RECORRENTE : UNIÃO FEDERAL RECORRIDA : MARTINS COMERCIO E SERVIÇOS DE DISTRIBUIÇÃO S/A EMENTA: TRABALHO EXTERNO. MOTORISTAS. ART. 74, 3º, DA CLT. INAPLICABILIDADE. PERÍODO ANTERIOR À PUBLICAÇÃO DA LEI N. 12.619/12. Antes da Lei n. 12.619/12 inexistia obrigação de cumprimento pelo empregador do disposto no art. 74, 3º, da CLT, se aplicável a exceção prevista no art. 62, I, da CLT. Somente após a entrada em vigor da Lei n. 12.619/12, que ocorreu em 17/6/12, passou a ser obrigatório o efetivo controle, pelo empregador, da jornada praticada pelos motoristas externos. Nesse sentido, é inválido auto de infração lavrado em razão do descumprimento do art. 74, 3º, da CLT antes da entrada em vigor a Lei 12.619/12, se há prova da impossibilidade de controle da jornada de trabalho pela empresa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, em que figuram, como recorrente, UNIÃO FEDERAL e, como recorrida, MARTINS COMERCIO E SERVIÇOS DE DISTRIBUIÇÃO S/A. I RELATÓRIO O MM. juiz da 1ª Vara do Trabalho de Uberlândia, por meio da
decisão prolatada às fls. 300/301, julgou procedente o pedido inicial para anular o auto de infração n. 017487536 e confirmar a antecipação da tutela à fl. 171. A União Federal interpôs recurso ordinário (fls. 306/312), em que versa sobre trabalho externo, autuação e multa administrativa. A autora apresentou contrarrazões às fls. 315/332. Parecer do Ministério Público do Trabalho apresentado às fls. 336/336v, no qual opina pelo conhecimento e acolhimento do recurso para que seja julgado improcedente o pedido inicial. É o relatório. V O T O II ADMISSIBILIDADE Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. II MÉRITO TRABALHO EXTERNO. AUTUAÇÃO. MULTA ADMINISTRATIVA A autora ajuizou a presente ação com o objetivo de anular o auto de infração n. 017487536 e a aplicação de multa pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE.
Segundo informações constantes no referido auto de infração (fl. 27), lavrado em 28/5/10, verificou-se, após vistoria na ré, que os motoristas da empresa num total de 20, não portam a papeleta de serviço externo, dentre eles o Sr. Francisco Aldecy Santos da Guia. Vale ressaltar que a empresa, mesmo orientada a adotar o referido controle, insiste em não fazê-lo. A recorrida foi autuada com fulcro no art. 74, 3º, da Consolidação das Leis do Trabalho CLT. Constou como elementos de convicção a não apresentação da papeleta por parte do referido motorista, notificação prévia para apresentar as papeletas em 25/5/10 e a não apresentação das mesmas (fl. 27). O juízo de origem julgou procedente o pedido, sobre o fundamento de que há norma coletiva firmada pela autora com cláusula expressa acerca da inexistência de controle de jornada, diante da previsão do art. 62 da CLT e em razão do disposto no art. 11, IV, da Lei n. 10.593/02. Não se conforma a União Federal com tal decisão. Sustenta que existem limites para a flexibilização dos direitos laborais (fl. 307) e que o fato de haver previsão nas normas coletivas da exceção contida no art. 62, I, da CLT não impede a constatação de que havia controle da jornada de trabalho dos motoristas da autora. Alega que a reclamante, no momento de apresentação ao fiscal do trabalho dos documentos exigidos, não demonstrou a impossibilidade de controle da jornada dos empregados citados no auto de infração. Afirma que o simples fato de os empregados exercerem jornada externa não é suficiente para afastar a proteção da legislação atinente ao controle da jornada ou desobrigar o empregador do registro da jornada cumprida (fl. 308v).
Examino. Antes da Lei n. 12.619/12 inexistia obrigação de cumprimento pelo empregador do disposto no art. 74, 3º, da CLT, se aplicável a exceção prevista no art. 62, I, da CLT. Somente após a entrada em vigor da Lei n. 12.619/12, que ocorreu em 17/6/12, passou a ser obrigatório o efetivo controle, pelo empregador, da jornada praticada pelos motoristas externos. No caso, na época da lavratura do auto de infração (28/5/10 fl. 27), objeto da presente demanda, não estava em vigor a Lei n. 12.619/12. Quanto à possibilidade de controle da jornada pela empresa, foi informado pela testemunha Francine, ouvida por carta precatória em 12/2/14 (fl. 277), "que há uns dois anos pra cá está submetido a um controle de horário que é feito através de aparelho celular; que, antes, não havia controle de horário e este ficava a seu próprio critério (...) que a empresa estabelece a rota aonde os produtos devem ser entregues; que a empresa não estabelece os horários em que as entregas devem ser feitas em cada local; que o veículo em que trabalha pertence a empresa e possui tacógrafo (...) que a empresa não fazia nenhuma verificação no tacógrafo quanto aos horários trabalhados e descansos retirados; que o depoente não recebia qualquer punição caso acontecesse algum problema e não desse para cumprir sua rota" (fl. 277). Considerando o teor do depoimento, entendo que não havia possibilidade de controle da jornada de trabalho dos motoristas pela reclamada. Inexistia, portanto, quando da lavratura o auto de infração objeto da presente demanda, obrigação de cumprimento pela ré do disposto no art. 74, 3º, da CLT.
Nego provimento ao apelo. CONCLUSÃO Conheço do recurso e, no mérito, nego provimento. Fundamentos pelos quais, ACORDAM os Desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, pela sua Terceira Turma, à unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, sem divergência, negar-lhe provimento. Belo Horizonte, 29 de outubro de 2014. F/M/CM CÉSAR MACHADO Desembargador Relator