O GIZ COR-DE-ROSA E AS QUESTÕES DE GÊNERO: OS DESAFIOS DE PROFESSORES FRENTE À FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO - PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

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Antônia Pereira da Silva Graduanda em Letras-Português pelo PARFOR da Universidade Federal do Piauí

Transcrição:

O GIZ COR-DE-ROSA E AS QUESTÕES DE GÊNERO: OS DESAFIOS DE PROFESSORES FRENTE À FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO - PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES Eixo temático: 3. Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente. Modalidade: Pôster Fernanda Francielle de Castro 1 Resumo A pesquisa em curso busca investigar os desafios enfrentados por sujeitos homens que se inserem num universo predominantemente feminino a pedagogia e o magistério, com o objetivo de desvelar se há indícios de preconceito, ou mesmo estigma, relacionados às questões de gênero. Para dar conta de tal intento utilizamos a pesquisa qualitativa através da abordagem metodológica de um estudo de caso, sendo realizadas entrevistas com 22 sujeitos: 2 pares de alunos do curso de pedagogia de uma Universidade Estadual e 3 pares de sujeitos de universidades particulares. Quanto aos professores atuantes na Educação infantil (EI) e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, estes somaram 6 pares, localizados na cidade de Diadema/SP, São Caetano/SP e Cidade de São Paulo. Na estrutura do trabalho destacamos o emprego das conceituações de gênero, masculinidades e suas relações, com vistas a explicitar em qual espaço situamos nossas argumentações e em quais fundamentos se baseiam a origem de nossas reflexões. Também procuramos realizar um resgate histórico sobre o processo da feminização do magistério. Palavras Chave: Feminização magistério; Professores homens; gênero. Introdução Historicamente, em nosso contexto educacional, docentes que direcionam-se para atuarem na Educação Infantil (EI) e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental (SIEF), sempre esteve relacionada a um predomínio feminino. Porém, muito recentemente, observamos um movimento de inserção de alunos, do sexo masculino, nos Cursos de Pedagogia e, consequentemente, em salas de aulas na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Tal inserção gera inquietações e novas discussões, motivo pelo qual escolhemos refletir sobre tal assunto. Gatti (2009) relata que o curso de pedagogia, é a graduação em licenciatura que possui maior quantidade de estudantes, na pesquisa realizada por ela, o total de estudantes que escolhem tal curso somam 28,7% dos sujeitos e destes 65,1% escolheram o curso porque querem ser 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (bolsista Capes/ Prosup), da Universidade Metodista de São Paulo, sob a orientação da Profª Drª Norinês Panicacci Bahia.

professor. Outro dado relevante é que estes futuros pedagogos somam 28,2% já trabalhando na área educacional. No curso de Pedagogia 75,4% dos estudantes do curso são mulheres, fato é que a predominância feminina não é recente, ocorre desde meados do final do século XIX. E mais, as mulheres constituem 92,5% do total no magistério das séries iniciais do ensino fundamental e da educação infantil. Restando menos de 8% deste espaço para o sexo masculino. De acordo com Vianna (2001), em um censo realizado pelo Inep no ano de 1997, a categoria de professores é constituída por uma maioria de 85,7% de mulheres e 14,1% de homens. Dos 52 mil professores brasileiros, 97,4% dos docentes de 1 a a 4 a série do Ensino fundamental são mulheres. Elas ocupam 80,6% das 5 as até 8 as séries desse ensino e 60,8% do Ensino Médio. Desde o século XIX, a maioria dos homens abandonaram as salas de aula nos cursos primários, e as escolas normais formaram cada vez mais professoras. Tal tendência se manteve durante todo o século XX, as mulheres se dirigiram especificamente para o ensino primário, e ampliaram sua presença em outros níveis e modalidades de ensino, e no final do século passado a educação primária estava predominantemente feminizada. Os homens que perduraram na educação atuavam em outros segmentos educacionais e muitos passaram a ocupar cargos administrativos. Um rápido vislumbre pela história da feminização do magistério nos leva para a história das mulheres que só adentraram ao mercado de trabalho pela necessidade de mais mão de obra para dar conta da educação em dado momento histórico, e também possivelmente quando os homens que até então ocupavam a maioria das cadeiras educacionais partem em busca de diferentes empregos com melhor remuneração. A partir deste acontecimento as mulheres passaram a ocupar o papel de professoras das crianças (Almeida, 1998). O magistério primário feminino, no Brasil como em outros países, a princípio foi um espaço marcadamente masculino, de um lado havia homens professores e de outros meninos, sendo a educação negada às mulheres. As atividades docentes foram iniciadas por homens religiosos catequisando e educando os indígenas, posteriormente os filhos dos donos de terras. Estes primeiros homens se ocuparam do magistério ensinando para os indígenas e meninos, mas esta configuração se altera quando as mulheres adentram no magistério, pois somente quando a educação foi estendida paras as meninas, coube às mulheres educá-las. Levando isto em conta, o magistério não nasceu como ocupação feminina em país nenhum, a profissão foi transformada em ocupação feminina ao longo da história e de acordo com a necessidade social.

A fim de justificar a instrução feminina, trataram de fundamentar a educação das mulheres em nome das funções maternas, mulheres eram dotadas de características de mãe e possuíam a vocação de ensinar, ideário necessário para ser professora. Eram elas a darem a primeira educação aos filhos, e eram elas que faziam os homens bons ou maus. Mas ao possibilitarem a nomeação destas mestras, houve um problema, em sua maioria elas não possuíam conhecimento algum para poder ensinar. A educação feminina pensada apenas como uma necessidade política, e não com caráter realmente educativo. A justificativa social para que as mulheres transitassem livremente pela sociedade estava embasado no fato delas não irem para a guerra. Então apesar de toda a tensão entre homens e mulheres a mão de obra feminina se tornou necessária, pois eles estavam na guerra e a indústria e o comércio careciam de mão de obra. Diante da adesão delas ao mercado de trabalho, houve a mudança de costumes e mentalidades, e o poder foi parcialmente distribuído. Era preciso educar as mulheres e para realizar tal empreendimento formando mais mestres e mestras, tornou-se necessário implantar novas instituições de ensino, surgindo escolas normais localizadas em diferentes estados do país, com o objetivo de formar professoras mais habilidosas para o magistério. Após as mulheres serem autorizadas a frequentar escolas, elas passaram a ser em maior número do que de homens buscando por profissionalização, o argumento para tal fato estava embasado que culturalmente cuidar de criança sempre foi tarefa feminina, e mais, o que as mulheres receberiam por seu trabalho enquanto professoras era um salário muito baixo, principalmente para professoras primárias, o que de certa forma não atraia os homens para tal função e salário. Até a década de 30, escolas livres somaram-se às oficiais, e as mulheres eram maioria nos cargos discentes, no entanto a elas ainda era negada a entrada a cursos superiores. A partir do ano de 1930 a escola normal se transforma em escola profissionalizante o que exigia das mulheres a passagem pelo ginásio completo. Tal transformação foi uma conquista para as mulheres, pois poderiam ampliar sua escolaridade. As mulheres até então predominavam o magistério primário, a partir da sua entrada no ensino superior passaram a contribuir também no magistério secundário, formando cada vez mais docentes (BRUSCHINI e AMADO,1988, p.6). No século XIX as mulheres adentram maciçamente no magistério, como professoras e alunas. Este movimento não aconteceu em algumas regiões, ele foi amplo e na perspectiva de diferentes países. Um espaço antes ocupado predominantemente por homens, passou a ser ocupado também por mulheres.

Assim, quando os homens passaram a ocupar posições melhores, como administrativo ou direção, bem como a buscar por outros empregos com melhor colocação, deixam a sala de aula para as mulheres, que ao longo das últimas décadas tem sido considerado um trabalho feminino. A mulher ganha enfim a possibilidade de exercer uma profissão, no entanto, esta adquire uma tendência machista. A feminização do magistério ainda é um movimento que tem força e se perpetua mais e mais, doravante o papel da mulher como professora também é desvalorizado, e o homem continua se distanciando das salas infantis, vez ou outra encontramos alguns juntos aos pequeninos. A escassa presença masculina na Educação infantil e Séries iniciais do Ensino fundamental, leva a reflexões desde a formação dos professores que atuam nestes segmentos até a construções destes em exercício docente, questionando como ocorrem as relações de gênero entre professores homens e mulheres. Até esta altura fomos levados a discutir sobre a feminização docente, como este processo ocorreu, e somos direcionados a acreditar que o diálogo entre escola e a sociedade seria um dos motivos que leva a profissão de professor à instância feminina que ao longo do trabalho se tornou evidente. A proposição de estudar o homem nas séries iniciais diz respeito à tentativa de discutir preconceitos e estereótipos e repensar a possibilidade de construir outras versões e sentidos. O debate sobre masculinidade torna-se uma necessidade, pois estamos tratando da condição dos homens presente no contexto feminizado. A discussão sobre este tema de forma crítica, é resultado de desafios e avanços dos debates científicos e políticos originalmente produzidos pelo movimento feminista e pelo movimento em defesa da diversidade sexual (MEDRADO e LYRA, 2008). O nosso questionamento neste ponto é como se constitui a masculinidade, uma vez que discutimos a docência sob características claramente femininas como cuidado e vocação. Do que é constituída a masculinidade? Para Medrado e Lyra (2008, p.824) não existe uma única masculinidade e que tampouco é possível falar em formas binárias que supõem a di-visão entre formas hegemônicas e subordinadas. Tais formas dicotômicas baseiam-se nas posições de poder social dos homens, mas são assumidas de modo complexo por homens particulares, que também desenvolvem relações diversas com outras masculinidades. Socialmente são produzidos concepções de masculinidades, e os homens são conduzidos a ocupar uma posição nestas práticas. Diante das diferentes concepções que surgem, torna-se necessário investigar sobre masculinidade, discernir e analisar o que se tem disponível

sobre masculino e também procurar discutir preconceitos e estereótipos intentando construir outros sentidos. Os professores homens que fazem parte de um ambiente feminizado, têm encontrado a tarefa de construir uma prática pedagógica diferente daquela baseada em valores femininos, buscam mesclar as características tão femininas arraigadas na educação infantil, sem deixar de lado a masculinidade. Esta tendência é observada através dos resultados de nossa pesquisa, os professores homens buscando construir sua prática junto às professoras que convivem. Na escola, infelizmente, é reproduzida a desigualdade de gênero, isto ocorre através das brincadeiras que são ditas de meninos e de meninas, é esperado dos dois sexos comportamentos tipificados. Homens e mulheres são reconstituídos na escola, lá o corpo destes é formatado de acordo com o que a sociedade espera. É lastimável que os professores não tenham como escapar destes papéis historicamente construídos e delineados, o que alguns procuram fazer é participar das discussões de gênero e desta maneira caminhar para a superação da opressão. Diante do desafio de superar a opressão, destaca-se a importância de se pensar em construir modelos de masculinidade alternativas, e isto é feito através da realização de uma prática igualitária e do diálogo com aqueles que fazem parte do cotidiano de trabalho deste professor. Sabe-se que tal exercício não é fácil, pois as relações sociais são carregadas de ideologia que confirmam as diferenças entre meninos e meninas, e podemos ver isto através de comportamento, cores e a maneira como os pequenos são vestidos pelos seus próximos que no fim estão reproduzindo as normas sociais. Ao longo do corpo do nosso trabalho, e na intenção de retomar a feminização do magistério e seus motivos, vimos que as mulheres foram alvo de injustiças sociais de ordens variadas e por mais conquistas que tenham alcançado, ainda não se pode dizer que há igualdade de gênero. Mas, do outro lado há os homens presentes na pedagogia e no magistério, e eles enfrentam condições adversas, se deparam cotidianamente com a obrigação de responder ao modelo hegemônico de masculinidade. RESULTADOS ESPERADOS A pesquisa está em fase final e acreditamos que os resultados irão comprovar (ou não), a hipótese de que em um contexto dominantemente feminino, o gênero masculino poderá enfrentar situações de resistência e preconceito, tanto no seu processo formativo (no caso, ao frequentar um curso de pedagogia), quanto no seu processo profissional, a partir de sua

inserção no contexto educacional e sua relação com outros profissionais da escola e com os pais dos alunos. É preciso considerar que a presença de homens na educação infantil ainda é escassa, mas que ao longo dos últimos anos tem acontecido um processo inverso, onde há homens cursando pedagogia e prestando concurso para professor de educação infantil e séries iniciais. E isto sucinta discussões sobre a entrada deles no magistério, que até então permanece feminizado, gerando discussões pertinentes sobre as relações de gênero, preconceito e estigma. Referências bibliográficas ALMEIDA, Jane Soares de. Mulher e educação: paixão pelo possível. Editora Unesp, São Paulo -1998 BRUSCHINI, Cristina.; AMADO, Tina. Estudos sobre mulher e educação: Algumas questões sobre o magistério. Cadernos de Pesquisa, São Paulo (64): 4-13, fev. 1988. GATTI, Bernadete A.; BARRETO, Elba S. de Sá (Coords.). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. MEDRADO & LIRA (2008) - Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens e masculinidades - Revistas estudos feministas, Florianópolis, 16 (3): 424, Setembrodezembro/2008 VIANNA, Claudia P. O sexo e o gênero da docência. Cadernos Pagu. N.17-18. P. 81-103, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n17-18/n17a03.pdf