LIBRAS NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS DIANTE DE UMA CARGA HORÁRIA LIMITADA

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Transcrição:

LIBRAS NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS DIANTE DE UMA CARGA HORÁRIA LIMITADA Eliziane Manosso Streiechen Evelline Cristhine Fontana Universidade Estadual do Centro Oeste -UNICENTRO Eixo Temático: Formação de professores na perspectiva inclusiva Palavras-chave: Libras; Formação de Professores; Inclusão. Introdução A partir da oficialização da Língua Brasileira de Sinais (Libras), em 2002 - Lei Nº 10.436 (BRASIL, 2002) - a sociedade brasileira, em geral, têm se mostrado curiosa em relação a esse modo diferente de se comunicar, utilizando as mãos no espaço, o corpo, expressões faciais, entre outros recursos linguísticos que fazem parte dessa Língua. Em 2005, por determinação do Decreto Nº 5.626/2005, a Libras foi inserida como disciplina curricular obrigatória nos Cursos de Licenciatura e Fonoaudiologia no Ensino Superior do Sistema Federal de Ensino e dos Sistemas de Ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2005). Desde então, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm buscado ofertar a disciplina de Libras com intuito de preparar docentes para atuarem com alunos surdos em ambientes inclusivos. No entanto, o que se percebe é uma séria dificuldade dos acadêmicos (adultos ouvintes) em aprender a Libras (KOBILINSKI; STREIECHEN, 2016), pois a língua de sinais (LS), pelo seu aspecto visoespacial, traz uma diferença peculiar em relação às línguas orais: a adoção de uso de expressões faciais/corporais e coordenação motora na realização dos sinais, o que dificulta o uso desses parâmetros por alguns adultos ouvintes (STREIECHEN, 2013). Essas dificuldades, de ordem pessoal em diferentes graus, podem associar-se a diversos fatores: aversão em relação às expressões faciais; dificuldades de coordenação motora; memorização dos vocabulários em sinais; compreensão da estrutura sintática da LS, entre outros. Diante o exposto, essa pesquisa tem como objetivo discutir o ensino da Libras nas IES, destacando os principais desafios dos professores que ministram a disciplina, os quais

precisam ensinar, além da LS, outras questões que, automaticamente, entram em pauta nos conteúdos básicos dessa disciplina, tais como: metodologias, identidade(s), cultura, estratégias de ensino, avaliação, especificidades da escrita dos surdos, entre outros temas importantes e necessários para que os futuros docentes compreendam seu papel diante do aluno surdo em contextos escolares inclusivos. Os resultados permitem-nos compreender que a carga horária, atribuída à Libras, tem se tornado o principal desafio apontado pelos professores, participantes do estudo. Método Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa e bibliográfica. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário semiestruturado, contendo onze questões, aplicado para dez professores - três surdos e sete ouvintes - responsáveis pela disciplina de Libras, sendo que: oito deles atuam em universidades estaduais do Estado do Paraná; um trabalha em uma universidade Estadual localizada no Estado do Piauí e o outro participante é do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Os questionários e os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram encaminhados aos professores via e-mail. Usaremos as siglas P1, P2, P3 e assim sucessivamente para nos referirmos aos participantes. Resultados e discussões A partir das respostas dos participantes, percebe-se que não há uma padronização em relação à carga horária de aulas destinadas à disciplina de Libras, variando bastante entre os cursos e as IES. A maior carga horária está destinada aos cursos de Fonoaudiologia que, em algumas universidades, a disciplina faz parte de todos os anos do curso (1º ao 4º ano); para os cursos de Pedagogia, a carga horária varia entre 68 hora/aula (h/a) e 102h/a. Nos demais cursos, a carga horária é de 68h/a, exceto o Curso de Arte e Educação em que a carga horária é de 34h/a e Física que tem a menos carga horária, 30h/a. Os participantes apontam a carga horária como fator principal das dificuldades para ensinar de forma efetiva a LS, destacando ser insuficiente para preparar o acadêmico que, futuramente, irá trabalhar com surdos no contexto escolar inclusivo, destacando que:

Não. Para falar a verdade somente aqueles que buscam maiores informações em cursos de extensão para se especializar (P1). Não, por falta de entender o que realmente o surdo é. A maioria das pessoas não se interessam pelos surdos. Na inclusão acredito vai ser difícil (P2). faculdade só conhecimento de libras básico precisam de outro curso de libras níveis... (P3). Não, devido ao pouco tempo de curso, ninguém sai aprendendo uma língua em 68 horas, é preciso mais tempo para praticar mais a Lingua de Sinais (P4). Preparados para trabalhar não, por ter uma carga horária pequena, acaba sendo somente uma noção do que seria a Língua de sinais (P5). Acredito que em relação à língua é o básico do basico (P6). Não, pois a carga horária ainda é pouca (P8). É claro que uma carga horária de 120 horas oferece a possibilidade de trabalhar com mais tranquilidade e mais profundamente alguns aspectos da educação de surdos, mas não garante ao futuro professor a preparação ideal para o trabalho na inclusão (P9). A gente precisa escolher, ou ensinamos a Língua bem básica ou discutimos as outras temáticas: inclusão, história dos surdos, metodologias, identidade, cultura etc. Tudo é impossível (P10). Para sanar essas dificuldades, P1 aponta a necessidade de aumentar a carga horária e aulas de libras em todos os períodos ou seja de 1º ao ultimo ano da faculdade. A P3 informa que em sua instituição a Libras é ofertada como disciplina optativa nos cursos de Ciências Biológica, Enfermagem e Medicina. Isso se traduz em uma atitude bastante positiva e autônoma que todas as IES deveriam ter se compreendessem que os surdos são cidadãos comuns e, além da escola, frequentam os consultórios (médicos, odontológicos, psicológicos etc.), os escritórios (contadores, administradores, advogados...) e tantos outros profissionais espalhados pelo mercado brasileiro. Estudos recentes, como o de Cruz e Glat (2014), Mercado (2012), entre outros, demonstram que a disciplina de Libras, tanto em Pedagogia quanto nos demais cursos de formação de professores, possuem uma grande diferença quanto ao conteúdo e organização da disciplina entre as IES e, na maioria, a carga horária é insuficiente para formar docentes com as características mencionadas pelo decreto supracitado. A pesquisa de Cruz e Glat (2014),

por exemplo, revela que em duas IES, uma no Estado do Paraná e outra no Rio de Janeiro, a carga horária de Libras não ultrapassa o máximo de 102 horas aulas (no Curso de Pedagogia), e um mínimo de 51 horas aulas (no curso de Geografia), ministradas semestrais ou anualmente. Já a autora Mercado (2012), por acreditar que existe uma falta de organização e coerência na disciplina Libras para os propósitos aos quais se devem sua criação e inserção nos cursos de licenciaturas, investigou cinco instituições de ensino superior da rede privada da grande São Paulo que inseriram Libras em suas matrizes curriculares nos Cursos de Pedagogia. A pesquisa indica que a maior carga horária é de 88 e a menor é de 20 horas aulas semanais, distribuídas semestral ou anualmente. Diante disso, a autora apresenta a seguinte preocupação, a qual nós também compartilhamos: [...] o total de horas proposto para o desenvolvimento de todos esses saberes não permite ao professor em formação, conhecimentos satisfatórios para entender a língua, a cultura, as necessidades e especificidades do aluno surdo em seu processo de aprendizagem, a fim de que ocorra, satisfatoriamente, a interação professor/aluno surdo (MERCADO, 2012, p. 70). Com as cargas horárias destinadas à disciplina de Libras, evidenciadas nessa pesquisa, destacamos a seguinte questão: é possível que um futuro docente consiga usufruir de uma formação bilíngue que lhe possibilite efetivar uma comunicação sem barreiras com alunos surdos incluídos em sua sala de aula ou em meio à comunidade escolar? Considerações A partir dessa pesquisa, compreende-se que a carga horária atribuída à disciplina de Libras, pelas IES, nos cursos de formação de professores está há anos luz de distância de se efetivar uma comunicação sem barreiras e uma inclusão que ofereça uma escolarização de fato escolarizada a qual todos os alunos têm o direito de receber. A falta de discussão sobre a importância da língua de sinais, bem como o conhecimento aprofundado sobre a cultura, identidade, especificidades dos alunos surdos, impede que o futuro docente exerça sua função de educador com excelência. Isso se reflete como uma falta de consciência e descaso com a formação dos futuros docentes, visto que esses farão parte da comunidade escolar e terão responsabilidades diretamente relacionadas

com a inclusão de alunos com as mais diversas especificidades. Nesse sentido, é de extrema importância que a disciplina seja melhor (re)pensada especialmente no que se refere à carga horária a ela dispensada pelas IES brasileiras. Conclui-se, portanto, que acrescentar apenas a Libras nos cursos de licenciatura, sem determinar a carga horária necessária nessa disciplina para que os futuros professores possam adquirir todo conhecimento (língua e conteúdo) e dar conta do alunado surdo incluído nas escolas normais, talvez possa ser considerado um dos equívocos cometidos pelos legisladores do Decreto, uma vez que as IES não conseguiram, de forma autônoma, resolver essa questão. Referências BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras - e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 25 abr. 2002.. Decreto Federal n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. CRUZ, G. C.; GLAT, R. Educação inclusiva: desafio, descuido e responsabilidade de cursos de licenciatura. Educar em Revista, n.52, p.257-273, 2014. Disponível em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/educar/article/viewfile/32950/22650. Acesso em: 14 jan 2016. KOBILINSKI, S. M. STREIECHEN, E. M. Processo de aprendizagem de Libras como L2 por adultos ouvintes. Revista Interlinguagens - Edição Especial do II Simpósio de Estudos em Letras e III Interlinguagens. ISSN 2178-955x Nº 07 Volume 07. 1ª Edição Universidade Estadual do Centro-Oeste UNICENTRO/Campus de Irati, 2016. Disponível em: http://www.revistainterlinguagens.com.br/pdfs/simposio/artigos/sandra_e_eliziane.pdf. Acesso em 25/03/2016. MERCADO, E.A. O significado e implicações da inserção de libras na matriz curricular do curso de pedagogia. In ALBRES, N. A. (Org.) Libras em estudo: ensino-aprendizagem. São Paulo: FENEIS, 2012. STREIECHEN, E. M.. LIBRAS: aprender está em suas mãos. Curitiba/PR: CRV, 2013.