Transmissão de Calor I - Prof. Eduardo Loureiro

Documentos relacionados
Capítulo 9: Transferência de calor por radiação térmica

Prof. MSc. David Roza José 1/23

Radiação Térmica Processos, Propriedades e Troca de Radiação entre Superfícies (Parte 1)

FENÔMENOS DE TRANSPORTES

Considerações gerais sobre radiação térmica

Aula 25 Radiação. UFJF/Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica. Prof. Dr. Washington Orlando Irrazabal Bohorquez

Relação da intensidade com poder emissivo, irradiação e radiosidade

Transmissão de calor ENG 1032

EP34D Fenômenos de Transporte

Propagação do calor. Condução térmica

RADIAÇÃO. 2. Radiação Eletromagnética. 1. Introdução. Características da Radiação Eletromagnética

SOLAR E TERRESTRE RADIAÇÃO O O AQUECIMENTO DA ATMOSFERA. 2. Radiação Eletromagnética. 1. Introdução. Características da Radiação Eletromagnética

Lista de Exercícios para P2

ESZO Fenômenos de Transporte

AULA 21 INTRODUÇÃO À RADIAÇÃO TÉRMICA

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Engenharia. Transmissão de calor. 3º ano

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL CAMPUS RIO GRANDE INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL

Introdução a radiação Térmica (Parte 2)

ENERGIA SOLAR: CONCEITOS BASICOS

PNV-2321 TERMODINÂMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Transferência de calor

Transferência de Calor

EMISSÃO e ABSORÇÃO de radiação

Radiação térmica e a constante de Planck

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Engenharia. Transmissão de calor. 3º ano

Transferência de Calor: Origens Físicas F Equações de Taxas de Transferência

O ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO

Radiação: Considerações gerais

EMISSÃO e ABSORÇÃO de radiação

Graça Meireles. Física -10º ano. Física -10º ano 2

Física II. Capítulo 03 Transferência de Calor. Técnico em Edificações (PROEJA) Prof. Márcio T. de Castro 17/05/2017

Processos e propriedades radiativas. Propriedades radiativas de superfícies

Prof. Henrique Barbosa Edifício Basílio Jafet - Sala 100 Tel

Prof. Felipe Corrêa Maio de 2016

Luz & Radiação. Roberto Ortiz EACH USP

CÁLCULO DA TEMPERATURA DE EQUILÍBRIO EM UMA CAVIDADE

CONDUÇÃO TÉRMICA. Condução é o processo de propagação de calor no qual a energia térmica passa de partícula para partícula de um meio.

PROPRIEDADES TÉRMICAS E ÓPTICAS DOS MATERIAIS

ENERGIA SOLAR: CONCEITOS BASICOS

Universidade Federal de Campina Grande Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar Unidade Acadêmica de Agronomia

TERMOGRAFIA TERMINOLOGIA PR-134. Este procedimento define os termos utilizados no método de ensaio não destrutivo de Termografia.

A radiação do corpo negro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Departamento de Química. CQ122 Química Analítica Instrumental II Prof. Claudio Antonio Tonegutti Aula 01 09/11/2012

ESPECTROSCOPIA: 734EE

1.3.3 Transferências de energia por calor. Calor e trabalho: Experiência de Joule

Transferência de calor. Profa. Jacqueline Copetti. LETEF Laboratório de Estudos Térmicos e Energéticos

Modelamento Térmico, Mecânico e Elétrico de Encapsulamentos. Modelamento Térmico. Profa. Jacqueline Copetti

TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR RADIAÇÃO

ENERGIA SOLAR: CONCEITOS BASICOS

Parte 1. Licenciatura em Química Física III

= AT Lei de Stefan-Boltzmann

Termo-Estatística Licenciatura: 22ª Aula (05/06/2013) RADIAÇÃO TÉRMICA. (ver livro Física Quântica de Eisberg e Resnick)

8.4 Termômetros de Radiação

Instituto de Física USP. Física V - Aula 09. Professora: Mazé Bechara

Colégio Técnico de Lorena (COTEL)

INTRODUÇÃO À ASTROFÍSICA

As ondas ou radiações eletromagnéticas não precisam de um meio material para se propagarem.

Expansão Térmica de Sólidos e Líquidos. A maior parte dos sólidos e líquidos sofre uma expansão quando a sua temperatura aumenta:

Mecânica Quântica. Corpo negro: Espectro de corpo negro, catástrofe do ultravioleta, Leis de Rayleigh e Jeans, Hipótese de Planck

A fonte Solar de Energia da Terra

ANÁLISE QUÍMICA INSTRUMENTAL. Métodos espectrais e opticos

Sensoriamento remoto 1. Prof. Dr. Jorge Antonio Silva Centeno Universidade Federal do Paraná 2016

Coletores solares planos

Prof. Me. Regis Guimarães. Mestrado em Educação em Ciências e Matemática UFG. Transmissão do Calor

PROPRIEDADES TÉRMICAS E ÓPTICAS DOS MATERIAIS

Laboratório de Física Moderna Radiação de Corpo Negro Aula 01. Marcelo Gameiro Munhoz

Refrigeração e Ar Condicionado

Análise de alimentos II Introdução aos Métodos Espectrométricos

A LEI DE RADIAÇÃO DE STEFAN BOLTZMANN

A Radiação do Corpo Negro e sua Influência sobre os Estados dos Átomos

Termodinâmica e Estrutura da Matéria

Instituto de Física USP Física V Aula 7. Professora: Mazé Bechara

Prof. Dr. Lucas Barboza Sarno da Silva

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS CURSO ENGENHARIA DE MATERIAIS

REVISÃO E AVALIAÇÃO DA UNIDADE IV

Profa.. Dra. Ana Maria Pereira Neto

Fator de visão da radiação: aplicação na determinação da irradiância de lâmpada ultravioleta de bronzeamento artificial

Transferência de Calor

Laser. Emissão Estimulada

TRANSFERÊNCIA DE CALOR. Profa. Jacqueline Copetti. Sala C

O sistema A é posto em contato térmico com T até atingir o equilíbrio térmico.

ESPECTROSCOPIA: 734EE. Como podemos estudar a Teoria de Planck em um laboratório didático?

Introdução à Química Moderna

Instituto de Física USP Física V Aula 08. Professora: Mazé Bechara

ANÁLISE NUMÉRICA DA RADIAÇÃO TÉRMICA UTILIZANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

CONDUÇÃO EM UMA PLACA COMPOSTA

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

OPERAÇÕES UNITÁRIAS II AULA 1: REVISÃO TRANSFERÊNCIA DE CALOR. Profa. Dra. Milena Martelli Tosi

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia. Prof. Dr. Reinaldo Paul Pérez Machado

Disciplina: Bioquímica Clínica Curso: Análises Clínicas 2º. Módulo Docente: Profa. Dra. Marilanda Ferreira Bellini

Aula 1 - Sensoriamento Remoto: evolução histórica e princípios físicos. Patricia M. P. Trindade; Douglas S. Facco; Waterloo Pereira Filho.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Introdução aos Processos de Troca de Calor

Quantização da Carga, Luz e Energia

Q t. Taxa de transferência de energia por calor. TMDZ3 Processos de Transmissão de calor. Prof. Osvaldo Canato Jr

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXTAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA Disciplina: Climatologia Geográfica I

CALORIMETRIA E TERMOLOGIA

Física Moderna I Aula 03. Marcelo G Munhoz Pelletron, sala 245, ramal 6940

Transcrição:

Radiação - Conceitos Fundamentais Consideremos um objeto que se encontra inicialmente a uma temperatura T S mais elevada que a temperatura T VIZ de sua vizinhança. A presença do vácuo impede a perda de calor a partir da superfície por condução ou convecção. Entretanto, com o decorrer do tempo, o objeto irá se resfriar e entrar em equilíbrio térmico com sua vizinhança. Este resfriamento está associado a uma redução da energia interna armazenada pelo objeto e é uma conseqüência direta da emissão de radiação térmica pela superfície. Por sua vez, a superfície irá interceptar e absorver radiação originada na vizinhança. Entretanto, se T S >T VIZ, a taxa líquida de transferência de calor por radiação, q rad.liq, é da superfície para a vizinhança e a superfície resfriará até que T S atinja o valor de T VIZ.

Radiação - Conceitos Fundamentais A radiação térmica está associada à taxa de energia emitida pela matéria como resultado de sua temperatura. O mecanismo de emissão está relacionado à energia liberada como resultado de oscilações ou transições dos elétrons que constituem a matéria. A radiação pode ser vista como a propagação de ondas eletromagnéticas e também apresenta comportamento de partícula. Atribuímos à radiação as propriedades típicas de uma onda: a freqüência,, e o comprimento de onda,, relacionadas por: = c/, onde c é a velocidade da luz no meio. Para a propagação no vácuo, c o = 2,998 x 10 8 m/s. A fração intermediária do espectro eletromagnético, que se estende de cerca de 0,1 a 100m, é denominada radiação térmica e é pertinente à transferência de calor.

Radiação - Conceitos Fundamentais A radiação térmica emitida pela superfície engloba uma faixa de comprimentos de onda, a intensidade da radiação varia em função do comprimento de onda, daí o termo espectral. A radiação emitida consiste de uma distribuição contínua e não-uniforme de componentes monocromáticos (com um único comprimento de onda, ou monoenergéticos). A distribuição espectral varia com a natureza e com a temperatura da superfície. Embora algumas superfícies emitam preferencialmente em certas direções, no nosso estudo consideraremos apenas as superfícies difusas, cuja distribuição direcional é mostrada na figura abaixo:

Processos e Grandezas da Radiação Poder Emissivo: A emissão de radiação térmica se origina de uma superfície qualquer que esteja a uma temperatura nãonula. O conceito de poder emissivo é introduzido para quantificar a taxa de radiação emitida por unidade de área da superfície. O poder emissivo espectral, E (W/m 2.m), é definido como a taxa pela qual a radiação de comprimento de onda é emitida em todas as direções no espaço hemisférico de uma superfície, por unidade de área da superfície e por unidade de intervalo d de comprimento de onda. O poder emissivo total, E (W/m 2 ), é a taxa pela qual a radiação é emitida por unidade de área em todas as direções possíveis e em todos os possíveis comprimentos de onda. E E d 0

Processos e Grandezas da Radiação Irradiação: O ponto de vista anterior também pode ser aplicado à radiação incidente. Tal radiação pode se originar em outras superfícies, ou na vizinhança, por emissão ou reflexão, ou em fontes de radiação como o sol. A Irradiação é o fluxo de radiação que engloba a radiação incidente proveniente de todas as direções. A Irradiação total, G (W/m²), representa a taxa pela qual a radiação é incidente por unidade de área proveniente de todas as direções e em todos os comprimentos de onda. G G d 0

Processos e Grandezas da Radiação Radiosidade: O que chamamos de Radiosidade leva em conta a energia radiante que deixa uma superfície e inclui a parte refletida da irradiação. J E G, ref J 0 J d 0 E G, ref d Ou, em termos do poder emissivo total e da irradiação total: J E G ref

Processos e Grandezas da Radiação Balanços de Energia em Superfícies com processos de Radiação: O balanço de energia na superfície pode ser descrito por: q. rad liq E G abs O balanço de energia pode ser escrito de forma alternativa em função da Radiosidade total e da Irradiação total: q rad. liq J G

Radiação do Corpo Negro Uma superfície ideal tendo as seguintes propriedades é chamada de corpo negro. Um corpo negro absorve toda a radiação incidente, independentemente do comprimento de onda e da direção. Para uma temperatura e um comprimento de onda dados, nenhuma superfície pode emitir mais energia que um corpo negro. O corpo negro é um emissor difuso. Como um absorvedor perfeito e emissor difuso, o corpo negro serve como um padrão em relação ao qual as propriedades radiantes das superfícies reais são comparadas. Nenhuma superfície real possui as propriedades de um corpo negro. LEI DE STEFAN-BOLTZMAN: O poder emissivo de um corpo negro é dado pela expressão: E b T 4 Onde a constante de Stefan-Boltzman tem o valor: 5,6710 8 W 2 m K 4

Radiação do Corpo Negro Nenhuma superfície real possui as propriedades de um corpo negro. Uma boa aproximação é obtida por uma cavidade (volume fechado) com uma pequena abertura cuja superfície interna encontra-se a uma temperatura uniforme. Esta cavidade isoterma tem as seguintes propriedades: Absorção completa: Se a radiação entra através da pequena abertura, ela sofrerá um grande número de reflexões antes de re-emergir. Desta forma, a radiação é quase completamente absorvida pela cavidade, e o comportamento é aproximado ao de um corpo negro. Emissão de corpo negro: A radiação que deixa a abertura depende apenas da temperatura da superfície. A emissão do corpo negro é difusa e com poder emissivo espectral de corpo negro, E,b. a) Absorção completa b) Emissão difusa da abertura

Radiação do Corpo Negro A Distribuição de Planck: A distribuição espectral da emissão de um corpo negro foi determinada inicialmente por Planck: E, b, T C1 5 exp C2 1 T Onde as duas constantes da radiação são: C1 10 2 8 4 2 2hc0 3,742 W m m C hc k 4 2 0 1,439 10 m K h = constante de Planck, k = constante de Boltzman, c o = velocidade da luz no vácuo E b 0 E, b d C1 5 exp C 0 2 T 1 T 4

Propriedades Radiantes de Superfícies Reais Emissividade: A emissividade total,, é definida como a razão entre o poder emissivo total de uma superfície e o poder emissivo de um corpo negro à mesma temperatura: E E b Absortividade: A absortividade,, é definida como a fração da irradiação total absorvida por uma superfície: G abs G Refletividade: É a fração da radiação incidente que é refletida por uma superfície: G ref G Transmissividade: É a fração da radiação incidente transmitida através de um material semitransparente: G tr G Uma superfície é denominada superfície cinza quando: 1

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades Em geral, a radiação pode deixar a superfície devido à emissão direta e à reflexão (radiosidade) e, ao atingir a segunda superfície ser absorvida ou refletida. A troca por radiação depende das geometrias e de suas orientações, bem como de suas propriedades radiantes e temperaturas. FATOR DE FORMA: O fator de forma leva em conta as características geométricas para a troca de radiação entre duas superfícies. O fator de forma F ij é definido como a fração da radiação que deixa a superfície i e é interceptada pela superfície j. De outra forma, para superfícies A i e A j orientadas arbitrariamente: q Fij A J i j i i Onde q ij é o fluxo radiante que deixa A i e é interceptado por A j e J i é a radiosidade da superfície A i. Para isto, considera-se que as superfícies sejam isotérmicas, difusas e tenham radiosidade uniforme.

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: Duas relações importantes envolvendo os Fatores de Forma são bastante utilizadas: A relação de reciprocidade é útil na determinação de um fator de forma a partir do conhecimento de um outro. Esta relação é uma conseqüência da natureza difusa da radiação das superfícies: A F i ij A j F ji Para superfícies formando uma cavidade, aplica-se a regra do somatório a cada uma das N superfícies da cavidade. N j1 F ij 1

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: Existem diversos procedimentos para a determinação dos fatores de forma. Em alguns casos, é possível determiná-los por inspeção. Ou seja, por intuição baseada na interpretação física de F ij, com relação à configuração das superfícies, pode-se reconhecer a fração da radiação que deixa A i e que é interceptada por A j. Soluções analíticas para muitas configurações de superfícies comuns encontram-se disponíveis na bibliografia sob a forma de gráficos, equações e tabelas. Mostramos nos próximos slides algumas delas. Geometrias Bidimensionais (infinitamente longas na direção perpendicular à pagina):

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: (geometrias bidimensionais)

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: (geometrias bidimensionais)

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: (geometrias tridimensionais)

Troca Radiante entre Superfícies em Cavidades FATOR DE FORMA: (geometrias tridimensionais)