COMPORTAMENTO ALIMENTAR E CONHECIMENTOS SOBRE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

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Transcrição:

COMPORTAMENTO ALIMENTAR E CONHECIMENTOS SOBRE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE RESUMO Adriana Honaiser 1 Rosangela da Silva 2 Introdução: O agente comunitário de saúde (ACS) tem-se revelado o ator mais intrigante no que se refere à relação de trocas estabelecidas entre saberes populares de saúde e saberes médicos-científicos. Objetivos: Verificar o comportamento alimentar dos ACSs, bem como seus conhecimentos sobre nutrição. Metodologia: Avaliou-se 30 ACSs de Pato Branco-PR entre os anos de 2008 e 2009 quanto aos hábitos alimentares e conhecimentos sobre nutrição. Resultados: Observou-se maior número de inadequações na freqüência do consumo de carboidratos, leites e derivados, alimentos reguladores, açúcares e refrigerantes. Dos conhecimentos referentes à nutrição, 46,6% acertaram o que é pirâmide alimentar; 10% os grupos alimentares, 63,3% o número de refeições que deve ser realizado ao dia, 43,3% quais são essas refeições, ninguém acertou o que são macronutrientes e micronutrientes, e a maioria deixou em branco as questões quanto às funções e exemplos de alimentos de acordo com o nutriente. Conclusão: Verificou-se elevado percentual de inadequações entre os ACSs estudados quanto aos hábitos alimentares e conhecimentos sobre nutrição. Palavras-chaves: Profissional de saúde, Programa Saúde da Família, Comportamento Alimentar. INTRODUÇÃO O PSF (Programa de Saúde da Família) foi criado pelo Ministério da Saúde em 1994, com o objetivo de reorganizar a prática assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência. A atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir do seu ambiente físico e social, o que vem possibilitando uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que vão além de práticas curativas (FRANCO; MERHY, 1999). A partir de 26 de março de 2006, a nomenclatura Programa Saúde da Família (PSF), foi substituída pela Estratégia Saúde da Família (ESF), de acordo com a Portaria 1 Acadêmica do 4º ano do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO. Rua Araribóia, 2162- Pato Branco-Pr. adri_honaiser@yahoo.com.br Telefone: (42)36294887. 2 Nutricionista. Especialista em Nutrição Infantil, Mestre e Doutoranda pela UNIFESP/EPM. Professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Alfenas- UNIFAL-MG. 1

648 de 2006, que instituiu a Política Nacional de Atenção Básica. Assim sendo, deixa de ser somente um Programa e passa a ser uma Política de saúde (BRASIL, 2006b). A estratégia saúde da família visa reorganizar a Atenção Básica. É um projeto dinamizador do SUS (Sistema Único de Saúde), que conta com a participação de equipes multiprofissionais, responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias de uma determinada área. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta comunidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). A ESF é um campo de práticas importante para avançar na perspectiva da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil (PINHEIRO et al., 2007). Cada equipe de Saúde da Família é composta no mínimo, por um médico da família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes comunitários de saúde (ACS) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). O ACS tem-se revelado o ator mais intrigante no que se refere à relação de trocas estabelecidas entre saberes populares de saúde e saberes médicos-científicos. Pode-se dizer que o fato de ser uma pessoa que convive com a realidade e as práticas de saúde do bairro, e ser formado a partir de referenciais biomédicos, faz deste um ator que veicula as contradições e, ao mesmo tempo, a possibilidade de um diálogo profundo entre esses dois saberes e práticas (NUNES, 2002). Não se discute o fato de que o ACS é um agente facilitador da integração da comunidade com a equipe de saúde responsável por aquele território. E isso justifica atenção, investimentos, e reconhecimento do trabalho desses profissionais, que facilitam a construção e consolidação de melhores índices de Saúde para a população brasileira (BROOCK-NETO et al., 2006). O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) é considerado como parte da Saúde da Família. Onde há somente o PACS, este pode ser considerado um programa de transição para a Saúde da Família. No PACS, as ações dos ACS são acompanhadas e orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Em 2008, encontravam-se em atividade no país 204 mil ACS, estando presentes tanto em comunidades rurais e periferias urbanas quanto em municípios altamente urbanizados e industrializados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). É necessário treinar os ACS para realizarem procedimentos técnicos como 2

medida de peso e estatura de crianças, verificação do estado de vacinação das mesmas, além de desenvolverem atividades educativas visando a implementação de procedimentos saudáveis nas pessoas da comunidade, especialmente no que se refere a hábitos higiênicos e alimentares, entre outras ações (NUNES, 2002). Assim, diante destas realidades e baseando-se no fato de que os ACSs têm contato direto com a população e através deste, transmitem informações sobre alimentação saudável, realizou-se este estudo com o objetivo de verificar seus comportamentos alimentares e seus conhecimentos sobre alimentação e nutrição. METODOLOGIA Por meio de um estudo prospectivo transversal, foram avaliados os agentes comunitários de saúde do município de Pato Branco-PR entre os anos de 2008 e 2009 quanto ao comportamento alimentar e conhecimentos sobre nutrição e alimentação. A amostra foi constituída por 30 agentes comunitários de saúde, de ambos os sexos, distribuídos em 7 Unidades de Saúde da área urbana o que representou 88,2% (30/34) dos ACSs do município. Foram excluídos do estudo uma ACS gestante e três que estavam em afastamento por atestado médico. Todos os agentes foram avaliados em uma única visita, na qual aplicou-se um questionário padronizado abrangendo questões demográficas, de comportamento alimentar e conhecimentos sobre nutrição e alimentação. Aplicou-se o inquérito alimentar de frequência alimentar (QFA). Os dados da frequência alimentar foram interpretados e analisados conforme as recomendações de consumo diário preconizadas pelo Ministério da Saúde no Guia Alimentar Para a População Brasileira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). As questões a respeito dos conhecimentos dos ACSs sobre alimentação e nutrição foram avaliadas individualmente pelos pesquisadores do estudo e as respostas classificadas em corretas ou incorretas. Na apresentação das falas foi mantida a sintaxe original do texto, por considerar que a expressão original revela com maior exatidão a forma de pensar e ser dos sujeitos. Os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel e, realizou-se estatística descritiva, média, desvio padrão e frequência. 3

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, ofício nº 057/2009- COMEP/UNICENTRO. Houve autorização da Secretaria Municipal de Saúde de Pato Branco-PR, ofício nº 222/2008/SMS, para a execução da pesquisa, bem como ciência das enfermeiras responsáveis pelas equipes. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise das questões referentes à identificação dos ACSs revelaram que a média de idade dos pesquisados é de 35,9 ±11,2 anos, sendo que a idade mínima para ocupar esse cargo é de 18 anos (BRASIL, 2006a). Quanto ao sexo, quase a totalidade, 90% (27/30), são do sexo feminino, demonstrando que as mulheres são a maioria nesta profissão. Na questão sobre escolaridade observou-se que 96,7% (29/30) possuem mais de 8 anos de estudos, sendo que destes 10,3% (3/29) possuem o ensino superior completo. É importante destacar que para que se possa exercer a função de ACS é necessário ter o ensino fundamental completo (BRASIL, 2002) demonstrando que todos estão dentro das exigências de escolaridade. Em se tratando da experiência dos pesquisados como ACS, a média de tempo de trabalho era de 27,3±21,9 meses. Observa-se que a maioria dos ACSs já ultrapassaram a fase de adaptação, permitindo-lhes já terem traçado uma trajetória em sua profissão. Quando questionados sobre o recebimento de treinamentos ou palestras sobre alimentação e nutrição, 86,6% (26/30) responderam já ter recebido. A educação permanente é um importante instrumento educacional para melhorar o aperfeiçoamento profissional. Através dos treinamentos/ capacitações os ACSs esclarecem suas dúvidas, atualizam seus conhecimentos, descobrem novos assuntos, novas formas de trabalhar e abordar situações de saúde e outras necessárias para sua atividade profissional (BROOCK-NETO et al., 2006). Há uma portaria, a nº 2.662 de 2008, na qual o Ministro do Estado da Saúde institui o repasse regular e automático de recursos financeiros na modalidade fundo a fundo, para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde (BRASIL, 2008). A respeito dos conhecimentos dos ACSs, quando realizadas questões referentes à nutrição básica e alimentação, conforme dados da tabela 1, 46,6% (14/30) das 4

respostas do que é pirâmide alimentar estavam corretas e 20% (6/30) não responderam. Uma das respostas corretas foi Uma forma de representação de quantidade e tipos de alimentos a serem consumidos e uma das respostas incorretas foi Como começa a ser usado alimentos ; 10% (3/30) acertaram quais são os grupos alimentares e 23,3% (7/30) deixaram em branco. A resposta incorreta mais comum foi vegetal e animal e muitos deles confundiram nutrientes com grupos alimentares; 63,3% (19/30) acertaram o número de refeições que se deve realizar ao dia e 23,3% (7/30) deixaram em branco. Considerou-se correto os que responderam números que estivessem entre 4 e 6 refeições ou os que responderam 3 refeições e mais os lanches; ainda 43,3% (13/30) acertaram quais são essas refeições e 20% (6/30) deixaram em branco. Alguns citaram apenas café e almoço; nenhum ACS acertou o que são macronutrientes e micronutrientes e 80% (24/30) não responderam. As respostas mais citadas foram Macro- possuem grandes quantidades de nutrientes/ Micro-pouca quantidade nutrientes, uma das respostas foi macronutriestes-bastante quantidade de proteína, micronutriente- pouca quantidade de proteína. Ainda sobre os conhecimentos básicos em nutrição, solicitou-se que os ACSs exemplificassem uma função e um exemplo de alimento para cada nutriente (Carboidrato, Proteína, Lipídio, Vitamina A, Ferro, Vitamina C e Cálcio). Observa-se na tabela 2 um grande número de respostas em branco quanto a essas questões, além do que a maioria deles não soube responder quanto às funções dos nutrientes no organismo, sendo os maiores números de acertos observados para os carboidratos, ferro e vitamina C. Verificou-se pouco conhecimento dos ACSs na área pesquisada. Sabe-se que a população busca orientação sobre suas dúvidas com esses profissionais. Em uma pesquisa realizada com ACSs no Rio Grande do Sul, 100% deles relataram que são procurados pela comunidade para esclarecerem situações de saúde (BROOCK-NETO et al., 2006). Entretanto, se esses profissionais não possuem conhecimentos suficientes, podem estar orientando de maneira errônea esta população. Quanto ao comportamento alimentar, verificou-se que 20% (6/30) dos pesquisados realizam somente 2 refeições ao dia, 56,6% (17/30) 3, 20% (6) 4 e 3,3% (1/30) realizam 5 refeições ao dia, sendo que 66,6% (20/30) deles substituem refeições por lanches frequentemente. A maioria deles realiza as refeições em casa, 73,3% 5

(22/30), 10% (3/30) as realiza na unidade de saúde, 13,3% (4/30) na unidade de saúde e/ou em casa e 3,3% (1/30) em outro local. Para a análise das respostas do QFA, para os alimentos cuja recomendação é que o consumo seja diário, foram considerados adequados os consumos das porções mínimas recomendadas pelo Guia Alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2006). Para os alimentos do grupo dos pães e os do grupo do arroz, considerou-se adequados os consumos de no mínimo 3 porções diárias de cada grupo. Quanto aos alimentos cujo consumo deve ser esporádico, os intitulados como não saudáveis, considerou-se adequado o consumo igual ou menor a 2 vezes por semana para refrigerantes, embutidos e frituras e o consumo igual ou menor a 1 e 2 porções por dia, para açúcares e café, respectivamente. A tabela 3 apresenta as frequências de consumo diário, semanal e mensal dos grupos de alimentos avaliados (sem considerar as porções mínimas do Guia Alimentar), os que não consomem esses alimentos e, ainda, as porcentagens de ACSs que apresentaram consumo inadequado quanto às porções mínimas recomendadas pelo Guia Alimentar. Conforme demonstrado na tabela, dentre os alimentos saudáveis, o maior número de inadequações refere-se à ingestão de alimentos do grupo dos carboidratos, com 100% de inadequação, seguido do grupo das hortaliças e dos leites e derivados, com 96,6% de inadequação cada. As menores inadequações foram encontradas nos alimentos dos grupos das carnes e feijões, com 43,3% e 46,6% respectivamente. Quanto aos alimentos não saudáveis, pode-se observar que o maior número de inadequações referem-se ao consumo de açúcares e/ou doces e refrigerantes, 33,3% e 56,6%, respectivamente. Conforme a tabela observa-se grande número de inadequações no consumo alimentar dos pesquisados. Pesquisa a nível nacional demonstrou que, em geral, as famílias brasileiras consomem muitos alimentos com alto teor de açúcar, principalmente refrigerantes, e poucas quantidades de frutas e hortaliças (IBGE, 2004), o que também foi encontrado neste estudo quanto aos hábitos dos ACSs. 6

Tabela 1. Conhecimentos dos ACSs quanto à alimentação e nutrição. (n total = 30) Pirâmide alimentar Grupos alimentares Nº de refeições/dia Quais refeições Macro e Micronutrientes Corretas 46,6 14 10 3 63,3 19 43,3 13 0 0 Incorretas 33,3 10 66,6 20 10 3 36,6 11 20 6 Em branco 20 6 23,3 7 23,3 7 20 6 80 24 Tabela 2. Conhecimentos dos ACSs quanto às funções e exemplos de alimentos de acordo com os nutriente. (n total = 30) Corretas Função Incorretas Em branco Corretas Exemplo Incorretas Em branco Carboidrato 23,3 7 3,3 1 73,3 22 80 24 3,3 1 16,6 5 Proteína 3,3 1 0 0 96,6 29 76,6 23 0 0 23,3 7 Lipídio 6,6 2 3,3 1 90 27 36,6 11 6,6 2 56,6 17 Vitamina A 10 3 0 0 90 27 46,6 14 0 0 53,3 16 Ferro 23,3 7 0 0 76,6 23 90 27 0 0 10 3 Vitamina C 33,3 10 0 0 66,6 20 83,3 25 0 0 16,6 5 Cálcio 30 9 6,6 2 63,3 19 66,6 20 6,6 2 26,6 8 Tabela 3: Frequências do consumo dos grupos de alimentos pelos ACSs. Alimento Diário Semanal Mensal Não consomem Inadequação n % Fruta ou Suco Natural 10 33,3 17 56,6 1 33,3 2 6,6 28 93,3 Verduras ou Legumes 22 73,3 7 23,3 1 33,3 0 0 29 96,6 Carnes ou Ovos 17 56,6 13 43,3 0 0 0 0 13 43,3 Leite ou derivados 14 46,6 12 40 1 33,3 3 10 29 96,6 Leguminosas 16 53,3 13 43,3 1 33,3 0 0 14 46,6 Pães, bolachas e bolo sem 16 53,3 12 40 2 6,6 0 0 30 100 recheio Arroz, macarrão, batata, 19 63,3 11 36,6 0 0 0 0 30 100 mandioca Frituras de imersão 0 0 18 60 9 30 3 10 2 6,6 Açúcares e/ou doces 19 63,3 11 36,6 0 0 0 0 10 33,3 Embutidos 2 6,6 18 60 7 23,3 3 10 5 16,6 Refrigerante ou Suco 8 26,6 20 66,6 0 0 2 6,6 17 56,6 artificial Café, Chá preto, Chá mate torrado 20 66,6 6 20 1 33,3 3 10 3 10 7

CONCLUSÃO Verificou-se elevado percentual de inadequações nos hábitos alimentares destes profissionais, baixo consumo de alimentos reguladores e elevado consumo de alimentos ricos em açúcares. Esses achados poderão contribuir negativamente para a saúde dessas pessoas. Ademais, os ACSs devem orientar a prática de hábitos alimentares adequados à população, entretanto isso se torna mais difícil se eles próprios possuem hábitos inadequados. A falta de conhecimentos na área de alimentação e nutrição pode fazer com que os ACSs transmitam informações baseadas somente em conhecimentos populares, os quais nem sempre são verdadeiros. Dessa forma tornam-se necessários mais estudos nessa área, bem como, planejamento de capacitação contínua para os ACSs abordando temas sobre nutrição e alimentação saudável. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. Brasília (DF), 2006.. Ministério da Saúde. Atenção Básica e a Saúde da Família. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php>. Acesso em: 19 jun. 2008.. Congresso Nacional. Lei 10507, 10 jul. 2002. Cria a Profissão de Agente Comunitário de Saúde e dá outras providências. Brasília, DF, jul. 2002.. Congresso Nacional. Lei 11350, 05 out. 2006. Regulamenta o 5º do art. 198 da Constituição Federal, dispõe sobre o aproveitamento de pessoal amparado pelo parágrafo único do art. 2º da Emenda Constitucional nº 51, de 14 de fevereiro de 2006, e dá outras providências. Brasília, DF, out. 2006.. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Portaria nº 648/GM, 28 mar. 2006. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da atenção básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília, DF, n. 61, mar. 2006. 8

. Gabinete do Ministro. Portaria nº 2,662, 11 nov. 2008. Institui o repasse regular e automático de recursos financeiros na modalidade fundo a fundo, para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde. Brasília, DF, nov. 2008. BROOCK-NETO, W.H. et al. Contra-regras do cenário da saúde: Os Agentes Comunitários de Saúde em foco. Escola de Saúde Pública- ESP/RS, Porto Alegre, 2006. FRANCO, T.; MERHY, E. PSF: Contradições e novos desafios. Tribuna Livre, Belo Horizonte/ Campinas, p. 1-8, 1999. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cns>. Acesso em: 15 fev. 2009. IBGE. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e de estado nutricional no Brasil Relatório Final. Rio de Janeiro: IBGE; 2004. NUNES, M.O. et al. O agente comunitário de saúde: construção da identidade desse personagem híbrido e polifônico. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, p.1639-1646, Nov./Dez. 2002. PINHEIRO, A.R.O. et al. Nutrição em saúde pública: os potenciais de inserção na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Tempus Vitalis, v. 1, p. 1-19, 2007. 9