TÍTULO: ANÁLISE DO IMPACTO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE DISCOPATIA TORACOLOMBAR E LOMBOSSACRAL EM CÃES CATEGORIA: CONCLUÍDO

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TÍTULO: ANÁLISE DO IMPACTO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE DISCOPATIA TORACOLOMBAR E LOMBOSSACRAL EM CÃES CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: FACULDADE DE JAGUARIÚNA AUTOR(ES): ROBERTA LINS REIS APPEL ORIENTADOR(ES): PAULA TUSSINI ONIDA, VALÉRIA TROMBINI VIDOTTO LEMES COLABORADOR(ES): SONIA SUZUKI

1 RESUMO A região toracolombar é o local onde ocorre a maior incidência de discopatias, que é o distúrbio neurológico cirúrgico mais diagnosticado em pacientes veterinários. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico. Neste trabalho foi feito um estudo retrospectivo e acompanhamento de 23 casos de discopatia toracolombar e lombossacral, atendidos por uma veterinária acupunturista e uma veterinária neurocirurgiã, ambas atuantes na região de Campinas entre os anos de 2012 e 2014. Os pacientes foram graduados de acordo com a sintomatologia apresentada. Em seguida, foi feito um levantamento em função do tratamento realizado, efetuando-se uma nova graduação do estado do animal. Após estudo comparativo, a acupuntura comprovou ser uma importante ferramenta para a reabilitação de cães com paralisia e perda de dor profunda. Entre os animais com presença de dor profunda que não estavam paralisados, a acupuntura reabilitou todos os casos que apresentavam apenas lombalgia ou paraparesia deambulatória. Entre aqueles paralisados com presença de dor profunda, a taxa de reabilitação entre os pacientes submetidos a acupuntura ou cirurgia isoladamente foi idêntica (75%), ficando apenas abaixo de tal taxa quando as duas técnicas foram associadas (100%). 1. INTRODUÇÃO Cada disco intervertebral consiste de duas partes: o núcleo pulposo e o anel fibroso. O núcleo pulposo situa-se no centro e constitui-se de uma substância gelatinosa composta de proteoglicanos com grande quantidade de água, conferindo sua capacidade de amortecimento das forças. O anel fibroso é formado de lâminas concêntricas compostas por material fibrocartilaginoso e fibras elásticas. (FERNÁNDEZ, 2010), (KONIG e LIEBICH, 2011). A hérnia de disco, ou discopatia intervertebral, é definida pelo deslocamento de uma parte do disco intervertebral de seu local habitual, podendo ser causada por traumatismo ou degeneração prévia do disco (FERNÁNDEZ, 2010). A doença do disco intervertebral é o distúrbio neurológico cirúrgico mais diagnosticado em pacientes veterinários, sendo a região toracolombar o local onde ocorre a maior incidência de discopatias (entre 65 e 75% de todas as extrusões discais ocorrem em T11 e L2) (FOSSUM, 2007). O diagnóstico da discopatia toracolombar e lombossacral é obtido através de sintomatologia e exames de imagem (FERNÁNDEZ, 2010). As radiografias simples

2 podem sugerir o espaço intervertebral afetado, mas raramente fornecem o diagnóstico definitivo, sendo necessários exames de tomografia computadorizada ou ressonância magnética (FOSSUM, 2007). A acupuntura é indicada em casos em que não há resposta aos medicamentos ou a intervenção cirúrgica apresenta riscos associados a condições pré-existentes (SCHOEN, 2006). 2. OBJETIVOS O objetivo do presente trabalho foi realizar uma análise sobre o impacto da acupuntura isoladamente ou associada ao tratamento cirúrgico de discopatia toracolombar e lombossacral em cães através de um estudo retrospectivo e acompanhamento dos casos atendidos por uma veterinária acupunturista e uma veterinária neurocirurgiã atuantes na região de Campinas entre os anos de 2012 e 2014. 3. METODOLOGIA 3.1 Coleta de dados O objetivo da utilização do prontuário de veterinárias com tais especialidades foi de utilizar universos diferentes de atendimentos. Isso porque a maioria dos pacientes tratados pela veterinária neurocirurgiã tratava-se de casos cirúrgicos, enquanto grande parte dos casos atendidos pela veterinária acupunturista não passaram por cirurgia. Além do levantamento do prontuário dos casos atendidos entre os anos de 2012 e 2013, foi feito o acompanhamento de algumas consultas realizadas entre janeiro e julho de 2014 para maior entendimento das técnicas utilizadas. 3.2 Graduação dos casos Os animais do escopo deste trabalho foram classificados de acordo com a graduação da Tabela 01 conforme a sintomatologia apresentada. Em seguida, foi feito um levantamento em função do tratamento realizado, podendo este ser alopatia (prescrição de remédios), cirurgia ou acupuntura, efetuando-se uma nova graduação do estado do animal de acordo com a mesma Tabela 01.

3 Grau Descrição 0 Sem dor; Sem sintomatologia neurológica. 1 Dor de aparecimento agudo; Sem sintomatologia neurológica; Lombalgia. 2 Dor à palpação da coluna vertebral; Paraparesia deambulatória; Déficit proprioceptivo. Grau Descrição 3 Paraparesia não ambulatória; Paraplegia; Resposta a dor profunda mantida, podendo haver alteração em resposta à dor superficial. 4 Paralisia; Ausência de dor profunda; Alterações de micção. TABELA 01 Sistema de classificação de discopatia em função de escala de gravidade. Adaptado de (FERNÁNDEZ, 2010). O tratamento de discopatia toracolombar ou lombossacral pode ser conservador ou cirúrgico. O tratamento conservador é indicado para pacientes grau 1 e 2. A cirurgia é uma opção para pacientes grau 3, com melhores resultados quando o tempo entre aparecimento dos sintomas e a consulta médica não excedeu 48 horas. Para pacientes com grau 4, a cirurgia é uma opção mesmo havendo sintomatologia há mais de 48 horas, deixando-se claro ao proprietário a menor possibilidade de êxito (FERNÁNDEZ, 2010), (LIMA et al. 2011). Medicação apropriada ou cirurgia pode resolver ou melhorar as condições de discopatia em cães. Entretanto, em muitos casos os medicamentos anti-inflamatórios ou analgésicos são ineficazes, produzem efeitos colaterais ou ainda não respondem de forma satisfatória a alterações neurológicas e muitas vezes a intervenção cirúrgica não seria benéfica ou envolveria riscos associados com outras condições preexistentes (SCOGNAMILLO-SZABO et al. 2010), (SCHOEN, 2006). Nessas situações, indica-se a acupuntura (SCHOEN, 2006). 3.3 Tratamento cirúrgico A técnica preferível para remoção dos fragmentos do disco que sofreu extrusão é a laminectomia dorsal. Esta consiste da remoção dos processos espinhosos dorsais e porções da lâmina e pedículos para remoção dos fragmentos do disco que causam compressão na medula espinal. Uma variação desta técnica é a hemilaminectomia, na qual é feita a remoção unilateral da lâmina e partes do pedículo (FOSSUM, 2007). Dentre os 23 animais atendidos, 8 passaram por procedimento cirúrgico, sendo 5 procedimentos de hemilaminectomia e 3 procedimentos de laminectomia dorsal.

4 Durante o pós-operatório o paciente deve obedecer a um período de imobilização absoluta durante 3 a 4 semanas, sobre uma superfície macia. A acupuntura é uma opção durante a fase de recuperação a fim de eliminar a dor e inflamação e limitar o aparecimento de atrofia muscular (FERNÁNDEZ, 2010), (SCHOEN 2006), (MACIOCIA, 2007). 3.4 Tratamento com acupuntura isolado ou associado à cirurgia O tratamento com acupuntura foi aplicado em 15 dos 23 animais com discopatia dentro do escopo analisado, sendo que em 4 deles foi realizado como parte do pós-cirúrgico. HAYASHI (2006) concluiu em seu estudo que a acupuntura pode ser aplicada associada ao tratamento médico em cães com discopatia toracolombar, antecipando o retorno à locomoção e a melhora na evolução neurológica em cães apresentando percepção à dor profunda intacta e sem capacidade de locomoção. Dos 50 cães incluídos em seu estudo, 26 receberam tratamento com acupuntura e anteciparam em 50% o retorno da locomoção em comparação aos 24 animais que não receberam acupuntura. De acordo com a medicina tradicional chinesa, a discopatia faz parte da síndrome chamada Bi óssea, que é um estágio muito crônico da síndrome Bi (XIE, 2011). Bi significa obstrução e é causada pela obstrução do Qi e do Sangue dos meridianos como resultado de ataques de fatores patogênicos externos como vento, frio e umidade (SCHOEN, 2006). As causas da síndrome Bi óssea incluem deficiência de Yang do rim, deficiência de Yin do rim e deficiência de Yin e Qi do rim (XIE, 2011). Um rim enfraquecido não pode aquecer e mover a circulação adequadamente, influenciando o baço/pâncreas e fígado e levando a um aumento da umidade e estagnação, o que afeta os músculos, tendões e finalmente os ossos (SCHWARTZ, 2008). Quando a causa da síndrome Bi óssea é deficiência de Yin e Qi do rim, o tratamento inclui tonificar o Yin e o Yang do rim e eliminar vento-umidade. Os pontos de eleição para esse quadro são Rim (R) 3, R-10, Bexiga (B) 23, B-26, Fígado (F) 3, Baço/Pâncreas (BP) 9, Estômago (E) 36, Intestino Grosso (IG) 10 e IG-11 (XIE, 2011). Estes são apenas alguns dos pontos de acupuntura que podem ser utilizados no tratamento da discopatia intervertebral, entretanto o protocolo dos pacientes no escopo desse trabalho sofreu muitas alterações durante os atendimentos pois a acupuntura, que é baseada na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), leva em

5 consideração a condição do paciente como um todo, devendo este ser reavaliado e os pontos adaptados à sua necessidade a cada consulta (MACIOCIA, 2007). Além da acupuntura tradicional, os animais também foram submetidos à eletroacupuntura (Figura 01). Segundo SCHOEN (2006) os aparelhos eletrônicos foram desenvolvidos para aumentar a estimulação dos pontos de acupuntura, podendo ser usados com ou sem agulha. JOAQUIM (2008) verifica em seu estudo sobre a comparação entre eletroacupuntura, cirurgia e cirurgia associada à eletroacupuntura no tratamento da doença do disco intervertebral em cães, que houve uma maior recuperação do quadro clínico neurológico de discopatia toracolombar e lombar do grupo no qual foi realizado tratamento clínico com uso de eletroacupuntura. Figura 01 Animal em atendimento de eletroacupuntura para tratamento de discopatia toracolombar. 4. DESENVOLVIMENTO No período pré-estabelecido, foram diagnosticados 23 casos de discopatia toracolombar e lombossacral. A distribuição dos animais conforme o sexo, raça, idade e local da lesão está descrita na Tabela 02. Paciente Sexo Raça Idade Local da lesão 1 M Daschund 6 anos T13 L1 2 F Daschund 13 anos T11-T12, T12-T13, L3-L4 3 M SRD 9 anos T13 L1 4 M Lhasa Apso 12 anos T12-T13 5 F Basset Hound 6 anos L3 L4 6 M Basset Hound 10 anos L1-L2 7 M SRD 1 ano L7-S1 8 F Pastor Alemão 13 anos L7-S1 9 M Pastor Alemão 12 anos L7-S1 10 F Daschund 6 anos L4-L5 11 M Rottweiler 11 anos L7-S1

6 12 M Dog Alemão 10 anos L7 S1 13 F Daschund 6 anos T13 - L1 14 F SRD 5 anos L7-S1 15 M Lhasa Apso 4 anos T13-L1 16 M SRD 10 anos L4-L5 17 M Lhasa Apso 3 anos T13-L1 18 M Golden 11 anos T13-L1 19 F Daschund 6 anos T13-L1 20 F SRD 10 anos L4-L5 21 M Shitsu 2 anos T11-T12 22 M Beagle 9 anos T11-T12, L4-L5, L5-L6 23 F Pastor Belga 13 anos L5-L6 TABELA 02 Distribuição de animais conforme sexo, raça, idade e local da lesão. A graduação dos casos pré e pós-tratamento está descrita na Tabela 03. Paciente Grau Tratamento I Grau póstratamento I Tratamento II Grau póstratamento II Tratamento III Grau póstratamento III 1 3 Cirurgia: Hemilaminectomia 0 - - - - (6 dias após sintomas) 2 3 Alopatia 3 Acupuntura (4 meses) 2 - - 3 3 Cirurgia: Hemilaminectomia (7 dias após sintomas) 3 Acupuntura (1 mês) 0 - - 4 3 Cirurgia: Hemilaminectomia (7 dias após sintomas) 5 3 Alopatia 3 6 3 Alopatia 3 7 3 Alopatia 3 3 Acupuntura (2 meses) 0 - - Cirurgia: Hemilaminectomia (1 dia após sintomas) Cirurgia: Hemilaminectomia (2 dias após sintomas) Cirurgia: Laminectomia dorsal (2 meses após sintomas) 3 Acupuntura (3 meses) 3 - - 0 - - 8 1 Alopatia 1 Acupuntura 0 - - 9 3 Alopatia 3 Acupuntura 3 - - 10 3 Cirurgia: Laminectomia dorsal 0 - - - - 11 1 Alopatia 1 Acupuntura 0 - - Cirurgia: Laminectomia 12 3 Alopatia Acupuntura 3 dorsal 3 (1 semana) (10 dias após sintomas) 0 0

7 13 4 Alopatia 4 Acupuntura (1,5 meses) 0 - - 14 Acupuntura (1 2 semana) 0 - - - - 15 4 Acupuntura (2 meses) 2 - - - - 16 3 Alopatia 3 Acupuntura (2 meses) 0 - - 17 3 Acupuntura (2 meses) 2 - - - - 18 Acupuntura 1 (3 semanas) 0 - - - - 19 Acupuntura 2 (1,5 meses) 0 - - - - 20 2 Acupuntura (1 mês) 0 - - - - 21 2 Alopatia 1 Acupuntura (1 semana) 0 - - 22 2 Alopatia 1 Acupuntura (3 semanas) 0 - - 23 4 Alopatia 4 Acupuntura (1,5 meses) 4 - - TABELA 03 Graduação dos casos pré e pós-tratamento 5. RESULTADOS A faixa etária dos animais acometidos pela discopatia variou entre 1 e 13 anos. O maior acometimento foi entre 10 e 13 anos (46%), diferente do intervalo de maior acometimento relatado por FOSSUM (2007) que foi entre 3 e 7 anos (80%). Aspecto Categoria Total % Aspecto Categoria Total % Raça Basset Hound 2 9% Macho 14 61% Beagle 1 4% Sexo Fêmea 9 39% Daschund 5 22% Total 23 100% Dog Alemão 1 4% 1 a 5 anos 5 21% Golden Retriever 1 4% 6 a 9 anos 8 33% Idade Lhasa Apso 3 13% 10 a 13 anos 11 46% Pastor Alemão 2 9% Total 24 100% Pastor Belga 1 4% Shitsu 1 4% SRD 5 22% Rottweiler 1 4% Total 23 100% TABELA 04 Número de animais e porcentagens das categorias relativas ao sexo, raça e idade dos cães acometidos por discopatia. Existe uma pré-disposição das raças condrodistróficas em apresentarem discopatia na coluna toracolombar. Entre elas, podem-se citar as raças: dachshunds, pequinês, beagle, poodle miniatura, shihtzus, lhasa apsos e cocker spaniels (FERNÁNDEZ, 2010), (FOSSUM, 2007). A raça dachshund apresenta dez vezes maior incidência que todas as outras raças juntas (FOSSUM, 2007) e foi predominante também em LIMA et al. (2011). Porém, a discopatia intervertebral não

8 é exclusiva das raças condrodistróficas, pois já foi descrita também em raças médiagrandes como cães pastores (FERNÁNDEZ, 2010). Tal como grande parte dos estudos retrospectivos, também neste se determinou elevado número de animais de raças condodistróficas, tais como Daschund (n=5, 22%), Lhasa Apso (n=3, 13%), Basset Hound (n=2, 9%), Beagle (n=2, 9%) e Shitsu (n=1, 4%). Juntamente com os Daschund, os cães SRD foram os de maior acometimento (n=5, 22%). As raças média-grandes como cães pastores, Rottweiller, Dog Alemão e Golden Retriever somaram 25% do total de animais acometidos. Um importante instrumento de prognóstico é a presença ou ausência de percepção de dor profunda. A presença de dor profunda indica um prognóstico favorável, enquanto a ausência de dor profunda leva a um prognóstico reservado a desfavorável (FOSSUM, 2007). Apenas três animais apresentando paralisia e ausência de dor profunda (Grau 4) foram tratados durante o período analisado. O tratamento de todos foi feito com acupuntura, havendo melhora em 67% dos casos (Tabela 05). Os fatores comuns dos dois casos descritos com sucesso no tratamento foi um mínimo de 45 dias de tratamento com acupuntura e um intervalo máximo de 15 dias entre a data da lesão e o início do tratamento. Este resultado está acima do reportado por STILL (1998), que descreveu sucesso em tratamento com acupuntura em 7 de 15 (47%) pacientes paralíticos por discopatia toracolombar que já haviam perdido dor superficial. A maioria dos animais tratados no escopo analisado apresentavam paraparesia não ambulatória ou paraplegia, alguns com alteração de sensibilidade de dor superficial (Grau 3). Dentre eles, os animais tratados com cirurgia apresentaram o mesmo índice de melhora que aqueles tratados com acupuntura (75%). Os animais tratados com cirurgia e acupuntura apresentaram 100% de melhora (Tabela 05). Este resultado é compatível com JANSSENS (1992), que relata que os resultados do tratamento de discopatia toracolombar em cães com acupuntura são favoráveis e comparáveis aos resultados cirúrgicos. Entre os pacientes tratados para resolução de dor (Grau 1) ou paraparesia deambulatória (Grau 2), todos foram reabilitados com acupuntura, apresentando 100% de taxa de recuperação de locomoção e resolução de dor (Tabela 05). Resultados melhores que os obtidos por STILL (1989) que relata que de 38 cães

9 analisados, 62,5% tiveram alívio de dor e 70,5% foram reabilitados de paraparesia deambulatória. Grau Inicial Total de casos tratados % de casos tratados Tratamento Grau final 0 1 2 3 4 Total de casos com melhora % Casos com melhora TABELA 05 Distribuição dos animais segundo tratamento realizado, grau inicial e grau final de discopatia. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que a acupuntura é uma importante ferramenta para a reabilitação de cães com paralisia e perda de dor profunda quando a intervenção cirúrgica não é recomendada. 4 3 13% Acupuntura 1 0 1 0 1 2 67% 3 4 17% Cirurgia 3 0 0 1 0 3 75% Entre os animais com presença de dor profunda, a acupuntura reabilitou todos os casos que apresentavam apenas lombalgia ou paraparesia deambulatória. Entre aqueles com presença de dor profunda e paralisia, a taxa de reabilitação entre os pacientes submetidos a acupuntura ou cirurgia isoladamente foi idêntica (75%), ficando apenas abaixo da taxa de reabilitação quando as duas técnicas foram associadas (100%). 4 17% Acupuntura 1 0 2 1 0 3 75% 4 17% REFERÊNCIAS 1. CUNNINGHAM, James G. Tratado de fisiologia veterinária. Terceira edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 2. KÖNIG, Erich Horst; LIEBICH, Hans-Georg. Anatomia dos animais domésticos: texto e atlas colorido. Quarta edição. Porto Alegre: Artmed, 2011. 3. FOSSUM, Theresa Welch. Cirurgia de pequenos animais. Terceira edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Cirurgia e Acupuntura 4 0 0 0 0 3 100% 2 5 22% Acupuntura 5 0 0 0 0 5 100% 1 3 13% Acupuntura 3 0 0 0 0 3 100% Total 23 1 17 0 3 2 1 19 83%

10 4. FERNÁNDEZ, Valentina Lorenzo. Neurologia em cães e gatos. Primeira edição. São Paulo: MedVet, 2010. 5. HAYASHI, Ayne Murata. Estudo clínico da eficácia da acupuntura no tratamento da discopatia intervertebral tóraco-lombar em cães. 2006. Dissertação (Mestrado em Clínica Cirúrgica Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. 6. JANSSENS, L. A. (1992). Acupuncture for the treatment of thoracolumbar and cervical disc disease in the dog. Problems in veterinary medicine, 4(1), 107-116. 7. JOAQUIM, JEAN GUILHERME FERNANDES. "Comparação entre eletroacupuntura, cirurgia e cirurgia associada à eletroacupuntura no tratamento da doença do disco intervertebral em cães." PhD diss., UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 2008. 8. LIMA, Larissa Graziella Caixeta; STEFANES, Sandro Alex; VIDOTTO, Valéria Trombini; FARIAS, Anderson. Estudo retrospectivo de 11 casos de cães com discopatia toraco-lombar submetidos ao tratamento cirúrgico (2008-2009) MedVep Revista Científica de Medicina Veterinária Pequenos animais e Animais de Estimação; 2011; 9(29) 212-216. 9. MACIOCIA, Giovanni. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. Segunda edição. São Paulo: Roca, 2007. 10. SCHOEN, Allen M. Acupuntura Veterinária: Da arte antiga à medicina moderna. Segunda edição. São Paulo: Roca, 2006. 11. SCOGNAMILLO-SZABO, M. V. R., UEDA, M., & LUNA, S. (2010). Estudo retrospectivo de 1137 animais submetidos à acupuntura na FMVZ-UNESP- BOTUCATU-SP. Ars Veterinaria, 26(1), 006-010. 12. SCHWARTZ, Cheryl. Quatro Patas Cinco Direções: Um guia de medicina chinesa para cães e gatos. Tradução Áurea Daia Barreto. Primeira edição. São Paulo: Ícone, 2008. 13. STILL, J. (1989). Analgesic effects of acupuncture in thoracolumbar disc disease in dogs. Journal of Small Animal Practice, 30(5), 298-301. 14. STILL, J. (1998). Acupuncture treatment of grade III and IV canine thoracolumbar disc disease (hind limb paralysis). American journal of acupuncture, 26(2-3), 179-187. 15. XIE, Huisheng. Acupuntura Veterinária Xie. Primeira edição. São Paulo: MedVet, 2011.