12 - A Linguística não é prescritiva
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1 12 - A Linguística não é prescritiva Linguística I - LEF140 Prof. Maria Carlota Rosa UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 1
2 Prescritivo que prescreve, receita. que apresenta uma determinada forma linguística como a única aceitável (Houaiss) Nos estudos linguísticos, qualifica atitudes que estabelecem julgamentos de valor acerca das formas de uma língua. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 2
3 Em termos gerais, prescritivismo é a visão de que uma variedade linguística é inerentemente melhor que as outras e deveria ser imposta a toda a comunidade. Essa visão é proposta especialmente em relação à gramática e ao vocabulário e frequentemente ainda com relação à pronúncia. A variedade privilegiada, nessa visão, costuma ser uma versão da língua escrita padrão [...] Crystal (1997: 2) UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 3
4 A recomendação de determinados usos linguísticos implica: considerar a existência de usos ruins, ou erros; desconsiderar a variação linguística; desconsiderar a mudança linguística. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 4
5 Voltando a Saussure a Linguística dissociou-se do estudo desprovido de qualquer valor científico que tinha por objetivo formular regras para distinguir as formas corretas das incorretas (Saussure, Curso, 1 p. 7) UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 5
6 A Linguística não é prescritiva. A Linguística é uma ciência que procura aumentar o conhecimento que se tem sobre a linguagem e sobre as línguas. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 6
7 A Linguística difere da prática escolar, onde parte das questões focalizadas são recomendações sobre o bem falar/escrever. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 7
8 Cunha (1972: ) UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 8
9 Muito do que se escreveu no âmbito da tradição gramatical greco-latina teve relação com a noção de erro, entendida como desvio de um padrão linguístico estabelecido como norma. Essa noção não tem interesse aqui. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 9
10 Então não se fala de erro? UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 10
11 A incompreensão acerca do que é Linguística faz com que pesquisas que mostram, por exemplo, como o português varia no Brasil, sejam consideradas tentativas de ensinar o errado. Ou, nas palavras de um membro da Academia Brasileira de Letras: Nada mais representativo da burrice do que essa teoria do falar errado. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 11
12 Em 2011, a incompreensão sobre o que é Linguística eclodiu na imprensa, tendo por pretexto um capítulo de um livro voltado para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). BAZZONI, Claudio; RAMOS, Heloisa & CLETO, Mirella Laruccia Por uma vida melhor. Coleção Viver, Aprender. São Paulo: Global. v. 6 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 12
13 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 13
14 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 14
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18 O estudo de uma língua pode focalizar usos sem prestígio. Um exemplo: no Atlas linguístico de Sergipe, Ferreira et alii (1987) descreveram pronúncias para medalha e onde, em lugar desse termo, se emprega verônica. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 18
19 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 19
20 Comparem-se um exemplo da tradição gramatical em que se focaliza o que se pode ou não dizer e o mesmo fenômeno numa abordagem da Linguística. nós / a gente UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 20
21 Não há inconveniente algum em usar-se a expressão a gente para designar quem está falando (eu ou nós), desde que se deixe o verbo no singular. A gente deve chegar à tarde. A gente conhece bem nossos inimigos. Nicola & Terra (2001:11) UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 21
22 Agora um exemplo do tratamento na tradição desenvolvida pela Linguística. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 22
23 Vianna & Lopes (2015: ) UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 23
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30 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 30
31 UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 31
32 A visão prescritiva focaliza a mudança linguística como declínio ou perda da qualidade que essa língua teve em algum momento. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 32
33 um exemplo Morte da Língua Portuguesa, questão de tempo? Vi no programa da Fátima Bernardes, falando sobre modernidades, entrou no tema do português usado na internet. Percebi que muitos concordam que o uso do "internetês" está matando a língua portuguesa. No meu trabalho (Lan House) vejo muitos jovens não estão mais sabendo escrever determinadas palavras, com erros grosseiros, e pra completar, interpretação de texto é muito raro, não entendem o que leram. Vocês acham que a geração que vai virá ainda saberá escrever e expressar-se de forma correta usando a língua portuguesa ou acha que isso é uma mudança natural? pessoalmente não gosto muito disso... Disponível em: UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 33
34 Todas as línguas, todas as variedades de uma língua: podem e devem ser objeto de estudo da Linguística; são fonte de informação sobre a natureza humana; são fonte de informação sobre as sociedades. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 34
35 Referências CRYSTAL, David The Cambridge Encyclopedia of Language. 2nd. ed. Cambridge, CUP. CUNHA, Celso Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro, MEC/FENAME. FERREIRA, Carlota da Silveira et alii Atlas linguístico de Sergipe (Cartas I-XI e 1-150). Salvador: UFBa/ Fundação Estadual de Cultura de Sergipe. NICOLA, José de & TERRA, Ernani dúvidas de português. São Paulo: Saraiva. ROSA, Maria Carlota Introdução à (Bio)Linguística. São Paulo: Contexto. VIANNA, Juliana Segadas & LOPES, Célia Regina dos Santos Variação dos pronomes nós e a gente. In: MARTINS, Marco Antônio & ABRAÇADO, Jussara Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. São Paulo: Contexto. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 35
36 Referências FERREIRA, Carlota et al. Atlas Lingüístico de Sergipe. Salvador: UFBA - Instituto de Letras/Fundação Estadual de Cultura de Sergipe, NICOLA, José de & TERRA, Ernani dúvidas de português. São Paulo: Saraiva. VIANNA, Juliana Segadas & LOPES, Célia Regina dos Santos Variação dos pronomes nós e a gente. In: MARTINS, Marco Antônio & ABRAÇADO, Jussara Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. São Paulo: Contexto. UFRJ/ Dept. de Linguística e Filologia/ Prof. Maria Carlota Rosa 36
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