LIVRO DIDÁTICO E O ENSINO DE GRMÁTIC rnaldo Nogari Júnior G-CLC-UENP/ CJ) arnaldo_nogarijr@hotmail.com Layane Suellen Miguel G-CLC-UENP/ CJ) lala.wordshipper@hotmail.com Michelle ndressa Vieira G-CLC-UENP/ CJ) Marilúcia dos Santos Domingos Striquer Orientadora CLC-UENP/CJ) RESUMO Para o ensino apropriado de Língua Portuguesa é fundamental, como a tempo já se discute e se orienta, que os alunos possam mais que aprender regras, interagir, discutir, observar as diferentes situações comunicativas que se realizam no dia-a-dia, o que promove um estímulo do raciocínio e desenvolvimento da criatividade do aluno. Partindo desse princípio, como professores em formação, nos dispomos a analisar a proposta de ensino de gramática em um livro de língua portuguesa da 5ª série do Ensino Fundamental. Ou seja, este artigo tem a finalidade de mostrar o tipo de gramática apresentada, ou os tipos de gramáticas apresentadas, em um livro didático de Língua portuguesa. O livro didático em estudo é o Projeto raribá Português 2006), de urea Regina Kanashiro. Palavras-chave: gramática, ensino, livro didático. INTRODUÇÃO Para o ensino adequado de gramática é essencial que o aluno possa, muito mais que aprender regras, interagir, discutir, observar as regras no uso cotidiano, promovendo um estímulo do raciocínio e ampliando a capacidade criativa do aluno. Partindo dessa visão, nós, alunos do primeiro ano do curso de Letras/Inglês noturno da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus de Jacarezinho, elaboramos este artigo com o intuito de analisar o ensino de gramática em um livro de língua portuguesa da 5ª série do ensino fundamental. Ou seja, este artigo tem o objetivo de apontar o tipo de gramática presente, ou as gramáticas presentes, no livro didático de Língua portuguesa e o modo pelo qual elas são apresentadas ao aluno. 452
Para tanto, elegemos o livro didático: Projeto raribá Português 2006), destinado à 5ª série do Ensino Fundamental, de autoria de urea Regina Kanashiro. FUNDMENTÇÃO TEÓRIC Segundo Possenti 1996) podemos compreender gramática como sendo um conjunto de regras. Entretanto, essa expressão pode ser entendida da seguinte maneira: Conjunto de regras que devem ser seguidas; Conjunto de regras que são seguidas; Conjunto de regras que o falante domina. gramática normativa, conjunto de regras que devem ser seguidas Possenti, 1996, p.64 - grifo nosso), é a gramática mais conhecida, senão única conhecida pela sociedade de um modo geral. E, de acordo com o autor, é a mais usada nos livros didáticos, àqueles que pretendem levar conhecimento da língua padrão aos usuários da língua portuguesa. gramática descritiva, conjunto de regras que são seguidas Possenti, 1996, p.64 - grifo nosso), é a gramática que procura tornar conhecida às regras que usamos no falar e no escrever do dia-a-dia, ou seja, das diferentes variantes usadas pelo falante e escrevente da língua portuguesa. gramática internalizada é conceituada como conjunto de regras que o falante domina Possenti, 1996, p.64). Segundo Possenti, a compreensão da gramática internalizada ocorre quando se tem claro que o domínio efetivo e ativo de uma língua dispensa o domínio de uma meta linguagem p. 66). Isto é, todos os falantes de uma língua têm internalizado regras que permitem que eles utilizem a língua sem mesmo conhecer a regra que está sendo empregada. inda, segundo o mesmo autor, saber usar as regras, que é o que é cobrado dos alunos nas escolas e pelos livros didáticos, deviria ser cobrado apenas dos especialistas da língua em momentos formais. Nesse sentido, Bagno 1999) afirma que a gramática normativa é apenas uma parcela da língua, ela tem seu valor, mas não pode ser chamada de língua portuguesa, pois ela é uma fração do todo que é a língua. gramática serve para descrever e preservar a língua. Dessa forma, dizer, ou melhor, rotular, que o uso de uma expressão, de uma palavra está certo ou errado é muito traumático. O que deve ocorrer é uma análise, ou seja, uma consideração do que a pessoa quis dizer e só depois classificar a variante utilizada em adequada àquela situação ou não. Entretanto, a sociedade, de uma forma geral, costuma classificar a norma padrão como certa e as 453
demais variantes em erradas, causando preconceitos. Um exemplo disso é que em cartazes e placas não aparecem erros de português e, sim, erros de ortografia p.123). Sobre a gramática internalizada, Bagno 1999, p. 35) expõe que saber uma língua, no sentido do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com maturidade as regras básicas de funcionamento dela. Todos nós já nascemos sabendo uma língua, até mesmo as primeiras falas de uma criança tem uma ordem de construção adequada, a qual nos permite entender a mensagem que está sendo passada. NLISNDO O LIVRO DIDÁTICO Em nossa pesquisa, analisamos apenas a unidade seis do livro Projeto raribá - Português, da 5ª série do ensino fundamental, da autoria de urea Regina Kanashiro 2006). De entrada, o livro didático apresenta textos e atividades de interpretação. Logo, é iniciado o trabalho com a gramática da língua, especificamente, com os pronomes. Primeiramente é apresentado o conceito de pronomes como palavras que substituem os substantivos, e relaciona os pronomes às pessoas do discurso, de acordo com o esquema abaixo: KNSHIRO, 2006, p.195) ssim, o livro didático apresenta primeiro as normas, ou seja, a definição gramatical do que são os pronomes e só depois propõe exercícios em que o aluno poderá relacionar o conceito visto de pronome com as pessoas do discurso, como, por exemplo, o exercício: 454
K NSHIRO, 2006, p.195) Nesse exercício o aluno consegue fazer uma relação entre as pessoas do discurso e os pronomes utilizados para fazer referências a elas. Há uma integração dos pronomes no uso de um discurso por meio de reflexão do aluno. Contudo, podemos considerar essa prática como tradicionalista, porque o aluno se prende ao conceito gramatical para fazer as identificações do uso do pronome. Logo após, o livro didático continua trabalhando com conceitos sobre as pessoas do discurso, ou seja, identificando, classificando quem são as pessoas do discurso: KNSHIRO, 2006, p.196) seguir, Kanashiro 2006) indica uma atividade para o trabalho com o que foi apresentado, onde podemos notar a presença do tradicionalismo constituído pela 455
visão da gramática normativa, pois os pronomes devem ser apresentados em grupos separados, de acordo com a pessoa do discurso que corresponde a cada um. Ou seja, esse é apenas um exercício de identificação. o aluno não é oferecido reflexões sobre o uso da norma, é preciso simplesmente fazer agrupamentos seguindo os conceitos dados. KNSHIRO, 2006, p.196) Na confirmação ainda da postura tradicionalista, o material, no lugar de apresentar exercícios promovendo a reflexão e o uso dos pronomes em diferentes situações, continua solicitando apenas identificação, neste caso, que os pronomes sejam identificados por meio do que eles substituem: K 456
NSHIRO, 2006, p.197) Para reforçar a importância de se conhecer o conceito, na seqüência, o livro apresentada a definição de pronome substantivo. Observe: KNSHIRO, 2006, p.198) adjetivos: Depois, da mesma forma, é apresentado o conceito de pronomes K NSHIRO, 2006, p.198) Percebemos, portanto, um apego à gramática normativa. Conceitos são oferecidos, mas sem muitas atividades para que o aluno reflita sobre o uso dos conceitos oferecidos. inda na seqüência, novos conceitos, por exemplo, dos pronomes pessoais são apresentados, com a mesma formatação dos até aqui analisados. Exemplo: 457
KNSHIRO, 2006, p.198) F ica evidente, que na atividade acima, a mesma estrutura das atividades anteriores foi seguida, isto é, o conceito gramatical é sempre reforçado. Neste caso ainda, o livro 458
reforça a classificação dos pronomes pessoal com uma tabela em que todos os pronomes estão presentes separados por suas categorias específicas: K N S HIRO, 2006, p.198) Na seqüência, ainda, o livro apresenta o conceito dos pronomes oblíquos e um único exercício para identificação deles em um texto. CONSIDERÇÕES FINIS nalisando a unidade seis do livro Projeto raribá - Português, da 5ª série do ensino fundamental, de autoria de urea Regina Kanashiro 2006), podemos observar práticas tradicionalistas de ensino e aprendizagem da língua, porque o livro se preocupa em apresentar as regras e normas da língua padrão para que o aluno se prenda ao conceito gramatical e faça identificações, classificações. ssim, o gramática que mais está presente nesse livro é a gramática normativa. REFERÊNCIS BIBLIOGRÁFICS BGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é e como se faz. Loyola, São Paulo, 1999. KNSHIRO, urea Regina. Projeto raribá Português. 5ª série. São Paulo: Moderna, 2006. POSSENTI, Sírio. Por que não) ensinar gramática na escola. Campinas-SP: Mercado das Letras, 1996. 459
Para citar este artigo: MIGUEL, Layane Suellen; NOGRI JÚNIOR, rnaldo; VIEIR, Michelle ndreza. Livro didático e o ensino de gramática. In: X CONGRESSO DE EDUCÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2010. nais...uenp Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e rtes. Jacarezinho, 2010. ISSN 18083579. p. 452 460. 460