra, onde compra, e as formas de consumo. Com o intuito de caracterizar melhor as amostras foram inicialmente observadas o perfil socioeconômico dos entrevistados, e posteriormente os hábitos de compra e consumo da carne de frango. Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Foram entrevistadas 100 pessoas no município de Júlio Borges/ PI, em que setenta e nove por cento (79%) dos consumidores eram do gênero feminino e vinte e um por cento (21%) do gênero masculino. Verificou-se uma maior representatividade do sexo feminino e isso pode estar ligado ao fato das mulheres ainda serem responsáveis pela compra dos alimentos. De acordo com a distribuição por faixa etária da população julioborgense, observou que trinta por cento (30%) dos entrevistados tem idade entre 31 e 40 anos e vinte e quatro por cento (24%) na faixa etária de 41 a 50 anos (Tabela 1). É visível a diferença de idade entre os entrevistados onde foram obtidas diferentes opiniões, sobre o consumo de carne de frango. Quanto o grau de escolaridade dos entrevistados percebe-se que grande parte possui 2 grau completo (46%), vinte e um por cento (21%) possui 1 grau incompleto e quatorze por cento (14%) possui curso superior completo. Nota-se que os consumidores julioborgense possui em sua maioria o 2 grau completo, demonstrando que tende a ser mais esclarecido e isso influencia no momento da compra, pois as informações podem ser diferenciadas entre os consumidores com maior grau de escolaridade. É possível observar que o estado civil predominante entre os entrevistados foi casado (74%). Isso demonstra que o consumo da carne de frango será propagado para os demais membros da família. Quanto á distribuição segundo a faixa de renda os números apresentados revelaram que quarenta e sete por cento (47%) dos entrevistados possuem até um salário mínimo, seguido de trinta e nove por cento (39%) que detêm uma renda de 1 a 2 salários mínimos (Tabela 2). Tabela 1. Faixa etária, escolaridade e estado civil dos entrevistados. Idade % Escolaridade % Estado Civil % < 20 anos 3 1º Grau incompleto 21 Casado(a) 74 20 a 30 anos 17 1º Grau incompleto 9 Solteiro (a) 18 31 a 40 anos 30 2º Grau incompleto 5 Viúvo (a) 6 41 a 50 anos 24 2º Grau incompleto 46 Separado (a)/divorciada 2 51 a 60 anos 19 3º Grau incompleto 5 Outro 0 61 a 70 anos 6 3º Grau incompleto 14 > de 71 1 131
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Tabela 2. Renda familiar dos entrevistados Renda familiar % Até 1 salário mínimo 47 1 a 2 salários mínimos 39 2 a 3 salários mínimos 10 3 a 4 salários mínimos 3 Acima de 4 salários mínimos 1 Dentre os consumidores entrevistados a carne de frango é a mais consumida em Júlio Borges, na preferência de trinta e seis por cento (36%) dos consumidores conforme demonstrado na Figura 1, seguido pelas carnes bovina (29%), suína (14%), e peixe (13%). Este resultado pode estar relacionado ao baixo preço da carne de frango quando relacionados com outros tipos de carne, evidenciando que o seu consumo faz parte do hábito alimentar do consumidor julioborgense. A carne bovina também apresentou uma grande escolha dos consumidores, como segunda opção na preferência ao consumo de carne. De acordo com Bonamigo et al. (2012) e Francisco et al. (2009) a grande participação de mercado da carne bovina e de frango coloca em evidência os hábitos dos consumidores, mostra grande competitividade e caracteriza um mercado com certa elasticidade de preço. Grande parte dos consumidores entrevistados em Júlio Borges afirmou que o peito de frango apresenta menor quantidade de colesterol, seguido de filé mignon bovino com onze por cento (11%) (Figura 2). Resultados semelhantes foram encontrados por pesquisa feita por Antonangelo et al. (2011) em que 57,5 % acreditam que a carne que contém menor quantidade de colesterol é o peito de frango. Este resultado pode ser explicado ao fato dos consumidores acharem que a carne branca é mais saudável do que as carnes vermelhas. No entanto em pesquisas realizada por Hautrive et al. (2012) encontraram que a carne de frango, possui teores de colesterol maiores do que a alcatra bovina e o pernil suíno. Figura 1. Tipo de carne mais consumida em Júlio Borges Figura 2. Quantidade de colesterol de diferentes tipos de carne. 132
A quantidade de gordura presente na carne é uma característica de qualidade que vem ganhando cada vez mais importância devido à crescente preocupação com a imagem corporal e para o fato de que dietas com alto teor de gordura levam ao aumento de problemas cardiovasculares. A carne de frango é associada pelas estratégias de marketing, como um produto de alto valor proteico, baixa quantidade de lipídios e de fácil digestão. No entanto o modo de preparo, como a retirada total da gordura, também influencia na quantidade de colesterol da carne. Observa-se que a maioria dos entrevistados opinou que a carne suína tem maior risco de transmitir doenças (74%), seguido de carne bovina (18%) (Figura 3). Estes resultados foram semelhantes à pesquisa realizada por Farias et al. (2012) em três municípios do sertão paraibano, em que 83,16% afirmaram ter a informação de que a carne suína pode trazer algum risco para saúde humana. Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 A carne de aves foi uma das menos citadas, a percepção que o consumidor tem é que a carne de aves quando comparadas as outras carnes, não apresenta grandes problemas á saúde. Com relação à escolha da carne suína, pode estar relacionada ao fato das pessoas ainda conceituarem a carne suína como uma carne que faz mal a saúde humana, considerando-a um alimento rico em gordura, muito calórico ou fonte de doenças. A carne de suíno comercializada atualmente dispõe de boa sanidade e manejo para com os animais com uma produção de carne de qualidade. O fator que poderiam justificar a escolha da carne suína e bovina, não seria só a transmissão direta de doenças, mas os problemas que possivelmente estas duas carnes poderiam trazer, como o aumento do colesterol. No que diz respeito aos sistemas de produção (Figura 4) percebe-se que do total geral dos entrevistados, quarenta e um por cento (41%) referiram que as aves Figura 3. Nível do risco de transmissão de doenças com o consumo dos diferentes tipos de carne Figura 4. Nível do desconforto do sistema da produção ao abate 133
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 apresentam menor desconforto na sua produção até o abate, seguido de peixe e suíno ambos foram citados por vinte por cento (20%) dos entrevistados. Com relação à escolha das aves, pode ser explicada pelo fato da maioria dos entrevistados desconhecerem os sistemas de produção correlacionando a um sistema totalmente extensivo. No entanto nem sempre estes sistemas apresentam condições de bem estar aos animais, dando origem a produtos de baixa qualidade. Nas figuras a seguir foi abordado o aumento do consumo por recomendação médica (Figura 5) e a frequência de visualizações de propaganda de consumo de carne de frango (Figura 6). Quando perguntados se com os benefícios da carne de frango garantidos por um médico, setenta e oito por cento (78%) dos entrevistados responderam que aumentaria o consumo da carne de frango, por ter um preço acessível e ser saudável, e vinte e dois por cento (22 %) não aumentariam o consumo devido já consumirem com certa frequência. Quanto ao fato de já terem ouvido algum tipo de propaganda de incentivo ao consumo de carne de frango sessenta e um por cento (61%) dos consumidores entrevistados responderam que nunca ouviram. A Figura 5. Aumento do consumo de carne de frango por recomendação médica 134 Figura 6. Frequência de visualizações de propaganda de incentivo ao consumo de carne de frango importância da propaganda ao consumo de carne de frango deve-se ao fato de muitos consumidores acreditarem que são utilizados hormônios na criação de frango, e tais propagandas serve para desfazer este mito e promover uma carne de qualidade. O uso de hormônios como promotores de crescimento para animais destinados a alimentação humana é um mito, pois a legislação brasileira através da Instrução Normativa do MAPA (N 17, de 18 de junho de 2004), proíbe o uso deste tipo de substância em aves. Os fatores responsáveis pela obtenção da carne de frango em um curto espaço de tempo são as tecnologias utilizadas na produção aliadas a alimentação que os frangos recebem, e dos cuidados que se tem com o manejo e com a sanidade destes animais. Daí a importância do marketing para reverter à percepção negativa do público quanto às questões de segurança alimentar e a qualidade da carne de frango. A carne de frango tem grande popularidade no município de Júlio Borges, estando presente nas refeições de todos os consumidores entrevistados. Os consumidores levam em conta o aspecto nutritivo da carne, o preço, sabor e qualidade, e quase não há restrições, demonstrando assim possibilidade de crescimento do mercado da carne de frango no município de Júlio Borges.
Apesar de toda a amostra entrevistada, consumirem carne de frango e trinta e seis por cento (36%) terem preferência pela carne de frango, apenas vinte e três por cento (23%) dos entrevistados consomem diariamente a carne de frango (Figura 7). A maior frequência de consumo é semanalmente com sessenta e um por cento (61%) dos entrevistados. Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Quando relacionados a frequência de consumo com a renda dos consumidores as pessoas que possuem até dois salários mínimos consome carne de frango semanalmente, tanto a carcaça inteira quanto os cortes especializados. Já os consumidores que detêm de mais de dois salários mínimos a frequência de consumo é menor e a preferência é por cortes especializados (Figura 8). Figura 7. Frequência de consumo de carne de frango em Júlio Borges Figura 8. Relação entre a frequência de consumo e a renda familiar dos entrevistados. 135
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Os motivos que levam os consumidores a não consumir carne de frango com maior frequência é o sabor característico. Trinta e cinco por cento (35%) dos consumidores relataram que este interfere no consumo diariamente, havendo a necessidade de diversificar o sabor consumindo outros tipos de carne. Vinte e seis por cento (26%) dos entrevistados afirmaram que possuem outros motivos (alguma pessoa da família não consome a carne de frango) para não consumir da carne diariamente e vinte e três por cento (23%) já consome carne de frango diariamente (Figura 9). É interessante observar que apenas quatorze por cento (14%) dos entrevistados citaram o preço da carne de frango como um motivo para não consumirem com mais frequência a carne de frango. Este resultado mostra que o consumidor tem outras prioridades que ultrapassam o preço, como as características sensoriais relacionadas à qualidade da carne. Os consumidores em sua maioria tem preferência em consumir a carne de frango assada e cozida (46% e 32% respectivamente) (Figura 10). Acredita-se que estes resultados estejam relacionados à preocupação com a saúde e também devido à praticidade de preparo, para adequar à rotina do dia a dia. Pesquisas que avaliaram métodos de cocção mostram que o cozimento pode alterar os valores de gordura. Em pesquisa feita por Vieira et al.(2007) utilizando peito de frango de diferentes linhagens, observaram que, de modo geral, os percentuais de gordura dos cortes crus foram menores que nos cortes cozidos, e a maior diferença ocorreu nos cortes Figura 9. Motivo da frequência de consumo de carne de frango Figura 10. Modo de preparo da carne de frango 136
submetidos ao método frito em óleo, provavelmente em decorrência da absorção da gordura do meio de cocção. Observa- se que a maioria dos consumidores tem preferência pelo consumo das partes do frango (57%) e que os cortes mais mencionados foram o peito e a coxa (Figura 11). O frango inteiro tem perdido espaço nos últimos anos, conforme dados da União Brasileira de Avicultura - UBABEF (2014). Atribui-se este fenômeno à busca crescente por alimentos mais práticos de preparar, principalmente pela inserção feminina no mercado de trabalho. Francisco et al.(2007) observaram que a alteração de preferência do consumidor quanto ao tipo de carne de frango mais consumida mudando de frango inteiro para os cortes, está relacionado com as mudanças sociais, como a diminuição do número de pessoas por moradia, entre outros. No entanto (43%) dos consumidores julioborgense entrevistados declararam que consome o frango inteiro, devido o rendimento de carcaça ser maior, já que a maioria dos entrevistados (47%) possui renda de até um salário mínimo, e setenta e quatro por cento (74%) é casado o que propicia um maior consumo de carne na família. Em uma pesquisa encomendada pela União Brasileira de Avicultura (UBABEF), em 2011 realizada pelo Centro de Assessoria e Pesquisa de Mercado Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 (CEAP), em todo o Brasil mostrou que a preferência de consumo nas regiões Norte e Nordeste é pelo frango inteiro, sendo semelhante aos resultados obtidos. A renda mensal do entrevistado influencia diretamente nas condições de consumo do produto, pois as pessoas com maior poder aquisitivo têm preferência por cortes mais nobres. Vale ressaltar que as pessoas que recebem menos de um salário mínimo também consome carne de frango com certa frequência devido ao baixo preço em relação a outras carnes. Quando relacionados à renda familiar com o consumo de cortes em detrimento do frango inteiro é possível observar que conforme a renda aumenta o consumo de cortes é maior visto que os consumidores que detêm renda de até um salário mínimo afirmaram que o rendimento do frango inteiro é maior e o preço é menor que os cortes (Figura 12). Os consumidores foram indagados quanto à importância dos aspectos gerais da carne de frango considerados no momento da compra, mediante uma escala de 1 a 5 sendo o 1 considerado sem importância e o 5 indiferente, aos aspectos de preço, marca, Registro de Inspeção Federal, data de validade, composição nutricional, teor de gordura, corte e embalagem (Tabela 3). Para os consumidores o item de maior importância foi à embalagem do produto citado por setenta e dois Figura 11. Tipo de corte preferido pelos consumidores do município de Júlio Borges 137
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Figura 12. Consumo de cortes e do frango inteiro de acordo com a renda familiar dos consumidores Tabela 3. Grau de importância dos aspectos gerais considerados no momento da compra Aspectos gerais Sem Pouco Muito Importante importância importante importante Indiferente Preço 6% 4% 54% 27% 9% Marca 34% 16% 37% 9% 4% RIF¹ 19% 23% 46% 11% 1% Validade 8% 1% 70% 21% 0% Composição nutricional 33% 27% 33% 6% 1% Teor de gordura 37% 28% 30% 3% 2% Corte 33% 24% 39% 2% 2% Embalagem 14% 4% 72% 10% 0% 1 Registro de Inspeção Federal 138
por cento (72%) dos entrevistados. O consumidor pode ser atraído pelas características da embalagem, tais como formato, tamanho, cores, entre outros, com informações quanto à fabricação, validade do produto, ingredientes, valor nutricional e o seu maior objetivo que é proteger o produto. A embalagem influencia a qualidade e resistência das carnes, onde altera o ambiente ao redor retardando a deterioração do produto, previne a evaporação da umidade do produto, evitando perda de peso e alterações na aparência. A validade foi citada por setenta por cento (70%) dos entrevistados sendo o segundo aspecto considerado importante no momento da compra pelos consumidores. Este resultado demonstra a preocupação dos consumidores com a importância da embalagem e da data de validade para a garantia da qualidade do produto. Francisco et al. (2007), relatam que a obrigatoriedade da utilização da data de validade nas embalagens, fez com que o consumidor passasse a buscar estes dados nas embalagens. O terceiro item considerado importante observado na tabela 5 foi o preço, onde cinquenta e quatro por cento (54%) dos consumidores consideraram importante e vinte e sete por cento (27%) muito importante. Isso demonstra que o consumidor realmente procura outras informações acerca do produto que ultrapassam a questão do valor econômico. O preço do produto final depende do custo de produção. No Nordeste em época de estiagem, a oferta de grãos é reduzida aumentando o custo de Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 produção do frango e consequentemente o preço da carne causando a insatisfação do consumidor. O Registro de Inspeção Federal foi citado por quarenta e seis por cento (46%) dos entrevistados sendo o quarto item considerado como um aspecto importante pelos consumidores. Isso revela que os consumidores estão interessados em obter o máximo de informações a respeito dos produtos que estão adquirindo, principalmente aquelas que correspondem à qualidade do produto, relacionando o registro como um selo de qualidade. Os entrevistados foram questionados ainda quanto aos aspectos sensoriais da carne de frango, mediante uma escala de 1 a 5 sendo o 1 considerado sem importância e o 5 indiferente, aos aspectos de : aroma, sabor, cor, textura e suculência. Para os entrevistados as características organolépticas são importantes na hora da compra da carne de frango (Tabela 4). O aroma e a cor são os atributos sensoriais mais importantes para consumidores de Júlio Borges, sendo citado como importante por sessenta e seis por cento (66%) e sessenta e dois por cento (62%) dos consumidores respectivamente. Isso demonstra que o consumidor sabe da importância do aroma e da cor para a qualidade da carne e pode influenciar na compra do produto, sendo a cor um dos primeiros atributos observados pelos consumidores, que influencia na decisão de compra ou não do produto. A textura aparece em terceiro lugar citado por cinquenta e nove por cento (59%) dos entrevistados. Tabela 4. Ordem de importância dos atributos sensoriais considerados importantes no momento da compra Aspectos gerais Sem Pouco Muito Importante importância importante importante Indiferente Aroma 15% 12% 66% 7% 0% Sabor 22% 30% 42% 6% 0% Cor 15% 18% 62% 5% 0% Textura 21% 13% 59% 5% 2% Suculência 28% 18% 45% 7% 2% 139
Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 Figura 13. Determinação do local de compra da carne de frango em Júlio Borges Observou-se que a maioria dos consumidores (58%) alegam que adquirem a carne de frango em mercearias por o município ser de pequeno porte e conter um número maior de mercearias (Figura 13). No entanto o produto adquirido em pequenas mercearias às vezes não possibilita uma higiene adequada aos alimentos, com produto mal estocado, que podem influenciar na qualidade do produto que está sendo ofertado ao consumidor. A renda também é um fator que influencia na aquisição da carne de frango em mercearias, uma vez que cinquenta e um por cento (51%) dos consumidores com renda de até 2 salários mínimos adquirem a carne de frango nestes estabelecimentos comerciais. Dos entrevistados trinta e dois por cento (32%) relataram que compram a carne de frango nos supermercados da região, pois tem maior possibilidade de locomoverem aos centros comerciais mais desenvolvidos, e também por acreditarem ter uma melhor segurança na qualidade dos produtos adquiridos. Estes consumidores geralmente possuem um poder aquisitivo mais elevado. Conclusões O município de Júlio Borges possui potencialidades para o mercado de carne de frango. Percebe- se uma 140 tendência pela compra de produtos com qualidade e não apenas pelo preço. Os consumidores consideram a carne do peito do frango com menor nível de calorias e colesterol, passando a consumir mais este corte mediante a preocupação com a saúde. Referências Bibliográficas ANTONANGELO, A.; RUV, C.; DUTRA, J.B.; RIBEIRO, N.M.; DOLAZZA, R.M. Perfil dos consumidores de carne suína no município de Botucatu SP. Tékhne e Lógos, v.2, n.2, 2011. BONAMIGO, A.; BONAMIGO, C.B.S.S.; MOLENTO, C.F.M. Atribuições da carne de frango relevantes ao consumidor: foco no bem-estar animal. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41, n.4, p.1044-1050, 2012. FARIAS, A.E.M.; BRANDÃO, P.A.; ASSIS, D.Y.C.; NETO, J.C.; SOBRAL, F.E.S.; FREITAS, M.R.V. Estudo socioeconômico dos consumidores de carne suína em três municípios do sertão paraibano. Acta Veterinária Brasílica, v.6, n.3, p.199-203, 2012. FERREIRA, G.S. PINTO, M.F. NETO, M.G. PONSANO, E.H.G. GONÇALVES, C.A. BOSSOLANI, I.L.C. PEREIRA, A.G.; Ajuste preciso do nível de energia na dieta de frangos de corte para
controle do desempenho e da composição lipídica da carne. Ciência Rural, v.45, n.1, 2015. FRANCISCO, D.C.; NASCIMENTO, V.P.; PEDROZO, E.A. Conhecendo o consumidor de carne de frango da cidade de Porto Alegre, RS. Higiene Alimentar, v. 23, n. 170/17, 2009. FRANCISCO, D.C.; NASCIMENTO, V.P.; LOGUERCIO, A.P.; CAMARGO, L. Caracterização do consumidor de carne de frango da cidade de Porto Alegre. Ciência Rural, v.37, n.1, p.253-258, 2007. HAUTRIVE, T.P.; MARQUES, A. C.; KUBOTA, E. H. Composição centesimal da carne de avestruz. Alimentos e Nutrição, v.23, n.2, p.327-334, 2012. Rev. Cient. Prod. Anim., v.17, n.2, p.129-141, 2015 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE) / CIDADES/CENSO DEMOGRÁFICO. 2010. Disponível em: <http:www. ibge.gov.br/cidades> Acesso em: janeiro, 2015. UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA UBABEF. Relatório anual. 2014. Disponível em: www.ubabef.com.br. Acesso em: jan. 2015. VIEIRA, J.O.; BRESSAN, M.C.; FARIA P.B.; FERREIRA, M.W.; FERRÃO, S.P.B.; SOUZA, X.R. Efeito dos métodos de cocção na composição centesimal e colesterol do peito de frangos de diferentes linhagens. Ciência Agro Tecnologia v.31, n.1, p.164-170,2007. 141