Registro: 2013.0000585081 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0031938-38.2009.8.26.0506, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante PEDRO JOSÉ ONI CASTRO SHIRAI (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado ARNALDO SIRAI MISSUGIRO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E EGIDIO GIACOIA., 24 de setembro de 2013 DONEGÁ MORANDINI RELATOR Assinatura Eletrônica
3ª Câmara de Direito Privado Apelação Cível n. 0031938-38.2009.8.26.0506 Comarca: Ribeirão Preto Apelante: Pedro José Oni Castro Shirai Apelado : Arnaldo Sirai Missugiro Juiz Sentenciante: Antonio Sérgio Reis de Azevedo Voto n. 23.819 CONDOMÍNIO. AÇÃO DE EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO. Indeferimento da petição inicial. Desacerto. Aquisição de domínio e posse com a abertura da sucessão. Princípio da saisine. Admissibilidade do pronto julgamento de mérito da demanda. Invocação do art. 515, par. 3º, do Código de Processo Civil. Divisão meramente declaratória. Impossibilidade de se constranger o coproprietário em permanecer em estado de indivisão. Direito de exigir a todo tempo a divisão da coisa comum. Desnecessidade da sobrepartilha para a extinção do condomínio. Copropriedade inconteste. Fato expressamente admitido pelo réu. Precedentes do Tribunal. EXTINÇÃO AFASTADA. APELO PROVIDO PARA JULGAR PROCEDENTE A AÇÃO. 1.- Ação de extinção de condomínio extinta sem resolução de mérito pela r. sentença de fls. 79/81, cujo relatório é adotado. Recorre o autor. Busca, pelas razões apresentadas às fls. 84/89, o afastamento da extinção processual, decretando-se a procedência da ação. Sem contrarrazões (fls. 102). É o RELATÓRIO. 2.- Assiste razão ao apelante, respeitado o entendimento do Digno Magistrado. Com efeito. Apelação nº 0031938-38.2009.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 23.819 2/5
Ainda que indiscutível a ausência de propriedade formal das partes sobre o imóvel comum objeto da lide, da qual, a princípio, impõe-se a aplicação dos artigos 1.228 e 1.245 do Código Civil, isto é, a propriedade imobiliária se adquire pelo registro, de natureza constitutiva, há exceções à regra, a exemplo do que ocorre na hipótese dos autos onde a aquisição se deu a título causa mortis, em virtude da saisine (art. 1784, Código Civil art. 1572, CC-1916). Nas lições de NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, em "Código Civil Comentado e Legislação Extravagante", Editora Revista dos Tribunais, 2005, 3ª edição, pág. 818: "Os herdeiros são investidos na posse e adquirem a propriedade pelo simples fato da morte do autor da herança. Adquirem os direitos e obrigações do morto com todas as suas qualidades e vícios (CC 1203 e 1206). A posse é por eles adquirida sem que haja necessidade de apreensão material do bem. Independentemente da abertura do inventário, podem fazer uso dos instrumentos de proteção da posse (interditos possessórios) e da propriedade (v.g., ação reivindicatória, ação de usucapião), podendo somar à sua a posse do de cujus). Ao instituir um condomínio entre os herdeiros, por força da saisine, não há óbice de qualquer natureza a impedir a divisão forçada da copropriedade, não se constituindo em justo impedimento a falta de regularização do domínio perante o registro imobiliário, o qual, no caso em destaque, possui efeitos meramente declaratórios porque os herdeiros não se tornarão proprietários pela partilha ou sobrepartilha, mas sim pela saisine, a qual se operou à data do falecimento de seus genitores. Nesse sentido decidiu este Tribunal: Alienação judicial de imóvel - Possibilidade de extinção do condomínio, ainda antes da partilha do bem, ou da regularização formal da titularidade dominial sobre o imóvel - Aquisição da propriedade por força da saisine, que constitui uma das exceções à regra no sentido de que a propriedade imobiliária se adquire pelo registro - Inexistência de óbices Apelação nº 0031938-38.2009.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 23.819 3/5
à alienação em hasta pública do imóvel cuja titularidade do domínio já é das partes, apenas não se encontrando devidamente regularizado - Circunstância que gera mera necessidade de cientificação dos arrematantes acerca do problema, mas não impede a venda - Recurso não provido (Embargos Infringentes n. 994.09.317200-0/5000, Rel. Des. Franciso Loureiro). No mesmo sentido: Extinção de condomínio - Procedência - Aquisição de domínio e posse com a abertura da sucessão - Princípio da saisine - Inteligência do art. 1572 do Código Civil de 1916 (então vigente) - Divisão meramente declaratória - Impossibilidade de se constranger o co-proprietário em permanecer em estado de indivisão - Direito de exigir a todo tempo a divisão da coisa comum - Desnecessidade do registro do formal de partilha - Precedentes (inclusive desta Câmara) - Sentença mantida - Recursos improvidos (Apelação Cível n. 9083145-98.2000.8.26.0000, Rel. Des. Salles Rossi). Bem por isso, mostrou-se indiferente a não inventariança do imóvel objeto da lide, ainda que decorrente, à data do inventário, da discussão judicial sobre a validade da alienação do bem por ato inter vivos (cf. mandado de cancelamento de escritura de venda e compra de fls. 05). É pertinente, na espécie, o reconhecimento da copropriedade do bem ( finalmente, se o requerente pretende continuar em tão insana empreitada, que requeira ao seu próprio custo e vontade a inclusão do imóvel objeto desta ação no inventário de João Sirai Missugiro, através do competente pedido de sobrepartilha..., fls. 64), apontando-se como igualmente irrelevante a retenção por benfeitorias reconhecida em benefício de terceiros (fls. 36/37), cuja matéria deverá ser objeto de insurgência, se o caso, quando da alienação judicial da unidade, oportunidade em que deverão ser equacionados os direitos de terceiros incidentes sobre o imóvel. Afastada a carência da ação, impõe-se, desde logo, o decreto de procedência da demanda, aplicando-se, sem delongas, o Apelação nº 0031938-38.2009.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 23.819 4/5
disposto no art. 515, par. 3º, do Código de Processo Civil. Fica autorizada, portanto, a alienação judicial do imóvel descrito na inicial na forma estabelecida pelos artigos 1.113 e 1.114, ambos do Código de Processo Civil, com inversão do ônus de sucumbência estabelecido pela r. sentença recorrida. Isto posto, DÁ-SE provimento ao apelo. Donegá Morandini Relator Apelação nº 0031938-38.2009.8.26.0506 - Ribeirão Preto - VOTO Nº 23.819 5/5