O FEEDBACK E OS DIFERENTES TIPOS DE TAREFAS MATEMÁTICAS. Sónia Dias Agrupamento de Escolas de Pinhal de Frades, Projecto AREA

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Transcrição:

O FEEDBACK E OS DIFERENTES TIPOS DE TAREFAS MATEMÁTICAS Sónia Dias Agrupamento de Escolas de Pinhal de Frades, Projecto AREA soniacardias@gmail.com Leonor Santos Instituto de Educação, CIE, Projecto AREA leonordsantos@sapo.pt Este artigo pretende divulgar um estudo feito no âmbito do Projecto AREA[1], sobre a relação entre o feedback e os diferentes tipos de tarefas matemáticas. Seguindo uma metodologia de natureza interpretativa, foram propostos a alunos do 8º ano, duas tarefas de investigação, duas pesquisas bibliográficas, dois problemas e dois testes. Todas estas tarefas foram realizadas em duas fases, tendo a primeira recebido feedback por parte do professor. Definimos três dimensões de análise do feedback: o foco, a intenção e a dimensão. Tarefas mais abertas parecem dar origem a um feedback com foco no conteúdo e cuja intenção é chamar a atenção dos alunos para aspectos específicos do trabalho. O feedback dado a tarefas mais fechadas parece focar-se no incentivo e reforço positivo ou nos aspectos matemáticos subjacentes, caso sejam mais ou menos desafiantes, respectivamente. As tarefas com grau de desafio elevado levam o professor a escrever comentários mais longos. Palavras-chave: Avaliação Formativa, Feedback, Tarefas matemáticas Introdução Esta pesquisa foi desenvolvida num quadro de mudança dos programas de Matemática do Ensino Básico (DGIDC, 2007) em Portugal. Este novo programa reforça a diversidade de tarefas de aprendizagem a apresentar aos alunos, de forma a permitir desenvolver três capacidades transversais fundamentais na aprendizagem matemática: a resolução de problemas, o raciocínio matemático e a comunicação matemática. Ainda segundo o currículo de Matemática, a avaliação deve ser reguladora de todo o processo de ensino e aprendizagem, dando indicações claras ao aluno, ao professor e aos Encarregados de Educação da evolução da aprendizagem. O feedback é uma estratégia privilegiada para levar à prática uma avaliação que contribua para a aprendizagem (Sadler, 1989). Com o presente estudo pretendemos analisar a relação entre o feedback escrito e o tipo de tarefas propostas aos alunos. Para isso, definimos as seguintes questões: (i) (ii) (iii) (iv) Em cada tipo de tarefa, qual é o foco do feedback? Em cada tipo de tarefa, qual a intenção do feedback? Em cada tipo de tarefa, qual a dimensão do feedback? Existe um padrão entre o feedback e o tipo de tarefa? 126

Fundamentação Teórica Uma nova abordagem da aprendizagem e consequentemente do ensino levaram a novas formas de avaliação e de cultura (Dierick & Dochy, 2001). Mas, como afirma Shepard (2000), melhorar o conteúdo da avaliação não é suficiente para garantir que se desenvolva uma avaliação ao serviço da aprendizagem. Segundo Segers, Dochy e Cascallar (2003), nos novos modos de avaliação há alguns factores que poderão influenciar positivamente a aprendizagem, como sejam a complexidade cognitiva das tarefas de avaliação, o feedback, a transparência dos critérios de avaliação e o envolvimento dos alunos no processo de avaliação. Em particular, o feedback, enquanto forma de comunicação, é um conceito central na avaliação formativa (Black & Wiliam, 1998), sendo que, uma boa comunicação entre alunos e professores é uma condição necessária à regulação das aprendizagens (NCTM, 1995). Para Hattie e Timperley (2007) existem quatro níveis de foco do feedback: na tarefa, no processo, na regulação e no aluno. Os três primeiros estão relacionados, sendo que o último é o menos eficiente. Quando, no desenvolvimento de uma tarefa, o aluno parte de hipóteses erradas, o feedback torna-se eficaz quando, durante o processo de resolução, consegue levar o aluno não só a conseguir rejeitar essas hipóteses, mas também ao desenvolvimento de estratégias mais eficientes que permitam entender a informação dada. O feedback direccionado para a auto-regulação é poderoso, pois leva os alunos a comprometerem-se mais com a tarefa. De acordo com o NCTM (1995), os alunos devem ir recebendo feedback em diferentes tipos de tarefas que incidam sobre importantes conteúdos matemáticos. As características das tarefas propostas aos alunos estão intimamente relacionadas com o sucesso que o feedback terá na melhoria das suas aprendizagens (Black & Wiliam, 1998; Hattie & Timperley, 2007). O feedback parece ser mais proveitoso quando dado a tarefas de natureza mais aberta em oposição a tarefas mais direccionadas e estruturadas (Bangert-Drowns, Kulick & Morgan, 1991). O Novo Programa de Matemática para o Ensino Básico (DGIDC, 2007), que agora se começa a generalizar em Portugal, para além de definir três capacidades transversais, prevê ainda que o aluno deve ter oportunidade de viver diversos tipos de experiências matemáticas, entre as quais, resolver problemas e exercícios, realizar actividades de investigação e exploração. Cada uma destas situações de aprendizagem distingue-se, quer pelo nível de desafio que constituem para os alunos, quer pelo seu grau de abertura. Segundo Ponte (2005), quer os problemas, quer os exercícios, são tarefas fechadas, porém, um problema deve ter um certo grau de desafio, enquanto um exercício constitui um desafio reduzido e o aluno conhece um processo rápido de o resolver. As investigações e explorações constituem tarefas mais abertas, mas enquanto as explorações se caracterizam por serem menos desafiantes, podendo os alunos começar a trabalhar sem grande planeamento, as investigações constituem um desafio mais elevado, promovendo um grande envolvimento dos alunos. 127

Metodologia Nesta pesquisa foi seguida uma metodologia interpretativa (Bogdan & Biklen, 1994). Oito tarefas de quatro tipos diferentes foram propostas a cinquenta alunos do 8º ano: duas pesquisas bibliográficas, duas investigações, dois testes e dois problemas. Todas estas tarefas foram realizadas em duas fases, tendo a primeira recebido feedback por parte do professor. As pesquisas bibliográficas tiveram como objectivo principal levar os alunos a desenvolver a comunicação matemática. Os alunos deveriam pesquisar informação na Internet, seleccioná-la, organizá-la e apresentá-la por palavras suas. Pretendia-se também analisar se seguiam as orientações dadas no guião de trabalho, uma vez que os guiões explicavam a estrutura pretendida e os temas a abordar. Podem considerar-se tarefas de exploração, dada a sua natureza aberta e o seu reduzido desafio. Cada grupo de quatro alunos trabalhou na sala de aula de Matemática num computador portátil com acesso à Internet. Os problemas tinham como objectivo principal levar os alunos a desenvolverem a resolução de problemas. Os alunos deveriam compreender a estrutura do problema, ensaiar e desenvolver estratégias de resolução, obter uma solução, analisar erros, justificar tomadas de decisão e explicar raciocínios. O primeiro problema mobilizava conhecimentos de Geometria no espaço, enquanto o segundo trabalhava essencialmente o raciocínio lógico. Os problemas constituíam um desafio elevado, porém, eram tarefas fechadas, com objectivos bem definidos. As investigações tinham como objectivo principal levar os alunos a desenvolver a comunicação matemática e o raciocínio matemático. Na primeira tarefa, os alunos deveriam estudar a influência de k e b, números racionais, na representação gráfica de funções do tipo y=kx+b, utilizando o software Geogebra. Na segunda, os alunos deveriam procurar e explorar padrões numéricos resultantes das divisões de números inteiros por 11 e utilizar a calculadora de forma crítica. Foram dados guiões de trabalho aos alunos. As investigações constituíam um desafio elevado, e eram tarefas de natureza aberta. Os testes tinham como objectivo aferir o nível de consolidação de alguns dos conteúdos estudados em aula. Esses conteúdos foram, no primeiro teste, o Teorema de Pitágoras e as Funções, e no segundo teste, as Sequências, o Mínimo múltiplo comum, as Regras de potenciação e a Escrita científica de números. Os testes constituíram uma tarefa de tipo exercício, pois apresentavam um desafio reduzido e a sua natureza era mais fechada. Em síntese, podemos distinguir os diferentes tipos de tarefas como indica a tabela 1. 128

Tipo de tarefa Natureza Grau de desafio Pesquisas bibliográficas Aberta Reduzido Problemas Fechada Elevado Investigações Aberta Elevado Testes Fechada Reduzido Tabela 1: Tipo de tarefas, sua natureza e grau de desafio Os dados recolhidos foram as oito tarefas propostas aos alunos, as suas primeiras produções, o feedback dado pela professora a essas produções e as segundas produções dos alunos, desenvolvidas após o feedback ser dado. Foram definidas três dimensões de análise do feedback escrito que a professora forneceu a cada uma das produções dos alunos: o foco, a intenção e a dimensão. Cada uma destas dimensões de análise foi subdividida em categorias, de acordo com a tabela 2. Dimensões de análise Foco Intenção Dimensão Categorias de análise Conteúdo Aspectos matemáticos Chamada de atenção Reforço positivo Incentivo a continuar Reforço positivo e incentivo a continuar Longo Curto Tabela 2: Dimensões de análise e respectivas categorias A dimensão foco inclui a categoria conteúdo, quando incide sobre os aspectos formais do trabalho e sobre o pedido de melhor justificação, explicitação, desenvolvimento, correcção ou clarificação e a categoria relativa aos aspectos matemáticos quando se relaciona com a explicitação do enunciado, do objectivo da tarefa e dos conceitos matemáticos envolvidos. A dimensão intenção integra o feedback que faz uma chamada de atenção, um reforço positivo a respeito de algo já bem conseguido, um incentivo a continuar ou estas duas últimas categorias simultaneamente. Finalmente, a dimensão, integra o feedback longo e curto. 129

Análise dos dados Pesquisas bibliográficas Nas pesquisas bibliográficas, o foco de feedback mais utilizado inclui-se na categoria conteúdo, não sendo dado nenhum feedback que se inclua na categoria aspectos matemáticos. Em tarefas em que são os alunos a pesquisar informação, emerge que os aspectos formais pedidos no guião e que não constem no trabalho são exigidos pela professora. Da mesma forma, sendo os alunos a organizar toda a informação recolhida, esta organização é amiúde referida pela professora no feedback que dá à produção. Sendo um trabalho de pesquisa sobre um tema, é sempre possível desenvolver mais a temática proposta. Assim, o pedido de desenvolvimento surge também por diversas vezes referido no feedback. A intenção com que o feedback é dado é, essencialmente, chamar a atenção dos alunos para aspectos referentes à selecção e organização de informação. Em relação à dimensão, todos os feedbacks escritos foram curtos. Imagem 1: Exemplo de feedback com foco no conteúdo, intenção de chamar a atenção do aluno e curto 130

Problemas Nos problemas, o foco do feedback mais utilizado inclui-se na categoria aspectos matemáticos. O primeiro problema tinha um enunciado extenso, enquanto o do segundo era mais curto. Porém, ambos tinham várias condições. Durante o processo de resolução, os alunos esquecem-se de algumas das condições ou, como não as entendem, não as utilizam. Assim, emerge que a explicitação do enunciado e dos conceitos matemáticos envolvidos, bem como a clarificação do objectivo da tarefa assumam um papel central no feedback dado a este tipo de produções. Os alunos tentam resolver os problemas, fazem esquemas, esboçam tentativas, abandonando algumas e tentando justificar outras, até chegarem à resposta que consideram correcta. Mesmo que não o consigam, a intenção do professor é reforçar positivamente o que já foi feito e incentivar a continuação do processo de resolução com o objectivo de levar o aluno a encontrar a solução ou melhorar aspectos da resolução. Em relação à dimensão, todos os feedbacks escritos foram longos. Imagem 2: Exemplo de feedback com foco nos aspectos matemáticos, intenção de reforçar positivamente e incentivar e longo Investigações Nas investigações, o foco do feedback inclui-se sobretudo na categoria conteúdo. Os alunos deveriam, após experimentação, quer com o auxílio do software, quer com recurso à calculadora, conjecturar resultados relacionados com a representação de funções e com padrões numéricos. Essas conjecturas deveriam ser escritas na forma de um relatório descritivo da actividade, sendo que a estrutura desse relatório era definida 131

no guião. Os alunos sentiram alguma dificuldade nesta escrita, até porque não dominavam todas as nomenclaturas específicas de que necessitavam. Assim, emerge que o feedback dado a este tipo de tarefas aponte não só para aspectos formais do trabalho, requeridos no guião, mas também, e principalmente, para o pedido de melhor justificação, explicitação, desenvolvimento, correcção ou clarificação. A intenção com que o feedback é escrito integra-se essencialmente na categoria chamada de atenção. Porém, o reforço positivo e o incentivo são categorias que também se evidenciam neste tipo de tarefas, uma vez que são escritos quase tantas vezes como as chamadas de atenção. Neste tipo de tarefa, a dimensão do feedback foi maioritariamente longo. Imagem 3: Exemplo de feedback com foco no conteúdo, intenção de chamar a atenção, reforçando o que já está bem feito, e longo Testes Nos testes, o foco do feedback inclui-se sobretudo na categoria aspectos matemáticos. Algumas das respostas dos alunos revelam a necessidade de estes serem orientados para os conceitos envolvidos em determinadas questões, sem no entanto serem revelados explicitamente. Para além disso, é muitas vezes evidente que o aluno não consegue entender o enunciado escrito, pelo que, surge a necessidade de desmontar o enunciado em partes, de forma a torná-lo mais perceptível. Intencionalmente, a maioria dos feedbacks que são escritos pretende chamar a atenção dos alunos para aspectos das suas 132

respostas que não estão correctos. Neste tipo de tarefa, a dimensão do feedback foi maioritariamente curto. Imagem 4: Exemplo de feedback com foco nos aspectos matemáticos, com intenção de chamar a atenção e curto Síntese Na tabela 3 sintetiza-se, por tipo de tarefa, as categorias de análise predominantes em cada dimensão de análise. Tipo de Tarefas Pesquisas bibliográficas Problemas Investigações Dimensões de análise Foco Intenção Dimensão Foco Intenção Dimensão Foco Intenção Dimensão Categorias de análise predominante Conteúdo Chamada de atenção Curto Aspectos matemáticos Reforço positivo e incentivo a continuar Longo Conteúdo Chamada de atenção Reforço positivo e incentivo a continuar Longo Testes Foco Aspectos matemáticos 133

Intenção Dimensão Chamada de atenção Curto Tabela 3: Categorias de análise predominantes por tipo de tarefa Conclusões Neste estudo analisaram-se as relações entre o feedback e os diferentes tipos de tarefas (NCTM, 1995), com objectivos, abertura e graus de desafio distintos (Ponte, 2005), mas sempre tendo por base as três capacidades transversais a toda a aprendizagem matemática: a comunicação matemática, a resolução de problemas e o raciocínio matemático (DGIDC, 2007). Este estudo aponta para a existência de padrões entre o feedback dado às produções dos alunos e o tipo de tarefa proposta (Black & Wiliam, 1998). Em tarefas de natureza mais aberta, como as pesquisas bibliográficas e as investigações, onde os alunos recebem um guião de trabalho, o foco do feedback que o professor mais escreve integra-se na categoria conteúdo e está relacionado quer com os aspectos formais pedidos no guião quer com o pedido de melhor justificação, explicitação, desenvolvimento, correcção ou clarificação. É um feedback mais orientado para a auto-regulação (Hattie & Timperley, 2007). Neste tipo de tarefas, o feedback é escrito com uma intenção de chamar a atenção dos alunos para aspectos específicos da tarefa. No entanto, nas investigações nota-se também uma intenção clara de reforçar positivamente o aluno, pelas conjecturas correctas que já conseguiu escrever, incentivando-o a continuar a sua investigação. Em tarefas de natureza mais fechada, ainda que com objectivos distintos, como os problemas e os testes, mas em que estão subjacentes conteúdos predominantemente matemáticos, o foco do feedback que o professor escreve mais vezes integra-se na categoria aspectos matemáticos. A explicitação do enunciado, com destaque para condições não respeitadas, a mobilização do aluno para os conteúdos matemáticos associados, a formulação desses conteúdos de outra forma, para se tornarem mais facilmente utilizáveis, e a orientação dos alunos para o objectivo das tarefas, constituem o foco do feedback (Hattie & Timperley, 2007). Este tipo de feedback, estreitamente relacionado com conteúdos matemáticos específicos e com a tarefa, revelou-se pouco eficiente (Dias, 2008) a dois níveis: (i) é difícil de escrever, pois trata-se de dar pistas 134

dos conceitos matemáticos envolvidos sem os explicitar, ou, quando já são explícitos, trata-se de dar pistas de como mobilizar esses conteúdos, sem o referir explicitamente; (ii) nem sempre é formativo, pois apesar de permitir uma correcção do erro naquele momento, o feedback é dificilmente mobilizável em situações futuras, uma vez que está muito relacionado com a tarefa específica (Dias & Santos, 2009). Nos problemas, a intenção com que o feedback é escrito é essencialmente reforçar positivamente o aluno pelo trabalho já desenvolvido, mesmo que ainda não tenham chegado à resposta certa, e incentivá-lo a continuar (Hattie & Timperley, 2007), enquanto nos testes a intenção principal é chamar a atenção do aluno para aspectos específicos. Nas tarefas que constituem um desafio mais elevado, como os problemas e as investigações, o feedback é, regra geral, mais longo, o que estará relacionado com o grau da dificuldade da tarefa. Quando escreve feedback ao aluno, o professor sente necessidade de esclarecer mais, mas ao tornar o feedback mais longo pode estar a criar uma dificuldade acrescida para os alunos (Santos & Pinto, 2009). Esta dificuldade acrescida prende-se não só com a incapacidade que os alunos sentem em articular as diferentes acções que o professor propõe no feedback com os aspectos a melhorar, mas também com a dificuldade em priorizar essas acções. Uma possibilidade seria o professor propor poucas acções de cada vez, tornando o feedback mais curto, e, eventualmente, aumentar o número de fases da tarefa, caso se revelasse importante para a aprendizagem dos alunos. Porém, se o feedback for dado com regularidade, a escrita de feedbacks cada vez mais longos poderá contribuir para o desenvolvimento da capacidade de interpretação de informação escrita. Esta poderá ser uma hipótese a estudar numa investigação futura. 135

Nota [1] O Projecto AREA (Avaliação Reguladora do Ensino e Aprendizagem) é um projecto de investigação financiado pela Fundação de Ciência e Tecnologia (PTDC/CED/64970/2006). O seu principal objectivo é desenvolver, implementar e estudar práticas avaliativas que possam contribuir para a aprendizagem. Mais informação pode ser encontrada em http://area.fc.ul.pt Referências bibliográficas Black, P. & Wiliam, D. (1998). Assessment and classroom learning. Assessment in Education: Principles, Policy & Practice, 5(1), 7-74. Bangert-Drowns, R.L.; Kulick, J.A, & Morgan, M.T. (1991). Effects of frequent classroom testing. Journal of Educational Research, 85, 89-99. Bogdan, R. & Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora. Dias, S. (2008). O papel da escrita avaliativa na avaliação reguladora do ensino e das aprendizagens de alunos do 8º ano na disciplina de Matemática (Tese de Mestrado: Universidade de Lisboa). Dias, S. & Santos, L. (2009). Feedback in different mathematics tasks. Proceedings of the 33rd PME, 2, 409-416. Dierick, S. & Dochy, F. (2001). New lines in edumetrics: new forms of assessment lead to new assessment criteria. Studies in Educational Evaluation, 27, 307-329. DGIDC (Ed) (2007). Programa de Matemática do Ensino Básico. Lisboa: ME, DGIDC. Hattie, J. & Timperley, H. (2007). The power of feedback. Review of Educational Research, 77(1), 81-112. NCTM (1995). Assessment standards for school mathematics. Reston, VA: NCTM. Ponte, J.P. (2005). Gestão Curricular em Matemática. In GTI (Ed), O professor e o desenvolvimento curricular (pp.11-34). Lisboa: APM. Sadler, R. (1989). Formative assessment and the design of instructional systems. Instructional Science, 18, 119-144. Santos, L. & Pinto, L. (2009). Lights and shadows of feedback in mathematics learning. Proceedings of the 33rd PME, 5, 49-56. Segers, M.; Dochy, F. & Cascallar, E. (2003). The era of assessment engineering. In M. Segers, F. Dochy & E. Cascallar (Eds.), Optimising new modes of assessment: in search of qualities and standards (pp. 1-12). Dordrecht: Kluwer Academic Publishers. Shepard, L. (2000). The role of assessment in a learning culture. Educational Researcher, 29(7), 4-14. 136